• Nenhum resultado encontrado

5.2 Instituições escolares caririenses: fontes de pesquisa

5.2.1 O CIC e o CNSSC: instituições inspiradoras

Joaquim Távora. Assim como o CIC, a instituição destinava-se a educação e “instrução da juventude feminina, conferindo-lhe sólida formação intelectual e moral” (RELATÓRIO DE VERIFICAÇÃO PRÉVIA DO MEC, 1937, s/p.).

Estas escolas, sobretudo o CIC e o CNSSC, ambas de natureza católica, influenciaram tanto a criação como o funcionamento de outras escolas destinadas à formação para o magistério, na capital e no interior, objetivando contribuir com a organização dos sistemas municipais de educação em todo o Ceará. Pelos registros localizados e, sobretudo, pelos depoimentos de ex-alunas, esses Colégios produziram um ethos na formação docente, repercutindo tanto na criação de outras instituições semelhantes, como na formação de gerações seguintes. Ambas funcionaram regularmente até princípio dos anos 1980, ofertando o Normal Pedagógico, encerrando, a partir desta data, as atividades direcionadas à formação de professoras, considerando as alterações no marco regulatório nacional.

5.2.1 O CIC e o CNSSC: instituições inspiradoras

Foto 3 – Colégio de Nossa Senhora do Sagrado Coração das Irmãs Doroteias, criado em 1915. O prédio possui linhas arquitetônicas do estilo eclético, surgido na França, ainda na metade do século XIX. Fonte: Irmã Maria José, Carmelo de Santa Terezinha – Fortaleza, 2012.

Os primeiros passos da pesquisa nestas instituições ocorreram em razão dos contatos anteriores, tanto no CSTJ como na ENRJN, que apontaram passagens

das diretoras, Madre Ana Couto e a professora Amália Xavier de Oliveira durante suas trajetórias de formação religiosa e/ou acadêmica nestas escolas.

Relativo à Madre Ana Couto, nada de específico foi localizado sobre sua breve passagem no Instituto Santa Doroteia, na documentação do CNSSC disponibilizada a SEDUC/SEDOC. De acordo com os registros do setor, o CNSSC teve suas atividades administrativas e pedagógicas encerradas em 2005. Com o

encerramento das atividades, a gestão do CNSSCentregouaguarda dos documentos

oficiais ao SEDOC/SEDUC, que os disponibiliza por meio dos microfilmes nos. 4227, 4246, 4234, 4254, 4232, 4259.

A documentação disponibilizada à SEDUC apresenta lacunas, o que a torna incompleta, pois entre 1915, ano da criação e 1924 não foram localizados nenhum documento sobre o trabalho desenvolvido no Colégio. Em 1925, encontramos o registro de matrícula de Amália. Em 1927 na ata solene de colação de grau, ela figura como uma das novas mestras que a escola entregava a educação do Ceará.

Os únicos registros sobre as normalistas estão condensados no livro de Atas solenes de colação de grau, o qual sintetizamos em números a quantidade de professoras diplomadas entre 1925-1950, como ilustração do alto nível de credibilidade que alcançou no seio da sociedade fortalezense, como expressa o relatório da Inspeção federal do ano de 1937: “Desfruta da melhor reputação entre as famílias e sua reputação vem aumentando. As responsáveis são as religiosas do Instituto de Santa Doroteia. Equiparada à Escola Normal do Estado em 1921, diplomando até o presente 107 professoras”.

Quadro 2 – Atas Solenes de Colação de Grau das Normalistas

ANO CONCLUDENTES 1925 07 1926 - 1927 11 1928 07 1929 05 1930 08 1931 05 1932 03 1933 05 1934 14 1935 10 1936 25 Continua...

1937 30 1938 29 1939 31 1940 39 1941 40 1942 - 1943 16 1944 - 1945 13 1946 10 1947 08 1948 23 1949 19 1950 12 TOTAL 370

Fonte: Documentos microfilmados_SEDUC/Centro de Documentação, 2012.

Estudos desenvolvidos por Sousa (1955) e Castelo (1970) indicam que até o início da década de 1930, as constantes crises climáticas comprometeram a permanência das alunas no Colégio, pois a queda da renda familiar, baseada, sobretudo na agricultura e pecuária parece ter atuado como um indicador no declínio de matrículas. Todavia, os dados do Quadro 2 mostram que, as mudanças políticas e sociais no Brasil, nas décadas de 1930-1940, contribuíram para ampliar o quantitativo de alunas, que tinham o propósito de se tornarem as mestras da instrução pública no Ceará.

A expansão observada no período, 1936 a 1941, parece tersido impulsionada

pelo crescimento das cidades, pelos investimentos do setor público em educação, com a criação de grupos escolares e expansão de escolas isoladas e multiseriadas, dentro das linhas mestras desenhadas nos anos 1930, com a criação do Ministério da Educação e Saúde (MES), no âmbito das ações de política implementadas por seu ministro, Gustavo Capanema. Segundo Schwartzaman et al. (2000, p. 32-33):

O que ocorria na área da educação e da cultura naqueles anos fazia parte de um processo muito mais amplo de transformação do país, que não obedecia a um projeto predeterminado nem tinha uma ideologia uniforme, mas como um processo de ‘modernização conservadora’. [...] racionalidade, modernidade e eficiência em um contexto de grande centralização do poder, e leva à substituição de uma elite política mais tradicional por outra mais jovem, de formação cultural e técnica mais atualizada.

