3. DINÂMICA DOS INVESTIMENTOS NO SETOR PETRÓLEO
3.3 Perspectivas de médio e longo prazos para os investimentos
3.3.1 O “Cenário Possível” de Investimentos no Setor Petrolífero no Brasil (2012)
No horizonte de 2012, assume-se que a dinâmica de investimentos petrolíferos no país se desenvolva como uma continuidade da dinâmica atual de inversões da Petrobras. Para efeito de consideração deste ritmo futuro, considera-se como parâmetro principal o Plano de Negócios da empresa para o período 2009/2013, divulgado em janeiro de 2009.
Considerando os principais projetos produtivos da empresa no país, (ver figura 3.47), as perspectivas de produção de petróleo (incluindo condensado e LGN) anunciadas no referido plano vislumbram um aumento da ordem de 6,9% anuais no período entre 2009 e 2013.
Figura 3.47 - Produção de óleo e LGN e gás natural pela Petrobras: 2009- 2013
(em milhões boe/dia)
Fonte: PN – Petrobras (2009)
Com relação aos investimentos a serem realizados pela Petrobras, a figura 3.48 apresenta os valores reais em dólares37, e inclui o montante a ser aplicado nas suas unidades internacionais. Verifica-se claramente uma tendência sustentada de aumento dos investimentos totais da empresa, assim como do
72 montante a ser investido especificamente em E&P. A propósito, destaca-se que do montante investido em E&P até 2013 - cerca de 104 US$ bilhões (correspondendo a 20,9 US$ bilhões anuais no período) - somente 28 US$ bilhões se destinam às atividades do pré-sal, o que deve garantir à empresa o alcance de uma produção de óleo a partir da referida província petrolífera de 218 mil barris diários em 2013. Deste modo, assume-se que o horizonte 2009- 2013 não contempla a entrada maciça do petróleo oriundo do pré-sal, o que deve se realizar somente no período 2013-202038.
Outro ponto passível de destaque, neste sentido é a previsão de inversões totais da ordem de 174,4 US$ bilhões no horizonte 2009-2013, enquanto o histórico de investimentos, desde 1954 até 2007, totaliza, em termos reais, 222,9 US$ bilhões. Isto indica então que mesmo sem considerar a produção maciça a partir do pré-sal, a Petrobras prevê gastar em apenas cinco anos cerca de 78% do que investiu desde sua criação, em 1954. Neste horizonte de médio prazo, até 2013, também relevante é o aumento expressivo dos investimentos anuais previstos, indicando, por exemplo, um aumento de mais de 100% nas inversões no segmento de E&P, quando comparado com o realizado em 2007.
Figura 3.48 - Investimentos pela Petrobras: histórico e previsão (em bilhões de US$ corrigidos)
Fonte: elaboração própria a partir de PN-Petrobras (2009)
Considerando o atual contexto de crise econômica, marcado pela perspectiva de queda acentuada da demanda por petróleo nos próximos dois anos, e a conseqüente redução dos preços da commodity, assim como pela crise de liquidez do mercado de crédito, torna-se relevante examinar a forma de
38 De acordo com PN–Petrobras (2009), entre 2008 e 2013 está previsto um acréscimo de 824
mil bpd na produção de óleo da empresa, sendo que 69% deste aumento virão de campos com comercialidade já declarada. Entre 2013 e 2020, como será visto mais adiante, é previsto que a produção petrolífera alcance 3,9 milhões de barris diários, sendo 46,3% deste total oriundo do pré-sal.
73 financiamento pela Petrobras para arcar com os vultosos investimentos anunciados. Normalmente, a alavancagem de empresas do setor de petróleo é reduzida, por conservadorismo; no caso específico da Petrobras, o PN- Petrobras (2007) – referente ao período 2008-2012 - previa a participação dos recursos próprios sobre o investimento total de 84,3%. No contexto atual, todavia, tendo em vista as restrições impostas pela crise econômica – sobretudo a queda do preço do petróleo - e as suas notórias conseqüências sobre a capacidade de geração de caixa da empresa, é previsto um aumento da necessidade de recursos de terceiros. De fato, o que se verifica para o “cenário possível”, de horizonte de médio prazo, é uma elevação dos recursos de terceiros para o financiamento dos investimentos. A figura 3.49 apresenta o plano de financiamento da empresa para os anos de 2009 e 2010, de acordo com o PN-Petrobras (2009).
Figura 3.49 - Plano de Financiamento da Petrobras Para 2009 e 2010 (em bilhões de US$)
2009 2010 Investimentos planejados 28,6 35,0 Fontes (A) + (B) (A) Caixa próprio 10,5 16,0 (B) Outras fontes 18,1 18,9 BNDES 11,9 10,0 Pré‐financiado (bancos privados) 5,0 Mercado de capitais 1,0 8,9 Preço petróleo (US$/barril) 37 40 Fonte: PN-Petrobras (2009)
Assumindo como proxy estes valores individuais de 2009 e 2010, verifica-se uma considerável necessidade de recursos de terceiros para financiar os investimentos previstos para o horizonte de médio prazo até 2012. Neste sentido, destaca-se a importância dos recursos do Tesouro, via BNDES, sendo eles responsáveis pelo financiamento de US$ 11,25 bilhões médios nos dois anos. Da mesma forma, destaca-se a necessidade de captação no mercado de capitais, mediante, por exemplo, emissão de ações e bonds.
Neste quadro de relevante dependência dos recursos externos à empresa, é possível apontar alguns riscos para a empresa. Primeiramente, no que diz respeito à necessidade de recursos públicos, não há garantias de que o próximo governo, a partir de 2011, seja favorável ao uso do BNDES, e até mesmo da Caixa Econômica Federal – como ocorreu recentemente – como meio de financiamento para a empresa. Com relação ao mercado de capitais, o que se verifica é que a capacidade da empresa captar recursos está diretamente atrelada ao comportamento dos preços do petróleo, posto que este fator, como já mencionado, influencia a geração de caixa. Deste modo, frente ao recente quadro de queda dos preços, houve, paralelamente, uma nítida desvalorização dos papéis da Petrobras (especialmente as ações preferenciais) – em cerca de 41% entre julho de 2008 e janeiro de 2009. Isto compromete a capacidade de captação de recursos, pois a empresa deve
74 emitir uma quantidade maior de papéis para acessar um mesmo montante de recursos.
Apesar de todos estes fatores que colocam em xeque a efetiva capacidade da Petrobras de concretizar seus planos de investimento no médio prazo, o que se verifica realmente é que a empresa, sendo de economia mista, e ciente da importância das suas inversões como ferramentas contra-cíclicas para o desempenho da economia brasileira, não parece medir esforços para não somente dar continuidade como, sobretudo, mas dar mais pujança à tendência de investimentos no setor no horizonte do “cenário possível”.
3.3.2 O “Cenário Desejável” de Investimentos no Setor Petrolífero no