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OBJETIVOS Geral:

2.1 O clima no espaço urbano

No ambiente urbano, o clima ganha características próprias em virtude do processo de urbanização que altera de forma significativa as características climáticas locais.

Em decorrência disso e para uma melhor análise dos fenômenos climáticos, faz-se necessário identificar os controles e os atributos do clima, compreendendo suas inter-relações no espaço geográfico.

O clima assume posição de destaque nos estudos ambientais, uma vez que seus elementos e fatores encontram-se em constante interação com as outras esferas do meio ambiente. As condições climáticas influenciam e são influenciadas constantemente pelos elementos da paisagem, como a vegetação e a própria dinâmica da sociedade (AYOADE, 2003).

Sendo o clima o resultado de um conjunto de atributos e fatores, a compreensão destes torna-se necessária para o aprofundamento dos processos ocorridos na dinâmica climática. Romero (1988) considera que os elementos climáticos são os responsáveis por definir e fornecer os componentes do clima, sendo os principais deles: a temperatura, a umidade do ar, as precipitações e os ventos. A autora atribui ainda aos fatores climáticos a qualidade de condicionar, determinar e dar origem ao clima; dividindo estes fatores em globais (radiação solar, latitude, longitude, altitude, ventos, massas de água e terra) e locais (topografia, vegetação, superfície do solo natural ou construído).

Neste sentido, alguns trabalhos foram e estão sendo realizados em várias cidades brasileiras, considerando as relações existentes entre a variação espacial da temperatura do ar e o ambiente construído, na perspectiva do conforto térmico.

Lombardo (1985), uma das referências de grande repercussão no país, estudou a Metrópole Paulistana a partir de imagens de satélite e de trabalhos de campo em padrões de ocupação do solo diferenciados na cidade. A partir dos dados obtidos, a autor identificou contrastes térmicos superiores a 10ºC entre o centro da cidade de São Paulo e a área rural. A intensidade da ilha de calor na Metrópole Paulistana refletiu a dimensão da mancha urbanizada e dos diferentes tipos de usos do solo.

Araújo e Sant’anna Neto (2002) estudaram o clima urbano da cidade de São Luís, no Maranhão, através de registros episódicos intrabairros em diferentes bairros da cidade. Os dados apontaram que as áreas de uso do solo mais adensadas e com pouca vegetação possuíam uma tendência em apresentar temperaturas relativamente mais elevadas.

Mendonça (2003) desenvolveu uma metodologia para estudar o clima urbano em cidades de médio e pequeno porte, aplicando-a na cidade de Londrina, no Paraná. O levantamento dos dados meteorológicos na área de estudo foi realizado a partir de 17 pontos amostrais em ambientes relativamente homogêneos na cidade. Os resultados desse estudo mostraram a ocorrência de ilhas de calor de magnitude de até 10º C, na área urbana de Londrina; valores iguais aos encontrados em cidades de grande porte como São Paulo e Porto Alegre. Os locais mais aquecidos foram, principalmente, os de urbanização mais densa e pouca vegetação.

Brandão (2003) ao verificar o clima urbano do Rio de Janeiro/RJ, o fez a partir de três transectos de características contrastantes no que se referia ao uso e ocupação da área urbana. A autora considerou o uso residencial, comercial e industrial, além da densidade de construções, para aferir diferenças de temperatura na cidade. Os dados coletados possibilitaram concluir que nas áreas mais verticalizadas e densamente construídas, como nos bairros Botafogo e Copacabana, a temperatura esteve mais elevada, sobretudo, à noite. Percebeu-se também a importância das áreas verdes na formação de ilhas de frescor, fato observado no parque Jardim Botânico em quase todos os trabalhos de campo realizados.

Azevedo et al (2003), examinando a influência do microclima em residências representativas da favela de Paraisópolis, no município de São Paulo, analisaram temperaturas máximas e mínimas diárias, bem como as condições de conforto em função dos registros de umidade e temperatura; e chegaram à conclusão de que a tipologia das casas e características como o telhado e o tipo de material utilizado na construção das paredes dessas residências influenciavam diretamente nas condições de conforto/desconforto térmico dos moradores.

