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O corpus deste trabalho está constituído de 11 programas de Jô Soares com um total

de 30 entrevistas. Esses programas foram selecionados a partir do conjunto de fitas gravadas e transcritas.

Para a constituição do corpus, utilizamos alguns critérios. O primeiro passo foi acompanhar e gravar em fita cassete os programas de Jô Soares, de forma assistemática, com o objetivo de perceber o funcionamento e as regularidades constitutivas do show. Assim, gravamos de outubro a novembro de 1998 (SBT), de junho a julho de 1999 (SBT) e abril de 2000 (Globo). Em seguida, o conjunto de fitas gravadas foi examinado, cuidadosamente, e, de acordo com a qualidade da imagem e som, foram selecionados os programas e entrevistas a serem transcritos.

Para a transcrição dos programas, procuramos seguir, embora sem rigor, o modelo de normas de transcrição utilizado pelo Projeto NURC (Norma Urbana Culta) de pesquisa da linguagem sobre a Gramática do Português Falado. Portanto, as transcrições seguiram as determinações que apresentamos abaixo:

(( )) Os parênteses duplos indicam os comentários do transcritor acerca de quaiquer manifestações não verbais.

“ ” As aspas indicam os momentos em que o falante representa a fala de outro ou destaca títulos de obras, etc.

: : Os dois pontos duplos indicam o alongamento de vogais

... A linha pontilhada foi utilizada para indicar o corte de uma seqüência de texto, entre turnos.

Usava- O hífen justaposto à palavra indica corte e roubo do turno pelo interlocutor. ... As reticências indicam pausa para completar o pensamento, abandono do enunciado ou espera para que o interlocutor o complete.

Ah e hã Essas formas indicam as pausas preenchidas.

( ) Os parênteses simples indicam palavra ou trecho incompreensível. [ ] Os colchetes simples indicam uma palavra ou trecho deduzido

(...) Os parênteses com reticências indicam que houve o corte de um trecho intraturno.

Recorremos ao negrito para destacar os trechos comprobatórios da nossa análise. Também utilizamos o itálico para destacar um texto lido: um e-mail, uma carta, um trecho de livro, etc.

A título de exemplo, apresentamos um trecho do programa gravado em 29/06/1999, exibido no SBT, que mostra os procedimentos normativos de transcrição.

J: É, tem a história das duas bichinhas que foram assistir a um concerto do Johann Sebastian Bach, aí leram o programa assim, tava escrito assim: “Jesus, alegria dos homens.” Aí um virou pro outro e disse: “Eu não disse!::”((risadas)). Às vezes há exageros. Eu estou perguntando isso pro Luís, porque o Luís, ele tá lançando aqui: “Homossexuais da Bahia” ((Jô folheia o livro)). Com algumas revelações que vão causar polêmica. Ele é antropólogo e professor da Universidade Federal da Bahia. Luís Mote, por favor, aqui! ((A banda entra com uma música. A câmera acompanha Luís, enquanto ele se levanta e vai até Jô. A platéia aplaude. Jô, em pé, cumprimenta Luís com um aperto de mão e, em seguida, Luís senta no sofá. A câmera passeia pela banda e volta para Jô e Luís que estão sentados em seus respectivos lugares. Jô faz o gesto característico com a mão, acompanhado do seu “Uôu!”, a música pára. Imediatamente começa a entrevista.))

J: Luís, você tem uma capacidade de... de trabalho impressionante, né? L: É, de fato eu, como professor da Universidade, eu so- tenho dedicação exclusiva. Então, eu pesquiso muito... eu, por isso eu fui escolhido pesquisador do ano pela Universidade.

J: Ah, é?

J: ((faz um gesto como que de espanto)) [Como é que ( ) uma coisa dessas!] L: [Pois bem, não é- pois bem.] Eu na verdade, eu sou um pesquisador [Full- time]. E o motivo que me levou a pesquisar sobre a homossexualidade foi, exatamente, que eu era homossexual e eu não sabia nem sequer escrever se homossexual era com um esse ou com dois esses. A ignorância sobre esse assunto era tão grande que eu falei, é preciso pesquisar pra mostrar que de repente Abraham Lincon, não é? Ou muitos personagens histórico, praticaram o amor que não ousava-

... L: Ah, pois bem, eu vim aqui a [outra vez-]

J: [Tem que] ter uma pesquisa... L: Intensa.

