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O contexto geral do município de Natal RN e do Distrito de Saúde

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.4. O contexto geral do município de Natal RN e do Distrito de Saúde

A cidade de Natal é a capital do Estado do Rio Grande do Norte, localizada na região Nordeste do Brasil. Natal possui, de acordo com o censo de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 803. 739 habitantes, sendo 47% do sexo masculino e 53% do sexo feminino.

A Lei Complementar número 061 de 02/06/2005, Decreto número 7. 642 de 10/06/2005 estruturou a cidade de Natal, para fins de organização dos serviços de saúde, em cinco distritos sanitários, que são: Distrito Norte I e II; Distrito Sul; Distrito Leste; e Distrito Oeste (NATAL, 2005).

O Programa Saúde da Família - PSF foi concebido pelo Ministério da Saúde em 1994, embora, segundo Merhy et al. (2007), se tenha notícias de que, já nesta data, teria sido implantado em municípios dos estados do RJ e MG. O PSF, programa que passou, mais tarde, a ser chamado de Estratégia Saúde da Família – ESF, tem como principal propósito, superar um modelo de

assistência à saúde responsável pela “ineficiência do setor, insatisfação da população, desqualificação profissional e iniquidade” (p. 55).

A ESF foi implantada em Natal no ano de 1998, naquele momento denominado Programa Saúde da Família – PSF. A Portaria número 1886/GM determinava que cada equipe de saúde da família seria composta por um médico, um enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem e cinco Agentes Comunitários de Saúde – ACS (BRASIL, 1997).

De acordo com Rocha, 2000, iniciou-se, no ano de 1998, a implantação de quatro Unidades de Saúde do Distrito Sanitário Oeste - DSO, a qual se estabeleceu a partir de critérios técnico-institucionais, epidemiológicos e sócio- sanitários. De acordo com essa autora, o processo de implantação do PSF no município de Natal aconteceu em condições de pouco comprometimento institucional e as descontinuidades políticas na prefeitura municipal limitaram a sua consolidação.

De acordo com Oliveira, 2012, durante a implantação do PSF, Natal já contava com uma rede ambulatorial estruturada com equipes multiprofissionais da qual faziam parte médicos pediatras, ginecologistas, clínicos gerais, dentistas, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas e assistentes sociais. Mas, em relação ao processo de implantação do PSF na cidade de Natal, a autora esclarece:

O processo de implantação foi realizado com caráter competitivo, substitutivo e reducionista, no interior da APS, deixando de fora aqueles profissionais que já estavam em UBS, mas não faziam parte da composição prevista pelo PSF. A coexistência dos dois modelos em algumas Unidades, com profissionais percebendo distintos vencimentos e trabalhando em cargas horárias diferenciadas, parece ter produzido insatisfação e dificultado a operacionalização de ambos os modelos, além de reforçar a dicotomia entre PSF e o modelo tradicional no âmbito da Atenção Básica (Oliveira, 2012, p. 26).

A partir do ano de 2007, tendo como propulsora a ampliação do PSF em todo o país, o Ministério da Saúde lançou a portaria número 648 que transformava o PSF na estratégia prioritária para a reorganização da Atenção Básica no país, incorporando os princípios e diretrizes estabelecidas no Pacto

pela Saúde 2006, firmado entre as esferas do governo. Esta medida representou, por parte do Ministério da Saúde - MS, uma proposta de desfragmentação do financiamento da Atenção Básica (BRASIL, 2006, c).

A partir desse momento Natal passou à condição de Gestão Plena da Atenção Básica Ampliada (GPAB-A), passando a considerar a ESF como modelo de reorganização da Atenção Básica, propondo 100% de cobertura populacional para os Distritos Norte e Oeste e parte dos Distritos Leste e Sul. Assim, seria possível manter a coexistência dos dois modelos de organização das práticas: Unidades de Saúde organizadas na lógica da ESF nos Distritos Norte e Oeste e as Unidades Básicas de Saúde tradicionalmente organizadas com equipes multiprofissionais nos locais em que ainda não fosse possível implantar a Estratégia Saúde da Família (NATAL, 2003).

Durante o período da coleta de dados para a realização desta pesquisa, o município de Natal havia acabado de passar por um momento crítico no seu cenário político-governamental. A administração municipal exercida no período de 2008 a 2012 deixou os serviços públicos em estado de completo abandono, havendo sério comprometimento dos serviços de saúde.

A cidade sofria pela falta de condições mínimas para o funcionamento dos serviços públicos, em todas as áreas. Os médicos não dispunham, sequer, de receituário para emitir uma receita. Na paisagem urbana observava-se apenas lixo acumulado e ruas esburacadas. As escolas municipais foram obrigadas a interromper, por diversas vezes, as atividades escolares por falta de condições de trabalho (Souza, 2012).

Houve, por meio de diversos veículos de comunicação, denúncias de corrupção no âmbito da administração municipal, o que resultou no afastamento da gestora municipal, no dia 31 de Outubro de 2012. (G1 RN, 31/10/2012).

Os momentos de interação com as USF durante o período de realização desta pesquisa foram fortemente marcados pela insatisfação e, muitas vezes, revolta dos trabalhadores. No interior das USF, os profissionais denunciavam a falta de equipamentos e material de trabalho que provocou, em alguns casos, o fechamento de algumas delas. Os gestores das USF ficavam, muitas vezes, sem condições de viabilizar o funcionamento dos serviços, o que resultou em caos geral.

A impotência para realizar o trabalho cotidiano nas USF foi sentida por todos os Distritos de Saúde da cidade. No caso do Distrito de Saúde Oeste, onde esta pesquisa se realizou, vinha acontecendo, desde o ano de 2010, a implantação de Núcleos de Apoio à Saúde da família – NASF, possibilitando a inserção de outros profissionais na ESF, um apoio importante para o funcionamento das USF desse Distrito de Saúde, naquele momento crítico.

De acordo com Oliveira (2012, p. 34) o DSO apresenta muito baixos indicadores de qualidade de vida, além de apresentar alto índice de analfabetismo e de violência, desemprego e precárias condições de moradia.

O DSO é formado por oito bairros com alta densidade demográfica, e uma população com renda per capita domiciliar considerada baixa, de acordo com dados do IBGE de 2010 (NATAL, 2012).

A situação provocada pela crise na administração municipal durante parte do período de realização desta pesquisa também influenciou a atuação dos preceptores, no que diz respeito à sua atuação junto aos estudantes de graduação dos cursos da área de saúde. A precariedade de recursos, equipamentos e profissionais compromete o processo educativo e promove insegurança na prática profissional, o que certamente refletirá na atuação dos estudantes.

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