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O CONTEXTO DA PESQUISA: O TERRITÓRIO, A REDE E OS

SENTIDOS SOBRE O PAPEL DOS SERVIÇOS EM RELAÇÃO À

VIOLÊNCIA

Num primeiro momento, quando da elaboração do projeto de pesquisa, a aplicação da entrevista individual, dirigida ao responsável pelo serviço ou a um profissional informante-chave, teve como objetivo uma primeira aproximação com o campo (primeira etapa da pesquisa), por meio do levantamento de informações sobre as características e sobre o contexto dos serviços pesquisados. As informações obtidas, a princípio, seriam usadas de forma bastante simplificada para a descrição do cenário de pesquisa.

Entretanto, após a realização das entrevistas a pesquisadora percebeu que cinco das 20 perguntas do roteiro (APÊNDICE B) que se referem: 1) à finalidade do serviço e às atividades oferecidas; 2) ao público-alvo; 3) às parcerias com outros serviços; 4) à relação com a comunidade; 5) e às ações de atenção e prevenção da violência, ofereciam também a possibilidade de uma análise mais aprofundada. O fato do roteiro da entrevista ter sido semi-estruturado possibilitou que os entrevistados tivessem mais liberdade de se expressar, não apenas assinalando o que fazem e como fazem, mas também, de forma embutida, trazendo à tona suas visões de mundo, valores e sentidos em relação aos objetos de intervenção e às práticas correlatas, e, de forma especial, o papel que percebem ter frente às questões ligadas à violência.

Embora o número de entrevistas seja reduzido, ainda assim podem-se identificar sentidos, visões, formas de considerar a violência e outros objetos a ela

relacionados que remetem a representações que, mesmo não sendo de um grupo, são de sujeitos que falam a partir de sua inserção grupal. Por isso, assume-se que os enunciados emitidos pelos sujeitos participantes se baseiam em representações que são compartilhadas. Além disso, como se verá mais adiante, nos resultados da análise dos grupos focais foram identificados muitos sentidos considerados como representações sociais (por serem compartilhadas) que se igualam aos encontrados nas entrevistas individuais, o que torna possível não descartar completamente a consideração dos temas encontrados nas quatro entrevistas individuais como indícios de representações sociais.

Estes sentidos em relação aos objetos, por estarem em jogo no contexto pesquisado, podem estar fortemente relacionados à construção das representações de violência, constituindo-se como verdadeiro pano de fundo para se pensar estas representações. Partindo desta premissa, a pesquisadora decidiu explorar o potencial analítico dos conteúdos destes discursos, visando buscar elementos que pudessem auxiliar na formulação de hipóteses sobre as condições de produção das representações sociais de violência e suas possíveis ancoragens, bem como verificar a presença de temas que emergem quando se fala sobre a violência propriamente.

Procedeu-se, então, a uma análise de conteúdo das cinco questões da entrevista individual acima referidas, com a utilização do software Atlas. ti, versão 7.5.2. A técnica de análise de conteúdo é um método desenvolvido pelas ciências sociais para a análise de dados textuais a fim de produzir inferências sobre textos em relação ao seu contexto social. Esta técnica permite acessar os conhecimentos e representações que as pessoas utilizam na linguagem e que são materializadas nos textos (Bauer, 2002), e por esta razão mostra-se pertinente para esta proposta de

investigação. De acordo com Bardin (1977), esta técnica comporta duas etapas. A primeira se refere à descrição do conteúdo das mensagens de determinada comunicação, de forma objetiva e sistemática, procedendo-se a uma categorização das unidades de análise (palavras ou frases, por exemplo). Esta categorização implica na contagem de frequência e classificação de unidades de análise segundo critérios que permitam emergir um sentido relacionado com o que se pretende investigar. Esta primeira etapa foi feita no software Atlas.ti, e as categorias foram construídas na medida em que se tomou contato com os dados, iniciando-se na leitura flutuante, durante a etapa da pré-análise.

O Atlas.ti é um software utilizado para análises qualitativas nas mais variadas áreas de conhecimento, dentre elas a psicologia. As ferramentas existentes no programa possibilitam sistematizar e organizar grandes quantidades de materiais (textos, gráficos, vídeos e áudios), fornecendo o suporte necessário para o trabalho de interpretação do pesquisador (Friese, 2013).

