• Nenhum resultado encontrado

3 – O CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL

Vimos no decorrer desse trabalho que, não obstante a inadequação da investigação preliminar policial, que não condiz com os princípios constitucionais vigentes, ela ainda perdura em nosso ordenamento jurídico.

O constituinte, porém, atento aos recorrentes abusos cometidos pelos policiais no passado, principalmente durante a ditadura militar, incumbiu ao Ministério Público, no art.129, VII, o controle externo de sua atividade, confiando ao Legislativo sua regulamentação.

Atualmente, porém, vemos que essa fiscalização sobre os atos policiais é realizada, na maioria das vezes, a posteriori, apenas após a relatoria do inquérito, deixando o Ministério Público de exercitá-la plenamente devido à obscuridade legislativa.

Em 1993, dois importantes diplomas normativos foram editados: a Lei Complementar n° 7553 e a Lei n° 862554, a denominada “Lei Orgânica Nacional do Ministério

Público”. Referidas leis, todavia, limitaram-se a reforçar a existência desse controle, não estabelecendo a forma pela qual ele seria exercido, nem delimitando os seus contornos, o que certamente representa um óbice ao seu efetivo exercício. Nesse sentido, Mendroni (2008, p.323):

“Apesar desta interpretação lógica e sistêmica, é preciso ressaltar que, seja por absoluta falta de tradição, seja por forte resistência por parte dos Órgãos de Polícia Judiciária (em muitos casos), os representantes do Ministério Público, em sua grande maioria, ainda não realizam efetivamente essas atribuições que lhe foram

53 BRASIL, Lei complementar Nº 75, 20 mai 1993. Dispõe sobre a organização, as atribuições e o estatuto do

Ministério Público da União. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp75.htm>. Acesso em 16 nov 2013. “Art. 3º O Ministério Público da União exercerá o controle externo da atividade policial tendo em vista: a) o respeito aos fundamentos do Estado Democrático de Direito, aos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, aos princípios informadores das relações internacionais, bem como aos direitos assegurados na Constituição Federal e na lei; b) a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio público; c) a prevenção e a correção de ilegalidade ou de abuso de poder; d) a indisponibilidade da persecução penal; e) a competência dos órgãos incumbidos da segurança pública. (...)

Art. 9º O Ministério Público da União exercerá o controle externo da atividade policial por meio de medidas judiciais e extrajudiciais podendo: I - ter livre ingresso em estabelecimentos policiais ou prisionais; II - ter acesso a quaisquer documentos relativos à atividade-fim policial; III - representar à autoridade competente pela adoção de providências para sanar a omissão indevida, ou para prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso de poder; IV - requisitar à autoridade competente para instauração de inquérito policial sobre a omissão ou fato ilícito ocorrido no exercício da atividade policial; V - promover a ação penal por abuso de poder.

Art. 10. A prisão de qualquer pessoa, por parte de autoridade federal ou do Distrito Federal e Territórios, deverá ser comunicada imediatamente ao Ministério Público competente, com indicação do lugar onde se encontra o preso e cópia dos documentos comprobatórios da legalidade da prisão”.

54 BRASIL, Lei nº 8625, 12 fev 1993 Institui a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, dispõe sobre

normas gerais para a organização do Ministério Público dos Estados e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8625.htm>. Acesso em 16 nov 2013.

conferidas por ocasião da vigência da Constituição Federal e da Lei Orgânica Nacional, o que implica evidente prejuízo para a aplicação da Justiça”.

Diante dessa lacuna normativa, o CNMP, fazendo uso de seu poder regulamentador, editou a Resolução no 20/2007, que tratou do tema de modo amplamente favorável ao

Ministério Público, conferindo-lhe diversos mecanismos de monitoramento do trabalho realizado pela polícia55.

Nesse diapasão, foi instituída, no âmbito do Conselho, a “Comissão de Aperfeiçoamento da Atuação do Ministério Público no Sistema Prisional, no Controle Externo da Atividade Policial e na Segurança Pública”, que visa, através da especialização e do aprofundamento do estudo desses temas, melhorar a prestação do serviço ministerial.

