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2. Revisão do Estado da Arte

2.5. O ciclo de vida dos edifícios: riscos e utilizadores

Como é referido por Cabrito (2002), o ciclo de vida dos imóveis é constituído por quatro fases:

1) Fase de projeto 2) Fase de construção 3) Fase de exploração 4) Fase de demolição

Durante todo o ciclo de vida do imóvel existem riscos para os utilizadores. Seguidamente é apresentado um quadro em que é possível identificar para cada fase, os riscos e os utilizadores envolvidos (Cabral, 2002)

Quadro 11- Fases do ciclo de vida de um imóvel

Fase Trabalho desenvolvido Utilizadores sujeitos aos riscos Responsável por eventuais acidentes de trabalho Fase de proje to Elaboração do projeto: as opções arquitetónicas, técnicas e organizativas devem ser adequadas às condicionantes do terreno. Levantamento das condicionantes do terreno.

Autor do projeto, dono de obra e trabalhadores: durante a deslocação ao terreno ou no próprio terreno (pode ser acidentado, ter zonas pantanosas, falésias, etc.) para efetuar o levantamento das suas condicionantes. Visitantes do terreno: caso não se encontre vedado. Transeuntes/vizinhos Dono de obra nomeadamente nas qualidades de dono de obra e de empregador, nos termos do DL 273/03. Fase de constru ção

Execução da obra. É nesta fase que maior parte dos acidentes de trabalho ocorrem. Durante a execução da obra, se houver alterações das técnicas ou da programação dos trabalhos anteriormente previsto, dever-se-á proceder à correspondente correção e adaptação do plano de segurança e saúde nos termos da alínea a) do n.º3 do 9ªartigo do DL 155/95 de 1 de julho. Dono de obra Autores de projeto Trabalhadores Visitantes Transeuntes/vizinhos Dono de obra nomeadamente nas qualidades de dono de obra e de empregador, nos termos do DL 273/03. Fase de explo ração Operações de limpeza e manutenção dos materiais e dos equipamentos incorporados no interior e no exterior dos imóveis.

A generalidade dos riscos resulta das opções técnicas de limpeza e manutenção previstas ainda na fase de projeto para o imóvel.

Dono de obra Autores de projeto Trabalhadores Visitantes Transeuntes/vizinhos Usufrutuário O proprietário do imóvel é responsável pela segurança e saúde dos trabalhadores que procedem à limpeza e manutenção do imóvel. Se durante esta fase forem realizadas obras de ampliação, alteração ou reparação então o proprietário do imóvel

volta a adquirir a qualidade de dono de obra enquanto as mesmas durarem. Fase de demo lição

É a fase menos vulgar em Portugal o que constitui um risco acrescido, pois os trabalhadores que procedem à demolição podem não estar devidamente treinados para efetuar as operações em segurança.

A generalidade dos riscos resulta das técnicas de demolição que foram previstas em fase de projeto, em função das condicionantes do terreno, da envolvente do imóvel, etc.

Dono de obra Autores de projeto Trabalhadores Visitantes Transeuntes/vizinhos O proprietário do imóvel volta a adquirir a qualidade de dono de obra, podendo ser responsabilizado por eventuais acidentes de trabalho.

Pela análise da tabela facilmente se compreende que, muitos dos problemas que surgem durante o ciclo de vida de um imóvel, principalmente na fase de construção, advêm de deficiências do projeto (erros, omissões, incompatibilidades entre as diversas partes de um projeto e mesmo divergências dentro de cada parte). No que respeita à segurança e saúde no trabalho, a indefinição, na fase de projeto, das técnicas e métodos de trabalho, da programação e da coordenação dos trabalhos, bem como os equipamentos necessários à execução da obra e à organização do estaleiro, potencia a ocorrência de acidentes de trabalho.

Como é referido por Gambatese, Behm, Hinze (2005), os projetistas podem ter uma influência muito grande na segurança na construção. A altura perfeita para influenciar a segurança na construção é o início da construção, durante as fases de conceção e planeamento, uma vez que a segurança de qualquer operação é determinada muito antes de os trabalhadores, procedimentos e equipamentos se juntarem no estaleiro (Behm, Kramer, Messer, 2008).

Os autores do projeto que revelam uma maior preocupação pela segurança e saúde dos trabalhadores, geralmente, trabalham com empresas de construção. Normalmente, têm

uma experiência prática no estaleiro que lhes permite identificar melhor os riscos para os trabalhadores (Gambatese, 2005). Para além disso, é da máxima importância que o projetista comunique com os encarregados de obra e/ou os representantes dos trabalhadores uma vez que, podem contribuir para a prevenção de riscos laborais visto que têm muito conhecimento construtivo e experiência em estaleiro.

A prevenção na fase de projeto tem como principal objetivo a redução do número de acidentes e doenças profissionais relacionadas com a construção. Prevê a diminuição do custo total da obra e do tempo de execução, uma vez que se reduzem as indemnizações a pagar e os atrasos provocados pelos acidentes. Os entraves à sua implementação são, sobretudo, a falta de experiência dos autores de projeto nesta matéria e os maiores custos associados à elaboração do projeto.

O Decreto-Lei 273/2003 indica, genericamente, as obrigações do autor do projeto em matéria de segurança e saúde, todavia, não transmite informações do modo como as satisfazer.

Em Portugal, o processo construtivo é vulgarmente a soma de duas fases distintas, a fase de projeto e a fase de construção. Geralmente, os intervenientes são diferentes e a ligação entre as duas fases, que deveria ser feita pelo projetista através da denominada assistência técnica, fica pelo papel! Como consequência deste facto, quem conhece profundamente o projeto, a sua evolução, as restrições que condicionam as soluções escolhidas, normalmente, não está presente na fase de construção.