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2.3 O MOVIMENTO COOPERATIVISTA

2.3.2 O cooperativismo no mundo

Já dizia Williams (2007), a atividade econômica cooperativa não é uma novidade. Ao longo da história as sociedades têm demostrando interesse em se organizar em grupos, para juntos superar adversidades culturais e econômicas. Os movimentos observados nos tempos modernos, surgiram em torno de 1750, inicialmente com o estrito interesse econômico, onde eram chamadas de comunidades cooperativas. As ideias utópicas de líderes socialistas da época, como os ingleses Robert Owen e William Thompns e os franceses Cabet e Fourier inspiraram os ideais de um futuro mais democrático.

De acordo com o histórico disponível no site do Portal do Cooperativismo Financeiro (2016), o movimento do cooperativismo tem sua primeira aparição com a fundação da “Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale”, em 21 de dezembro de 1844, no bairro de Rochdale, em Manchester (Inglaterra), onde 27 tecelões e uma tecelã procuravam, na época, uma alternativa econômica para atuarem no mercado, frente ao capitalismo ganancioso que os submetiam a preços abusivos, exploração da jornada de trabalho de mulheres e crianças (que trabalhavam até 16 horas) e do desemprego provocado pela Revolução Industrial.

Naquele momento e cenário, aquelas pessoas mudavam os padrões econômicos da época e davam origem ao movimento cooperativista. No início, foram alvo de muitas críticas e ironias por parte dos comerciantes locais. No entanto, logo no primeiro ano de funcionamento da sociedade, o seu capital aumentou para 180 libras. Cerca de dez anos mais tarde, o “Armazém de Rochdale” já contava com 1.400 cooperados. Com isso, o sucesso do empreendimento passou a ser um exemplo para outros grupos.

O cooperativismo acabou evoluindo e conquistando um espaço próprio, definido por uma nova forma de pensar o homem, o trabalho e o desenvolvimento social. Por sua forma igualitária e social, o cooperativismo é aceito por todos os governos e reconhecido como fórmula democrática para a solução de problemas sócio-econômicos.

Com a evolução surgiram novos modelos, inspirados em outros idealizadores e que contribuíram para difundir as cooperativas de crédito na Europa e no mundo:

Modelo Schulze: Hermann Schulze (1808-1883), magistrado nascido em

Delitzsch/Alemanha, que fundou bancos populares entre os artesãos e foi o autor do projeto que serviu de base à elaboração do Primeiro Código Cooperativo, promulgado em 27 de março de 1867, na Alemanha. Para Hermann Schulze, a associação é o meio encontrado pela sociedade para atuar de forma eficaz em setores que o Estado não consegue atingir.

Principais características do Modelo Schulze:

 O capital da sociedade é constituído através de quotas-partes integralizadas pelos cooperados, adotam o princípio da ajuda mútua, conhecido como self-

help;

 Constituição de fundo de reserva geralmente limitado a dez por cento do capital subscrito;

 Distribuição dos ganhos entre os sócios sob a forma de dividendo;

 Responsabilidade solidária e ilimitada dos sócios pelos negócios da entidade;

 Permitida a participação de todas as categorias econômicas, pois não classificada como associação classista.

Modelo Raiffeisen: para Friedrich Wilhelm Raiffeisen (1818-1888), também

nascido na Alemanha, o cooperativismo fundamenta-se no princípio cristão de amor ao próximo e, embora adotem a ajuda mútua, admitem auxílio de caráter filantrópico. Esse modelo ainda é muito utilizado na Alemanha, além de ter influenciado, significativamente, a constituição das cooperativas de crédito rural brasileiras.

Principais Características do modelo Raiffeisen:

 Responsabilidade solidária e ilimitada3 quanto aos negócios realizados pela

sociedade;

 Grande valorização da formação moral dos cooperados;  Não remuneração dos dirigentes da sociedade;

 Não distribuição de retorno;

 Defesa da idéia de organização de um banco central para atender às necessidades das cooperativas de crédito4.

Modelo Hass: inspirado pelos dois modelos alemães citados acima, surgem,

no período de 1838 à 1913, as cooperativas do tipo Haas, com ênfase e cunho econômico. Para Hass, a cooperativa de crédito é capaz de obter, mediante o auxílio- mútuo, aumento do crédito agrícola, compra em comum de maquinário e ferramentas a serem empregadas na agricultura, seguro agrícola, melhoria na qualidade e redução dos preços dos produtos, maior rapidez na exploração e transformação dos produtos agrícolas, entre outros benefícios (Portal do Cooperativismo Financeiro, 2016).

Modelo Luzzatti e Wollemborg: as ideias dos precursores foram tomando

forma e apresentando sólidos resultados. Inspirados, surgem, nos anos de 1865, na

3 Antigamente as cooperativas de responsabilidade ilimitada eram constituídas sem Capital Social e

seus cooperados respondiam ilimitadamente pelas obrigações social. Com o advento do Novo Código Civil de 2.002, foi facultado às cooperativas constituir-se sem capital social. Com relação à cooperativa de responsabilidade limitada, desde sua origem se admite que os cooperados respondam apenas pelo valor de sua contribuição para a formação do capital social.

4 No Brasil, surgiu em 1951, o Banco Nacional de Crédito Cooperativo S.A. (BNCC), que tinha por objetivo assegurar assistência e amparo financeiro às cooperativas. O BNCC foi extinto em 16/03/1990.

Itália, o Modelo Cooperativista Luzzatti. Essas instituições adotaram o princípio do

self-help e recebiam ajuda estatal para suporte no início das operações, até que a

sociedade fosse capaz de assumir todas as responsabilidades do negócio. Nesse mesmo contexto, surgiram, também, na Itália, o modelo de Wollemborg, com uma preocupação mais acentuada para o financeiro da sociedade. O modelo não previa a remuneração dos dirigentes, nem a distribuição dos resultados.

Modelo Desjasdins: corroborando com a ideia de que o modelo era rentável e

sustentável, segue-se a expansão para o continente americano, com o surgimento, em 06/12/1900, no Canadá, o Modelo de Cooperativismo de Crédito de Desjardins. Inspirado nos modelos europeus, na tradição dos saving banks (banco de poupança cujo objetivo principal é aceitar depósitos de poupança e pagar juros sobre os depósitos) dos Estados Unidos, e nos valores religiosos de seu idealizador.

De acordo com Meinen e Port (2012), o modelo criado por Alphonse Desjardins unia as funções de poupança e de crédito popular, com o intuito de, mediante o auxílio mútuo, criar nos cooperados o hábito da economia sistemática para o atendimento de necessidades profissionais, familiares e pessoais, bem como conduzi-los à prática da autogestão democrática e à autoproteção contra os abusos do sistema financeiro da época. Para garantir a perpetuidade desse modelo, Alphonse Desjardins trabalhou com modelos federados, com centralização dos serviços de educação, assistência técnica, marketing e comunicação e a constituição de uma Caixa Central que garantisse a estabilidade econômica das cooperativas. Tal modelo, mostrou-se muito eficiente e teve uma rápida expansão em todo o mundo, inspirando, ainda hoje, grande parcela das cooperativas de crédito em funcionamento nos mais diferentes países.