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CAPÍTULO I – SEGURANÇA DO DOENTE NO BLOCO OPERATÓRIO: NOVAS

1.2. O CONTEXTO DIFERENCIADO DO BLOCO OPERATÓRIO

O BO é um ambiente único, complexo e desafiador, caracterizando-se por ser uma unidade funcional com características e especificidades muito próprias (Gomes, 2012) e que, fruto das exigências da medicina atual, encontra-se em constante evolução técnica implicando um investimento proporcional na formação dos recursos humanos que dele fazem parte. O conteúdo funcional dos profissionais de saúde que nele exercem passa pela execução de procedimentos e técnicas anestésico-cirúrgicas que obrigam o enfermeiro de sala de operações a ser altamente qualificado e a estar bem preparado de modo a responder com eficiência às exigências que estes atos requerem. A par de tudo isto, há um comprometimento da equipa multidisciplinar para que seja assegurado o bem-fazer, a humanização dos cuidados e a segurança das pessoas que são, sem margem de dúvidas, o centro das prioridades e o principal foco de atenção.

Nos últimos anos, uma das áreas hospitalares com maior mudança foi o BO. “Os custos relacionados com intervenções cirúrgicas parecem ter vindo continuamente a aumentar devido, essencialmente, à constante inovação tecnológica, nomeadamente a dos equipamentos e dispositivos clínicos, e à exigência em recursos humanos altamente especializados e diferenciados” (Portugal. Ministério da Saúde, 2015, p. 23-24).

Neste contexto, a atividade cirúrgica representa uma importante chave do financiamento das organizações hospitalares, em muito dependente da dinâmica do BO, e absorve uma parte considerável do orçamento do SNS. Não deixa, pois, de ser imprescindível que este esteja pertinentemente enquadrado numa gestão estratégica, dinâmica e rigorosa que garanta, entre outros, a eficiência, a qualidade, o mérito, e que tenha em consideração a dimensão das mais-valias que os profissionais trazem para o sistema.

O BO representa, per si, custos fixos elevados devido às instalações e equipamento específicos altamente sofisticados, como também aos profissionais qualificados e diferenciados, sendo que a sua otimização depende, em grande parte, da boa ou má articulação com os serviços utilizadores (idem, p. 156).

1.2.1. Instalações físicas

Os serviços que constituem as unidades de saúde são estruturados e criados com a premissa de proporcionar ao utente um atendimento de qualidade e dignidade, com especial destaque para a privacidade e confidencialidade. As unidades de saúde devem ser planeadas de forma a promover o melhor desempenho, a produtividade e a satisfação da equipa, objetivando um ambiente seguro na prestação de cuidados de saúde.

O BO deve ser projetado e estruturado de modo a simplificar o fluxo interno e externo de doentes, profissionais e materiais nas diferentes áreas, promovendo o controlo de infeção e a higiene ambiental, essenciais para a segurança do doente (The American Institute of

Architects Academy of Architecture for Health, 2001).

Ainda que não exista um consenso relativo à nomenclatura das especificações dos blocos operatórios, optamos pela definida nas recomendações técnicas para BO produzida pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), por se considerar que é aquela que serve como orientação para o SNS. Segundo a mesma, o BO constitui-se como um serviço ou área funcional independente estando dividido em três áreas - a área livre, a área semi restrita e a área restrita, de forma a promover os fluxos de circulação protegendo os profissionais, doentes e material de potenciais fontes de infeção cruzada (Portugal. ACSS, 2011).

Na área livre estão incluídas a zona de receção/acolhimento do doente, pessoal e material com zona de controlo centralizada, não existindo uma obrigatoriedade de fardamento específico e nem limitação na sua circulação. Nela estão incluídas os diferentes tipos de áreas de transferência e a zona de desinfeção de macas.

A área semi restrita compreende as áreas periféricas às salas operatórias e que suportam as mesmas, onde se incluem as zonas de cuidados ao doente no pré e no pós-operatório. A sua circulação está limitada aos doentes e profissionais, salvaguardando a restrição ao pessoal alheio ao BO e implica fardamento adequado de uso exclusivo.

Na área restrita está incluída a sala operatória, a sala de indução anestésica e a zona de material de apoio estéril afeto às respetivas salas.

