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O crescimento económico baseado no progresso técnico

O modelo de Schumpeter pressupõe que o desenvolvimento é impulsionado pelo progresso técnico, e este não se apresenta uniforme no tempo, como descrevem os modelos neoclássicos, mas alterna-se em períodos de prosperidade e de depressão: em determinados momentos da vida económica, multiplicam-se os projetos rentáveis e toda a economia prospera; em outras ocasiões, os negócios em geral se retraem e o desemprego aumenta.

O progresso técnico - corresponde à capacidade de inovação tecnológica de uma economia – o chamado fator «residual» ou «intangível» de crescimento. Embora existam diferenças entre os autores, o conceito de progresso técnico prende-se com uma certa forma de conjugar, ou combinar, a mudança tecnológica com a mudança organizativa (fatores produtivos) nas empresas e também na sociedade como um todo – sendo este último aspeto apenas salientado por Schumpeter.

O desenvolvimento económico resulta de três categorias de fatores: fatores externos (como grandes encomendas da administração pública), fatores de crescimento gradual (resultantes da atuação quotidiana) e inovação, que seria o fator dominante. A inovação será o fator que determina a evolução económica, atuando descontinuamente e impulsionando os ciclos longos de Kondratieff.

Para Schumpeter, inovação não se restringe à invenção e registo de patentes. Schumpeter admite outras formas como sejam a descoberta de novas matérias-primas ou novas fontes de aprovisionamento, a inovação de mecanismos de tratamento e transporte de mercadorias, inovações organizativas nas empresas ou no comércio. Mas para as inovações se tornarem atuantes, a ponto de influírem na evolução económica, elas têm de materializar-se (em equipamentos renovados e/ou empresas novas ou reorganizadas e/ou processos produtivos ou procedimentos renovados e/ou novos produtos) e para tal requerem uma componente subjectiva, personificada num empreendedor que introduz a inovação e é depois seguido por muitos outros, atraídos pelo exemplo de sucesso. Um exemplo eventualmente surpreendente é o procedimento ou a reorganização do funcionamento de mercado

Sonangol - O Petróleo e a Estratégia de Desenvolvimento Económico em Angola 32 designado "just in time" que, uma vez surgido na indústria automóvel, se espalhou pelos mais variados setores industriais.

Dentro deste trabalho procurar-se-á fazer uma reflexão acerca do desenvolvimento na visão Schumpeteriana, através de uma retrospectiva de factos económicos relevantes referentes às estratégias estabelecidas por Joseph Schumpeter com vista ao progresso técnico.

A teoria de Schumpeter permite em especial valorizar um facto cuja importância não é devidamente valorizada ou é habilmente camuflado, trata-se do papel-chave que o poder político de Estado pode ter na evolução do processo económico. Com efeito, Schumpeter explicita as encomendas da administração pública como uma das modalidades de potenciar a inovação; é o que óbvia e frequentemente acontece com a indústria da defesa mas também com a investigação científica em domínios de ponta ou que exigem investimentos pesados (exploração astronáutica, a física das partículas elementares, etc.).

Na década de 50 Robert Solow criou um modelo matemático que demonstrava como vários fatores interagem, contribuindo para criar o crescimento económico sustentado num país. Demonstrou pela primeira vez que avanços no ritmo de progresso tecnológico contribuem mais para o crescimento económico do que o aumento dos capitais ou da força de trabalho.

Solow (1957) observa que metade do crescimento económico não pode ser explicado por aumentos no capital e trabalho.”

Esta diferença foi chamada de "Resíduo de Solow" à inovação tecnológica. Na década de 1960 empenhou-se a convencer os governos a investir em pesquisas tecnológicas para acelerar o crescimento económico.

O modelo de crescimento de Robert Solow, que poderemos designar como o modelo neoclássico de base, considera uma função de produção a dois fatores, trabalho e capital, com as seguintes propriedades económicas (Figueiredo, 2000:75):

• Os fatores são substituíveis e perfeitamente divisíveis;

• Cada fator observa a lei dos rendimentos físicos marginais decrescentes; • Os rendimentos são constantes à escala;

Sonangol - O Petróleo e a Estratégia de Desenvolvimento Económico em Angola 33 que tanto pode ser afecto ao consumo como à formação de capital.

Para Solow cada fator de produção está sujeito a rendimentos marginais decrescentes. O que significa que cada aumento de fator acrescido a um montante fixo dos outros fatores faz aumentar a produção mas este aumento é cada vez menor.

O progresso técnico pode não ser acompanhado pelo investimento ao longo do tempo. Em termos empíricos, a ausência de investimento pode acontecer, por exemplo, se as mesmas máquinas são instaladas numa fábrica diferente com um « layout » (organização fabril) diverso. Nos modelos neoclássicos a mudança tecnológica não está necessariamente correlacionada com o nível de intensidade capitalística. Na função neoclássica de progresso técnico em SOLOW separa-se analiticamente o acréscimo de investimento em capital – associado ao movimento ao longo da curva – da mudança técnica – deslocação da função.

Solow e Meade demonstraram que a taxa de crescimento do produto é função da taxa de

crescimento do progresso técnico, tendo assim uma relação direta com o crescimento económico. Postulado - tendência mais ou menos constante para o progresso técnico ao longo do tempo, ou seja, o progresso técnico é função da variável T (tempo).Se o aumento do progresso técnico se reflete, por exemplo, num acréscimo superior da produtividade marginal do trabalho em relação à produtividade marginal do capital, então as empresas optam por uma utilização mais intensiva do fator mais eficiente: o trabalho. Na situação contrária o progresso técnico é intensivo em capital.

Solow mostrou que com rendimentos decrescentes um investimento contínuo pode não

gerar um crescimento permanente porque os rendimentos decrescentes podem aproximar os ganhos no produto, por via do investimento, de zero.

Para Kaldor o progresso técnico está incorporado no novo capital físico criado e, portanto, não pode ser separado analiticamente deste. Se há sempre rigidez tecnológica no parque de máquinas existente, então o progresso técnico implica necessariamente um aumento de investimento em novos bens de equipamento; o aumento da taxa de crescimento da produtividade por trabalhador – outra medida possível do crescimento económico – com novos equipamentos depende do aumento da taxa de crescimento do investimento em capital por trabalhador. De forma diferente dos neoclássicos, Kaldor defende que a substituição dos fatores produtivos é sempre gradual e não instantânea.

Sonangol - O Petróleo e a Estratégia de Desenvolvimento Económico em Angola 34 de países menos desenvolvidos, nomeadamente o facto de que, apesar de serem aconselhados pelas grandes instituições supranacionais de desenvolvimento no sentido de poupança e investimento, é extremamente difícil, nesses países, gerar a poupança e, por conseguinte o investimento, devido sobretudo à existência de baixos níveis de rendimento per capita que são, na totalidade, canalizados para o consumo.

«Mas se o investimento não é determinante para um crescimento a longo prazo então o que será? De acordo com o modelo de Solow o crescimento a longo prazo vem de outra fonte – o progresso tecnológico. Só se uma economia conseguir aumentar a produção através de um montante fixo de inputs é que pode evitar rendimentos decrescentes e assim conhecer crescimento sustentável e contínuo (Diniz, 2010:110)».

No presente trabalho de investigação, procurar-se-á determinar se os modelos teóricos, em particular os seus princípios, serão úteis, como referência teórica, para se analisar o desenvolvimento económico em Angola.