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CAPÍTULO IV MUDANÇAS CURRICULARES: DESARTICULAÇÕES

1. O CURRÍCULO FLEXÍVEL À LUZ DA LEGISLAÇÃO ATUAL

Desde o seu aparecimento, o conceito de necessidades de saúde especiais teve como referência o currículo. Com efeito, nos anos 70 do século passado, quando o termo surgiu pela primeira vez, definiam-se necessidades de saúde especiais como aquelas que requerem:

i) o fornecimento de meios especiais de acesso ao currículo; ii) o acesso a um currículo especial ou adaptado;

iii) uma especial atenção à estrutura social e ao clima emocional em que se processa a educação.

As atuais metodologias se encontram na universalização da aprendizagem e a abordagem em diversos níveis de aquisição do conhecimento através da aplicação curricular. Que está baseada na flexibilidade, observação e monitorização das atividades sistémicas atuais implementações, na interação entre os participantes da comunidade educativa e no esforço em capacitar os alunos a alcançarem uma base comum nas competências adquiridas sob a perspetiva da valorização das potencialidades e interesse.

A propósito, esclarece-se a importância da flexibilidade curricular, nos artigos 2.º e 8.º do decreto lei n.º 54/2018, de 6 de julho :

:

a)Acomodações curriculares, as medidas de gestão curricular que permitem o acesso ao currículo e às atividades de aprendizagem na sala de aula através da diversificação e da combinação adequada de vários métodos e estratégias de ensino, da utilização de diferentes modalidades e instrumentos de avaliação, da adaptação de materiais e recursos educativos e da remoção de barreiras na organização do espaço e do equipamento, planeadas para responder aos diferentes estilos de aprendizagem de cada aluno, promovendo o sucesso educativo.

b) Adaptações curriculares não significativas, as medidas de gestão curricular que não comprometem as aprendizagens previstas nos documentos curriculares, podendo incluir adaptações ao nível dos objetivos e dos conteúdos, através da alteração na sua priorização ou sequenciação, ou na introdução de objetivos específicos de nível intermédio que permitam atingir os objetivos globais e as aprendizagens essenciais, de modo a desenvolver as competências previstas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória. c) Adaptações curriculares significativas, as medidas de gestão curricular que têm impacto nas aprendizagens previstas nos documentos curriculares, requerendo a introdução de outras aprendizagens substitutivas e estabelecendo objetivos globais ao nível dos conhecimentos a adquirir e das competências a desenvolver, de modo a potenciar a autonomia, o desenvolvimento pessoal e o relacionamento interpessoal.

d) Áreas curriculares específicas, as que contemplam o treino de visão, o sistema braille, a orientação e a mobilidade, as tecnologias específicas de informação e comunicação e as atividades da vida diária.

Este novo movimento educativo, ao qual se associam novas perspetivas da educação portuguesa, retrata uma nova abordagem e caracterização do quadro escolar em que as decisões são tomadas de forma mais autónoma e abrangente. A crescente centralidade da problemática curricular, colocada cada vez mais no coração do debate educacional e na primeira linha da resposta aos problemas novos a que a escola é solicitada a responder, vem levando a uma necessária reconcetualização do espaço científico da teoria curricular (Roldão, 2017).

Desacostumar-se ao tradicional e pensar em novas estratégias não é tarefa fácil para alguns professores. Conscientizar-se de que não existe uma homogeneidade mas sim uma diversidade de pensamentos, formas e tempo de aprender exige muito esforço e comprometimento. Diferenciar atividades e estratégias, inserir a aprendizagem das

disciplinas formais nos contextos dos alunos e em projetos curriculares significativos, perceber o modo como leem o mundo para que possam ter acesso a novas leituras, são outras tantas vias para gerar aprendizagens de níveis mais próximos entre alunos que à partida, e cada vez mais, se situam em pontos bem distantes (Roldão, 2017, p.22)

Muitos professores se sentem confusos e stressados para se adaptarem a tantas mudanças em tão pouco tempo. Pois essas geram desconforto e inquietação face as novas propostas e ideias apresentadas pelos órgãos gestores da educação.

Considerando esta evolução numa perspetiva macro, verificamos que as grandes reformas curriculares - particularmente as das décadas de 60/70 e as do início dos anos 90, introduziram essencialmente duas grandes orientações novas: nos anos 60/70 a enfatização curricular dos processos de construção do conhecimento e da apropriação das aprendizagens pelo aluno, e as da transição 80/90 a preocupação com a introdução no corpus curricular de dimensões de formação transversais, nomeadamente no domínio das competências de vida, práticas de equidade social e exercício da cidadania. A incorporação destas dinâmicas na construção curricular parece hoje, na segunda década do século XXI, um dado adquirido (Roldão, 2017 p.18)

O currículo é muito mais que um conjunto de conteúdos e objetivos a serem atingidos. O currículo atua não só na função pedagógica, mas também na prática social. É preciso ampliar as lentes e verificar quantas habilidades podem ser trabalhadas em uma pessoa. Conforme diz Roldão (2017, p.20):

Para ilustrar esta dupla valência da noção de competência, poderíamos dizer que é fundamental que o currículo contribua para a consolidação de competências indispensáveis à vida social como, por exemplo, a resolução de problemas ou a tomada de decisões fundamentadas, tanto quanto promover, por exemplo, a capacidade/competência de entender e fruir bens como a música ou a arte. Passará por aí, a meu ver, o papel do currículo escolar na promoção do nível cívico de uma sociedade, na subida do nível educativo da população, na garantia de uma melhor qualidade da vida pessoal e social para todos - e não só para os que já nascemos com algumas portas de acesso confortavelmente abertas.

Ao analisar o Decreto-Lei n.º 54/2018 de 6 de julho, fica explícita a evolução do processo da inclusão quando em seus mais diversos artigos e enfatizado que todos mesmo com percursos diferentes precisam chegar ao final da escolaridade obrigatória. E é neste ponto que a flexibilidade curricular entra como ferramenta primordial para

alcançar à todos sem segregar ninguém. Isto é, através da gestão flexível do currículo torna-se possível que todos possam alcançar e concluir a etapa final do ensino escolar. O grande obstáculo agora é ultrapassar a componente/fase teórica e colocar em prática todo o planeamento tão almejado futuro da inclusão.

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