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O conceito de “Scaling”

No documento Potência aeróbia de crianças e jovens (páginas 46-53)

4.3 Infância, Puberdade, Adolescência e Maturação Biológica

4.3.3 Aspectos funcionais na infância e adolescência

4.3.3.3 O conceito de “Scaling”

ARMSTRONG et al. (1991a), desreveram o conceito de “scaling” para o VO2pico de crianças inglesas em relação à idade, gênero e maturação sexual. A

convenção da expressão do VO2picoa uma simples razão da massa corporal como

ml.kg-1.min-1 foi aceita para normalisar o VO2 para as diferenças da massa

corporal. Usando essa tradicional análise, ficou evidente que o aumento progressivo no VO2pico absoluto (l.min-1) com o aumento da idade e maturação

foi essencialmente negativo em meninos assim que os valores foram divididos pela massa corporal, enquanto nas meninas foi observado um declínio nos valores relacionados à massa corporal. Para toda a faixa maturacional estudada, os meninos demonstraram valores significantemente elevados do VO2max do que

as meninas.

A abordagem do modelo linear do VO2max para a remoção dos efeitos do

tamanho corporal em relação às medidas de desempenho físico em crianças pode ser interpretada de forma muito simplista ou conduzir a uma interpretação enganosa.

WINTER, BROOKS e HAMLEY (1991), apresentaram as complexidades das análises de covariância (ANCOVA), como um procedimento estatístico usado para gerar e comparar as curvas e interceptos das linhas de

regressão descrevendo as relações entre tamanho corporal e performance em diferentes grupos de sujeitos, por idade e sexo.

Usando essa técnica de regressão linear separando os efeitos do tamanho corporal dos dados de desempenho, WINTER, BROOKS e HAMLEY (1991) demonstraram diferenças no pico da potência aeróbia relativa ao volume da parte superior da perna, as quais foram mascaradas provenientes da taxa padrão formada na base das análises.

Baseado nesse estudo, WILLIAMS, ARMSTRONG, WINTER e CRICHTON (1992) investigaram as mudanças em meninos no VO2pico com a

idade (10-15 anos), maturação sexual e a massa muscular relacionada ao VO2pico

a qual não diferiu significantemente entre os mais jovens e os mais velhos, mas a técnica linear ANCOVA separou os meninos em dois grupos distintos e demonstrou que os meninos de 15 anos apresentaram valores de VO2pico mais

altos do que aqueles de 10 anos de idade para uma mesma massa corporal, desafiando assim os achados anteriores baseados de uma maneira geral na comparação tradicional pela massa corporal (ARMSTRONG et al., 1991a).

Embora o ”scaling” tipo regressão linear tenha demonstrado produzir uma variável melhor ajustada para dados de desempenho do que a taxa padrão, com uma redução dos erros residuais associados com as análises, o método tem limitações bem documentadas (NEVIL, RAMSBOTTOM & WILLIAMS, 1992). Sendo assim, outra abordagem utilizada nessa área é a investigação através do uso de modelos alométricos para interpretar os dados sobre exercício, em virtude das limitações que acompanham os modelos lineares. Esse procedimento tem demonstrado como o entendimento da relação tamanho/desempenho poderia ser mais refinado, através do uso de ANCOVA em dados log-transformados (NEVIL, RAMSBOTTOM & WILLIAMS, 1992).

A abordagem alométrica de “scaling” para desempenho físico e tamanho corporal possui várias vantagens sobre o método linear. Além disso, para produzir um melhor ajuste estatístico para as comparações de desempenho físico em diferentes grupos de sujeitos, os parâmetros a e b na relação alométtrica y = a.xbpodem ser determinados, permitindo a identificação do expoente do tabanho corporal o qual normalisa adequadamente a medida de desempenho em questão (WELSMAN, 1997).

Outros trabalhos que empregaram técnicas alternativas de “scaling” investigaram a aptidão aeróbia de grupos pré-púberes, circum-púberes e adultos do sexo masculino e feminino (WELSMAN, ARMSTRONG, NEVIL & WINTER, 1996; WELSMAN, ARMSTRONG, WINTER & KIRBY, 1993). Diferenças entre sexo e idade foram comparadas utilizando a taxa padrão convencional relacionada com a massa corporal, ANCOVA linear e ANCOVA log-linear.

