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CAPÍTULO 1: FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO: A FORMAÇÃO DE UMA IDENTIDADE

1.4 O conteúdo programático na origem da disciplina no curso de Pedagogia

Desde o início dos anos 1940, tal como registrado no Anuário da Universidade de Minas Gerais (1939 – 1953), a cadeira de História e Filosofia da

Educação compõe o programa do curso de Pedagogia, mas a disciplina Filosofia da

Educação está descrita no currículo independente da História, como uma matéria autônoma, ministrada a partir da terceira série. A História da Educação também aparece no quadro do currículo desvinculada da Filosofia da Educação, ministrada a partir da segunda série do curso, se estendendo até a terceira. Mais adiante, o Anuário se refere ao programa da cadeira de História e Filosofia da Educação, no entanto, coloca seus conteúdos de ensino à parte: segunda série – conteúdos de

45 Antes de se tornar Instituto foi fundado como Escola Normal pela Lei nº 34, de 16 de março de

1846. Recebeu o nome de Instituto de Educação Caetano Campos (IECC) no ano de 1894. Por não ter encontrado informações precisas, não posso afirmar que a disciplina Filosofia e História da

Educação esteve presente no currículo de formação de professores, desde quando a Escola

transformara-se em Instituto. Para maiores informações sobre a história do IECC: cf.: <http://www.iecc.com.br>.

Historia da Educação; terceira série – conteúdos de História da Educação; terceira série – conteúdos de Filosofia da Educação.

Então, o Anuário registra um programa relativo à cadeira História e Filosofia

da Educação, cujos conteúdos de ensino estão organizados separadamente e,

nesse sentido, os conteúdos não poderiam ter sido ministrados de maneira simultânea, nem mesmo no terceiro ano do curso, quando as disciplinas foram ofertadas no conjunto de matérias da 3ª série.

Essa tentativa de organização do programa, por área de conhecimento, parece ter tido pouca ou nenhuma coerência, uma vez que não foram definidos com clareza os limites concernentes aos assuntos específicos da história da educação e os relativos à filosofia da educação. As temáticas de história da educação aparecem fundadas na história das ideias filosóficas, priorizando as relações históricas entre a filosofia e a educação, a partir das correntes filosóficas desde a civilização antiga até o mundo contemporâneo.

Ainda não foram encontrados documentos desse período que pudessem fornecer informações precisas quanto aos planos de atividades, mas já que os programas46 indicam que não havia delimitações entre os saberes históricos e filosóficos, apesar de o programa descrevê-los de forma apartada, então, provavelmente, os exames de “verificação de aprendizagem” abordassem as temáticas dos conteúdos de História e Filosofia da Educação indistintamente.

A disciplina Filosofia da Educação se originou, portanto, no interior do curso de Pedagogia da UMG, a partir da cadeira de História e Filosofia da Educação. Seus conteúdos de ensino, referente ao programa dos anos de 1939 a 1953, apresentaram-se em blocos47.

O bloco introdutório, ministrado na segunda série do curso, ofertou temas gerais de história da filosofia e da educação da antiguidade oriental e ocidental, abrangendo as civilizações: chinesa, japonesa, hindu, persa, caldaica, hebraica e egípcia, com ênfase nas temáticas das culturas grega e romana, onde eram tratados os tópicos relacionados às origens da educação moral, artística e religiosa. Os

46 É possível perceber que os assuntos relativos à Filosofia da Educação na Grécia antiga, por

exemplo, estão assentados no conjunto de conteúdos da História da Educação, ofertados na segunda série do curso.

47 Refiro-me a um conjunto ou a uma quantidade de assuntos organizados por unidade. Por exemplo,

para a 2ª série, um bloco introdutório ou Unidade I, apesar de não estar nomeado dessa forma, para a 3ª série, Unidade II: Transcendentalismo Pedagógico, Unidade III: Naturalismo Pedagógico e Unidade IV, que também não está nomeado assim, que diz respeito aos conteúdos de Filosofia da Educação.

conteúdos de ensino do bloco II, da terceira série, tiveram como objetivo a “iniciação dogmática e a formação moral” (ANUÁRIO, 1939-53, p. 208), para tanto, foram ofertados um acúmulo de temas referentes aos tempos apostólicos cristãos: das escolas catequéticas do início da era cristã às escolas monásticas do período medieval, da história de vida dos educadores e filósofos escolásticos aos comentadores árabes da filosofia aristotélica.

