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O corpo docente e as condições do sistema educativo

Em entrevista com a professora M., ela compartilhou da ideia de que a formação acadêmica dos professores é de nível superior completo e, dentre eles, de oito a dez têm especialização. Acrescenta que formação continuada é realizada mensalmente, pela Secretaria de Educação Básica- SEDUC, uma capacitação conforme a região, para regentes de multimeios, coordenadores escolares, coordenadores de área, professores e gestores. A carga dessa capacitação é de 4h mensais. No final do semestre, a carga chega a 40 horas, com direito a certificado. Quanto aos profissionais que participam: 1 representante do multimeios (regente), 1 representante do Laboratório de Informática, 1 professor/ coordenador da Área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; 1 professor/coordenador da Área de Ciências da Natureza e Matemática; 1 professor/coordenador da Área de Ciências Humanas; 1 professor do laboratório de Ciências; a coordenação escolar e a diretora. Vale ressaltar que a estimativa aproximada é que a escola tem um total de 40 professores.

A intenção é que esse grupo seja multiplicador, ou seja, possam repassar para os demais o que foi trabalhado durante a capacitação.

Essa formação é de suma importância para que tais profissionais se atualizem, troquem experiências, melhorando assim suas práticas pedagógicas e rotina de trabalho. Há também uma formação continuada ministrada pela diretora da escola na última quarta-feira de cada mês, no horário de 17 às 21h. O assunto em pauta é Tecnologia Empresarial Socioeducacional - TESE como um modelo de gestão diferenciado. O Plano de ação construído coletivamente e os programas de ação são modificados e reestruturados, traçam-se metas para o alcance de resultados. É importante frisar que a Semana pedagógica aqui também se insere. Ela é intencional e planejada a partir de estudo, pesquisa e realizada como parte do desenvolvimento profissional. Quanto à formação continuada e específica ofertada aos professores pelas Universidades fica para aqueles que querem acompanhar e contribuir de forma significativa para os avanços das políticas públicas em educação.

Entendemos que o processo de formação continuada com os professores é um caminho viável para que o educador possa refletir, crescer, agregar, discutir, ou seja, transformar-se. Questionamos se, de fato, é possível que num universo de tantos professores poucos deles tenham esse espaço e com tantos compromissos na sua vida profissional possam ter tempo de repassar tudo isso para os que não tiveram a chance de participar de capacitação.

Ainda em relação ao corpo docente, informações colhidas na escola indicam que a maior parte dos professores é efetiva, mas cerca de 20% dos docentes estão na modalidade de professor temporário.13 Esta situação pode representar uma fragilidade na instituição, pois na categoria de temporário os docentes podem apresentar um vínculo menor com a escola. Por exemplo, este professor pode não se envolver com entusiasmo nos projetos educativos da escola, pois não permanecerá na instituição por um longo prazo. A secretária geral afirma que a direção da escola tem liberdade de mudar os professores. Segundo ela,

[...] tudo é uma questão de mérito. Acho que um professor exemplar não tem porque mudar.” Explica ainda que: “O professor temporário pode permanecer na escola se não tiver o concursado para ocupar aquela vaga. A orientação da SEDUC (Secretaria de Educação do Ceará) é dar o lugar para aquele que concorreu publicamente.

Em novembro de 2009, houve concurso para professor do Estado, direcionado para a escola regular. Depois disso, uma seleção para docentes de ensino profissionalizante, para o

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Na falta de um professor de quaisquer disciplinas, a coordenação realiza uma seleção de um professor temporário que pode ser substituído a qualquer momento para ceder a vaga a um professor concursado.

qual concorreram tanto professores efetivos (que passaram em concurso público) quanto temporários. Essas seleções são feitas de acordo com a necessidade de cada escola. Independentemente dos educadores serem efetivos ou não, percebemos é que estes, de uma maneira geral, enfrentam muitos problemas perante a situação em que se encontra a educação brasileira. Nessa realidade os professores sobrecarregados estão adoecendo psicológica e fisicamente. São condições adversas como: gripes, resfriados, problemas de coluna, lesão por esforço repetitivo- LER, disfunções gástricas, queda de imunidade, estresse, depressão sentimentos de vazio, fracasso, incompetência, humor irritadiço e muitas reações psicossomáticas (ABREU, 2011; SAMPAIO, 2011).