À semelhança do CNMP e embasado em sua resolução, o CNPG (Concelho Nacional dos Procuradores-Gerais) instituiu um “Grupo Nacional de Efetivação do Controle Externo da Atividade Policial”, que dentre suas realizações consta a elaboração de um Manual do Controle Externo da Atividade Policial56. Seu objetivo é a conscientização dos próprios

membros da instituição acerca dessa importante prerrogativa, dedicando-lhes instruções para melhor exercê-la.

No anexo do documento, tratou-se de conceituar no que consistiria o controle externo:

“(...) Controle Externo da Atividade Policial é a adoção, pelo Ministério Público, de mecanismos de controle da atividade desenvolvida pelas polícias para os fins de impedir a utilização inadequada do aparato dos órgãos de segurança pública e diminuir a prática de infrações penais e administrativas cometidas por seus próprios

55 Destacamos, dentre os dispositivos, o art.4º, que preconiza o seguinte: “Incumbe aos órgãos do Ministério

Público, quando do exercício ou do resultado da atividade de controle externo: I – realizar visitas ordinárias periódicas e, quando necessárias, a qualquer tempo, visitas extraordinárias, em repartições policiais, civis e militares, órgãos de perícia técnica e aquartelamentos militares existentes em sua área de atribuição; II – examinar, em quaisquer dos órgãos referidos no inciso anterior, autos de inquérito policial, inquérito policial militar, autos de prisão em flagrante ou qualquer outro expediente ou documento de natureza persecutória penal, ainda que conclusos à autoridade, deles podendo extrair cópia ou tomar apontamentos, fiscalizando seu andamento e regularidade; III – fiscalizar a destinação de armas, valores, substâncias entorpecentes, veículos e objetos apreendidos; IV – fiscalizar o cumprimento dos mandados de prisão, das requisições e demais medidas determinadas pelo Ministério Público e pelo Poder Judiciário, inclusive no que se refere aos prazos; V – verificar as cópias dos boletins de ocorrência ou sindicâncias que não geraram instauração de Inquérito Policial e a motivação do despacho da autoridade policial, podendo requisitar a instauração do inquérito, se julgar necessário; VI – comunicar à autoridade responsável pela repartição ou unidade militar, bem como à respectiva corregedoria ou autoridade superior, para as devidas providências, no caso de constatação de irregularidades no trato de questões relativas à atividade de investigação penal que importem em falta funcional ou disciplinar; VII – solicitar, se necessária, a prestação de auxílio ou colaboração das corregedorias dos órgãos policiais, para fins de cumprimento do controle externo; VIII – fiscalizar cumprimento das medidas de quebra de sigilo de comunicações, na forma da lei, inclusive através do órgão responsável pela execução da medida;

56 A primeira edição foi lançada em 2009 e a segunda, em 2012. Disponível em:

<http://www.mpba.mp.br/atuacao/criminal/gacep/Manual_do_Controle_Externo.pdf>. Acesso em 20 nov 2013.

integrantes, além de medidas voltadas ao incremento da eficiência dos trabalhos das polícias”.

Percebe-se, com isso, que o MP exerce o controle não só como titular da ação penal e, portanto, interessado no êxito da investigação, mas, principalmente, como órgão encarregado da defesa dos interesses sociais e do regime democrático.

No entanto, pelo fato da resolução do CNMP se tratar de um ato normativo emitido de forma unilateral por órgão interessado, sua legitimidade vem sendo contestada por terceiros, tais como a ADEPOL – Associação dos Delegados de Polícia – e a Ordem dos Advogados do Brasil.

Esta, inclusive, ajuizou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade57, tendo por objeto

a supracitada resolução, alegando que o CNMP extrapolou o poder regulamentar que lhe foi conferido pelo constituinte e que o controle externo da atividade policial seria tema reservado à lei complementar, não podendo ser disciplinado através de resolução. Nesses termos:

“Assim, em o fazendo, acabou por adentrar na atividade típica ou finalística dos policiais federais, inovando a ordem jurídica, subvertendo reserva constitucional de lei em sentido formal. As resoluções, ainda que editadas no âmbito do CNMP, não se confundem com leis em sentido formal, já que não podem modificar a ordem jurídica vigente, e devem, tão-somente, se restringir a interpretá-la com finalidade executório administrativa. Não têm força para intervir na atividade policial, sob pena de desrespeito à hierarquia normativa”58.

