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O conhecimento e as habilidades no contexto da prestação informal de cuidados

3.3. Os cuidados informais prestados aos indivíduos em situação de dependência A OMS afirma que, de uma forma geral, os indivíduos que se inscrevem nas formas mais

3.3.1 O conhecimento e as habilidades no contexto da prestação informal de cuidados

(3) fase de resolução, quando o cuidador e o recetor chegam a um padrão estável de prestação e receção de cuidados, sendo que as necessidades do primeiro se baseiam principalmente no apoio emocional.

3.3.1 O conhecimento e as habilidades no contexto da prestação informal de cuidados

A situação de prestar cuidados informais a idosos dependentes, em casa, coloca o cuidador perante um processo de adaptação que passa necessariamente pelo aumento do repertório de conhecimentos e de capacidades que lhe permita lidar este tipo de exigência. As necessidades específicas e individuais em conhecimentos e em habilidades para um eficaz desempenho do papel de FC, exigem da parte dos profissionais de saúde a criação de parcerias nos cenários onde essa prestação de cuidados tem lugar, ou seja, no domicílio. A educação para a saúde pode ser encarada como o conjunto de "...toda a actividade

intencional conducente a aprendizagens relacionadas com saúde e doença, produzindo mudanças no conhecimento e compreensão e nas formas de pensar; pode influenciar ou clarificar valores, pode proporcionar mudanças de convicções e atitudes; pode facilitar a aquisição de competências; pode ainda conduzir a mudanças de comportamentos e de estilos de vida." (8). As estratégias de educação para a saúde concebidas para responder às necessidades dos FC devem assumir um carácter sistémico, sistemático, profissionalizado e personalizado, de forma a consubstanciar oportunidades de crescimento e de maturação das capacidades da família ou de outros significativos para o papel que são chamados a desempenhar (10).

É de elevada importância a articulação e a partilha de responsabilidades entre os vários atores que intervêm no processo, nomeadamente os FC e o sistema de prestação de cuidados de saúde, numa tentativa de preservar quer a qualidade dos cuidados que são prestados em casa, quer a saúde física e mental dos FC (28, 38). O ónus que advém do crescente aumento da necessidade de cuidados informais a idosos dependentes, no domicílio, recai na grande maioria dos casos sobre as mulheres. Se estas não possuírem

um conjunto de recursos necessários, de que o conhecimento e as habilidades para cuidar são exemplo, terão como único fundamento para os seus cuidados a sua própria tomada de decisão, baseada naquilo nas suas conceções individuais e nas suas crenças de saúde. Em relação aos conhecimentos e capacidades dos FC para fazer face às exigências dos cuidados, os que manifestam não ter conhecimentos nem capacidades, acusam maior sobrecarga, maior impacto do cuidado, pior saúde e pior qualidade de vida (6).

Num artigo sobre doentes de AVC e os seus FC no Reino Unido, refletiu-se sobre suas necessidades, assim como sobre a falta de informação e competências suficientes para assumir o cargo de FC (51). Muitas vezes, os profissionais tendem a produzir julgamentos à

priori sobre a capacidade inteletual daqueles, assumindo que os que apresentam uma

personalidade com maior pendor emocional são menos capazes de reter a informação (52, 53). A habilidade para prestar cuidados, e não somente a decisão e a prontidão para cuidar, é um requisito fundamental cuja não satisfação pode colocar em causa quer a qualidade dos cuidados prestados, quer a saúde e qualidade de vida de quem cuida (51). A questão da preparação para prestar cuidados assume um significado ainda maior quando a situação surge ao cuidador pela primeira vez, o que faz aumentar a necessidade de uma avaliação dos seus conhecimentos e habilidades, evitando assim uma modalidade de respostas do tipo tentativa-erro muitas vezes adoptadas pelos FC (54).

Vários autores têm chamado a atenção para a importância da adaptação ao papel do FC no contexto da alta clínica após um internamento hospitalar quando se prevê que a incapacidade funcional se prolongue no tempo. Logo desde os primeiros momentos do internamento, os profissionais de saúde deverão investir na capacitação do FC para a sua nova missão. Esta visão, traduzida no conceito de preparação do regresso a casa, deve ser operacionalizada tendo como alvo o doente dependente (dentro das capacidades que preservar) e o seu FC, através de um processo de avaliação das necessidades e de intervenção, promovendo a continuidade de cuidados pelos diferentes níveis de prestação de cuidados: cuidados hospitalares e cuidados primários (9, 10, 55).

