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O Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá

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Trata-se de uma organização não governamental fundada no ano de 1993, com sede no Recife, Pernambuco, mas que atua em diversas regiões do Estado, concentrando seus trabalhos, principalmente, na multiplicação dos sistemas agroflorestais. Filiado à Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), o Centro Sabiá apresenta, na sua missão, o desafio de interagir com os diversos setores da sociedade civil, na medida em que busca desenvolver trabalhos diferenciados com crianças, jovens, mulheres e homens presentes na agricultura familiar (CENTRO..., S.d.).

Na tentativa de cumprir tal missão, o Centro Sabiá concentra suas ações em seis eixos estratégicos: 1) fortalecimento de processos de produção da agricultura familiar para a transição agroecológica, contribuindo para a soberania, a segurança alimentar e nutricional, a melhoria do trabalho e renda das famílias agricultoras e o combate às desigualdades sociais de classe, gênero, raça e geração; 2) fortalecimento do trabalho com grupos de mulheres e comunidades quilombolas na perspectiva de gênero e geração de trabalho e renda; 3) participação da juventude, protagonizando ações agroecológicas e contribuindo para a melhoria da vida nas dimensões política, social e ambiental no campo; 4) participação efetiva nos espaços locais, regionais e nacionais na discussão e elaboração de políticas públicas para a agricultura familiar em redes e parcerias; 5) comunicação, promovendo a visibilidade institucional na perspectiva de uma agenda pública que fortaleça a agricultura familiar e a agroecologia; 6) desenvolvimento institucional organizacional e de gestão fortalecidos a partir de valores sociais e políticos do trabalho (CENTRO..., S.d.). Além disso, essa ONG está vinculada a algumas redes e articulações, dentre as quais merecem destaque a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), a Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) e a Rede de Assessoria Técnica e Extensão Rural do Nordeste (Rede Ater/NE).

As atividades do Centro Sabiá junto aos agricultores do município de Santa Cruz da Baixa Verde resultaram na criação da Associação de Desenvolvimento Rural Sustentável da Serra da Baixa Verde (Adessu Baixa Verde), também na década de 1990. A assessoria realizada pelo Centro Sabiá, ao longo dos anos, foi seguindo os objetivos de seus eixos

estratégicos, prestando aos agricultores familiares e à Adessu ações que pudessem contribuir para a construção de um modelo de desenvolvimento rural sustentável.

Todos os agricultores entrevistados neste trabalho destacaram a importância do Centro Sabiá no processo de transição agroecológica desenvolvido no município, principalmente no que diz respeito aos serviços de assistência técnica e extensão rural e à participação na construção de alternativas para a comercialização dos produtos e geração de renda. Para um agricultor, o Centro Sabiá foi importante porque:

Junto com a Adessu, o Sabiá realizou cursos, dias de campo, entrega de materiais sobre Agroecologia e materiais para começar a transição e fez intercâmbios em outras propriedades que passavam pela mesma experiência (AGRICULTOR G, 2011).

Segundo outro agricultor:

O Centro Sabiá realizava visitas, através dos técnicos, e ajudava os agricultores no que precisavam (AGRICULTOR D, 2011).

Entretanto, os mesmos agricultores entrevistados destacam que, atualmente, a participação do Centro Sabiá ficou bastante reduzida quando comparada a outros anos. O agricultor A, por exemplo, afirma que não recebe assistência técnica no momento, pois:

O Centro Sabiá não atua em toda a comunidade, visita alguns agricultores. Raramente recebo visita ou participo de intercâmbios através do Centro Sabiá (AGRICULTOR A, 2011).

Para o agricultor F, o que ocorre é que “a assessoria do Sabiá é uma assessoria mais geral, nada pontual.” Essa ideia era, entretanto, radicalmente refutada pelo técnico extensionista 2, quando elencava categoricamente as ações desenvolvidas pelo Centro Sabiá, assim descritas:

Os técnicos iam para as propriedades dos agricultores e vivenciavam a realidade deles. Eles levavam as novas tecnologias para sensibilizar o pessoal. Eram feitos intercâmbios para lugares onde já existiam experiências. Mas, muita coisa já existia na propriedade dos agricultores, como o processamento, então os técnicos só traziam novos elementos e adequava à realidade local. Não queríamos trazer cem ideias para a cabeça de um agricultor, mas uma ideia para a cabeça de cem agricultores. Além de passar por intercâmbios, foi feito Diagnóstico Rápido Participativo, oficinas sobre gestão para aumentar a participação das famílias, sobre associativismo. Os temas trabalhados eram sobre a diversificação da produção; comercialização;

integração lavoura e animal; consórcio de espécies (arbóreas, arbustivas, fruteiras, florestais, cultura anual, hortaliças). Geralmente as atividades eram coletivas, com dias de campo, mutirão em unidades demonstrativas, onde todos aprendiam ao mesmo tempo, coletivamente (TÉCNICO EXTENSIONISTA 2, 2011).