Independentemente do resultado da ADIN, faz-se necessária a manifestação do órgão legislativo acerca do assunto, uma vez que, ainda que se entenda pela conformidade constitucional da impugnada resolução, ela continuará encontrando oposição no seu cumprimento.

Isso porque a relação entre a polícia e o MP é marcada por conflitos, como noticiou Paulo Rangel59:

“Com o advento da Constituição de 1988, houve uma grita por parte de algumas autoridades que não aceitavam (até porque desconheciam) o controle externo da atividade policial pelo Ministério Público. Achavam que o Ministério Público queria ser a Corregedoria da Polícia. No Brasil, onde a polícia serviu durante muitos anos como braço direito da repressão política e como instrumento de opressão da classe

57 Cf. ADIN 4220, de 2009. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?

incidente=2668067>. Acesso em: 20 out 2013.

58 Disponível em: <http://amp-pr.jusbrasil.com.br/noticias/3161354/adpf-solicita-ingresso-na-adi-contra-a-

resolucao-do-cnmp-referente-ao-controle-externo-do-mp> . Acesso em 19 dez 2013.

59 RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 13ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2007. p. 90-91, apud,

dominada, era natural a revolta e a repulsa aos novos ares democráticos. Até porque primeiro se prendia para depois se investigar”.

A relutância, contudo, não é somente por parte da polícia60, mas também pelo próprio

Ministério Público. Devido às importantes prerrogativas constitucionais que lhes foram conferidas, muitos membros do Parquet estão se deixando contaminar por um sentimento de superioridade em relação aos demais agentes estatais, em especial aos policiais, o que alimenta essa histórica animosidade.

Ponderado promotor destacou, nesse ponto, a necessidade da instituição buscar a integração com os demais órgãos públicos:

“A independência funcional como princípio de vital importância para a saúde institucional do Ministério Público não pode se converter em irracional postura corporativa e isolacionista em relação ao contexto sociopolítico em que os intercâmbios democráticos se estabelecem entre os diversos órgãos públicos; deve ter como política institucional a busca constante de uma coordenação entre os diversos órgãos públicos para viabilizar e otimizar sua atividade-fim” (RODRIGUES, 2012).

O promotor Hugo Mazzilli61, exemplificativamente, elencou algumas situações em

que o controle externo se impõe:

“O controle deve ser exercido, entre outras áreas, sobre as notitiae criminis recebidas pela polícia, que nem sempre, na prática, são canalizadas para a instauração de inquéritos policiais; sobre a apuração de crimes em que são envolvidos os próprios policiais; sobre os casos em que a polícia não demonstra interesse ou possibilidade de levar a bom termo as investigações (...)”.

Há divergência, porém, no que tange à abrangência do monitoramento levado a cabo pelo MP. Alguns doutrinadores, dentre eles Mendroni (2008, p. 321), defendem que a fiscalização é irrestrita, abarcando inclusive a disciplinar. Verbis:

60 Bruno Amaral Machado comprovou, através de pesquisas de campo, a forte rejeição que o MP sofre por parte

da polícia. “Algumas das pesquisas centradas sobre as relações entre profissionais que competem no campo jurídico no Brasil revelam que as interações entre membros do MP e delegados de polícias no Brasil estão marcadas por disputas e críticas recíprocas (Bonelli, 1999, p. 27-28; Sanchez Filho, 2000, p. 194-205; Debert, 2000, p. 220-227; Silva, 2001, p. 102-103). Os policiais, incapazes de alterar a relação de dominação, sentem- se estigmatizados pela formação acadêmica, aparentemente de qualidade inferior. No survey realizado com os delegados de polícia (Polícia Civil) em 2002, 94% dos entrevistados rejeitaram a interferência do MP na atividade policial e 84,6% posicionaram-se contrários à criação de grupos de investigação dentro do próprio MP (Sadek, 2003, p. 24). No espaço aberto para que os delegados pudessem acrescentar comentários à pesquisa, o MP foi a instituição mais criticada. Os delegados ressentem-se tanto da intervenção "indevida" na investigação e no inquérito policial, quanto das maiores garantias e do poder conferidos a promotores e

procuradores (Cavalcanti, 2003, p. 149-152)”. Disponível em:

<http://www.uniceub.br/media/180336/Artigo_ControleExterno.pdf> . Acesso em: 18 dez 2013.