A sistematização começa com a importação dos dados brutos, chamados

documentos primários, que são compilados numa unidade hermenêutica. (Friese,

2013). Assim, para a análise das entrevistas individuais, foram criadas cinco unidades hermenêuticas para as cinco questões analisadas, nas quais constam como documentos primários as respostas de cada um dos quatro serviços entrevistados. Em cada unidade hermenêutica são criados códigos – que são rótulos para atribuição de significados e classificação – para serem aplicados às citações selecionadas. As citações são os fragmentos dos documentos primários escolhidos por conterem aspectos considerados relevantes pelo pesquisador (Friese, 2013). Como unidade de análise das citações elegeu-se o tema, compreendido no contexto desta pesquisa como trechos nos quais se identifique núcleos de sentidos atribuídos

a objetos e assuntos relevantes para o estudo (Bardin, 1977; Bauer, 2002). Sendo assim, as citações selecionadas diferem em seu tamanho, indo desde frases curtas até parágrafos inteiros de muitas linhas, pois ao se privilegiar o tema, não se estabeleceu limites em termos do tamanho do trecho ou do número de palavras ou frases.

Além da codificação dos fragmentos de texto por meio da aplicação dos códigos criados, o Atlas.ti possibilita organizar os códigos de forma hierarquizada, permitindo estabelecer a relação entre eles, como também acessar o texto codificado e analisá-lo no contexto dos documentos originais (Gibbs, 2009). Permite ainda contabilizar a frequência dos códigos, organizá-los em famílias (ou clusters) e emitir relatórios que geram tabelas, o que auxilia a interpretação e a apresentação visual dos dados de forma sistematizada.

Utilizou-se a análise de conteúdo temática, que prioriza a dimensão semântica do conteúdo. O que se busca nesta vertente é identificar temas, que são as unidades de significado e se referem àquilo que é dito sobre determinado objeto ou assunto (Bauer, 2002). A análise temática, segundo Bardin (1977), “[...] consiste em descobrir os ‘núcleos de sentido’ que compõem a comunicação e cuja presença, ou frequência de aparição podem significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido” (p.105).

A inferência, etapa posterior à descrição, se refere à análise das condições de produção (fatores de ordem psicológica, sociológica, cultural e circunstancial) que determinam o conteúdo manifesto na comunicação. O conteúdo da mensagem por um lado é expressão de quem a emite e, por outro lado, é endereçado a determinados indivíduos ou grupos. Dessa forma, a análise do conteúdo destas mensagens permite conhecer, em última instância, os sujeitos envolvidos no

processo de comunicação e seu meio (Bardin, 1977).

O procedimento analítico envolveu as seguintes etapas (Gibbs, 2009): 1) leitura inicial do material bruto para a criação dos códigos provisórios no Atlas.ti a partir da leitura; 2) revisão dos códigos e estabelecimento de lista de códigos definitivos com suas respectivas definições; 3) leitura detalhada para identificação e seleção dos fragmentos de texto (temas) e aplicação dos códigos com o auxílio do Atlas.ti; 4) agrupamento dos temas em categorias analíticas maiores (metacategorização) segundo atributos emergentes dos dados e, em alguns casos, com base em conceitos oriundos da literatura científica; 5) descrição e sistematização dos dados por meio da contagem de frequência dos temas e elaboração de tabelas; 6) interpretação dos dados por meio da identificação de padrões, de comparações entre os serviços pesquisados, da identificação de relações entre as cinco grandes categorias que correspondem às cinco questões da entrevista analisadas, e da proposição de hipóteses explicativas.

A seguir serão apresentadas algumas informações básicas para a caracterização dos serviços pesquisados e em sequência os resultados da análise de conteúdo das cinco questões do roteiro referidas anteriormente.

2.1- Descrição dos serviços

Todos os serviços pesquisados fazem parte da mesma rede assistencial local e atendem aos bairros que foram selecionados para a pesquisa, que por razões de sigilo foram nomeados como Bairro Esperança e Bairro Vale Sonhar.