Os dados relacionados à massa corporal confirmaram a interpretação convencioal de um crescimento do VO2pico, não acompanhados de uma mudança

para os meninos entre a puberdade e a idade adulta e, ainda, indicações de um declínio da aptidão aeróbia das meninas para o mesmo período etário.

Em contraste direto, os resultados do modelo log-linear (alométrico), que demonstrou produzir o melhor ajuste estatístico para os dados, revelou aumentos significantes no VO2pico da pré-puberdade a idade adulta nos meninos, enquanto

nas meninas, foram evidenciados aumentos significantes na aptidão no período pubertário, com uma subseqüente manutenção desses níveis na idade adulta. Esses dados sugeriram uma indicação complementar de que o uso inadequado da taxa padrão pode confundir o entendimento das mudanças na aptidão aeróbia com o crescimento e maturação (WELSMAN, 1997).

Poucos estudos têm empregado alguma outra abordagem senão aquela tradicional de “scaling” para separar as diferenças de tamanho corporal e os dados de exercício em crianças. Talvez a razão principal da resistência ao uso mais difundido do modelo alométrico em nosso meio seja por se tratar de uma estatística mais complexa e a origem de estudos utilizando esse modelo para determinar os expoentes do VO2pico cujos dados aparentavam sugerir que, na

realidade, não havia razão para abandonar os métodos convencionais de “scaling” (WELSMAN, 1997).

A TABELA 2 mostra um resumo de alguns desses dados, os quais invariavelmente evidenciam que os expoentes estão muito próximos a 1.0, o que identifica o suporte do contínuo uso da simples razão pela massa corporal.

TABELA 2 – Expoentes de massa para o VO2pico em crianças e adolescentes.

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Estudo Idade (anos) Sexo n Expoente

de massa McMIKEN (1976) 7-13 M 50 0,88 McMIKEN (1976) 12-16 F 30 0,97 McMIKEN (1976) 10-15 M 14 1,07 ROSS et al. (1991) 8-16 M 25 0,95 SJODIN e 12-19 M 8 d* 0,78 SVENDENHAG (1992) M 4 t* 0,75 PATERSON et al. (1987) 11-15 M 18 1,02

ROGERS et al. (1995) 8-9 M & F 42 0,52

COOPER et al. (1989) 6-18 M & F 109 1,01

Fonte: Dados citados por ARMSTRONG e WELSMAN (1997) *(d: destreinado, t: treinado)

As técnicas alternativas de “scaling” podem influenciar a interpretação de desempenho físico em crianças e jovens. Ao utilizar as análises alométricas, quase sem exceção, estas têm produzido expoentes de tamanho os quais sugerem que a taxa padrão simples remove inadequadamente a influência do tamanho corporal em relação aos dados de desempenho físico (WELSMAN, 1997).

Em particular, os dados demonstraram repetidamente que o expoente 0,67 separa adequadamente as diferenças entre a massa corporal e VO2pico. O uso

desses modelos alométricos tem revelado algumas descobertas interessantes que desafiaram o entendimento convencional sobre crescimento e maturação da aptidão aeróbia (WELSMAN, 1997).

Dessa forma, em qualquer avaliação da aptidão aeróbia realizada em crianças os valores de VO2max devem ser entendidos como aqueles os quais são

significantemente influenciados por fatores genéticos, desenvolvimentistas, da composição corporal e das atividades habituais. Esses fatores dão sustentação tanto para a interpretação da performance em eventos de campo de endurance, quanto para a utilização do VO2max como uma expressão de potência máxima

aeróbia e aptidão cardiovascular (ROWLAND, 1996).

Em estudos transversais, envolvendo a avaliação do VO2max em crianças,

foi demonstrado um aumento progressivo no VO2max absoluto com a idade

(ARMSTRONG et al., 1991a; ARMSTRONG, KIRBY, McMANUS & WELSMAN, 1995; ARMSTRONG, WELSMAN & KIRBY, 1998; BAR-OR, 1983; HENRY, WARE, GARDIN, HEPNER, McKAY & WEINER, 1978; KRAHENBUHL, SKINNER & KOHRT, 1985; MALINA & BOUCHARD, 1991; MIRWALD & BAILEY, 1986; RUTENFRANZ, ANDERSEN, SELIGER, KLIMMER, ILMARINEN, RUPPEL & KYLIAN, 1981).