Os conteúdos do bloco III abrangiam uma vasta temática a respeito do naturalismo pedagógico, ofertando quadros gerais da educação renascentista europeia, da filosofia da educação reformista e contra reformista, passando pelas correntes filosóficas da pedagogia de grandes pensadores dos séculos XVII a XX, dentre os quais, couberam nomes como Descartes, Bacon, Locke, Voltaire, Rousseau, Spencer, Kant, Pestalozzi, Herbart, Fröebel, Mirabeau, Tolstoi, Durkheim, Nietzsche, Dewey, etc. Nesse bloco também continham temas referentes à história da educação brasileira do período colonial e republicano e foram enfatizadas às reformas educacionais de Fernando de Azevedo, Francisco Campos, Lourenço Filho, Anísio Teixeira e Capanema. O programa se encerrava com propostas de reflexões sobre o papel das universidades brasileiras no desenvolvimento da cultura e, particularmente, o papel da Faculdade de Filosofia, na criação de uma “elite sequiosa da verdade suprema: Deus” (ANUÁRIO, 1939-53, p. 211).

O último bloco descreveu os conteúdos que compunham o programa de Filosofia da Educação. Os assuntos iniciais tratavam sobre a hegemonia do discurso filosófico em detrimento das ciências particulares e, “em particular, da subordinação da Pedagogia” diante da filosofia (ANUÁRIO, 1939-53, p. 214). A continuidade do conteúdo tendeu para uma abordagem de cunho fundamentalmente tomista e cristão, que se propunha ao tratamento das causas em educação: da filosofia pedagógica católica e não católica, dos fins e dos valores da vida e da educação, da causa eficiente da doutrina cristã, da ordem natural e sobrenatural da educação e da função do educador baseada na causa exemplar do Cristo. O programa salientou questões a respeito da tríade social “qualificada para educar”: a família, o Estado e a igreja, propondo trabalhar sobre métodos para a formação do homem perfeito.

A partir desses dados que caracterizam o ensino da disciplina em suas origens no currículo do curso de Pedagogia da UMG, sua análise sugere que o excesso de conteúdo proposto pelo programa, se torna um potencial para problematizar a finalidade da disciplina nesse curso de formação de professores.

Apesar de a extensão dos conteúdos de ensino estar voltada para a formação humana, a intenção parece ter sido reduzir essa formação à orientação religiosa/católica, conforme pode ser notado nas tendências doutrinárias presentes em seus conteúdos de ensino.

Se compararmos com os programas das demais disciplinas que compunham o currículo do curso de Pedagogia, constataremos que essa é uma característica do programa da cadeira de História e Filosofia da Educação, possivelmente decorrente da crença religiosa da professora catedrática responsável que, seguramente, detinha poder e autonomia sobre as definições do conteúdo. Pois, conforme afirma Motta, as universidades:

eram organizadas em torno dos professores catedráticos, docentes prestigiados e bem-remunerados, com total poder sobre as respectivas áreas de saber [...] tinham a prerrogativa de selecionar pessoalmente seus assistentes, professores e pesquisadores, bem como de definir os programas de ensino. (MOTTA, 2014:67)

Todo o programa da disciplina continha uma vertente explícita e predominantemente religiosa, de fundamentação cristã católica. A base de sustentação dos conteúdos de ensino, reservados para a Filosofia da Educação, era praticamente uma doutrinação cristã de viés católico, pautada na filosofia de São Tomás de Aquino, orientação que também se manifestava nos conteúdos de ensino de História da Educação, onde se principiavam os conhecimentos dogmáticos e morais.

1.5 Organização curricular: o conteúdo programático na origem da disciplina