61 MAZZILI, Hugo Nigro. O Ministério Público na Constituição de 1988, SP, Saraiva, p. 117-118, apud

“Deve incumbir ao Ministério Público o ‘controle externo da atividade policial’. Esta normatividade contém duplo sentido: Por um lado, a direção da investigação criminal, e por outro a possibilidade de atividade correcional da atuação policial”.

Outros, porém, advogam pela distinção entre sua função fiscalizadora e a correicional, uma vez que não há hierarquia entre as instituições:

“(...) Como expresso no ordenamento constitucional, o Ministério Público exercerá o controle externo da atividade policial e não dos policiais, pois estes estão sujeitos a um controle interno, desenvolvido por seus órgãos hierarquicamente superiores. Controla-se, assim, a atividade-fim da polícia, onde há interesse do Ministério Público62”.

Percebe-se, pois, que a falta de regulamentação causa tortuosos problemas que prejudicam em muito a efetividade do sistema de justiça brasileiro, uma vez que embaraça a almejada colaboração entre essas instituições, essenciais para consolidação da paz social.

Apesar da regra ainda ser a rivalidade descabida entre as instituições, felizmente temos notícia de casos de cooperação entre ambas que foram bem sucedidos63, o que nos leva

a crer que estão constatando o forte ganho que se obtém com a coligação de forças.

Nesse sentido, Taís Ferraz64 bem salientou a necessidade de união dos atores sociais,

abandonando a cultura de querer isentar-se de culpa e reconhecendo que todos possuem um fim comum, que é a realização do interesse público65.

“Um problema que é de toda a sociedade e do Estado vem sendo tratado, historicamente, de forma absolutamente fragmentada, numa constante atribuição

62 ARAÚJO JÚNIOR, Francisco Taumaturgo. Controle Externo da atividade policial: o outro lado da face.

MPCE. Disponível em: <http://www.mpce.mp.br/servicos/artigos/artigos.asp?iCodigo=34> . Acesso em 24 out 2013. Isso é, inclusive, o que defende o Manual do CNPG (2012, p.48): “Assim, deve o controle externo ser exercido sobre a instauração, o desenvolvimento e o resultado dos trabalhos persecutórios da polícia judiciária repressivo-preventivas desempenhadas pela polícia ostensiva e toda função atinente ao trato com o cidadão e a população em geral, salientando que tal controle não alcança a estrutura hierárquica ou os assuntos referentes ao âmbito administrativo interno da polícia - as atividades-meio exercidas pela polícia estão excluídas do controle externo. Além disso, medidas preventivas, a qualquer momento, podem e devem ser tomadas para aperfeiçoar e corrigir ações futuras, como recomendações, parcerias, orientações, cursos, TACs e quaisquer outras julgadas úteis”.

63 Compilação no site do CNPG de diversas notícias de forças-tarefas realizadas pelo MP com o apoio das

polícias e diversas denúncias feitas pelo MP contra membros das instituições policiais e que constatam o efusivo papel do Ministério Público no sentido de controlar a atividade policial. Cf.:

<http://www.cnpg.org.br/index.php/noticias-do-controle-externo> . Acesso em 18 nov 2013.

64 FERRAZ, Taís. A Investigação de Homicídios no Brasil. CNMP. Disponível em:

<http://www.cnmp.mp.br/portal/artigos/3482-a-investigacao-de-homicidios-no-brasil>. Acesso em 15 dez

2013.

