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O complexo de Édipo precoce, o Super-eu arcaico e a formação de símbolos

2. Melanie Klein

2.2. O complexo de Édipo precoce, o Super-eu arcaico e a formação de símbolos

Pudemos acompanhar nos escritos freudianos que a formação do Super-eu, para este autor, ocorre após o abandono dos objetos primários. Há uma complexidade enorme neste processo descrito por Freud uma vez que a identificação com estes objetos ocorre concomitantemente a sua destruição. A desfusão pulsional decorrente da dessexualização e da sublimação subjacente ao abandono dos objetos primários deixa a pulsão de morte como energia livre para agir no psiquismo de forma desfusionada ou ainda para enlaçar-se à Eros em refusões ainda assim nefastas, como é o caso da refusão tópica entre um Eu masoquista e um Super-eu excessivamente sádico. Como vimos, em Freud, este processo ocorreria ao redor dos quatro ou cinco anos de idade da criança, no momento do desmoronamento do complexo de Édipo.

Em 1926, com a publicação de Princípios psicológicos da análise de crianças pequenas surge a primeira descrição de uma das principais descobertas ou invenções iniciais de Melanie Klein: o Super-eu está ativo na criança bem mais cedo do que Freud supunha. Desequilíbrios do sadismo da criança, principalmente quantitativos, mas também qualitativos, podem acontecer desde o momento inicial da vida do bebê, quando este ainda não tem um Eu constituído ou tem um Eu ainda muito débil:

“[...] indo além da ênfase no excesso e na violência pulsional, uma de suas intuições mais geniais desse período foi a descoberta de que a violência pulsional sofre uma inflexão ‘sobre a própria pessoa’, originando o que ela veio a chamar de um superego precoce. Esse superego pulsional é uma concepção que envolve a noção de que as primeiras formas de contrapor-se a certas moções pulsionais são também de natureza pulsional: são as próprias forças do id que, dispostas umas contra as outras, criam essa primeira forma de ‘interdição’. A identificação e a interpretação das fantasias sádicas mostram que a intensidade do amor pré-genital e a dificuldade de moderá-lo produzem uma espécie de ‘infiltração’ e um retorno da violência, o que levou Melanie Klein a focalizar cada vez mais seu olhar sobre a agressividade e seus efeitos na estruturação do psiquismo.”1

Neste artigo de 1926 Klein, que já vinha trabalhando com a técnica psicanalítica do brincar há alguns anos, busca apresentar, através de fragmentos de três casos clínicos, como se dá a relação das crianças com a realidade externa. É através das privações que a realidade apresenta ao estado de “onipotência dos pensamentos” que as crianças vão, aos poucos, fazendo a passagem do mundo ideal para o mundo real. Portanto, “[...] o ponto fundamental, que servirá de critério para toda capacidade posterior de adaptação à realidade, é o grau em que

conseguem tolerar as privações resultantes da situação edipiana.”1 Nos casos clínicos apresentados pela autora podemos observar que o complexo de Édipo já exercia poderosas influências psíquicas desde o segundo ano de vida. Notar que as consequências deste complexo acontecem em idade tão tenra tornam os conflitos ligados a ele ainda mais severos; está presente desde muito cedo o sentimento de culpa inconsciente ou a necessidade inconsciente de punição – já que a primeira expressão traz em si um paradoxo ao exprimir um sentimento inconsciente. Mas o que importa para nós neste ponto é notar que se o Super-eu, em Freud, é herdeiro do complexo de Édipo, para Melanie Klein esta instância está ativa logo no início da vida: a formação do Super-eu também acontece em um momento arcaico e é herdeira da própria pulsionalidade oral, anal e uretral fálica e não apenas do complexo de Édipo freudiano, mais tardio.