1.2.2. Recursos humanos

Nesta unidade as “equipas de profissionais de saúde altamente treinadas e qualificadas exercem a sua atividade em complementaridade, interagindo com tecnologia avançada, em situações de alto risco, com responsabilidade em responder às necessidades do doente cirúrgico. As características dos ambientes perioperatórios colocam em risco de erro a equipa de saúde e a ocorrência de eventos adversos, sendo que o maior número de erros ocorre do resultado dos cuidados e tratamentos prestados no BO” (Portugal. Ministério da Saúde, 2015, p. 64).

Atualmente, a evidência científica indica que a qualidade dos resultados obtidos na saúde e a satisfação da população que recorre a este tipo de serviços tem uma forte relação com a adequada dotação de recursos humanos, a carga de trabalho, o ambiente de trabalho, o nível de qualificação/experiência dos profissionais e a motivação.

Considera-se fundamental uma estreita articulação entre o BO e os serviços clínicos procurando otimizar os seus recursos, em linha com as “necessidades dos doentes, os objetivos dos serviços, os recursos existentes e os tempos de espera cirúrgica de cada especialidade, por forma a garantir a utilização eficaz e eficiente deste recurso” (Portugal. Ministério da Saúde, 2015, p. 64).

No contexto perioperatório, a equipa multidisciplinar considera os cirurgiões, anestesistas, enfermeiros perioperatórios, assistentes operacionais, assistentes técnicos, técnicos de diagnóstico e terapêutica.

Relativamente à alocação dos recursos humanos no BO podem-se considerar dois grupos: os residentes e os não residentes. O primeiro inclui os enfermeiros, assistentes técnicos e assistentes operacionais, cuja atividade adstrita ao BO está centrada nos contextos onde se desenvolvem os cuidados perioperatórios. O segundo grupo contempla todos os profissionais que exercem funções temporárias no BO - médicos (cirurgiões, anestesiologistas) e técnicos de diagnóstico e terapêutica “que não esgotam a totalidade do seu horário no BO e não dependem hierarquicamente da coordenação do mesmo, mas de um outro serviço clínico” (Portugal. Ministério da Saúde, 2015, p. 65).

Na constituição da equipa cirúrgica consideram-se “todos os profissionais afetos ao episódio cirúrgico com presença na sala de operações e funções e atividades específicas. A importância de ter definida esta equipa cirúrgica é a de circunstanciar a responsabilidade do evento cirúrgico a um conjunto definido de elementos” (Portugal. Ministério da Saúde, 2015, p. 65).

1.2.3. Organização dos cuidados perioperatórios

A prática de enfermagem perioperatória centra-se no doente que vai ser submetido a procedimento cirúrgico/anestésico, correspondendo a todas as atividades desenvolvidas pelo enfermeiro que procuram dar resposta às necessidades do doente nas fases pré, intra e pós-operatória. Estas três fases são definidas do seguinte modo:

A fase do pré-operatório inicia-se quando o doente e o médico se decidem pela cirurgia, culminado quando o mesmo é transferido para a mesa operatória. Neste período há lugar para a preparação física e psicológica da pessoa para a cirurgia (Duarte e Martins, 2014). Neste período, as intervenções de enfermagem são de suporte, ensino e preparação para os procedimentos a serem realizados.

A fase do intraoperatório tem início com o fim da fase anterior, submetendo-se ao procedimento anestésico/cirúrgico e termina quando o doente é transferido para a unidade de cuidados pós anestésicos (ibidem). As áreas de intervenção do foro da enfermagem

contemplam a segurança do doente, a facilitação do procedimento, a prevenção de infeção e a satisfação das necessidades fisiológicas em resposta à anestesia e à intervenção cirúrgica.

A fase do pós-operatório inicia-se quando termina a fase anterior e prolonga-se até ao momento em que o doente está recuperado da cirurgia e ultrapassadas eventuais complicações do procedimento. No período pós-operatório imediato, os cuidados de enfermagem centram-se na manutenção dos sistemas fisiológicos e, nas fases seguintes, o foco principal incide no ensino de competências ao doente e cuidadores para a preparação para a alta (ibidem).

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