No entanto, o técnico reconhece que, atualmente, os agricultores associados à Adessu não recebem uma assessoria pontual por parte do Sabiá: “Eu sei que eles sentem falta, mas a ideia é que eles agora sejam agricultores de referência para os outros, multiplicadores dos sistemas agroflorestais.” O desejo dos técnicos é que os agricultores da Adessu contribuam para sensibilizar um maior número de agricultores, no sentido de adotarem uma agricultura sustentável. O técnico 2 corrobora essa ideia da troca de experiências entre agricultores, com vistas à ampliação do processo de transição, ao afirmar:

Acho importante a participação deles. É fundamental porque às vezes o técnico não consegue difundir as ideias entre os agricultores, e quando isso ocorre entre eles é mais fácil. Ou seja, de agricultor para agricultor é mais fácil (TÉCNICO EXTENSIONISTA 2, 2011).

E destaca o papel daqueles agricultores que fazem parte desde o início do processo:

Os agricultores que têm mais respaldo falam com os outros, levam para visitar as propriedades e falam das dificuldades iniciais e dos benefícios que podem ter. Eles difundem melhor do que o extensionista. A linguagem do agricultor é melhor para isso (TÉCNICO EXTENSIONISTA 2, 2011).

Nesse sentido, é importante destacar a questão da utilização da linguagem apropriada e a adequação das práticas agrícolas à realidade dos agricultores envolvidos na experiência agroecológica, pois, como destacado anteriormente neste trabalho, a Agroecologia pressupõe o uso de tecnologias adequadas às características locais e à cultura das populações e comunidades rurais que vivem numa determinada região ou ecossistema e que serão manejadas pelos próprios agricultores (CAPORAL; COSTABEBER; PAULUS, 2006, p.22). O técnico 2 destaca que, nesse processo, é fundamental que ocorra um diálogo de saberes entre técnicos e agricultores, realçando, além disso, a importância do protagonismo dos agricultores.

O diálogo ocorre dos dois lados. Os técnicos iniciantes participam de estágios de vivência junto aos agricultores, participam de intercâmbios, das práticas, com os próprios agricultores e aprendem com os próprios agricultores. O técnico é um facilitador. Tem que colocar o agricultor como protagonista do processo, e colocar

ele para pensar através das suas experiências próprias. Temos que valorizar o seu conhecimento: o agricultor deixa de ser apenas produtor e passa a produzir o conhecimento. Quando realizamos palestras, seminários, quem apresenta são os agricultores (TÉCNICO EXTENSIONISTA 2, 2011).

Finalmente, elenca os principais avanços e dificuldades encontradas por ele na experiência de Santa Cruz da Baixa Verde. No que diz respeito às dificuldades, o técnico afirma:

A primeira é a resistência, a questão cultural. A mídia exerce uma força muito grande a favor do sistema convencional. Alguns resistem na adoção de práticas agroecológicas porque acham que se produzir com adubos e venenos, sua produção vai ser maior. Depois, tem a falta de políticas, assessoria adequada. Faltam sementes agroecológicas para esse tipo de produção, falta apoio governamental, mão de obra. Muitos se deslumbram com a propaganda do agronegócio. E o financiamento para produzir produto agroecológico é quase zero (TÉCNICO EXTENSIONISTA 2, 2011).

Entre os principais avanços observados, o técnico destaca:

Sobre os avanços, melhorou na questão ambiental: não fazem queimadas, não usam agrotóxicos e melhorou a questão dos solos. Eles já processavam os alimentos, agora encontram canais de comercialização: feiras, o PAA. Vendem diretamente para estabelecimentos. Aumento da renda, pois deixaram de depender do mercado para comprar insumos, reduziu os gastos deles, e evitou o atravessador. Vários agricultores que produzem no modo convencional estão passando para o agroecológico, surgiu a cooperativa, tem mais valorização do consumo (TÉCNICO EXTENSIONISTA 2, 2011).