Em estudos longitudinais, os valores do VO2max absoluto em crianças

encontrados em quatro estudos dessa natureza mostraram um aumento do VO2max

de 200 ml.min-1 por ano antes da puberdade. Após esse ponto os valores se mantiveram crescendo nos meninos e para as meninas houve uma tendência de platô (MIRWALD & BAILEY, 1986).

KEMPER, VERSCHUUR, STORM-VAN ESSEN e VAN AALST (1986), observaram em meninas um decréscimo do VO2max após os 15 anos até

os 23 anos de idade, tanto para valores absolutos como para valores relativos. Nos meninos, VO2max aumentou suavemente após dos 12 anos até os 23 anos de

idade para valores absolutos como um resultado do crescimento da estatura. Porém, em alguns casos, os valores relativos começaram a decrescer entre os 15 e 18 anos de idade.

BINKHORST, SARIS, NOORDELOOS, VAN´T HOF e HAAN (1986), investigando crianças e jovens de seis a 18 anos de idade, comparam os resultados dos valores de VO2max determinados de diferentes maneiras, utilizando

medida direta e fórmulas de predição dessa variável. Para ambos os casos, os autores encontraram uma tendência de platô nos valores de VO2max para as

meninas entre 6-8 anos de idade. Por outro lado, os meninos mantiveram um constante aumento dessa variável ao longo do período etário estudado.

Podem-se determinar os fatores escalares relacionados ao VO2max com a

massa corporal ou estatura em crianças através da criação de equações alométricas em: 1. um grupo de sujeitos de idade biológica ou cronológica similar; 2. valores transversais em crianças de diferentes idades; ou 3. em dados longitudinais das mesmas crianças em diferentes idades (ROWLAND, 1996).

Os estudos nessa área ainda não esclareceram definitivamente a relação entre o VO2max e o tamanho corporal em crianças na fase de desenvolvimento. A

questão que persiste é se a aptidão aeróbia aumenta durante a infância simplesmente por causa do aumento do tamanho ou pela melhora das

capacidades funcionais, as quais são independentes das dimensões corporais ou ambas (ROWLAND, 1996; WELSMAN, 1997).

As abordagens analíticas tais como as escalas alométricas podem prover um maior discernimento sobre essas questões. Ainda assim, são necessárias mais informações, considerando a influência de variáveis como composição corporal, atividades físicas habituais, gênero, atividade esportiva, as quais podem confundir as tentativas de identificar um único fator para “normatisar” o VO2max

pelo aumento do tamanho corporal (ROWLAND, 1996; WELSMAN, 1997). BEUNEN, BAXTER-JONES, MIRWALD, THOMIS, LEFEVRE, MALINA e BAILEY (2002), conduziram um estudo com o objetivo de analisar o desenvolvimento alométrico intraindividual da potência aeróbia de 73 meninos de oito a 18 anos de idade, além de relacionar a potência aeróbia escalar com o nível de atividade física habitual e status de maturidade biológica. Os investigadores verificaram que o VO2pico é amplamente explicado pela massa

corporal, mas o nível de atividade física e sua interação com o status maturacional contribuem independentemente com VO2pico, mesmo depois de a

massa corporal ser ajustada.

Esses resultados ratificam aqueles encontrados em estudos anteriores os quais utilizaram o modelo alométrico para examinar a influência das diferenças corporais, status maturacional e a interpretação do VO2max ou VO2pico

(ARMSTRONG & WELSMAN, 2001; EISENMANN, PIVARNIK & MALINA, 2001; MATECKI, PRIOUX, AMSALLEM, MERCIER, PREFAUT & RAMONAXTO, 2001; THOMIS, ROGERS, BEUNEN, WOYNAROWSKA & MALINA 2000; WELSMAN et al., 1996).

No documento Potência aeróbia de crianças e jovens (páginas 46-53)

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