Tavares e Tarifa (2004), ao analisar dados climáticos da cidade paulista de Sorocaba, numa série temporal de 41 anos, perceberam uma tendência ao aquecimento, apesar de essa área não sofrer influências diretas da urbanização. Os

evitar explicações simplistas e “catastróficas”.

Imbroisi et al (2004), averiguando duas estações climatológicas do Rio de Janeiro: uma na Praça Mauá, localizada no centro da cidade, e a outra na Estação Ilha Rosa, longe da influência do meio urbano; constataram numa fase inicial que, na primeira década de análise (1972 a 1979), houve uma queda da temperatura média anual na segunda estação; enquanto que na primeira, a oscilação da temperatura não atingiu 1°C. Este fenômeno, apesar de sofrer influência direta do processo de urbanização, esteve também associado a eventos naturais, como o ciclo das manchas solares.

Freitas (2004), ao estudar a cidade de Recife, realizou medições de temperatura em diferentes anos (1998, 2001, 2003), identificando zonas de desconforto e conforto térmico, estando elas, respectivamente, situadas em áreas de verticalização com altas taxas de densidade e grande exposição à radiação solar; e áreas de praças, parques, ao longo das margens dos rios e da orla marítima, em bairros cujas características naturais como solo permeável, vegetação e baixa densidade de construções foram conservadas.

Lucena (2004) – tomando como exemplo o segundo mais populoso bairro da cidade do Rio de Janeiro, Bangu, situado no principal vetor de crescimento da cidade: a zona Oeste, e que experimenta as maiores temperaturas da cidade – procurou mapear as ilhas de calor intrabairro e suas magnitudes, associando-as à situação sinótica dominante e ao uso do solo urbano; e constatou que as ilhas de calor variavam de fraca à forte, sendo esta última localizada na área mais comercial do bairro, caracterizada por uma concentração de serviços, pessoas e veículos.

Silva e Ribeiro (2005), procurando identificar as transformações atmosféricas na favela de Paraisópolis, em São Paulo, a partir do Sistema Clima Urbano, constataram que o uso e ocupação do solo, assim como o arruamento da área, foram agentes diferenciadores nas condições térmicas.

Azevedo e Tarifa (2006) apresentaram onze evidências de que o ritmo semanal das atividades humanas desenvolvidas na cidade de São Paulo contribui significativamente para explicar o comportamento do sistema climático na Região Metropolitana daquela cidade; chegando a afirmar, a partir dos dados analisados na

década de 1990, que o dia de quarta-feira tinha tendência a apresentar uma maior temperatura.

Moura (2006), estudando os microclimas de Fortaleza, analisou duas áreas representativas da cidade: o Centro, marcado por uma concentração de pessoas e serviços, e a Lagoa da Sapiranga, caracterizada por condições naturais mais evidentes. Observando as diferenças de temperatura através de medições horárias em períodos sazonais contrastantes, o autor não encontrou diferenças significativas na temperatura entre as áreas estudadas, muito embora as magnitudes térmicas mais elevadas tenham sido percebidas na área da Lagoa. O mesmo autor estudou ainda o clima urbano de Fortaleza sob o nível do campo térmico, em 2008, a partir de 12 pontos amostrais identificando ilhas de calor, sobretudo, na porção sudoeste da cidade.

Torres (2006) – quando avaliou a qualidade térmica de conjuntos habitacionais destinados à população de baixa renda em Maceió, no estado de Alagoas – verificou que as características climáticas locais não foram incorporadas ao padrão construtivo das unidades habitacionais, resultando em desconforto térmico em ambientes internos. A autora aponta como causas principais para o desconforto: mau aproveitamento das aberturas para ventilação natural, má distribuição e orientação dos arranjos construtivos.