A formação desta instância para a psicanalista é uma reação e tentativa de elaboração da situação edípica arcaica por parte do infante. Nas análises com crianças é importante buscar um fortalecimento do Eu no intuito de que esta instância possa suportar ou até mesmo frear as exigências excessivas do Super-eu. Podemos, aqui, dar um passo importante acerca da herança kleiniana para Wilfred Bion e pensarmos que o fortalecimento do Eu, neste momento, se dá a partir da continência das angústias suscitadas pela violenta pulsionalidade pré-genital, que envolve uma intensa destrutividade. A análise de crianças pequenas, segundo Klein, traria como boas consequências uma melhora na relação emocional com os pais e seria capaz de agir ao nível do Super-eu, cujas exigências podem ser amenizadas pelo processo analítico, fortalecendo o Eu que passaria a uma posição menos oprimida. Após estas transformações seria possível não apenas reduzir a necessidade inconsciente de punição, como também ajudaria as crianças a sublimar desejos que antes tinham como destino o recalque.

Dois anos depois, em 1928, vem a publicação de Estágios iniciais do conflito edipiano, aquele que, de acordo com a nota explicativa da comissão editorial inglesa, “[...] é um dos artigos mais importantes de Melanie Klein.”2 Além de vermos emergir o estilo propriamente kleiniano, trata-se de um momento de importante diálogo com a obra freudiana, notadamente O eu e o id de 1920 – ao que tange a noção de identificação – e, principalmente, Inibição, sintoma e angústia publicado por Freud em 1926 – ao que tange a noção de angústia e de defesas arcaicas ‘pré-edípicas’. O período da produção de Klein que vai até 1930 está em íntima relação com este importante texto freudiano de 1926, que lança as novas bases da última

1 Klein, Princípios psicológicos da análise de crianças pequenas, p. 153.

teoria freudiana das angústias1, e traz uma marca muito importante no devir da metapsicologia kleiniana.

Melanie Klein inicia este texto afirmando que já examinara as questões de um complexo de Édipo precoce em Os princípios psicológicos da análise de crianças e que agora irá se lançar na análise daquilo que é o “próximo elemento que influencia de forma determinante os processos mentais”, a saber, “a diferença anatômica entre os sexos” 2. Somos diretamente lançados aos importantes entrecruzamentos entre Freud e Klein neste período histórico da psicanálise: além da publicação de O eu e o id em 1923, no mesmo ano Freud escreve A organização genital infantil. Em 1924 vem a publicação de Neurose e psicose, A dissolução do complexo de Édipo e A perda da realidade na neurose e na psicose. Passando para o ano de 1925 vem a publicação de Algumas consequências psíquicas da diferença anatômica entre os sexos, sendo este último texto a temática explicitamente abordada por Klein no início deste seu artigo de 1928. Entretanto, todos estes textos freudianos estão inseridos no contexto das preocupações da autora na década de 20: as questões relacionadas à passagem do princípio de prazer ao princípio de realidade e suas ligações com a constituição da neurose e da psicose, as questões relativas ao complexo de Édipo, as diferenças anatômicas entre os sexos – e suas consequências psíquicas – para meninos e meninas, levando em conta que a contribuição de uma psicanalista mulher para esta temática é, em termos metapsicológicos e históricos, de grande importância para o campo psicanalítico.

Sigmund Freud inicia da seguinte forma seu texto Algumas consequências psíquicas da diferença anatômica entre os sexos: “Em meus trabalhos e nos de meus discípulos defendemos cada vez mais firmemente a necessidade de que a análise dos neuróticos penetre também o mais distante período da infância, à época do primeiro florescimento da vida sexual.”3 É notável o esforço e interesse de Melanie Klein neste sentido e a importância dada por ela ao período pré-genital e ao período de passagem das crianças à genitalidade:

“O menino, quando se vê impelido a trocar a posição oral e anal pela genital, passa a ter o objetivo da penetração associado à posse do pênis. Assim, ele muda não só sua posição libidinal, mas também seu objetivo, o que permite que mantenha o objeto amoroso original. No caso da menina, por outro lado, o objetivo receptivo passa da posição oral para a genital: ela muda sua posição libidinal, mas mantém o mesmo objetivo, que já levou à frustração em relação à mãe. Desse modo, a menina desenvolve a receptividade para o pênis e se volta para o pai como objeto amoroso.”4

1 Como já afirmamos, a este respeito estamos seguindo os passos de André Green em seu texto L’affect dans l’oeuvre de Freud.

