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O conselho escolar e seus atores: os personagens da nossa pesquisa

5 O CONSELHO ESCOLAR NA CONSTRUÇÃO DA GESTÃO

5.1 O conselho escolar e seus atores: os personagens da nossa pesquisa

Entendendo que o Conselho Escolar utiliza o princípio da pluralidade em sua constituição obedecendo ao disposto em lei, com relação à participação social na gestão da educação e que esta “deve” se dar de forma democrática, percebemos já na escolha dos

sujeitos para compor os grupos focais, o surgimento de elementos importantes relacionados ao discurso promulgado em Jaboatão com relação à participação e aos Conselhos Escolares.

Ao procurarmos a Secretaria de Educação para compor o quadro de escolas que poderiam participar da pesquisa enviando os sujeitos para participar do grupo focal, nosso questionamento foi o de que parâmetro era utilizado para constatar quais escolas vivenciavam uma gestão democrática e tivemos como resposta de que não haveria nenhum mecanismo voltado para o acompanhamento e avaliação dessa gestão.

A partir desta informação iniciamos nossas inferências, nesse caso, sobre dois olhares. O primeiro de que essa ausência de avaliação do processo de gestão democrática gera uma lacuna, uma vez que não há o acompanhamento por parte da secretaria nesse sentido, assim como poderíamos igualmente refletir sobre o fato que essa retirada do Estado em um possível processo avaliativo, pode indicar um fornecimento de autonomia para que as escolas, diante da posse do Regimento do Cise e do Projeto Político Administrativo Pedagógico, estruturem sua dinâmica conforme o seu entendimento38.

Nesse sentido, a própria fala de um dos sujeitos que compõe o Núcleo responsável pelo trabalho com os Conselhos Escolares, aponta mecanismos que podem ser utilizados como instrumentos de acompanhamento, mas não necessariamente funcionem como aparelhos avaliativos do processo de gestão democrática.

“Nosso trabalho ainda está se constituindo nessa nova gestão municipal (pausa/pensando) Vínhamos trabalhando na gestão anterior, mas não na mesma intensidade como na atual. É um processo! No início do ano letivo, solicitamos um cronograma com as datas e horários das reuniões ordinárias.

Temos procurado participar destas reuniões, após contato prévio com as

escolas, procurando respeitar o momento mais viável para a nossa

intervenção. Observamos a dinâmica da reunião, depois fazemos algumas

inferências, esclarecemos dúvidas dos conselheiros. Além das visitas,

também realizamos atendimento na SEDUC e realizamos formações com os conselheiros por segmento e regionais.” (grifos nossos)

No discurso acima, percebemos que não há um programa que desenvolva mecanismos de avaliação que verifiquem como vem se dando a concretização da gestão democrática39 nas

38

Entendemos também que a não avaliação permite uma brecha para que a gestão da escola seja comandada segundo as diretrizes de seu gestor, podendo ou não ser democrática.

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Essa mesma equipe gestora em outro município e época realizou um Projeto que consistia na realização de seminários, formação continuada para gestores, conselheiros e os demais mecanismos de participação com a finalidade de fornecer os subsídios teóricos, aconselhamento prático e acompanhamento destes órgãos (Marques, 2007, pg. 142)

escolas, levando-se em conta que não é apenas a disposição em leis que materializa a gestão democrática. Com isso, entendemos que, uma avaliação poderia auxiliar no conhecimento de como as coisas ocorrem, assim como ajudar na busca de soluções para problemas que podem estar originando obstáculos à democratização da gestão.

Entretanto, nosso olhar não pode ser conclusivo, no sentido de estabelecer que essa não avaliação corresponde a uma falha da equipe e sim, um entendimento de que a necessidade em avaliar a gestão democrática requer mais que um parâmetro de perguntas e respostas. Em nossa compreensão, uma verificação que pudesse perceber a forma como os discursos materializam-se nas ações e como essas expressam significados, seria relevante de maneira que a secretaria de educação estaria acompanhando formalmente e constantemente o andamento da gestão democrática, descobrindo os entraves e os êxitos.

Sobre esse nosso olhar da necessidade de acompanhamento, Werle (2007, pg. 61) assinala que estamos regredindo, nos voltando a um modelo de Estado que tem “ampla tutela e controle” com a gestão da sociedade, particularmente com a educacional, levando-se em conta que a educação é um dos mais importantes meios de propagação das políticas para a sociedade. Nesse aspecto, esse “controle” e talvez aqui a nossa percepção da falta de avaliação da gestão democrática, não condiga com o proposto em lei quanto à democratização da gestão.

Neste sentido, entendemos que essa ausência de avaliação pode também ser ocasionada pelo elemento apatia, ou seja, o hiato causado por uma falta de avaliação da gestão democrática nas escolas exprime uma ausência também de Estado enquanto regulador que coordena e mobiliza os agentes sociais. Assim, entendemos que um mecanismo de acompanhamento constante, além das formações, mas que não interferisse na dinâmica da escola poderia trazer uma maior credibilidade aos mecanismos de participação, podendo suprimir e até mesmo eliminar a apatia e o desinteresse de alguns sujeitos com relação à vida da escola.

Diante da informação de que não havia um mecanismo avaliativo das escolas com relação à gestão democrática, resolvemos aceitar a indicação da Secretaria de Educação tendo em vista que percebemos um anseio em apontar as escolas que contemplassem um bom trabalho com o Conselho Escolar. Essa indicação foi importante à medida que fortaleceu nossa impressão sobre a atuação do sujeito chefe do núcleo de interlocução com Conselhos Escolares.

Percebemos uma intensa atuação desse sujeito especificamente sem que seja uma dinâmica da secretaria de educação enquanto promotora das ações para o sistema de ensino. A atuação desse sujeito aponta para uma compreensão do fato de que apenas a lei não materializa a democracia e a existência de espaços participativos. Faz-se necessário a existência de uma cultura democrática que suplante o entendimento de mecanismos centralizadores.

Ainda sobre os sujeitos de nossa pesquisa, com a indicação da secretaria das escolas que poderiam participar da pesquisa e através do contato com essas instituições, construímos nosso quadro de sujeitos mostrado em nosso capítulo de metodologia40, constituído por atores da escola e comunidade civil, eleitos para ocupar o cargo de conselheiros para um mandato de dois anos.

Seguindo a orientação de Gatti (2005), os grupos focais deveriam ser formados levando-se em conta pontos em comum entre os sujeitos. Dessa forma, compusemos os grupos focais da seguinte forma:

a) Primeiro Grupo focal: composto por Diretor, professores e funcionários. Foram tomados como pontos em comum a escolaridade e o fato de serem funcionários da prefeitura de Jaboatão.

b) Segundo Grupo focal: composto por mães, pais, alunos e representante da comunidade civil. Tomamos como ponto comum entre eles não fazerem parte do corpo técnico-administrativo-pedagógico das escolas estudadas.

Cada um dos grupos ocasionou um direcionamento específico. Entendemos isso como um elemento da pluralidade existente na representação dos segmentos, pois cada sujeito tem experiências e juízos diferentes sobre o que é participação, gestão democrática, educação, política, entre outros assuntos. A seguir estaremos apresentando com maiores detalhes, os resultados da pesquisa, desde a formação até as discussões arroladas durante os grupos focais.