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CAPÍTULO 05 O PROCESSO DE OPERACIONALIZAÇÃO DA ATES:

5.7 O contrato da ATES e a equipe de articuladores

Diferentemente da época em que a ATES foi executada pela modalidade convênio, a equipe de articuladores, a partir dos contratos, foi composta por profissionais sem ligação formal ou ideológica com as prestadoras da ATES.

Em 2009 o INCRA formalizou um termo de cooperação com a UFSM para a contratação e execução do trabalho dos articuladores e o apóio teórico-metodológico para a construção do programa da ATES.

A partir dos desafios estabelecidos pelo Manual Operacional da ATES aos articuladores, o trabalho dessa equipe consolidou-se sobre dois eixos: assessoramento periódico em todos os Nos, potencializando e refletindo sobre as ação desenvolvidas; e reflexão sistemática sobre a política de ATES.

Para atender o primeiro eixo, a equipe auxiliou no planejamento das ações de ATES junto às equipes de cada NO, com o objetivo de alcançar as metas propostas no contrato e realizar um trabalho qualificado junto às famílias assentadas. A equipe dedicou-se à busca de soluções para as adversidades e à resolução de conflitos, bem como à elaboração de instrumentos de suporte para a realização dos PDAs e PRAs. Avalia-se que o trabalho de assessoramento dos técnicos de campo, pelos articuladores, colaborou para a promoção do desenvolvimento local, possibilitando as condições de investigar, identificar e disponibilizar aos agricultores assentados um conjunto de ações técnicas e não técnicas, compatíveis com as necessidades locais e com o espaço territorial onde se inserem. Um dos grandes desafios colocados para a equipe foi construir a ideia de conjunto nas equipes técnicas, principalmente nos NOs compostos por mais de um município ou escritório técnico.

Com relação ao segundo eixo de trabalho, os articuladores sistematizaram em diversos relatórios algumas experiências desenvolvidas pela ATES, buscando apontar os avanços e limites da operacionalização do programa, a fim de proporcionar elementos que qualifiquem a execução do atual contrato, bem como para servir de exemplo para tempos vindouros, considerando que o programa da ATES passa frequentemente por processos de renovação, principalmente das equipes técnicas atuantes nos Nos.55

Coube aos articuladores o aprimoramento e adequação de metodologias participativas às equipes técnicas, desenvolvendo técnicas de planejamento, execução e monitoramento da evolução das propostas de desenvolvimento individual, coletivo e comunitário nos NOs, incentivando a melhoria nas atividades da ATES, tornando-as eficazes nas ações conjuntas pela prática do compartilhamento de conhecimentos e experiências, gerando aprendizado mútuo.

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Na mudança de convênio para contrato, houve troca de equipes em seis NOs. Além disto, foi frequente a substituição de técnicos, além de reorientação de princípios e metodologia de trabalho, principalmente, quando tratou-se de instituição pública, cuja direção muda quando mudam os governos, o que prejudica a relação, planejamento e os trabalhos desenvolvidos com as famílias assentadas.

Destacaram-se alguns limites e desafios ao trabalho da equipe de articuladores. A distância física e a quantidade de NOs, com grande número de técnicos sob responsabilidade de cada articulador, foram fatores que prejudicaram o trabalho da equipe. Em média, cada articulador trabalhou com 31 técnicos da ATES, enquanto o manual operacional determina entre 24 e 26. A distância entre os NOs de até 500 km impediu a realização de roteiros mais frequentes. A Coordenação da ATES, ao considerar apenas o número de técnicos para delimitar o número de Núcleos sob acompanhamento de cada articulador (reflexo do número de famílias assentadas), desconsiderou a distância entre eles. Torna-se necessário repensar o número de articuladores de equipe, levando em consideração o número de NOs, o número de técnicos da ATES, as características regionais e a distância entre os Núcleos.

Ao provocar alterações na dinâmica organizativa da ATES, o contrato exigiu que a equipe de articuladores focasse o trabalho na resolução de problemas operacionais do programa, secundarizando um trabalho mais sistemático, de apoio metodológico às equipes de ATES, bem como à formulação de reflexões mais aprofundadas sobre a realidade do programa no estado. Segundo os relatórios dos articuladores (UFSM, 2009), a equipe destinou a maior parte do tempo para participação em reuniões com a coordenação da ATES ou na discussão da operacionalização das metas contratadas juntamente com as equipes técnicas.

Para as prestadoras da ATES, a equipe de articuladores esteve muito vinculada ao INCRA e preocupada em resolver as demandas da coordenação da ATES ao contrário de um trabalho a serviço das equipes técnicas e do programa como um todo. Afirmaram que os problemas operacionais do INCRA causaram uma descentralização de tarefas para serem executadas pela equipe de articuladores. Se, no período dos convênios, a crítica foi referente à vinculação prioritária dos articuladores às demandas das prestadoras, avalia-se que na modalidade contrato criticou-se a equipe por estar submetida às demandas do INCRA.

No entanto, observou-se que esta realidade só será alterada se o processo de descentralização e operacionalização da ATES avançar, permitindo que as equipes técnicas nos NOs, as famílias assentadas, bem como a equipe de articuladores tiverem maior autonomia sobre as ações da ATES. Isto implicaria na construção de processos mais duradouros e sistematizados, possibilitando, inclusive aos articuladores, o desenvolvimento de um trabalho mais articulado e a serviço do programa da ATES. De outro lado, avalia-se que, ao estabilizar os conflitos gerados pela modalidade contrato, diminuirá as tarefas burocráticas e operacionais, permitindo que a equipe de articuladores possa atuar intensamente junto aos NOs.

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