Com o intuito de garantir o anonimato dos serviços e profissionais pesquisados, o nome dos serviços foi omitido e substituído por um código composto por: 1) letras iniciais da área de atuação do serviço, em que ASS se refere à assistência social e SAU se refere à saúde, seguido de um underline; 2) letra inicial

do nível de complexidade do sistema no qual o serviço está inserido, em que B se refere à proteção social básica ou atenção básica e M se refere à proteção social especial de média complexidade, seguido de um underline; 3) um número de identificação. Estes serviços são:

1) ASS_B_1: serviço de proteção básica do sistema único de assistência social (SUAS), sendo a porta de entrada do sistema, tendo seu funcionamento iniciado na primeira década dos anos 2000 para atender aos bairros Bairro Esperança, Bairro Vale Sonhar, além do Bairro Força Sempre. Conta com equipe de suporte, composta por coordenador, três auxiliares administrativos, um auxiliar de serviços gerais, uma cozinheira e quatro vigilantes. Com exceção dos vigilantes, que trabalham em regime de escala, os demais profissionais de suporte têm carga horária de 40 horas semanais. A equipe técnica é constituída por seis assistentes sociais, dois psicólogos e um educador social. Três assistentes sociais têm carga horária de 30 horas e os demais profissionais da equipe técnica cumprem 40 horas semanais. Todos os profissionais trabalham há mais de 12 meses e, com exceção da coordenadora que é estatutária, o vínculo de trabalho é por contrato temporário, sendo que 78% destas contratações são feitas por uma Organização não- governamental (ONG) conveniada à Prefeitura do município.

O ASS_B_1 funciona de segunda à sexta-feira, das 8h00 às 17h00. O serviço realiza reuniões semanais de planejamento com a participação de quase todos os profissionais, com exceção dos vigilantes. As atividades planejadas são monitoradas e avaliadas pela equipe com frequência mensal com base em indicadores de atendimento e demandas dos técnicos. O processo de trabalho é objeto de discussão nas reuniões semanais da equipe local, em reuniões de coordenadores

dos serviços e em reuniões com a Gerência da Secretaria de Assistência Social (SEMAS) responsável pelo serviço.

2) ASS_B_2: serviço de proteção social básica do SUAS, que oferece atividades educativas complementares ao contra turno escolar para crianças e adolescentes na idade de sete a 16 anos. O serviço começou suas atividades na primeira década dos anos 2000 e atende aos mesmos bairros que o ASS_B_1. Possui equipe de suporte, com coordenador, um auxiliar administrativo, um auxiliar de serviços gerais, uma cozinheira e quatro vigilantes. Os vigilantes trabalham em regime de escala e os demais profissionais de apoio têm jornada semanal de 40 horas. A equipe técnica é composta por seis educadores sociais que cumprem menos de 20 horas semanais. Um dos educadores sociais tem entre seis e 12 meses de tempo de serviço e os demais têm mais de 12 meses. Todos os profissionais são contratados por uma ONG conveniada, com exceção de um dos educadores sociais que é cedido pela Secretaria Municipal de Esportes.

O ASS_B_2 atende ao público de segunda à quinta-feira, das 8h00 às 12h00 e das 13h00 às 17h00. As sextas-feiras são reservadas para reuniões de equipe e capacitações. O planejamento das atividades é realizado anualmente envolvendo toda a equipe, como também mensalmente para os educadores sociais em conjunto com uma assessoria de um técnico de referência da SEMAS. O planejamento geral é monitorado e avaliado por toda a equipe durante as reuniões semanais da equipe local, e o planejamento dos educadores é avaliado mensalmente com a assessoria. O processo de trabalho é discutido nas reuniões da equipe local, nas reuniões com coordenadores de outros serviços da SEMAS e com a gerência da SEMAS responsável por este serviço, com periodicidade mensal.

