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A postura teórico-metodológica adotada para o desenvolvimento do presente estudo reconhece a implicação direta e ativa do pesquisador na produção de seus dados de pesquisa. Compreende-se que os dados não existem independentemente do observador; é este quem os recorta de um fluxo contínuo do observado, os articula a um corpo maior de conhecimento já disponível e, ainda, os apresenta como novo produto potencialmente instigador de futuras investigações. Eles são construídos a partir da imbricação entre a teoria e o observado, bem como em decorrência de escolhas metodológicas orientadas por perguntas específicas e explicitação clara de critérios utilizados (CARVALHO; IMPÉRIO-HAMBURGER; PEDROSA, 1999).

Significações e seus processos, atribuídos sempre aos participantes da pesquisa, em momento algum estão isentos da atuação do pesquisador. Ainda que trechos de falas, por exemplo, sejam transcrições literais, eles já se constituem enquanto recortes de um conjunto maior, e inevitavelmente (re)configuram-se a partir de elementos oriundos daquele que pesquisa. Sendo assim, para o refinamento do olhar analítico sobre as informações não

meramente “dadas” pelos participantes, mas “tiradas” pelo pesquisador em articulação com os conhecimentos científicos de que dispõe, é relevante considerar as características deste e a forma como aconteceu sua imersão no campo de estudo.

Psicólogo e com experiência de estágio no Poder Judiciário no campo da adoção e de pesquisa no âmbito do desenvolvimento infantil em creches e instituições de acolhimento, o pesquisador, ao longo de sua formação acadêmica e profissional, desdobrou um caminho crítico-reflexivo que o levou a proposição deste estudo e contribuiu para a sua chegada até as instituições participantes. Sua proposta investigativa faz parte de um projeto maior de pesquisa da professora orientadora, intitulado Práticas sociais e cultura do grupo de brinquedo: concepções de adultos e perspectivas de crianças e desenvolvido no Laboratório de Interação Social Humana (LabInt), do Departamento de Psicologia, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

O caminho traçado e os critérios utilizados para escolha das instituições foram condizentes aos propósitos das demais partes do projeto guarda-chuva. Para a realização deste e, consequentemente, de cada um dos projetos nele contidos, buscou-se primeiramente as anuências da Secretaria de Educação e do Poder Judiciário do município investigado15 para que creches e casas de acolhimento, respectivamente, pudessem ser convidadas a participar. Após a devida concordância dessas instâncias, e antes de qualquer convite às instituições, o grande projeto de pesquisa foi submetido à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco (CEP/CCS/UFPE), obtendo-se permissão para sua efetivação (ver ANEXO A)16. Somente então aconteceu o contato com as instituições e o início da coleta de dados, atendendo-se às normas estabelecidas pela Resolução nº 466, de 12 dezembro de 201217, do Conselho Nacional de Saúde (CNS)18 (BRASIL, 2013).

Desde o momento inicial de proposição da pesquisa, não se teve a expectativa de abarcar todos os educadores/cuidadores da Rede Municipal de Educação nem das instituições de acolhimento. Ao mesmo tempo, não se quis adentrar o olhar investigativo sobre apenas

15

Município de grande porte localizado na Região Metropolitana do Recife, no Estado de Pernambuco. 16 CAEE nº 35013814.6.0000.5208; Parecer nº 861.609.

17 Entrou em vigor na data de sua publicação, que ocorreu em 13 de junho de 2013. 18

Na ocasião de realização do presente estudo, esta Resolução regulamentava de forma exclusiva a pesquisa com seres humanos no Brasil. Sendo assim, orientou os procedimentos éticos adotados no presente estudo. Porém, a partir do dia 24 de maio de 2016, trabalhos como este aqui apresentado passaram a se pautar na Resolução CNS nº 510, de 7 de abril de 2016, que trata das especificidades éticas das pesquisas nas ciências humanas e sociais e de outras que se utilizam de metodologias próprias dessas áreas (BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016. Diário Oficial da União, Brasília, 24 maio 2016. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2016/Reso510.pdf>. Acesso em: 7 dez. 2016).

