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3 TRABALHO COM PROJETOS E PRODUÇÃO TEXTUAL

3.4 O conto e o Fantástico

O gênero literário conto foi escolhido como objeto de ensino em nossa pesquisa por ter sido um dos gêneros mais apreciado pelos alunos pesquisados, principalmente quando abordava histórias fantásticas. Autores como Jardim (2003) esclarecem que a literatura na adolescência preenche um espaço entre o leitor infantil e o leitor adulto, haja vista que quando o jovem entra na adolescência seus interesses e necessidades sofrem modificações, o que se reflete em suas atividades e em suas leituras.

De acordo com a referida autora, “é nesse momento que a literatura juvenil atua, oferecendo obras que devem funcionar como pontes entre o mundo que está sendo abandonado pelo seu leitor e o mundo que ele prepara para enfrentar” (JARDIM, 2003, p.22). Aliado a isso, textos com extensão curta e estruturas simples tornam a leitura agradável e apropriada para leitores iniciantes, perfil dos participantes da nossa pesquisa.

O surgimento do conto se dá juntamente com a arte de narrar; por isso o gênero é considerado uma das formas narrativas mais antigas, no entanto, segundo Moisés (1996), o conto – em sua forma escrita – só começa a fixar-se no século XVII com a coletânea de contos populares feita por Charles Perrault. Nesse momento há grande interesse de tornar o

que é oral para o escrito, pois a imprensa escrita se moderniza e ganha força. Dessa forma, da oralidade para a escrita, o conto se firma como uma forma sintética e magnetizante de contar histórias, hipnotizando o leitor e desafiando o escritor.

A definição de conto não é tarefa fácil, haja vista ser o gênero um objeto tão complexo e multiforme. Para Leal (1985), do ponto de vista tipológico, há várias tentativas de classificação dos contos, mas, segundo a autora, são confusas e pouco produtivas. Assim, consideramos para este trabalho, ser mais adequado para compreender o gênero destacar as características principais, as regularidades presentes na narrativa.

O conto é um gênero literário da prosa de ficção e que tem a narratividade e a brevidade como marcas essenciais. Devido a essa brevidade, na narrativa são geradas tensões condicionadoras de várias situações, narradas em certo espaço de tempo. A brevidade do conto, no entanto, é mais uma questão de tendência do que de regra, pois há contos que são tão longos quanto uma novela ou até mesmo alguns romances. É preciso, então, considerar não a concisão da narrativa, mas a constituição do seu enredo. O enredo de um conto apresenta um número restrito de personagens, a concentração do espaço e do tempo em um único relato e a ação que tende à simplicidade e à linearidade diferente do romance e da novela. Gotlib (2003) ressalta que a ação do conto costuma ser fechada e desenvolver um só conflito.

No que concerne ao tratamento dado ao tempo, em um conto, não há uma determinação precisa da duração da ação ou uma localização em um contexto histórico. As expressões temporais remetem sempre ao passado, daí o predomínio dos tempos verbais no pretérito, principalmente, no pretérito perfeito. Segundo Moisés (1996, p.44):

[...] os acontecimentos narrados no conto podem dar-se em um curto lapso de tempo: já que não interessam o passado e o futuro, o conflito se passa em horas, ou dias. Se levam anos: 1) ou trata de um embrião de romance ou novela, 2) ou o longo tempo referido aparece na forma de síntese dramática, que envolve, habitualmente, o passado da personagem.

Da mesma forma que o tempo, a referência espacial é, na maioria das vezes, imprecisa. Essa imprecisão das referências espaciais e temporais pelo fato de não ser o onde nem o quando que interessam, mas sim o que acontece, a ação, a trama.

No que tange à narrativa fantástica podemos dizer que se trata de um gênero que, ao longo dos tempos, vem despertando a curiosidade de muitos estudiosos que a ela tem se dedicado na intenção de torná-la, por assim dizer, definível. Entretanto, estes estudos têm se

mostrado incapazes de abarcar a totalidade de sua representação. De acordo com Rodrigues (1988), para compreendermos a literatura fantástica, precisamos entender que:

o termo fantástico refere-se ao que é criado pela imaginação, o que não existe na realidade, o imaginário, o fabuloso. Aplica-se, portanto, melhor a um fenômeno artístico, como é a literatura, cujo universo é sempre ficcional por excelência, por mais que se queira aproximá-lo do real (RODRIGUES, 1988, p.9).

A narrativa fantástica não se propõe a ser uma representação da realidade, mas provoca no leitor a inquietação do que vem a ser a realidade em si. O Fantástico não admite nem traz qualquer explicação, nem na realidade, nem fora dela, gerando uma grande inquietação, seja no leitor ou nas personagens. “Se o Real é aquilo que se julga ordinário, o Fantástico é tudo o que foge dessa concepção, é o extraordinário, o que está fora da ordem, o insólito, pois não se enquadra nos paradigmas” (Moreira, 2008, p. 12).

Para Tzetan Todorov, o fantástico se define a partir do efeito de incerteza e hesitação provocada no leitor face a um acontecimento sobrenatural. A hesitação é para Todorov a primeira condição do fantástico.

Outra abordagem do fantástico bastante difundida é a do escritor e ensaísta Lovecraft, para quem o fantástico é uma narrativa em que o sobrenatural é um tema recorrente e fornece a explicação para os fenômenos presentes no texto. O elemento fundamental na produção dos textos fantásticos seria a atmosfera e a sensação de que o texto provoca geralmente no leitor, a sensação de medo (VIEIRA, 2011).

Dessa forma, a partir da compreensão do que diziam os especialistas em conto e em fantástico, iniciamos nossas leituras de contos dessa natureza para, enfim, produzirmos o modelo didático do conto fantástico.

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