Sem sombra de dúvida, muitos desses avanços constituem um resultado da participação das organizações envolvidas nesse processo. Um destaque particular pode ser dado ao Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, que ao longo dos anos vem construindo uma importante parceria no contexto das práticas agroecológicas com os agricultores familiares do município de Santa Cruz da Baixa Verde, não obstante o reconhecimento por parte dos agricultores, de que aquela organização já não mantém mais, na atualidade, o mesmo envolvimento observado no início do processo.

4.5 O Centro de Educação Comunitária Rural (Cecor)

A outra organização não governamental que participa do processo de transição agroecológica dos agricultores familiares do município de Santa Cruz de Baixa Verde é o

Centro de Educação Comunitária Rural (Cecor), fundado em 1992, por agricultores e lideranças sindicais do Sertão de Pernambuco. O Cecor tem como objetivo principal desenvolver, implantar, sistematizar e difundir experiências, utilizando tecnologias adaptadas à região, para melhor convivência com o Semiárido (CECOR, S.d.).

A missão do Cecor é “incentivar e promover a construção e o fortalecimento de iniciativas sustentáveis de convivência com o Semiárido, voltadas para melhorar a vida dos agricultores familiares, tendo como base a Agroecologia” (CECOR, S.d.). Entre os eixos de trabalho propostos pelo Cecor para implantação e consolidação de experiências baseadas em princípios da Agroecologia, envolvendo atividades que vão desde a produção até a comercialização, de forma adaptada à realidade da agricultura familiar, estão: 1) a convivência com o Semiárido, voltada para a intervenção dos sistemas produtivos (criação de animais, horticultura orgânica, implantação de sistemas agroflorestais etc.); 2) acesso ao mercado, voltado para as ações de fortalecimento da comercialização de produtos agroecológicos por famílias agricultoras, associações locais e suas participações junto aos Conselhos de Desenvolvimento Municipais; 3) gênero e juventude, voltados ao fortalecimento dos direitos e a inclusão deles através de uma abordagem transversal, buscando garantir a presença e participação nas ações desenvolvidas.

Embora se reconheça a importância da atuação do Cecor no Sertão de Pernambuco, os agricultores do município de Santa Cruz da Baixa Verde consideram que suas ações estão mais voltadas para a criação e fortalecimento de meios de comercialização para os produtos agroecológicos oriundos da agricultura familiar, a exemplo da organização da Feira Agroecológica do município de Serra Talhada (Fast). Tal perspectiva evidencia-se nas seguintes palavras:

O Cecor e a Adessu ajudaram muito na fundação da feira agroecológica. Foram os fundadores da feira e incentivaram todo o processo. Divulgam a feira pelo rádio, fazem capacitação. A participação deles é muito importante (AGRICULTOR B, 2011).

O agricultor A reforça esse pensamento, ao afirmar: “O Cecor atua mais na feira, na organização. Eles arrumaram o espaço para a feira, junto com a Adessu.” Reconhece-se, portanto, que o Cecor ocupa papel de destaque no processo de transição agroecológica de Santa Cruz da Baixa Verde, na medida em que a ONG busca alternativas de comercialização dos produtos agroecológicos para o fortalecimento da agricultura familiar, que, por sinal,

fazem parte das estratégias voltadas para o desenvolvimento rural sustentável, dentro da perspectiva agroecológica.

4.6 A Feira Agroecológica de Serra Talhada (Fast)

A comercialização de produtos livres de agrotóxicos por meio das feiras agroecológicas faz parte das estratégias da Adessu, do Centro Sabiá e do Cecor. Tal atividade é habitualmente identificada como uma possibilidade para aumentar a renda dos agricultores familiares do município de Santa Cruz da Baixa Verde, incentivando-os a produzir sem a utilização de insumos externos e a uma diversificação em seus sistemas produtivos.

Em relação aos orgânicos, a literatura especializada afirma que esses mercados “nasceram como circuitos curtos de produtores e consumidores engajados e, no caso brasileiro, em forte articulação com o movimento agroecológico, como alternativa à Revolução Verde para a agricultura familiar” (FONSECA, 2000; WEID, ALTIERI, 2002 apud WILKINSON, 2008, p.143).

Velôso e Whititaker (2006 apud RIOS; CARVALHO, 2007), analisando a importância das feiras agroecológicas, afirmam que elas são lugares destinados à comercialização dos produtos agrícolas produzidos através de práticas agroecológicas, cujo objetivo principal é a constituição de espaços e processos de educação solidária entre pequenos produtores e consumidores.