uma creche e uma casa de acolhimento, por ser preciso ter em conta possíveis diferenças de significações em um mesmo contexto geral. Assim, pensou-se como necessária a participação de, no mínimo, duas instituições de cada um deles. Por outro lado, não se teve o propósito de que os dados fossem representativos – no sentido estatístico – e consequentemente permitissem tecer conclusões generalistas. Em suma, tentou-se viabilizar a verificação de uma diversidade entre instituições, mas não dar conta dela.

No caso das creches, já no contato com a Secretaria de Educação se fez necessário mencionar para quais unidades de educação infantil era solicitada a anuência. Sendo assim, foram escolhidas quatro instituições localizadas em diferentes bairros da cidade. A escolha por uma delas foi aleatória, enquanto que, no caso das outras três, se levou em conta a conhecida disponibilidade das gestoras em colaborar com as pesquisas desenvolvidas pelo LabInt. Do conjunto autorizado pela Secretaria, duas creches fizeram parte do corpus da presente pesquisa. A opção por essas duas unidades aconteceu em virtude das diferenças concernentes a localização, perfil socioeconômico do público atendido e tempo de funcionamento, as quais serão explicitadas na caracterização apresentada posteriormente nesse capítulo.

Em se tratando das instituições de acolhimento, realizou-se primeiramente um levantamento acerca de quais delas acolhiam crianças, de ambos os sexos, entre zero e três anos. Esse critério mínimo para inclusão na pesquisa foi o fator determinante da escolha de uma das entidades: era a única cujo perfil etário de atendimento coincidia exatamente com o investigado. Para a eleição da segunda instituição, como não mais se tinha a possibilidade de utilização fiel do requisito etário, decidiu-se por uma entidade cuja variação etária do perfil atendido não era tão grande e abrangia parte daquela investigada e também com a qual se acreditava não ter dificuldades para inserção, por se considerar experiência de pesquisa anteriormente vivenciada.

A entrada propriamente dita do pesquisador em campo começou por uma creche na qual em paralelo também se propôs um estudo com as crianças, como parte do projeto guarda- chuva. Numa primeira visita, conversou-se com a gestora da instituição sobre a proposta de realização da pesquisa, apresentando-se em linhas gerais os objetivos almejados, bem como os procedimentos metodológicos e os cuidados éticos a serem adotados. Atentou-se à disponibilidade institucional e à existência de educadores/cuidadores elegíveis como participantes que possivelmente aceitariam o convite para colaborar com o estudo.

Com a concordância da gestora, foi possível, então, o pesquisador acompanhar minimamente a dinâmica institucional em algumas visitas iniciais, de modo a conhecer a

rotina de trabalho desenvolvida e interagir pouco a pouco com os educadores/cuidadores, contribuindo para a construção de um clima amistoso que favorecesse o convite à participação na pesquisa. À medida que aconteciam as visitas do pesquisador e alguns profissionais iam participando, consolidava-se esse clima e desenrolava-se uma observação assistemática no que tange à caracterização institucional. A exemplo da postura cuidadosa e respeitosa na entrada e ao longo da permanência na instituição, procurou-se manter essa mesma postura na saída do pesquisador daquele espaço, assegurando-se sempre aos participantes o retorno posterior – ao fim da pesquisa – para apresentação dos resultados.

Os mesmos passos de entrada, permanência e saída foram dados em cada nova instituição contatada para participar do estudo. Diferenciou-se, por vezes, a maior ou menor facilidade na construção de um clima interacional favorável à pesquisa, no sentido de que os participantes pudessem se sentir sempre confortáveis nas conversas e seguros dos procedimentos éticos adotados, bem como da inexistência de um caráter avaliativo acerca das informações expostas. Em todo caso, em menor ou maior tempo, esse clima foi construído e possibilitou a efetivação da coleta de dados.

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