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1.2. Reformas da Educação

1.2.1. O contexto neoliberal

A partir dos anos de 1970, o capitalismo começa a apresentar problemas estruturais cujos principais motivos se mostram através de: redução dos níveis de produtividade resultando na diminuição da taxa de lucro9; limitação do padrão fordista/taylorista que não respondia mais ao desemprego estrutural que se iniciava; aumento relativo da autonomia da esfera financeira em que no novo processo de internacionalização, o capital financeiro torna-se espaço prioritário para a especulação; fusões entre as empresas monopolistas e oligopolistas gerando uma maior concentração de capitais; a crise do “Estado de bem-estar social”; e o aumento das privatizações. (ANTUNES, 1999).

O final dos anos de 1960 e início dos anos de 1970 é período marcado por grandes lutas das organizações da classe trabalhadora, numa reação do proletariado, mais especificamente do operário-massa10. O taylorismo/fordismo realizavam uma expropriação intensificada deste trabalhador, destituindo-o de qualquer forma de participação na organização do processo de trabalho.

Como tentativa de superar sua própria crise, e como do processo de desenvolvimento histórico e social, algumas “providências” são tomadas, como o aparecimento do neoliberalismo, a privatização do Estado, a diminuição dos direitos do trabalho e a desmontagem do setor produtivo estatal. Este se caracteriza como um processo de reestruturação do capital e, consequentemente, um processo de

9 “Dentre outros motivos, caudada pelo aumento do preço da força de trabalho, conquistado durante o

período pós-45 e pela intensificação das lutas sociais dos anos 60”. (ANTUNES, 1999, p. 29)

10 “Parcela hegemônica do proletariado da era taylorista/fordista que atuava no universo concentrado no

reestruturação da produção e do trabalho, visando recuperar os níveis de crescimento anteriores.

A tríade composta pelos EUA, Alemanha e Japão, países capitalistas avançados, é o núcleo centralizador que acentuou o caráter discriminador e destrutivo desse processo, com suas novas técnicas de gerenciamento da força de trabalho somadas à liberalização comercial e às novas formas de domínio técnico-científico.

Quanto mais aumentam a competitividade e a concorrência inter- capitais, mais nefastas são suas consequências, das quais duas são particularmente graves: a destruição e/ou precarização, sem paralelos em toda a era moderna, da força humana que trabalha e a degradação crescente do meio ambiente, na relação metabólica entre homem, tecnologia e natureza, conduzida pela lógica societal voltada prioritariamente para a produção de mercadorias e para o processo de valorização do capital (ANTUNES, 1999, p.34).

Nessa fase da reestruturação do capital, o desemprego em dimensão estrutural, a precarização do trabalho e a destruição da natureza em nível globalizado tornaram-se seu “cartão de visita”. Novas formas organizativas começaram a ser implementadas, como padrão de acumulação flexível, que se fundamenta num padrão produtivo organizacional vinculado ao uso de tecnologia avançada. Desenvolve-se uma estrutura produtiva flexível, utilizando-se, muitas vezes, de empresas terceirizadas. Novas técnicas de gestão são implementadas, em que o lema “vestir a camisa” da empresa é empregado na forma de trabalho em equipe, “células de produção”, “times de trabalho” entre outras (ANTUNES, 1999).

A intensificação do trabalho se revela por meio de estratégias que congregam a tecnologia da comunicação e informação com a demanda de afazeres e as relações trabalhistas que acabam por invadir a vida privada de todos os trabalhadores envolvidos (ROSSO, 2016).

Com o mecanismo, o empregador solicita do trabalhador a elevação da quantidade e da qualidade do produto ou serviço. Assim, a intensidade expressa o dispêndio das capacidades dos trabalhadores, sua energia física, inteligência em conceber, criar e analisar, e da afetividade nas relações interpessoais, cultura e socialização (DAL ROSSO, 2006, p.141-2).

No caso brasileiro a modernização conservadora se dá mediante a ditadura empresarial-militar dos anos de 1964 ao início dos anos 1980, com o fortalecimento da industrialização.

No que tange ao ensino, são conhecidas as teses da “tecnificação” do ensino, com o aumento do ensino profissional e aumento da desigualdade entre sistemas de ensino, com a reforma do ensino superior e a introdução do sistema de créditos, e os desdobramentos de turno escolares na escola básica, que ampliaram a jornada de trabalho docente.

No início da década de 1970, o índice de atendimento da população em idade escolar era baixo e havia alta taxa de evasão e repetência. Dados que precisavam ser revertidos para que se alcançasse uma maior produtividade do sistema de ensino. No estado de São Paulo, em 1970, 53% dos alunos em idade escolar estavam fora da escola, conforme Perez (1994) 11.

Para que se aumentasse o número de vagas, houve a ampliação do número d e escolas, mas eram insuficientes, e o que já se verificava no antigo primário se estendeu ao ginásio (chamado de ensino primário a partir da década de 1970): as salas de aula superlotadas, com até 50 (cinquenta) alunos, e para se garantir o acesso, criou-se mais turnos com menores períodos de aulas para admitir mais alunos, principalmente nas periferias da Grande São Paulo, onde a população era mais numerosa (PEREIRA, 2015).

A grande maioria das escolas da periferia atende à população de baixa renda, funciona em três, quatro e, às vezes, até cinco períodos, matricula um número de alunos sempre muito acima da capacidade física de cada sala de aula, o que obriga os professores a trabalharem com até 50 alunos, fato que, além de tudo, torna o seu trabalho altamente improdutivo (PEREIRA, 2015, p.53 apud TEIXEIRA, 1988, p. 93, grifos nossos).

Segundo Sonia Kruppa (1994), em 1986, 40% das escolas12 funcionavam com sua capacidade máxima, em quatro turnos e salas superlotadas (PEREIRA, 2015). A falta de estrutura e condições precárias de trabalho já eram bastante evidentes nesse período.

11 Em 1970, a população do Estado de São Paulo era de 17.770.975 habitantes. Os jovens menores de 15

anos representavam 37% da população (6.537.904), segundo dados da Fundação SEADE.. O número de alunos matriculados de 1ª a 4ª série em 1970 era 2.257.657, de 5ª a 8ª 945.317 e no ensino médio 284.186. Somadas as três modalidades temos um total de 3.487.160 (53%) (PEREIRA, 2015).

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