A relevância que a Aprendizagem Cognitivaxi e a Aprendizagem de Capacidadesxii dos clientes ocupam no seio das práticas de cuidados de enfermagem é sublinhada num estudo sobre sobre o Resumo Mínimo de Dados de Enfermagem (RMDE) (13) em Portugal, onde se destaca a importância das intervenções de enfermagem que, ao atuarem ao nível da apropriação de conhecimentos teóricos e da aquisição de capacidades instrumentais por parte dos clientes, os colocam numa posição facilitada para corresponder ao papel de cuidadores. Do ponto de vista das relações estabelecidas entre os elementos clínicos centrais da enfermagem (focos, diagnósticos, intervenções), ficou claro no mesmo estudo que as intervenções de enfermagem que têm por tipo de ação o Informarxiii

e o Ensinarxiv,

põem em destaque a Aprendizagem Cognitiva como dimensão central dos cuidados. Por outro lado, as intervenções de enfermagem dirigidas à Aprendizagem de Capacidades teriam por tipo de acção o Instruirxv e o Treinarxvi (13). Estas intervenções traduzem uma orientação para os cuidados centrada na aquisição de conhecimentos e de capacidades para o desempenho adequado do papel de FC.

O facto de cerca de dois terços das intervenções de enfermagem definidas para o RMDE terem aqueles tipos de ação, vem reforçar a relevância que o conhecimento e as capacidades dos clientes assumem no discurso da profissão de Enfermagem, sendo que o aprofundamento concetual das intervenções contribuirá para a construção de respostas mais apropriadas acerca de como ensinar, com que estratégias e com que didáticas (13).

xi Aprendizagem Cognitiva é um tipo de Aprendizagem com as características específicas: aquisição da

capacidade de resolução de problemas, associada a inteligência e pensamento consciente. (12)

xii Aprendizagem de Capacidades é um tipo de Aprendizagem com as características específicas: aquisição do

domínio de actividades práticas assocaida a treino, prática e exercício. (12)

xiii Acção com as características específicas: comunicar alguma coisa a alguém. (12)

xiv Acção de Informar com as características específicas: dar informação sistematizada a alguém sobre temas

relacionados com a saúde. (12)

xv Acção de Ensinar com as características específicas: fornecer informação sistematizada a alguém sobre como

fazer alguma coisa. (12)

xvi Acção de Instruir com as características específicas: desenvolver as capacidades de alguém ou o

Os objetivos deste estudo são:

1. Conhecer as caraterísticas sócio-demográficas e o grau de independência na realização das ABVD e das AIVD de idosos em situação de dependência que residem no domicílio e que se encontram inscritos na Unidade de Saúde Familiar (USF) Serpa Pintoxvii;

2. Conhecer as caraterísticas sócio-demográficas dos FC dos idosos dependentes e as caraterísticas do contexto da prestação dos cuidados informais;

3. Conhecer a satisfação com os cuidados de enfermagem dos idosos dependentes (ou dos seus FC);

4. Descrever os enunciados dos diagnósticos do domínio da Aprendizagem Cognitiva atribuídos aos idosos dependentes e aos seus FC, que tenham sido documentados no SAPE® entre 01/01/2009 e 31/07/2011;

5. Descrever os enunciados diagnósticos da área da Aprendizagem de Capacidades atribuídos aos idosos dependentes e aos seus FC, que tenham sido documentados no SAPE® entre 01/01/2009 e 31/07/2011;

6. Descrever as intervenções de enfermagem com os tipos de ação Informar, Ensinar,

Instruir e Treinar, implementadas aos idosos dependentes e aos seus FC, que

tenham sido documentadas no SAPE® entre 01/01/2009 e 31/07/2011;

xvii No capítulo dos Objetivos, designaremos os "idosos em situação de dependência que residem no domicílio e

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