3) ASS_M_1: serviço de proteção social especial do SUAS, de média complexidade, especializado no atendimento de pessoas em situação de violação de direitos, adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, e atendimento a crianças e adolescentes em situação de rua. Há três serviços como este no município que iniciaram suas atividades na segunda década dos anos 2000, de forma regionalizada. O ASS_M_1 pesquisado atende ao Bairro Esperança e ao Bairro Vale Sonhar, entre outros. A equipe de suporte conta com coordenador, dois auxiliares administrativos, dois auxiliares de serviços gerais. Há vigilantes no serviço, porém não foram considerados como profissionais do serviço pelo participante, provavelmente em função de se tratar de serviço terceirizado. A equipe técnica é composta por cinco assistentes sociais, cinco psicólogas, uma pedagoga, um assessor jurídico, três oficineiros e três educadores sociais. A maioria dos profissionais tem jornada semanal de 40 horas, salvo os oficineiros e o assessor jurídico (20 horas) e quatro assistentes sociais (30 horas). Quanto ao tempo de serviço, 17 têm mais de 12 meses, quatro possuem entre seis e 12 meses e três têm menos de seis meses. Apenas a coordenadora do serviço é estatutária. O restante da equipe tem contrato de trabalho com uma ONG conveniada da Prefeitura. Há ainda dois estagiários com carga horária de 20 horas contratados pela Prefeitura, com menos de seis meses de tempo de serviço.

O atendimento é prestado de segunda a sexta-feira, das 8h00 às 17h00, com exceção de uma das atividades oferecidas, que funciona das 13h00 às 19h00. O serviço realiza planejamento de atividades com frequência variada, dependendo da atividade. Para as datas comemorativas o planejamento é anual, mas há também reuniões mensais e bimestrais entre os serviços que compõem a rede socioassistencial e destes com a gerência responsável na SEMAS, além das

reuniões semanais com toda a equipe. As atividades são avaliadas pela equipe, mas em geral não de forma “sistematizada” e “sistemática” (com regularidade), de acordo com a entrevistada.

4) SAU_B_1: serviço da atenção primária do SUS, que se constitui como porta de entrada do sistema. O participante entrevistado não soube responder exatamente há quanto tempo o serviço funciona, mas estima que exista há aproximadamente 30 anos. Atualmente o serviço atende ao Bairro Esperança e ao Bairro Vale Sonhar. Na ocasião da entrevista não foi possível ter acesso ao número exato de trabalhadores. Mas sabe-se que o serviço conta com equipe de suporte, constituída por diretor e assistentes administrativos. Há também auxiliares de serviços gerais e vigilantes que são terceirizados. A equipe técnica é constituída por quatro equipes de saúde da família, cada uma com um enfermeiro e um médico, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde. Há também uma equipe de apoio para as equipes de saúde da família composta por um psicólogo, um assistente social, um sanitarista e um médico pediatra. Além destes há ainda dentista, auxiliar de consultório dentário, técnico de consultório dentário, auxiliar de laboratório, farmacêutico, auxiliar de farmácia e agente de saúde ambiental. De modo geral, a maioria dos profissionais da saúde neste município é estatutária e os profissionais que atuam na Estratégia Saúde da Família (ESF) possuem, em sua maioria, jornada semanal de 40 horas.

O serviço funciona de segunda à sexta-feira, das 7h00 às 18h00. Segundo o entrevistado não há um planejamento local sistematizado. No entanto, há monitoramento e avaliação das ações desenvolvidas mensalmente durante as reuniões do colegiado gestor do serviço, com participação da direção do serviço e de alguns profissionais que representam o conjunto dos trabalhadores. Também por

ocasião da realização de eventos ou ações pontuais maiores, há uma avaliação que é feita por meio da elaboração de relatórios. O serviço promove a discussão sobre o processo de trabalho em diferentes espaços, como as reuniões mensais do colegiado gestor que contam com um representante de cada categoria profissional, as reuniões semanais de cada uma das equipes de saúde da família juntamente com a equipe de apoio, as reuniões mensais com representantes da comunidade, representantes dos trabalhadores e o gestor local, e as reuniões gerais, que não têm periodicidade fixa, com a presença de todos os trabalhadores do serviço.

No ASS_B_1 e no ASS_B_2 as entrevistas foram realizadas com a pessoa que coordena o serviço. No ASS_M_1 o entrevistado foi um profissional considerado informante-chave, que na ocasião estava substituindo a pessoa que coordena o serviço em sua função. No SAU_B_1 o diretor do serviço designou um profissional considerado informante-chave para a entrevista.

