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Quando se fala em desenvolvimento, existe a necessidade de realizar a sua distinção de crescimento econômico, uma vez que o primeiro possui objetivos que vão além do aumento da riqueza material. O conceito de desenvolvimento intrinsecamente implica em inclusão social e diminuição de desigualdades e, para que isto se dê, o crescimento é uma condição necessária, mas, de forma alguma, suficiente. O crescimento, mesmo quando acelerado, apenas passará ao

status de desenvolvimento quando ampliar as condições de emprego e reduzir a pobreza,

atenuando assim, as desigualdades (SACHS, 2004). Dessa forma, “igualdade, eqüidade e solidariedade estão, por assim dizer, embutidas no conceito de desenvolvimento”, mas de forma distinta ao que acontece no pensamento economicista já que “em vez de maximizar o crescimento do PIB, o objetivo maior se torna promover a igualdade e maximizar a vantagem daqueles que vivem nas piores condições, de forma a reduzir a pobreza” (SACHS, op. cit., p. 14), fenômeno contraditório num mundo marcado pela abundância.

Segundo Sachs (2004), a idéia de desenvolvimento sofreu dois avanços conceituais importantes: o primeiro foi na década de 70, quando a problemática ambiental levou à reconceitualização do termo desenvolvimento para ecodesenvolvimento (e posteriormente,

desenvolvimento sustentável) o qual apenas “aceita” soluções que promovam crescimentos econômicos com impactos positivos em termos sociais e ambientais. A segunda reconceitualização se deu a partir das teorias de Amartya Sen nos anos 2000, quando “o desenvolvimento pode ser redefinido em termos de universalização e do exercício efetivo de todos os direitos humanos, políticos, civis e cívicos, econômicos, sociais e culturais”. Nessa perspectiva, o direito ao trabalho é essencial, uma vez que “o trabalho decente abre caminho para o exercício de vários outros direitos” (SACHS, op. cit., p.37).

Desde a publicação do Relatório Brundtland, quando o termo desenvolvimento sustentável passou a ser utilizado de forma constante, houve uma emergência de tentativas de conceituação e análises sobre este fenômeno. A definição mais conhecida é a do próprio relatório, segundo o qual, o desenvolvimento sustentável consiste naquele que atende às necessidades das atuais gerações sem comprometer o atendimento das futuras gerações de suprirem suas próprias necessidades (CMMAD, 1991). Tal definição mostra a busca pelo equilíbrio entre as dimensões econômica, ambiental e social (VAN BELLEN, 2006). Definição interessante foi a utilizada por Pronk e Haq (1992 apud VAN BELLEN, op. cit.)28, que é similar ao conceito empregado por Sachs. Para eles, o desenvolvimento só pode ser considerado como sustentável quando o crescimento econômico for acompanhado de justiça social e oportunidades para todos de forma indistinta, sem implicar na destruição de recursos naturais finitos e sem ultrapassar a capacidade de carga do sistema.

Mesmo não havendo definição consensual para o conceito de desenvolvimento sustentável; segundo Sachs (1994; 2002; 2004), é interessante que se transcenda a abordagem ambiental-ecológica e social e sejam consideradas outras dimensões da sustentabilidade. Este autor identifica, geralmente, cinco delas conforme exposto a seguir.

1. Sustentabilidade social: diz respeito à construção de uma sociedade com eqüidade na distribuição de renda e de bens, com pleno emprego e com igualdade no acesso aos recursos e serviços sociais, de modo a diminuir o fosso que separa os padrões de vida de ricos e pobres.

28 PRONK, J.; HAQ, M. Sustainable development: from concept to action. Report of the Hague Symposium. New York: United Nations Development Programme, 1992.

2. Sustentabilidade econômica: envolve um desenvolvimento intersetorial equilibrado e a inserção soberana de todos os países no mercado internacional. Envolve ainda investimentos públicos e privados em áreas estratégicas para o desenvolvimento includente e diminuição de barreiras protecionistas principalmente por países do Norte. Para o autor, essa dimensão se configura como condição sine qua non29 para que se alcance a sustentabilidade nas suas outras dimensões.

3. Sustentabilidade ecológica: envolve a preservação do capital natural e o uso racional de recursos renováveis e limitado de recursos não-renováveis. As estratégias para alcance da situação de sustentabilidade ecológica são comumente discutidas, mas entre elas se destacam a limitação ao uso de combustíveis fósseis e outros recursos facilmente esgotáveis bem como o desenvolvimento de alternativas de substituição aos mesmos; a diminuição do volume de resíduos e poluição; o aumento da capacidade de carga da Terra através da criatividade; a promoção da diminuição do consumo pela parcela da população mundial que consome além daquilo a que tem “direito moral”; o aumento das pesquisas em tecnologias limpas e o estabelecimento de normas de proteção ambiental.

4. Sustentabilidade territorial e cultural: envolve configurações urbanas e rurais mais equilibradas com melhor distribuição dos assentamentos humanos bem como das atividades econômicas aí presentes. Entre as alternativas possíveis para o alcance dessa dimensão da sustentabilidade estão: reduzir a concentração excessiva em áreas metropolitanas; frear a destruição e promover estratégias de desenvolvimento ambientalmente seguras para ecossistemas frágeis (conservação da biodiversidade); explorar o potencial da industrialização descentralizada e incentivar a agricultura familiar e exploração sustentável de florestas; sempre respeitando as diversidades culturais e conhecimentos tradicionais.

5. Sustentabilidade política: implica numa governança democrática, valor fundamental e instrumento necessário para a promoção do desenvolvimento sustentável. Essa dimensão pode ser encarada sob dois referenciais, o nacional e o internacional. A sustentabilidade política sob o referencial nacional envolve a

democracia interna dos países bem como os direitos humanos universais sendo respeitados dentro dos limites dos mesmos. A sustentabilidade política internacional diz respeito às garantias de paz, à cooperação internacional entre países principalmente entre o eixo Norte-Sul, ao controle institucional dos sistemas financeiros e de negócios internacionais, à gestão do patrimônio ambiental global, e ainda a um sistema efetivo de cooperação científica e tecnológica internacional.