Esses autores ressaltam, além disso, alguns outros objetivos das feiras agroecológicas, como: a segurança alimentar das famílias; geração de renda através da comercialização do excedente; produção e consolidação de um sistema agroecológico, como forma de difusão e preservação do ambiente sustentável; e a eliminação do atravessador, como forma de garantir uma maior rentabilidade para os agricultores. Ainda de acordo com os autores, através das feiras:

Estabelece-se uma comercialização direta do pequeno produtor ao consumidor, subsidiária e solidária. É um momento de fortalecimento do processo de organização e estímulo à prática de autogestão dos pequenos produtores, além de ser um estímulo à participação integral da cadeia produtiva plantio-colheita-beneficiamento- comercialização (VELÔSO; WHITITAKER, 2006 apud RIOS; CARVALHO, 2007, p.131).

Em Santa Cruz da Baixa Verde, assim como em outros municípios situados nas suas proximidades, frequentemente acontece a realização de feiras agroecológicas, visando a participação dos agricultores familiares de base ecológica no processo de comercialização de seus produtos. Entretanto, é a feira localizada no município de Serra Talhada que tem uma maior repercussão na vida dos agricultores entrevistados neste trabalho. Isto porque, a Feira Agroecológica de Serra Talhada (Fast) se insere dentro de muitos dos objetivos aqui analisados, constituindo-se num importante espaço de comercialização dos produtos provenientes da agricultura familiar com repercussão direta sobre a renda das famílias, conforme destacado pelo agricultor A: “a feira é muito importante para quem participa dela. Com a comercialização, aumentou a renda da minha família e a dos outros também.”

A Fast está localizada no município de Serra Talhada, a uma distância de 27 km do município de Santa Cruz da Baixa Verde, e começou no ano de 2000, como uma das atividades comemorativas da Semana do Meio Ambiente (CENTRO..., 2006, p.177). Fizeram parte da organização, além do Centro Sabiá, agricultores agroecológicos dos municípios de Triunfo e Santa Cruz da Baixa Verde associados à Adessu e agricultores agroecológicos de Serra Talhada acompanhados pelo Cecor.

Considerando a proximidade da realização entre a feira agroecológica e a feira convencional do município de Serra Talhada, fez-se necessário que houvesse um processo promovido pelo Centro Sabiá, de sensibilização e convencimento dos consumidores que ainda não conheciam a proposta do espaço da Fast (CENTRO..., 2006).

A feira vem garantindo uma renda semanal para os agricultores, diferentemente do que acontecia quando só se podia negociar seus produtos com o atravessador. Outro fator a ser destacado é com relação ao acordo que existe entre os agricultores participantes da feira em vender os produtos agroecológicos pelo mesmo preço, evitando, assim, a concorrência entre eles.

Por outro lado, na Fast, os produtos agroecológicos são vendidos pelo mesmo preço dos produtos convencionais, por causa da concorrência com a feira tradicional, contrariando a tendência de ganho adicional permitido pela produção agroecológica (LAMPIKIN, 1990 apud ALTIERI, 2009). Os agricultores também encontram certa dificuldade em relação aos deslocamentos, já que a maioria dos participantes não reside em Serra Talhada, sendo necessária a locação de transportes para conduzi-los até a feira.

Atualmente, a Fast funciona aos sábados, das 6h30 às 11h, e conta com 22 estandes distribuídos uniformemente padronizados. Desses estandes, quatro são destinados a agricultores familiares do município de Santa Cruz da Baixa Verde, sócios da Adessu. É importante ressaltar que existem alguns critérios para participar da feira, como ser acompanhado por umas das instituições de assessoria e comprovar a experiência de participação em outras três feiras. O agricultor B, que passou pela transição agroecológica há três anos, relata sua experiência para ingresso nesse processo.

Durante os serviços de assistência técnica, eu recebi orientação no plantio, condução, comercialização e um treinamento especial para poder participar da Feira Agroecológica de Serra Talhada (Fast). Aprender saber lidar, atender e tratar os clientes. Era exigido que o agricultor já tivesse participado antes de pelo menos três feiras para poder participar da Fast. Também recebi visita na minha propriedade para saber se eu tinha produtos suficientes para me manter na feira (AGRICULTOR B, 2011).

Diante do exposto, os aspectos positivos sobressaem-se nesta experiência, haja vista os relatos de melhoria de renda por parte dos agricultores familiares entrevistados, mediante a participação na Fast. Além disso, conforme destacado pelo Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá (2006), o tipo de comercialização desenvolvido pela feira agroecológica permite uma relação direta entre agricultor e consumidor.