Ao que tudo indica esses tempos foram marcados por reformas que impactavam diretamente em ações, reformulação do sistema de educação do País,

por meio de normas, regulamentos e projetos, dentre os quais, um programa direcionado para a formação de professores, determinando que esta formação ocorresse nas Escolas Normais, estruturado em dois anos de estudos, focalizando a “Psicologia, moral e educação familiar, sociologia, direito da família, economia e

contabilidade doméstica, adaptado a vida do campo ou das áreas urbanas”

(SCHWARTZAMAN et al., 2000 p. 124).

O Quadro 2 mostra que o aumento do número de alunas matriculadas no CNSSC corresponde ao período em que as mudanças propostas por Capanema repercutiram nos formatos educacionais do País, dando-se, em seguida, um novo declínio. Ao que tudo indica, esse novo declínio pode ser resultado da criação e funcionamento de outras escolas normais, privadas e públicas, que foram criadas, tanto na capital, como em outras regiões do Estado, como assinalado nos periódicos de grande circulação (O Estado, O Nordeste, A Ação).

O objetivo desse estudo envolvendo aspectos da história do CNSSC é identificar a passagem das diretoras caririenses. Sobre essa busca, não encontramos vestígios referentes à Madre Couto na documentação microfilmada, considerou-se o relato do Monsenhor Pedro Rocha de Oliveira (1948), sobre a passagem da religiosa pelo CNSSC:

A primeira tentativa de ingresso no Estado religioso fê-la junto ao Instituto Santa Doroteia em Fortaleza, onde esteve empenhada, pessoalmente, na realização dos seus intentos. Frustrados os planos na Metrópole cearense, demandou a vetusta cidade de Olinda-PE. Ali foi admitida como postulante no Convento das Servas de Maria (Jornal A AÇAO – ed. Especial do Jubileu de Prata da CFSTJ, Crato, 03/10/1948).

Quanto à professora Amália Xavier, o registro de matrículas do período compreendido entre 1925 a 1927 e o livro de diplomas de 1927 atestam a formação da referida educadora que, ao retornar da capital cearense diplomada professora, serviu ao magistério juazeirense. Sobre a formação da professora no CNSSC, o testemunho de Barreto (2005), confirma os achados documentais “Juazeiro já estava recebendo os frutos da orientação que o Padre Cicero dera para investir na qualificação dos seus mestres, a professora Amália Xavier, estava chegando depois de um curso que fizera brilhante em Fortaleza, no Colégio das Irmãs Doroteias”.

Na ata da sessão solene da congregação de professores do CNSSC, por ocasião da diplomação das alunas concludentes do curso normal, em 22 de novembro de 1927, localizamos a professora Amália Xavier, professora diplomada,

naquele ano, posteriormente se tornou uma das responsáveis pela criação e funcionamento da primeira Escola Normal Rural do Brasil, em 1934 (SEDOC, 2013).

O período de pesquisa, tanto no SEDOC, como na Hemeroteca aconteceram durante o ano de 2012/2013. Dentre os registros encontrados no SEDOC, podem ser destacados: atas de exames de admissão, atas de exames finais, relação de disciplinas/programas e conteúdos por série, relação de transferências recebidas e expedidas por série, indicação dos pontos para estudo nos exames bimestrais e finais por série, mapas de frequência discente mensal por série, mapas de síntese de frequências por série, boletim de médias de arguições e trabalhos por série, portanto documentos produzidos pelos agentes educacionais.

Algumas buscas importantes sobre os princípios políticos e pedagógicos adotados no CNSSC, que teriam norteado as diretoras das escolas caririense nos levou a estabelecer contatos com as freiras enclausuradas no Carmelo de Santa Terezinha, espaço de acolhimento das religiosas idosas do Instituto das Doroteias. O Carmelo integra o complexo Condomínio Espiritual Uirapuru (CEU), uma das poucas referências do CNSSC/Instituto das Doroteias na cidade de Fortaleza.

De acordo com informações das próprias religiosas, o CNSSC passou por sucessivas crises no escopo financeiro, decorrente, sobretudo da alta taxa de inadimplência, tornando inviável a continuidade de suas ações, com o nível de qualidade perseguido pela fundadora do Instituto das Doroteias, Paula Frassinetti.

As religiosas que nos receberam nos situaram quanto às dificuldades de acesso aos registros documentais da instituição, devido ao distanciamento temporal dos fatos, a fragilidade e debilidade do grupo enquanto irmandade, além do fato da escola ter fechado, o que teria gerado uma dupla divisão e alocação espacial de sua documentação institucional: 1) Setor de Documentação Escolar da Secretaria da

Educação do Ceará – SEDUC-CE; 2) Provincial da Congregação, com sede na

cidade do Recife/Pernambuco, responsável por guardar/preservar as memórias das atividades formativas, desenvolvidas no Ceará e outras relacionadas com o próprio Instituto.

Embora considerando que nas biografias da Madre Ana Couto e da professora Amália Xavier há referências de gratidão e reconhecimento à obra do Instituto de Santa Doroteia, as incertezas e imprecisão dos relatos, sobretudo as lacunas na documentação guardada no SEDOC, nos conduziu a semelhante busca no CIC de Fortaleza, pois as diretoras caririenses, embora tenham sido guiadas por

diferentes objetivos, ao buscarem Colégios católicos, apresentavam alguns aspectos que, no entanto, as aproximava.

O resultado do levantamento documental acerca das escolas revelou algumas semelhanças, que serão apresentadas no capítulo que tratará da análise dos dados.

5.3 Jornais como fonte de investigação para a história das instituições