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1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

1.3 O contexto e sua importância para a construção de sentido do texto

A consideração do contexto no qual determinado texto é produzido faz parte dos princípios dos estudos em Linguística Textual, por isso, iniciaremos algumas considerações sobre esse assunto.

Primeiramente, é importante frisar que apesar de parecer simples, a definição de contexto diverge de acordo com as diversas pesquisas e autores que se dedicam ao tema.

Basicamente, pode-se entender o contexto como um evento, uma situação fática, um momento em que determinada ação acontece, um dado momento histórico, mas, ao refletir e

tentar aprofundar a conceituação de contexto percebe-se que existem várias definições válidas e podem ser perfeitamente aplicáveis a estudos sobre o texto.

A autora Koch (2011; 22), numa ordem teórica e classificatória, cita vários autores, enfatizando que há diversidade terminológica e de categorização no tratamento do assunto:

Malinowski (1923) distingue contexto de situação e contexto de cultura; Firth (1957) discorre sobre contexto social; Hymes (1964) apresenta um conceito também baseado no contexto de situação, utilizando o sistema SPEAKING, no qual cada letra significa traduzindo-se para o inglês: situação, participantes, fins, sequência de atos, código, instrumentais, normas e gêneros.

Após realizar uma análise e uma revisão teórica sobre contexto, Koch chegou à seguinte conclusão:

Deve-se tomar como ponto de partida para a análise do contexto: a perspectiva do(s) participante(s) cuja ação está sendo analisada, cabendo ao analista descrever como o sujeito assimila e organiza a percepção dos eventos e situações pelas quais está navegando; como aquilo que um participante trata como contexto relevante é determinado pelas atividades específicas que estão sendo realizadas naquele momento. São, pois, segundo estes autores, fenômenos que a análise do contexto deve recobrir. cenário; entorno sociocultural; a própria linguagem como contexto – o modo como a fala mesmo simultaneamente invoca contexto e fornece contexto para outra fala; isto é, a própria fala constitui um recurso dos mais importantes para a organização do contexto; conhecimentos prévios; contexto analisado como um modo de práxis interativamente constituído: evento focal e contexto estão numa relação de figura-fundo. (KOCH, 2011, p.22-23).

De acordo com Koch (2011; 23), “aos poucos, outro tipo de contexto passou a ser levado em conta: o contexto sociocognitivo”, no qual se defende que os contextos cognitivos dos interlocutores necessitam ser análogos. Cabe citar nas palavras da autora: “numa interação, cada um dos parceiros traz consigo uma bagagem cognitiva – ou seja, já é por si mesmo, um contexto”.

No contexto sócio-cognitivo são levados em consideração, segundo Vilela e Koch (2001; 459) “três grandes sistemas de conhecimento: o linguístico, o enciclopédico e o interacional”. Esses conhecimentos são ativados sempre que necessários. Entende-se por conhecimento linguístico aquele que os interlocutores possuem sobre a língua, ou seja, gramaticais, lexicais e semânticos. O conhecimento enciclopédico é um conhecimento subjetivo que todo indivíduo possui e que foi adquirido ao longo de sua vida, um conhecimento que permite aos interlocutores realizarem inferências, remissões e correlações do texto com outros fatos necessários ao processamento do texto. O conhecimento interacional é aquele que o interlocutor possui sobre a prática de interação pela linguagem,

através dele, o indivíduo irá identificar o gênero textual, o tipo textual, o objetivo do texto, variantes linguísticas, entre outros.

Ao analisar o contexto sociocognitivo, percebemos que os interlocutores precisam ter um conhecimento de mundo equiparado acerca do assunto abordado, pois, caso contrário, a finalidade do texto ficaria comprometida, dando margem aos equívocos e às falhas de comunicação. Podemos citar como exemplo ilustrativo a petição jurídica, pois este texto possui uma série de conhecimentos específicos que precisam ser compartilhados por seus interlocutores, caso contrário a comunicação ficará comprometida.

A Linguística Textual considera o contexto atualmente como:

A situação de interação imediata, a situação mediata (entorno sociopolítico-cultural) e também o contexto sociocognitivo dos interlocutores que, na verdade, subsume os demais. Ele engloba todos os tipos de conhecimentos arquivados na memória dos actantes sociais, que necessitam ser mobilizados por ocasião do intercâmbio verbal:

o conhecimento linguístico propriamente dito, o conhecimento enciclopédico, quer declarativo, quer episódico (frames, scripts), o conhecimento da situação comunicativa e de suas “regras” (situacionalidade), o conhecimento superestrutural (tipos textuais), o conhecimento estilístico (registros, variedades de língua e sua adequação às situações comunicativas), o conhecimento sobre os variados gêneros adequados às diversas práticas sociais, bem como o conhecimento de outros textos que permeiam a nossa cultura (intertextualidade). A mobilização desses conhecimentos por ocasião do processamento textual realiza-se por meio de estratégias de diversas ordens: cognitivas, como as inferências, a focalização, a busca da relevância; sociointeracionais, como preservação das faces, polidez, atenuação, atribuição de causas a (possíveis) mal-entendidos etc.; textuais: conjunto de decisões concernentes à textualização, feitas pelo produtor do texto, tendo em vista seu “projeto de dizer” (pistas, marcas, sinalizações). (KOCH, 2011, p.24)

Em suma, com os avanços dos estudos linguísticos, percebemos que o conceito sobre contexto também foi reformulado e ampliado, ganhando grande destaque. Como afirma Vilela e Koch (2011; 458) “Na fase inicial das pesquisas sobre o texto, o que se tem denominado análise transfrástica, o contexto era visto como o entorno verbal, ou seja, o co-texto.” Mas estudiosos de outras áreas alertaram para a realidade da interação realizada através da linguagem, momento em que são ativados vários elementos presentes no universo textual, como cultura, costumes, conhecimento pessoal de cada falante que irão incidir diretamente sobre a interlocução.

Na análise que será realizada sobre as petições jurídicas, os conceitos aqui abordados, referentes ao contexto, serão importantes para compreendermos as peculiaridades desse texto jurídico.