J: Intensa e detalhada, cuidadosa.

L: Eu gosto muito de dar os nomes aos bois, e mostrar o pau quando eu mato a cobra, na verdade. ((Jô ri)) Porque, porque é, porque com esse livro não foi lançado na Bahia, já todo mundo falando: “Ah, tá dizendo que o deputado tal, que o padre tal contemporâneo...” eu falei: “Não, eu apeei no século XIX, no século passado.”

J: Foi?

L: [como se fosse-]

J:[Tanto é] que o Bira pode ficar tranqüilo?

L: Pode ser. É baiano é? ((A câmera dá um close no Bira, num primeiro momento ele fica sério, mas logo ri))

J: O Bira é baiano de Salvador! ((risadas)) L: Não tá no livro, o avô dele pode tá.

J: É verdade! ((gargalhadas, Bira continua rindo)) É:: ((a câmera volta para Jô e Luís)) Que era conhecida como tia Amélia, não é? ((a câmera dá um close no Bira, que ri e, em seguida volta para Jô e Luís)) O avô do Bira. Hã, ((Jô lê no livro)) Homossexuais da Bahia, Dicionário Biográfico de Luís Mote, é, editora Grupo Gays da Bahia. ((Jô mostra o livro par a câmera que dá um close nele)) Você também é lider do grupo gay da Bahia? É fundador?

L: Sim, sou fundador e presidente, quase que vitalício, não porque- por ditadura, igual ao, não sou o Fidel Castro do movimento, mas é porque, enfim. Tem pessoas que não querem compartilhar, querem assumir. Dez mil gays, ontem, na passeata aqui em São Paulo, né? Eu estava no domingo. Uma coisa maravilhosa. Mas uma cidade, com quantos milhões, com vinte milhões de habitantes, devia ter no mínimo 2 milhões, porque 10% da população é homossexual.

...

Justificamos que, em se tratando de um texto televisivo, portanto, para ser visto, lido pela imagem que apresenta, a transcrição procurou ser coerente com a natureza “teatral” do texto midiático, acompanhando o funcionamento da linguagem sincrética que o compõem. Dessa forma, transcrevemos os programas com o recurso de rubricas, técnica utilizada nos

roteiros de peças teatrais para marcar as ações não-verbais e traços supra-segmentais da linguagem verbal. Assim, as cenas que compõem o talk show e as linguagens utilizadas, verbal e não-verbal: as ações como gestos, expressões faciais, risadas, palmas, deslocamentos pelo espaço, etc, tiveram seu registro por meio de rubricas destacadas pelos parênteses duplos. Logo, as rubricas também compõem o texto e, por vezes, apoiam a análise do verbal.

A transcrição das entrevistas também preserva as regras gramaticais: maiúscula no início de cada turno, pontuação para marcar as pausas. Contudo, não são feitas correções de falta de concordância, problemas de regência. Dessa forma, assinalamos que a transcrição seguiu um modelo mais frouxo. E essa tomada de posição se justifica, pois entendemos que, por mais que se tente resguardar a autenticidade do texto gravado, esse texto passa pelo aparelho de TV e seu sinal, pelo vídeo-cassete e pela leitura do analista, em suma, são vários os filtros. Além disso, de acordo com essa proposta de trabalho, outros registros deveriam merecer maior atenção do que as questões normativas, pertinentes a um trabalho de análise fonético-fonológico, por exemplo.

O conjunto de 30 entrevistas pôde ser categorizado da seguinte forma: Cantores - 4 entrevistas

Artistas – 9 entrevistas: Atores - 6 entrevistas Músicos - 3 entrevistas Escritor – 1 entrevista

Juiz – 1 entrevista Político - 5 entrevistas Empresário – 1 entrevista

Jornalista - 2 entrevistas

Jogador de futebol – 1 entrevista Meteorologista – 1 entrevista Presidente (ANATEL) – 1 entrevista Historiador – 1 entrevista

Religioso– 1 entrevista Publicitário – 1 entrevista Pesquisador – 1 entrevista

A título de exemplo, anexamos, no final do corpo desta tese, a íntegra de um programa. As demais transcrições, que constituem o corpus de análise, estarão disponíveis para consulta em um caderno independente, dado ao volume que acrescentariam à tese.

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