Silveira e Romero (2007) – a partir de uma avaliação de parâmetros bioclimáticos para conjuntos habitacionais em Teresina, no Piauí – concluiu que esses conjuntos geravam um microclima diferenciado, com alterações na temperatura do ar, na umidade relativa e na velocidade dos ventos, e propôs ainda um indicador de conforto térmico para estas áreas.

Dias (2009), ao estudar o conforto térmico em escolas de tempo integral em Palmas, no Tocantins, observou que o projeto arquitetônico das unidades escolares associado às características do ambiente natural propiciava o desconforto ao calor, comprometendo o processo de ensino-aprendizagem dos alunos.

Paiva (2010) estudou um conjunto habitacional de Fortaleza, o Conjunto Ceará, acompanhando as medições obtidas em cinco pontos e em períodos sazonais distintos. O estudo apontou que as áreas de forte dinâmica urbana apresentaram temperaturas mais elevadas, sobretudo, à tarde e no início da noite, gerando zonas de desconforto térmico para os moradores locais.

de temperatura e umidade em uma empresa pública do setor industrial e correlacionaram com variáveis subjetivas dos trabalhadores, chegando à conclusão de que as condições termo ambientais e as características do ambiente construído estavam inadequadas para os operários, comprometendo assim a saúde dos mesmos.

Ortiz (2011), buscando identificar o comportamento termo-higrométrico de cidades de pequeno porte, analisou dados de temperatura e umidade de Cândido Mota, em São Paulo, e verificou que, mesmo possuindo pequeno porte, a cidade apresentava diferenças térmicas significativas que configuram ocorrências de ilhas de calor de até 8ºC.

Ugeda Júnior (2011) analisou a cidade de Jales, no estado de São Paulo, buscando defender a ideia de que cidades de pequeno porte possuíam elementos suficientes para a formação de um clima urbano específico. A partir de mini- estações, transectos móveis e imagens de satélite, ele verificou que os contrastes térmicos ultrapassaram a cota de 10ºC, considerada alta para os estudos de ilhas de calor.

Barros e Lombardo (2012) ao relacionar ocupação do solo, morfologia urbana e formação de ilhas de calor em Recife – Pernambuco, constataram que o ambiente construído, marcado por áreas de baixas edificações, ocupação desordenada e presença de Zonas Especiais de Interesse Social, apresentou temperaturas bem mais elevadas, configurando ilhas de calor de superfície. Os autores ressaltam que a vulnerabilidade socioeconômica dos moradores dessas áreas diminuía-lhes a capacidade de adaptação.

Viana (2013) pesquisou o conforto térmico em escolas estaduais de Presidente Prudente – São Paulo, correlacionando-o aos materiais construtivos e ao uso e ocupação do entorno das unidades escolares; com isso, observou que as edificações escolares propiciavam várias horas de desconforto térmico, corroborando para a compreensão de que o padrão construtivo utilizado não considerou a realidade climática local.

Saraiva (2014) – com objetivo de conhecer o campo térmico de Mossoró, no Rio Grande do Norte – analisou o comportamento climático em nove pontos amostrais distribuídos na zona urbana e rural. Observando que as áreas mais

centrais e destinadas à expansão urbana apresentaram ilhas de calor e ilhas secas, nos períodos matutinos e vespertinos, especialmente, no horário das 14h.

Paiva (2014) relacionou as classes de vulnerabilidade socioambiental em Fortaleza, com Índices de Conforto Térmico em ambientes internos e externos de residências representativas da cidade, utilizando o Sistema Clima Urbano de Monteiro (1976, 2003). Verificou que nas áreas de maior vulnerabilidade foram encontradas condições medianas de conforto, enquanto que nas áreas de baixa vulnerabilidade percebeu-se melhores condições de conforto. Ressalta-se, aqui, que um dos pontos da pesquisa referia-se a conjuntos habitacionais que revelaram condições de desconforto térmico à tarde, tanto no interior como no exterior das residências.