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O Congresso Internacional de Surdo-Mudez de 1880, em Milão Itália

CAPÍTULO 2 A EDUCAÇÃO DE ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA

2.2 O Congresso Internacional de Surdo-Mudez de 1880, em Milão Itália

Em 1880, ocorreu o marco histórico na Educação de Surdos: a realização do “Congresso Internacional de Surdo (Mudez)”. Nesse congresso houve votação para extinguir a Língua de Sinais. Os professores surdos presentes não tiveram autorização para votar.

Os participantes do congresso representavam diversos países. Nesse evento, ocorrido no dia 7 de setembro de 1880, 160 pessoas votaram a favor e apenas 4 pessoas contra o método oral. De acordo com Soares (2005), esse congresso

[...] considerou a superioridade do método Oral Puro em relação ao ensino que combinava fala e gesto para o desenvolvimento da linguagem do surdo-mudo e declarou: [...] o meio mais natural e efetivo pelo qual o surdo que fala adquire o conhecimento da linguagem é o método intuitivo, que consiste em expor, primeiro pela fala, e depois pela escrita, os objetos e os fatos que ocorrem diante dos olhos dos alunos (SOARES, 2005, p. 45).

Após o evento, o resultado aprovava o método oral e proibia os surdos de usarem a língua de sinais. O método oral não foi bem aceito pelos surdos, porém, não tiveram outra escolha a não ser abandonar a língua de sinais, ou utilizá-la de forma velada ou privada, longe de espaços públicos.

No Brasil, o Dr. Tobias Rabello Leite (1871) havia assumido o Instituto Nacional de Surdos-Mudos do Rio de Janeiro. Leite era a favor da educação dos surdos por meio de gestos. Em 1877, elaborou os objetivos do Instituto que era dar ao surdo- mudo Instrucção Litteraria e ensino profissional. Para Leite, a instrução literária abrangeria de 6 a 8 anos de estudo, compreendendo:

[...] o ensino da língua portugueza pelo meio da escrita, da arithimetica até decimaes com applicações ás necessidades da vida commum, da geometria plana com aplicações á agrimensura, da geographia e história do Brazil, e noções da história sagrada. O modo prático do ensino da língua portugueza é o prescrito no livro Lições de Linguagem Portugueza, extrahidas de diversos methodos em uso nos institutos da Europa, com as modificações que a localidade, a occasião, a intelligencia, o temperamento, a indole, a idade e os habitos do alumno exigem. A educação profissional é dada por ora: Na officina de sapateiro, que faz todo o calçado necessário para os alumnos e para os particulares. Logo que o número de alunos fôr sufficiente, outras officinas serão estabelecidas. Aos artefactos das officinas dá-se um valor, do qual metade é recolhido á Caixa Economica, e escripturada em cadernetas no nome do alumno, que retira capital e juros quando deixa o Instituto. Há alumnos que fazem o peculio de 150 réis (LEITE, 1877, p. 5-8, apud SOARES, 2005, p. 51-52).

Leite (1887, apud SOARES, 2005) descreve minuciosamente as práticas pedagógicas, apresentando a metodologia de forma clara e objetiva. O autor mostrou que não faltava determinação para fazer com que os surdos aprendessem as atividades oferecidas pelo Instituto.

O ensino profissional preestabelecia os ofícios nos quais os surdos poderiam trabalhar:

[...] inquestionávelmente de maxima importancia e conveniencia que o surdo-mudo tenha um officio, ou arte de que subsista. Na escolha do officio ou arte a que o surdo-mudo deva applicar-se, convem atender- se á sua constituição physica, á localidade em que tem de residir, á sua aptidão, e até á posição ou genero de vida de seu pai. Em geral, as artes e officios convém mais aos habitantes das cidades, e a agricultura aos dos campos. Das artes e officios devem ser preferidos os que podem ser exercidos em qualquer parte, cidade, ou pequenos povoados. Sapateiro, alfaiate, correeiro, torneiro, oleiro, chapeleiro, tintureiro, impressor e encanador, são industrias que muito lhe convém. [...] Nas fabricas de fiar, tecer, e outras congeneres, os surdos-mudos são muito apreciaveis, não tanto porque aprendem facialmente, mas porque são fidelissimos executores das instrucções e ordens do patrão (LEITE, 1877, p. 22-24, apud SOARES, 2005, p. 53).

O autor apresentou diversos ofícios ou profissões nos quais os surdos poderiam trabalhar. O nível de concentração dos surdos era considerado alto porque eles não eram afetados pelos estímulos auditivos. Por não se desconcentrarem, se comparados aos ouvintes, eram alvos do serviço braçal. Sá (2003), nesse sentido, aponta:

Em todas as partes do Brasil e do mundo os surdos têm sido condenados a um analfabetismo funcional, têm sido impedidos de alcançarem o ensino superior, têm sido alvo de uma educação meramente profissional (treinados para o ‘mercado de trabalho’), têm sido mantidos desinformados, enfim, têm sido impedidos de exercer sua cidadania. Esta situação resulta de múltiplas questões, sendo uma delas, certamente, o processo pedagógico a que foram submetidos. (SÁ, 2003, p. 91, grifo nosso).

De fato, conforme Albres (2005), a aprendizagem educacional para os surdos menos favorecidos financeiramente demorou para acontecer.

[...] a educação destinava-se aos surdos que tinham boas condições econômicas, proporcionando-lhes o ensino da fala, da escrita e da leitura. Para os menos favorecidos, cabia o ensino de sinais para a comunicação imediata, a dimensão funcional do trabalho e da subsistência. (ALBRES, 2005, p. 21).

As consequências educacionais da proibição do uso da língua de sinais, após o congresso de 1880 em Milão, são comentadas por Skliar (2013):

Na prática escolar, a primeira medida educativa para coibir o uso da língua de sinais foi obrigar os alunos surdos a sentarem sobre suas mãos. Em seguida, retiraram-se as pequenas janelas das portas das salas de aula para impedir a comunicação sinalizada entre os alunos. Os professores surdos e seus auxiliares deveriam deixar as escolas e os institutos (SKLIAR, 2013, p.38).

Os surdos quando tentavam fazer algum tipo de sinal, eram punidos e debochados pelos docentes em sala de aula. O ensino era escasso se comparado ao dos ouvintes. A pesquisa realizada para a elaboração da presente dissertação, nesse sentido, procurou compreender como atualmente está funcionando a educação das pessoas com deficiência auditiva/ surdez.