Nesta perspectiva estaríamos lidando aqui com o terceiro momento da teoria da angústia em Freud.

2 Klein, Estágios iniciais do conflito edipiano, p. 216.

3 Freud, Algumas consequências psíquicas da diferença anatômica entre os sexos, p. 284. 4 Klein, Estágios iniciais do conflito edipiano, p. 216. [itálicos da autora]

É curioso observar que Klein utiliza aqui a expressão “posição libidinal”, prenúncio de suas formulações posteriores. Por ora é importante ressaltar que a analista remonta aos desejos edipianos uma associação com o medo da castração e ao sentimento de culpa inconsciente ou necessidade inconsciente de punição. Klein evoca novamente Ferenczi e Abraham para mencionar que os impulsos pulsionais pré-genitais já trazem consigo um sentimento de culpa: enquanto o húngaro propõe “‘uma espécie de precursor fisiológico do superego’ associado aos impulsos uretrais e anais”1 e traz a denominação “moralidade esfincteriana”, o berlinense considera que a angústia surge pela primeira vez associada ao nível oral-canibalístico enquanto o sentimento de culpa estaria associado à fase sádico-anal posterior. “Minhas descobertas vão mais longe”, afirma Melanie Klein, “elas mostram que o sentimento de culpa associado à fixação pré-genital já é efeito direto do conflito edipiano.”2 Entramos agora, na metapsicologia kleiniana, propriamente no território de um complexo de Édipo arcaico: o sentimento de culpa já seria resultado da introjeção – identificação completa ou em curso – dos objetos primários edipianos, ou seja, já é produto da formação do Super-eu em um momento mais arcaico comparado ao que propunha Sigmund Freud; está lançada a tese central deste artigo.

O Super-eu seria, para Klein assim como para Freud, um precipitado de identificações contraditórias, com a diferença que para a analista, como já vimos, a formação desta instância psíquica ocorre mais cedo e tem sua gênese na própria pulsionalidade. Vemos, neste artigo, emergir o estilo de Melanie Klein:

“[...] é fácil explicar por que numa criança com cerca de um ano a ansiedade criada pelo início do conflito edipiano toma a forma do medo de ser devorada e destruída. A própria criança deseja destruir o objeto libidinal, mordendo-o, devorando-o e cortando-o em pedaços. Isso dá origem à ansiedade, pois o despertar das tendências edipianas é seguido pela introjeção do objeto, do qual agora se espera punição. A criança passa a temer um castigo que corresponda à ofensa: o superego se torna algo que morde, devora e corta.”3

Este trecho desvela algumas formulações futuras como a posição esquizo-paranoide e o mecanismo de defesa da identificação projetiva: o desejo da criança em devorar o objeto acaba, de forma especular, dando início para a angústia ou medo de ser devorado pelo objeto. Por ora devemos observar que a formação do Super-eu, para Klein, acontece na fase pré-genital

1 Klein, Estágios iniciais do conflito edipiano, p. 216. 2 Ibidem.

do desenvolvimento, levando em consideração que a necessidade inconsciente de punição, ou o sentimento inconsciente de culpa como escreve a autora com mais frequência, está ligada às fases sádico-oral e sádico-anal e a formação do Super-eu pulsional acontece ainda neste momento – enquanto a criança tem cerca de um ano. Esta contribuição kleiniana abre uma nova perspectiva para olharmos para esta questão uma vez que “um ego ainda muito fraco só é capaz de se defender de um superego tão ameaçador através de forte repressão.” 1

Vemos emergir no interior da metapsicologia kleiniana, as relações estreitas entre pré-genitalidade e o desenvolvimento da necessidade inconsciente de punição que dá origem às angústias arcaicas. Na fase pré-genital o bebê ainda não tem um intelecto desenvolvido e mesmo assim recebe um tsunami de questões e indagações a respeito do que se passa em sua existência; trata-se de um momento que a criança não dispõe de palavras ou capacidade de expressar verbalmente aquilo que ocorre com ela, tornando ainda mais inapreensível o que acontece em seu interior e à sua volta:

“A sensação inicial de não saber está ligada a vários elementos. Ela se une à sensação de ser incapaz, impotente, que logo resulta da situação edipiana. A criança também sente essa frustração de forma mais aguda porque não possui um conhecimento claro sobre os processos sexuais. Em ambos os sexos, o complexo de castração é acentuado por essa sensação de ignorância.”2

É neste sentido que a questão da inibição intelectual pode estar profundamente ligada ao período pré-genital uma vez que há uma associação importante entre o impulso epistemofílico e o sadismo presente na posição pré-genital. A princípio este impulso ao conhecimento se volta para os conteúdos do corpo da mãe: o domínio dos impulsos sádico- anais deste período impele a criança a se apossar do corpo da mãe para penetrar, cortar em pedaços e devorá-lo, alcançando assim a sua destruição. Assim, a pulsão epistemofílica e o desejo de possuir o corpo da mãe estariam associados ao sentimento de culpa trazido pelo conflito edipiano. Em ambos os sexos, “trata-se de uma identificação muito inicial com a mãe.”3 Neste processo, as fixações sádicas pré-genitais exerceriam grande influência sobre a estruturação do Super-eu; quanto mais cruel o Super-eu, mais difícil será lidar com a figura de um pai castrador uma vez que o que está em questão é a fuga da criança de seus impulsos genitais – que podem ficar presos aos níveis sádicos presentes na pré-genitalidade – momento do qual partem as tendências edipianas.

1 Klein, Estágios iniciais do conflito edipiano, p. 217. 2 Ibidem, p. 217. [itálicos da autora]

Neste ponto de seu artigo Melanie Klein parte para reflexões que contribuem para a continuidade das questões lançadas por Freud em Algumas consequências psíquicas da diferença anatômica entre os sexos, descrevendo os efeitos e diferenças da situação edípica arcaica em meninos e meninas. Não estraremos nos detalhes destas questões aqui neste capítulo; ao invés disso gostaríamos de chamar a atenção do leitor para alguns aspectos das triangulações arcaicas e algumas de suas ligações com as phantasias inconscientes kleinianas, tomando como ponto de partida algumas reflexões de Figueiredo:

“Em uma definição abrangente, diríamos que as phantasias inconscientes são os representantes psíquicos de impulsos, necessidades e seus estímulos internos (como a fome), sensações, sentimentos, afetos, tendências, desejos, processos corporais fisiológicos (como os de nutrição e excreção), mecanismos mentais, comportamentos, ideias, falas e intenções. [...] as phantasias inconscientes atestam o poder imaginativo

do corpo (o termo é nosso) na ‘direção de’ e ‘em resposta a’ ambientes e seus objetos,

bem como a transição desta produção fantasística, estreitamente associada aos acontecimentos e processos somáticos, às operações mentais mais desenvolvidas.”1

Seguindo as ideias deste autor, o conceito de phantasias inconscientes seria um híbrido entre as noções freudianas de metapsicologia e fenomenologia da clínica; englobando de forma profícua o conceito freudiano de pulsão. Como já foi dito que o Super-eu arcaico de Klein tem origem na pulsionalidade, esta articulação entre estes conceitos que nascem ‘do chão da experiência clínica’ kleiniana nos parece relevante para seguirmos nossas reflexões, uma vez que as phantasias inconscientes se desdobram em Bion, por exemplo, na noção de elementos beta e, especialmente, na ideia de ataques às ligações; chegaremos a estas questões mais adiante. Quanto às triangulações que acontecem sob a égide das phantasias insconscientes – que tem uma ênfase no mundo intrapsíquico e nos objetos internos, mas que têm uma função mediadora entre o ‘dentro’ e o ‘fora’2, se relacionando dialeticamente com o ambiente e os objetos externos – devemos levar adiante algumas observações. Cabe fazermos uma antecipação das formulações kleinianas de um conceito que até este momento histórico está se anunciando nos escritos de Melanie Klein mas que seria nomeado apenas em 1946: a posição esquizo-paranoide. As primeiras organizações das relações de objeto estão pautadas nas cisões constitutivas desta posição e o bebê, neste momento inicial da vida, não é capaz de se relacionar

