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1. Estado-Providência: evolução, modelos conceptuais, elementos constitutivos e relação entre eles

4.2. O contexto nacional: as relações entre Estado e Terceiro Sector

A grande heterogeneidade das organizações do Terceiro Sector, nomeadamente as IPSS, dificulta a definição de um padrão de relacionamento identificando-se contudo, uma tendência para o reforço destas organizações na área da acção social, para o aumento da sua capacidade de autonomia relativamente à acção regulamentadora e financiadora do Estado.

Nos anos oitenta e início da década de noventa Portugal promoveu um modelo de Segurança Social, ao nível da área da previdência que copiava os modelos de Estado- Providência existentes. Contudo, o desfasamento temporal na aplicação destes modelos ao nível do contexto nacional acaba por condicionar desenvolvimento do modelo que se constitui num quase Estado-Providência.

O Pacto de Cooperação para a Solidariedade Social, assinado em 1998, entre o Estado e as organizações de cúpula, tinha como objectivo repensar o relacionamento entre as instituições e o Estado através de alterações nos acordos de cooperação, nos Estatutos das IPSS e no que se reporta a aspectos relacionados com a regulação do Estado. O cumprimento deste objectivo não foi alcançado mantendo-se o formato de suporte às relações entre o Estado e as instituições.

Verifica-se, contudo uma evolução positiva ao nível da actuação das organizações de cúpula que para além da capacidade negocial ao nível dos acordos de cooperação, passam também a pertencer ao Conselho Económico e Social, subscrevem o Pacto de

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Cooperação para a Solidariedade. É-lhes assim atribuído um importante papel ao nível da mediação das relações entre o Estado e as Instituições.

A relação entre o Estado e organizações do Terceiro Sector, está assim, associada à sua capacidade de chegarem à agenda política nacional, capacidade essa, que depende capacidade negocial das organizações de cúpula que as representam têm. Desta forma, existe um conjunto de organizações do Terceiro Sector, que ficam afastadas da negociação de direitos sociais, e das possíveis alterações a introduzir na relação com o Estado.

As organizações do Terceiro Sector, continuam a actuar como substitutas do Estado ao nível da acção social, sendo claro que o Estado, terá que continuar com a responsabilidade ao nível do financiamento. A relação entre o Estado e as organizações do Terceiro Sector, fica assim reduzida, à questão da fiscalização que o Estado exerce.

Salamon (1992), defende que a relação entre Estado e as organizações do Terceiro Sector, está marcada pela preocupação, que as organizações não lucrativas têm em relação à perda de autonomia, face à grande dependência em relação ao financiamento, no sentido em que, as pode tornar em agentes estatais.

A este receio associa-se o medo da perda de capacidade para se constituírem como elementos de mudança social, e tornarem-se apenas representantes das prioridades do governo, perdendo a sua capacidade de advocacia, limitando/distorcendo a sua missão. A burocratização das organizações, é outra consequência que pode estar associada á forte dependência financeira destas organizações em relação ao Estado, e que pode condicionar o seu funcionamento, uma vez que, altera as práticas de organização e gestão.

Mas, Salamon(1995) desmistifica estas preocupações referindo que são exacerbadas pelas organizações, uma vez que na presença de financiamento privado, os condicionalismos seriam os mesmos, pelo que não se pode concluir que tais receios se constituam como entraves à relação com o Estado. Por outro lado, a pressão para o

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cumprimento de objectivos de gestão não provêm apenas do Estado está relacionada com o desenvolvimento natural do sector. Desfragmentadas, todas as preocupações das organizações do Terceiro Sector, no que diz respeito à relação que estabelecem com Estado, o autor defende que a perda de advocacia é de facto um factor de ameaça a estas relações que deve ser ponderado.

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IV Parte – A Evolução das Políticas Públicas Sociais para as Pessoas com Deficiências e Incapacidades no contexto nacional e internacional

1 – Contextualização

As políticas públicas desenvolvidas, são elemento caracterizante do modelo de Estado- Providência, e estruturante do ponto de vista funcionamento do Terceiro Sector. Fará assim, todo o sentido dedicar um capítulo deste trabalho a uma análise sobre o seu desenvolvimento dentro do contexto nacional e europeu. Este análise deverá identificar qual poderá vir a ser o seu contributo no sentido de se desenvolverem novas práticas de protecção social direccionadas para a pessoa com deficiência e incapacidades, tendo por base, o desenvolvimento teórico anterior que nos permitiu analisar a evolução dos modelos conceptuais de deficiência e a importância que as IPSS detêm ao nível da protecção social direccionada a esta população.