Os relatórios do Centro Sabiá apontam que os agricultores passaram a se relacionar melhor com outros grupos, seja de consumidores, seja de agricultores de outras localidades. Os consumidores, por sua vez, passaram a ser mais receptivos à ideia de consumir produtos provenientes da agricultura familiar de base agroecológica.

4.7 A Extensão Rural Governamental e institucionalizada: A atuação do Instituto Agronômico de Pernambuco entre os agricultores familiares do município de Santa Cruz da Baixa Verde

No Estado de Pernambuco, os serviços oficiais de Extensão Rural são de responsabilidade do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). A unidade municipal do IPA (ANEXO C), em Santa Cruz da Baixa Verde, conta com um técnico extensionista e possui cadastro de 729 famílias de agricultores.

Do universo dos agricultores envolvidos no processo de transição agroecológica do município de Santa Cruz da Baixa Verde, apenas dois associados da Adessu afirmaram

receber a visita do técnico extensionista 1, ligado ao IPA. O agricultor H, um dos beneficiados com os serviços de Ater Governamental, reconhece que, além da assessoria da Adessu e do Centro Sabiá, recebeu também a orientação e acompanhamento do IPA. Por outro lado, este mesmo agricultor destaca que não existe regularidade nas visitas das organizações envolvidas com os serviços de Ater do município, como já sublinhado por outros agricultores e revelado neste trabalho. Além de se referir à baixa regularidade das visitas do técnico do IPA, o agricultor H ainda chama a atenção para a falta de conhecimento desses técnicos no campo das práticas agrícolas:

Eu recebo assistência técnica do IPA, da Adessu e do Sabiá, mas não é com frequência que isso acontece. Vez ou outra eles aparecem. Além disso, eu noto que os extensionistas sabem muito pouco sobre as práticas, quando eles vêm para a minha propriedade, eles aprendem comigo. Ficam perguntando um monte de coisa, sobre as minhas práticas (AGRICULTOR H, 2011).

O agricultor F, que recentemente recebeu a visita do técnico extensionista 1, não compartilha das mesmas ideias do agricultor H e considera que ocorreu um avanço nos serviços de Ater do município. Esse agricultor, embora não desconheça a falta de regularidade das visitas, faz a seguinte afirmação:

Eu acho que melhorou a atenção do IPA com os agricultores. Não é nada pontual, mas hoje existe uma agenda semanal para muitos agricultores da região (AGRICULTOR F, 2011).

Por outro lado, identifica-se naqueles agricultores que não foram beneficiados pelos serviços de Ater Governamental, uma carga de decepção ainda muito presente em seus discursos. A agricultora I, por exemplo, referindo-se ao apoio recebido apenas pela Adessu, durante o processo de transição agroecológica desenvolvido em sua propriedade, observa:

Com relação aos serviços de Ater, eu recebi toda a assistência da Adessu. Infelizmente, minha família não foi contemplada com o serviço de extensão rural Governamental (AGRICULTORA I, 2011).

A agricultora D também afirma sentir-se negligenciada pelos serviços ofertados pelo IPA, ao comentar: “O IPA frequenta a região próxima a minha propriedade, porém não presta nenhuma assistência técnica na minha plantação.” Para o agricultor B, essa ausência dos serviços de Ater Governamental junto aos agricultores da Adessu justifica-se “porque o IPA

participa mais de projetos com agricultores que fazem parte de associações menores,” sugerindo ainda a importância de uma participação coletiva, envolvendo organizações do município, a exemplo do IPA e o Centro Sabiá, de modo que as instituições pudessem se inteirar mais das necessidades dos agricultores.

O técnico extensionista 1, por sua vez, reconhece a dificuldade que existe para atender de forma regular o contingente de agricultores familiares de Santa Cruz da Baixa Verde, justificando a escassez de técnico – apenas um ante um grande universo de famílias. O técnico também lembra que, embora tenha sido contratado em trabalho temporário outro técnico extensionista, essa contratação não serviu para compartilhar a responsabilidade dos serviços de Ater junto aos agricultores, na medida em que se destinou exclusivamente à prestação de assistência a agricultores ligados ao Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB).

Um modo encontrado para minimizar a falta de regularidade das visitas junto aos agricultores foi a realização de atividades coletivas (ANEXO D), expressas em dias de campo,

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