1 Figueiredo, A clínica psicanalítica a partir de Melanie Klein, p. 25.

2 No artigo em questão Figueiredo, p. 39, nos chama a atenção para um importante aspecto que faz uma ligação de Klein a

Bion: “Assim sendo, alguns dos objetivos mais centrais da atividade clínico-analítica, podem ser expressos da seguinte forma: desinibição, expressão e simbolização das phantasias inconscientes de forma a garantir o enriquecimento da experiência e da interação entre ‘mundo interno’ e ‘mundo externo’ (instalando ou ampliando a capacidade de ‘aprender com a experiência’, Bion, 1962). Espera-se que as phantasias transformadas percam seu caráter onipotente e possam entrelaçar-se às experiências de vida do sujeito. Trata-se, enfim, da criação e da ampliação da capacidade para pensar, para admitir e processar as phantasias inconscientes, sem que nenhuma noção médica de cura e saúde se imponha.”

com um objeto total mas sim com objetos parciais; passaremos detidamente por estas questões mais adiante. No momento, gostaríamos de especular que a ante sala do complexo de Édipo é formada, além das relações duais com a mãe e com o pai, tomado neste momento como ‘outro do outro’1, por triangulações que são concomitantes, ou talvez até mesmo anteriores, da clássica triangulação bebê-mãe-pai. Neste sentido pensamos em algumas destas triangulações como: i) bebê - mãe presente - mãe ausente; ii) bebê - mãe íntegra - mãe devorada ou, ainda, iii) bebê - objeto bom - objeto mau. Seriam estas triangulações arcaicas que incluiriam sempre as experiências de inclusão ou expulsão – ou introjeção e projeção – de aspectos do psiquismo no momento em que as phantasias inconscientes são reinantes. Eis aqui uma chave de compreensão para a identificação projetiva, como veremos adiante nesta pesquisa.

Além destas questões, talvez o mais importante neste momento do desenvolvimento kleinano seja levar em consideração que os processos descritos por Freud acerca da identificação, incluindo a introjeção do objeto perdido aos moldes da metapsicologia do luto e melancolia, para Klein, estão ativos em um momento muito anterior do desenvolvimento do que se acreditava até então. As questões presentes na posição pré-genital são de suma importância para a posição genital:

“Os estágios iniciais do conflito edipiano são tão dominados pelas fases pré-genitais do desenvolvimento, que quando a fase genital começa a entrar em atividade, ela permanece oculta e só mais tarde, entre o terceiro e quinto ano de vida, pode ser detectada com clareza. Nessa idade, o complexo de Édipo e a formação do superego atingem seu clímax. No entanto, o fato de as tendências edipianas se iniciarem bem mais cedo do que pensávamos, a pressão do sentimento de culpa que, portanto, recai sobre os níveis pré-genitais, a influência determinante exercida tão cedo sobre o desenvolvimento do complexo de Édipo, por um lado, e, por outro, sobre o superego, assim como sobre a formação do caráter, a sexualidade e todo o resto do desenvolvimento do indivíduo – tudo isso me parece ter uma grande importância, ainda não reconhecida.”2

A história da psicanálise, Wilfred Bion aí incluído, deu a Melanie Klein este reconhecimento.

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Chegamos agora aos últimos textos kleinianos deste período que vai de 1921 a 1931 e pode ser considerado o primeiro grande período do desenvolvimento de sua metapsicologia. Além do tema relacionado à formação de símbolos, muito importante para Bion, temos aqui o

1 Expressão de André Green, como aponta Figueiredo em A clínica psicanalítica a partir de Melanie Klein, p. 43. Apenas

resvalaremos nestas questões na presente pesquisa. Ao psicanalista interessado nestas questões a leitura do artigo de Figueiredo é fundamental.

relato daquela que pode ser considerada a primeira análise de uma criança psicótica, o caso Dick, aspecto de profundo interesse quando pensamos na produção bioniana da década de 50 e suas formulações acerca da clínica das psicoses.