2.2- Objetivos dos serviços e atividades oferecidas

Na Tabela 1 (p. 125) estão sistematizados os resultados da análise de conteúdo, contendo as categorias que emergiram da codificação temática, a frequência de ocorrência dos temas em cada um dos serviços, a descrição das categorias, de modo a mostrar quais foram os atributos considerados para o estabelecimento das mesmas, e exemplos ilustrativos extraídos dos discursos. A frequência foi considerada importante por facilitar a comparação dos discursos entre os serviços. Os exemplos de trechos de discurso foram incluídos para possibilitar a confrontação do conteúdo com a codificação realizada e, com isso, conferir maior confiabilidade à categorização, como também para ilustrar a discussão.

A Tabela 2 (p. 127) mostra a sistematização de um segundo processo de categorização, mais analítico, no qual se agruparam as primeiras categorias

buscando-se estabelecer uma tipologia dos objetivos e das atividades, segundo duas dimensões: 1) o nível de intervenção (primário, secundário, terciário, transversal ou misto) e; 2) os aspectos considerados nas intervenções, ou seja, aqueles elementos que são priorizados e enfocados. Esta segunda categorização representa já um esforço analítico interpretativo, baseado na leitura de literatura prévia, e buscando responder às perguntas investigativas iniciais, com especial interesse sobre a existência de medidas de prevenção em termos gerais como também especificamente direcionadas à problemática da violência.

A tipificação segundo o nível de intervenção adotada se baseou no modelo dos níveis de prevenção empregado no campo da saúde (Buss, 2003; Dahlberg & Krug, 2007; Peres, 2002), como também na definição das funções da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) (Brasil, 2005b; Couto, 2012). Na saúde pública as intervenções preventivas são caracterizadas geralmente por três níveis de prevenção: primária, secundária e terciária. Estes três níveis de prevenção foram propostos originalmente por Leavell & Clark dentro do Modelo da História Natural da Doença, segundo o qual se poderiam aplicar determinadas medidas preventivas dependendo do grau de progressão da doença.

Este modelo tem sido discutido e aplicado também nas intervenções sobre a violência. Pode-se dizer que a prevenção primária visa elaborar abordagens para evitar a violência, atuando sobre os fatores que contribuem para sua ocorrência e sobre os agentes antes que ela se desencadeie. A prevenção secundária se faz imediatamente após a ocorrência da violência (como por exemplo, cuidados médicos e medidas profiláticas após ocorrência de estupros), e as intervenções no nível terciário as ações ocorrem após a violência e se estendem por um período mais prolongado, visando à reabilitação, à reintegração, à redução de efeitos e sequelas,

e à prevenção de situações crônicas de violência (Assis & Avanci, 2009; Dahlberg & Krug, 2007).

No campo da assistência social este modelo não está presente da mesma forma. A PNAS não estabelece níveis de prevenção, mas funções, nas quais se podem perceber algumas semelhanças com as ideias presentes no campo da saúde pública. Couto (2012) enumera quatro funções da política de assistência social: inserção, prevenção, promoção e proteção. A inserção se trata da inclusão dos indivíduos e famílias nas políticas públicas, promovendo o acesso a direitos, bens e serviços necessários ao bem-estar social. A prevenção visa evitar a perda de acesso aos direitos já garantidos por meio de apoio nas situações circunstanciais de vulnerabilidade identificadas precocemente. A promoção da cidadania tem por objetivo romper com o clientelismo por meio da construção da autonomia. Por fim, a

proteção se dirige às populações que se encontram excluídas e vulneráveis.

Analisando as proposições dos dois campos, é possível estabelecer um paralelo entre os níveis de prevenção propostos na saúde e as funções da assistência social assinaladas por Couto (2012). Assim, propõe-se que as funções de inserção e promoção se assemelham à prevenção primária por situarem-se antes da ocorrência da vulnerabilidade, a função de prevenção guarda relação com a

prevenção secundária por visar identificar rapidamente as situações de

vulnerabilidade e atuar para impedir o avanço das situações, e a função de proteção pode ser comparada ao nível de prevenção terciária, pois se centra em intervenções

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