O conceito de política pública social tem vindo a sofrer alterações ao longo dos tempos, actualmente a política pública social inclui políticas sociais públicas que envolvem agentes estatais e não estatais, sendo visível a necessidade de se estabelecer uma política pública social de carácter global. Neste sentido, importa estabelecer a diferença entre bem-estar social e bem-estar público, no primeiro caso temos a sociedade como principal promotora e no segundo caso, o Estado por via de recursos a políticas públicas sociais.

O conceito de solidariedade social está assim associado à política social e ao conceito de solidariedade social, podendo assumir formas diversas de acordo com a sua proveniência: solidariedade nacional, representativa de direitos sociais e económicos, quando promovida pelo Estado-nação; e solidariedade social que não atribui direitos mas favorece as relações de entreajuda quando promovida pela sociedade civil e até pelo próprio Estado (Santos, 2002).

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Actualmente, no contexto da União Europeia, importa ainda considerar o conceito de política social global, que representa um conjunto políticas supranacionais ou transnacionais, que se dirigem a vários países ou, a intenção de aplicação de um conjunto de ideias, modelos e instrumentos de política social a vários países, defendidos por agências hegemónicas, por via da influência e intervenção. Assim sendo, podemos estar a falar de uma globalização de alta intensidade ou de baixa intensidade (Santos, 2002).

Como já foi referido anteriormente cada país desenvolveu um modelo de Estado- Providência a que corresponde um determinado tipo sistema de protecção social. No contexto europeu, estes sistemas de protecção social, direccionam-se tanto para o contexto nacional como para o contexto transnacional, uma vez que na sua origem esteve a necessidade de se criarem respostas sociais para as situações de crise no pós- guerra que impuseram alterações do padrão económico da sociedade. Estes sistemas protecção social surgiram de forma espontânea com um padrão semelhante em diferentes países, representando um exemplo de uma globalização baixa intensidade (Santos, 2002).

No quadro actual das políticas sociais globais predomina uma globalização de alta intensidade uma vez que as directrizes são definidas por instituições multilaterais e impostas aos países que a elas estão sujeitos (Santos, 2002).

Segundo Guibentif (2002), a existência de mecanismos intervenção social diferentes de Estado para Estado, levou a que se criassem as convenções da Segurança Social, que funcionam como um novo texto jurídico internacional, e que se podem dividir em: „‟instrumentos fundamentais‟‟ – consagram internacionalmente o direito à Segurança Social; „‟instrumentos de harmonização ou convergência‟‟ – têm como objectivo a aproximação entre sistemas nacionais, propondo definições comuns e indicadores dos níveis de protecção; „‟instrumentos de coordenação‟‟ – regulamentam situações que podem estar sujeitas a dois ou mais sistemas de protecção.

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Assim, num contexto de globalização, é importante analisar o papel da política social, dentro do espaço da União Europeia, e a forma como se apresenta. Segundo a autora Fernanda Rodrigues, seria importante existir a figura de Estado, enquanto elemento de regulação, financiamento e provisão directa (Rodrigues, 2002). No entanto, o que se verifica actualmente, é que a política social europeia, é marcada por medidas de baixo nível de vinculação aos Estados-membros, e por financiamentos escassos. É assim importante, perceber qual é o papel da União Europeia, no que diz respeito à definição de uma política social europeia, porque apesar da Carta Social indicar que a dimensão social tem o mesmo peso que a dimensão económica, verifica-se que a política social europeia ainda não é suficientemente abrangente, coesa e sólida (Rodrigues, 2002). Ao nível do contexto nacional, a partir de 1990, a evolução da tendência de desenvolvimento das políticas sociais, evidência uma participação mais activa dos actores sociais na sua concepção, implementação e monitorização, uma maior descentralização e fragmentação das actividades, uma privatização dos serviços, com uma alteração ao nível do papel desempenhado pelo Estado no fornecimento e financiamento de serviços e uma melhor coordenação de políticas de forma a maximizar a sua eficácia no combate a exclusão social.