65 Considerando essa premissa, foi criada a Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública – ENASP, fruto

da coligação do Ministério da Justiça, do CNMP e do CNJ, com o estabelecimento de metas a serem cumpridas pelos interessados na segurança pública.

recíproca de culpas, sob a premissa de que ‘o problema não é meu’, ou de que ‘eu faço a minha parte’. Fazer cada um a sua parte, neste contexto, é insuficiente. É preciso saber o que toca aos outros agentes e órgãos, saber de que forma as ações se impactam reciprocamente, já que a atuação de todos é interdependente. Se um não funciona, o resultado não ocorre para todos”.

De igual modo, Rodrigues (2012) defende que “Instituições sem coordenação neutralizam mutuamente sua eficácia”.

Assim, a mera fiscalização, exercida de forma impositiva, apenas servirá para dificultar a frágil relação entre os dois órgãos. É preciso, portanto, que esse poder seja aceito como legítimo pelos policiais, de modo a possibilitar, enfim, um relacionamento saudável e cooperativo entre controlador e controlado.

Somente com a conjunção de esforços, tanto por parte dos organismos estatais quanto pelos cidadãos, modificaremos esse lamentável status quo.

CONCLUSÃO

Vimos no curso desse trabalho a incongruência do modelo de investigação policial, a cabo do delegado de polícia, adotado em nosso ordenamento, uma vez que o dominus litis, e, portanto, destinatário final do inquérito, é o Ministério Público.

Vimos ainda que, na prática, os princípios constitucionais que norteiam o nosso ordenamento somente são aplicados no período compreendido entre a denúncia e o trânsito em julgado da sentença condenatória, sendo eles constantemente violados na fase investigatória e na execução penal.

A dita “natureza inquisitorial” do inquérito policial, e a consequente ausência das garantias processuais, no entanto, não justificam o completo descaso dos agentes policiais com os direitos fundamentais básicos, que são indisponíveis. Agem eles à margem da legalidade, afastando a aplicação dos valores preconizados pela Constituição quando estes colidem com os interesses estatais ou, até, pessoais do agente policial, atitude que é incompatível com um Estado que se afirma democrático de direito.

Diante desse fatídico quadro, surge uma corrente defendendo uma maior participação do custos legis na fase pré-processual, buscando dar efetividade à persecução penal e, principalmente, garantir a observância aos direitos do imputado, cujas violações são constantes. Há um incentivo, pois, para que o MP abandone a passividade e assuma um papel mais ativo na investigação.

Observamos que há uma tendência mundial nos ordenamentos internacionais de aumento das atribuições do órgão ministerial, redundando, em alguns deles, na adoção do sistema do promotor investigador, em que o MP que conduz investigação, no que é auxiliado pelas forças policiais.

Seja pelas garantias constitucionais que lhe foram conferidas, seja pela melhor remuneração, seja pela superior qualificação técnica, o membro do Parquet nos parece mais apto para dirigir a instrução preliminar, norteado sempre pelos princípios constitucionais.

Ainda que esse não seja o modelo adotado em nosso país, o constituinte outorgou à instituição o controle externo da atividade policial, indicando, com isso, a necessidade de maior interação entre os órgãos públicos para assegurar o atendimento aos interesses sociais.

Devem eles, assim, agir de forma colaborativa e não isolacionista:

“Cada um dos órgãos de persecução tem, portanto, a sua importância peculiar e o seu preparo específico, devendo haver entre eles, não o conflito de atribuições, mas

sim a união e cooperação de atuações para a finalidade comum do combate à criminalidade e defesa da sociedade”. (MENDRONI, p.328)

Apesar de termos diversos casos internacionais de sucesso envolvendo o fortalecimento do Ministério Público, não se pode afirmar que sua efetivação é a solução para os problemas aqui existentes.

Como qualquer mudança institucional, sempre haverá riscos de que ela configure verdadeiro retrocesso, mas o maior perigo, a nosso ver, é a manutenção desse status quo, que chegou a um ponto insustentável.

Faz-se mister, assim, a discussão de alternativas a esse falido sistema, sendo uma delas a presente neste trabalho: uma presença mais contundente do Ministério Público na investigação criminal.

Documentos relacionados