Abreu (2011) explica que algumas técnicas específicas, dentre elas a técnica da meditação, podem ajudar os professores a superar o círculo vicioso em que se encontram. Além de combater certas doenças, a meditação contribui na prevenção de muitas delas, e também na manutenção e recobra da vitalidade (ABREU, 2011). É possível ainda, que combata o envelhecimento em decorrência do aumento de substâncias antioxidantes no corpo (CAMELO, 2011).

Meditação é, portanto, sinônimo de saúde e bem-estar, como foi comprovado em estudo comparativo entre um grupo de idosas que praticaram meditação e atividade física e outro grupo que era sedentário e logo se constatou que houve significativo aumento de nível de qualidade de vida das que aderiram à meditação (CASTRO; BASTOS; CRUZ; GIANI; FERREIRA E DANTAS, 2012). Deparamos com muitos exemplos de como a meditação interfere de forma benéfica na vida das pessoas. Lynch (2008), artista cinematográfico contemporâneo, publicou um relato autobiográfico intitulado “Em águas profundas: criatividade e meditação”, que revela como a prática da meditação influenciou positivamente sua vida pessoal e profissional. O autor confessou que um dos principais motivos que o levou a se manifestar publicamente sobre meditação foi o seu conhecimento de que essa prática pode estabelecer o diferente na educação de crianças. Lynch (2008, p.182) cita escolas nos Estados Unidos que incorporaram a prática no cotidiano e admite que:

A meditação funciona. Adquire-se mais conhecimento intelectual durante o período escolar e de uma forma mais divertida. Mas o receptáculo desse conhecimento também se expande. E quando o comparamos com os resultados da educação tradicional, é como uma piada. A educação tradicional promove fatos e personagens, mas ninguém aprende a conhecer a si mesmo.

Concebemos como valiosa para o contexto educativo, dentre outras, a adoção de estratégias específicas que possam não só dar conta dos conflitos e problemas, mas também que ajudam a prevenir e, fundamentalmente, a propagar a paz. Nesta pesquisa, procuramos entender como essa técnica pode possibilitar esse efeito positivo para educadores e alunos. Perseguindo esse objetivo, no capítulo seguinte, buscamos refletir sobre a meditação vivenciada em uma escola pública, sua relação com educação e espiritualidade, além das resistências a esse processo pela visão dos educadores que facilitavam a técnica junto aos alunos.

3 TRABALHANDO A PAZ POR MEIO DA MEDITAÇÃO

Feche os olhos. Sinta o silêncio. Não aquele que vem do entorno, recortado continuamente pelos ruídos da cidade, do cotidiano. Encontre o silêncio dentro de você, que vem quando calam os pensamentos ruins, as preocupações, as interferências. Sua mente em sintonia com a vibração do seu coração, com o fluxo contínuo, pulsante e harmônico do sangue em todo o seu corpo, integralmente. Seu corpo todo é harmonia. Seu corpo todo é paz. Ao encontrar essa paz, por alguns breves instantes, diariamente, ela se torna uma certeza. E os ruídos do cotidiano, as interferências da vida urbana, as dissonâncias do entorno não abalarão essa certeza. A busca por essa vibração de paz por meio da prática da meditação diária é a motivação deste trabalho. E com um recorte fundamental: escolhemos observar como essa prática pode ser transformadora ao ser implantada junto à juventude e de forma coletiva.

Acreditamos que há outros caminhos que levam à paz: a paz conquistada com liberdade, consciência crítica e equilíbrio interior. Encontramos, no “Programa Fortaleza em Paz", um desses muitos possíveis caminhos para a paz. Entendemos que esse programa foi uma experiência educativa que integrou aspectos da espiritualidade e educação para a paz. Assim, recuperamos com base em Guimarães (2010) a elaboração histórica do conceito de paz, para em seguida explicitarmos como compreendemos a relação entre espiritualidade e educação e como essas categorias contextualizam nossa pesquisa.

3.1 A construção histórica do conceito de paz

Para entendermos mais sobre a paz, recorremos a Guimarães (2010), ao explicar que aumentam cada vez mais os estudos e pesquisas envolvendo essa temática. Esses estudos são incentivados, em muitos casos, pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO). O autor lembra que o interesse mundial pelo tema da paz refletiu a iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) em eleger o ano de 2000 como “O Ano Internacional por uma Cultura de Paz”. Apesar de parecer em primeira instância que, em vários campos, existe um consenso em relação ao conceito de paz, o que na verdade vigora é uma pluralidade de sentidos acrescidos de um conflito de interpretações (GUIMARÃES, 2010), ou seja, quando se fala do conceito de paz, nem sempre vigoram interpretações similares e sim vários sentidos que ora se complementam, ora se contradizem e se opõem.