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CAPÍTULO 3 – AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA NO AUXÍLIO À

3.3.2. O ciberespaço: território da democracia eletrônica

Como dito anteriormente, através da internet, se estabeleceu também uma nova dimensão da interação entre Estado e sociedade. O Estado tem utilizado a rede de diferentes formas como, por exemplo, para dar transparência às contas públicas através dos “portais de

transparência”, ou promovendo as iniciativas de “democracia eletrônica”281, utilizando a internet como plataforma para a participação popular nas decisões de interesse coletivo, reclamações ou para sugestão de projetos.282 Segundo Maria Marietto,

Um Estado mais aberto aos cidadãos e às empresas contribui para melhorar a eficiência da administração pública. Esta eficiência passa pela adoção intensiva de tecnologias de informação com elevado nível de qualidade, gerando serviços que disponibilizam informações sobre um vasto conjunto de temas (cidadão e família, saúde, educação, juventude, vida cívica, trabalho, emprego e formação, segurança social, direito e tribunais, habitação, empresa e economia).Atualmente pode-se verificar esta tendência através da criação de

sites de órgãos públicos, voltados à divulgação de informações se prestação de

serviços à comunidade.283

Entende-se por democracia eletrônica o uso das TDCIs como meio facilitador no processo para “[...] aumentar a transparência de processos políticos, facilitar a participação cidadã nos sistemas de tomada de decisão e, finalmente, melhorar a qualidade do processo de

formação de opinião na esfera pública”,284 a partir da abertura de novos espaços de informação e deliberação através dos meios de comunicação eletrônica. Este conceito abarca as novas

280O Portal da Transparência do Governo Federal é uma iniciativa da Controladoria-Geral da União (CGU), lançada em novembro de 2004, para assegurar a boa e correta aplicação dos recursos públicos. O objetivo é aumentar a transparência da gestão pública, permitindo que o cidadão acompanhe como o dinheiro público está sendo utilizado e ajude a fiscalizar. Disponível em: <http://www.portaltransparencia.gov.br/sobre>. Acessado em 19 de dezembro de 2016.

281O termo numa primeira definição diz respeito as relações políticas que se dão a partir dos meios de comunicação eletrônicos.

282MORAES, Fernando Dreissig de. Op. Cit.

283MARIETTO, Maria das Graças Bruno. Sociedade da Informação e Geografia do Ciberespaço. Revista

Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 2, N. 3, p. 29-36, Set. 2001. Disponível em: < http://www.interacoes.ucdb.br/article/viewFile/584/621>. Acessado em 17 de dezembro de 2016.

284PEIXOTO, Tiago e RIBEIRO, Helder. Democracia Eletrônica no Brasil e no Mundo. Revista do Legislativo.

Dezembro de 2009. Disponível em:

<http://www.macroplan.com.br/documentos/artigomacroplan201132183042.pdf>. Acessado em 20 de dezembro de 2016.

88 ferramentas e possibilidades de interação entre cidadãos e atores políticos advindos do desenvolvimento do ciberespaço.

Algumas iniciativas em democracia eletrônica podem ser utilizadas para beneficiar governos reduzindo custos (ex. pregão eletrônico), outras podem ser utilizadas para incluir o cidadão na esfera de decisões governamentais (ex. orçamento participativo on-line) e outras podem ser apenas um meio de comunicação estritamente informacional (ex. notícias governamentais em um canal de TV ou site).

Em sua pesquisa, Max Stabile faz uma avaliação de algumas iniciativas sobre

democracia eletrônica no âmbito do Portal da Câmara dos Deputados. O autor destaca que “na

formulação de cada uma dessas iniciativas, além de todo um arcabouço institucional, existem

pressupostos teóricos que definem as diretrizes dessas ações”.285 Ainda de acordo com o autor,

Estudar a Democracia Eletrônica é [...] entender em que contexto as Tecnologias de Informação e Comunicação beneficiam o ambiente político democrático e que tipo de benefício elas proporcionam. Mais ainda, é entender se o beneficiado é o cidadão comum, a burocracia governamental ou o conjunto de profissionais que atua na política.286

O estudo elaborado por Stabile analisa as quatro dimensões tradicionais da democracia: a liberal/concorrencial schumpeteriana; a pluralista de Dahl; a participacionista de Pateman e Pizzorno; e a deliberativa de Habermas. Dentre essas, as dimensões participacionista e deliberativa foram as que mais avançaram, e o autor atribuiu esse avanço ao desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação nos últimos anos. Diz o autor:

A internet foi capaz de dar ferramentas que ampliaram a capacidade de mobilização social. Pela internet, os indivíduos emitem opiniões, avaliam, criticam e constroem espaços de deliberação pública. Tudo isso, sem a necessidade de intermediação de organizações civis, ou seja, a possibilidade de relação cidadão–Estado é cada vez mais ampliada. A internet possibilitou a criação de esferas de discussão. Mesmo que essas esferas não sejam semelhantes à esfera pública idealizada por Habermas, elas possuem várias qualidades possíveis para um ambiente de discussão. Os canais de envio de opinião –formulários de contato, enquetes e fóruns – são muitas vezes espaços abertos para discussões.287

285STABILE, Max. Democracia Eletrônica para quem? Quem são, o que querem e como os cidadãos avaliam

o portal da Câmara dos Deputados. 2012, 185 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Política), Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. Brasília, 2012. Disponível em:<http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/12096/democracia_eletronica_stabile.pdf?sequence=1 >. Acessado em 19 de dezembro de 2016.

286Idem. 287Idem.

89 Ainda que Max Stabile destaque os aspectos positivos da participação cidadã através da internet, ele apresenta alguns desafios a serem superados na participação on-line, entre os quais destacam-se a questão motivacional, visto que “a simples concepção do incremento instrumental está longe de representar o consequente incremento à participação

democrática”.288

Para Peixoto e Ribeiro, de maneira similar, a proatividade e a reatividade tornam-se elementos fundamentais quando se trata da utilização das TICs como suporte para maior interação entre representados e representantes e o fomento de práticas participativas. Segundo os autores:

[...] É nesse ponto que se torna evidente o limite das tecnologias, uma vez que representam meras ferramentas. A cada espaço que se abre para dar voz ao cidadão, deve haver também uma capacidade – e vontade – de ouvir e responder. O projeto da democracia eletrônica encontra seus limites na maneira como atores políticos e servidores públicos se apropriam das tecnologias.

Outra questão chama a atenção no estudo sobre as experiências de democracia eletrônica no Brasil e no mundo, realizado por Peixoto e Ribeiro; ao avaliarem algumas experiências de democracia eletrônica, os pesquisadores perceberam que um dos desafios a serem enfrentados, sobretudo por aqueles que pensam o design (a expressão visual) dos portais, é evitar que o usuário fique exposto a uma quantidade excessiva de informações que possa confundi-lo e ou desestimulá-lo.289 Esse fato é importante à medida que o volume de informações disponíveis na rede é muito grande, a ponto de ser mais difícil filtrá-las do que encontrá-las, em algumas situações.

Os casos analisados pelos autores acima demonstraram também que a representação espacial de dados geográficos é um poderoso elemento de suporte à elaboração, implementação e gestão de políticas públicas e do território, uma vez que grande parte das informações geradas ou utilizadas por organizações públicas possuem uma dimensão geográfica. Nesse sentido, o SIG tem sido uma alternativa para a visualização de dados geoespaciais, utilizando recursos como bancos de dados, gráficos e mapas interativos.

3.4 – Tecnologia e Representação do Espaço Geográfico na era da informação

288Idem.

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