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4 AS LUTAS DOS MORADORES DE RUA E OS PARCEIROS

4.3 O Debate entre o Direito, a Ausência do Estado e o

A partir das constatações acerca das falas dos moradores de rua da área central da cidade de Cajazeiras-PB e os agentes da Pastoral Diocesana que foram entrevistados, foi possível perceber a presença de um Estado mínimo, tendo em vista a ausência de assistência à saúde e a vida dos moradores de rua.

Contudo, o que se pretende refletir nessa discussão é o direito a cidade, que cada morador de rua necessita ter, tendo em vista que mesmo com a sociedade fragmentada em grupos sociais, todos os indivíduos presentes no espaço geográfico possuem direito de cidadania, ou seja, serem reconhecidos como sujeitos inseridos no território.

Dessa maneira, tem-se que todos os indivíduos possuem o direito ao acesso de bens necessários à vida, como a moradia. Com isso, no que diz respeito aos moradores de rua, a moradia se caracteriza pelo cenário urbano da cidade, no qual eles se territorializam. No entanto, com o Estado ausente, há uma negação de direitos desse grupo social. Mas, existem parceiros apoiadores que trabalham voluntariamente com os moradores de rua, frente à ausência do Estado.

Assim, o pensar a sociedade e a luta por território, tendo em vista a diferença de classes sociais e os grupos que se fragmentam e se inserem no espaço geográfico, há o debate entre o assistencialismo frente o grupo social. No que diz respeito aos moradores de rua que territorializam na área central da cidade de Cajazeiras-PB, há uma preocupação no que se refere à assistência de politicas públicas que sejam necessárias para as condições de vida desses indivíduos.

Um fato muito importante que ser evidenciado e retrata a ausência de assistencialismo trata-se da atuação das politicas publicas mediante a luta por território. Pois, segundo a agente de pastoral (n=02, 37 anos),

Inicialmente os moradores de rua da cidade de Cajazeiras se abrigavam embaixo de plantas que existiam próximo à praça do skate. Nesse local tinha colchões e algumas coisas que formavam a casa deles, onde a copa das arvores tornavam-se os seus tetos e para quem não tinha colchões, as calçadas já eram o bastante para acolherem o sono de cada morador que ali se abrigava.

O que se percebe é que esse território foi escolhido tendo em vista a tranquilidade. No entanto, as árvores dessa praça pública foram cortadas absolutamente para desterritorializar essa população. Contudo, independentemente de ações governamentais, esse grupo social tem lugar na sociedade.

Assim, Santana e Castelar (2014 p.359) retrata a rua como habitat dos moradores de rua, onde em contrapartida há desterritorialização constante por parte do restante da sociedade com o próprio Estado. Com isso, reflete-se que:

Ao utilizar a rua como seu habitat, esses indivíduos vivenciam o preconceito e os estigmas sociais enraizados em uma realidade de esquecimento, naturalização e precária preocupação do Estado em formular e exercer políticas públicas que englobem as inúmeras necessidades desse público. Isso fortalece os conflitos interpessoais e

as dificuldades em manter um diálogo com os demais habitantes da cidade.

Dessa maneira, percebe-se uma grande incidência de exclusão social em torno do espaço geográfico. No entanto, há um documento de Política Nacional para a Inclusão Social da População em Situação de Rua, instituído por meio do Decreto s/nº, 25 de Outubro de 2006, com a perspectiva de oportunizar ações que beneficiem esse grupo social, como também o insira na sociedade como sujeito, cidadão (PNPSR, 2008).

Contudo, há um descaso nas politicas publicas que são oferecidas para a sociedade na cidade de Cajazeiras, tendo em vista que o CREAS e nenhum setor da Prefeitura da cidade apresenta documentação ou registro acerca dessa categoria. Como também, observa-se ligeiramente caso de exclusão social num ambiente que deveria ser acolhedor, por se tratar do socorro a vida humana. Diante disso, os 10 moradores de rua afirmam ser expulsos de Unidades de Saúde da Família (USF) e do Hospital Regional de Cajazeiras (HRC).

A agente de Pastoral (n=03, 44 anos) diz que “os postos de saúde não dão assistência, não acolhem porque estão fedendo, estão sujos. Na nossa cidade não tem centro de acolhimento de moradores de rua, nem politicas existentes que favoreçam esse grupo social”.

Os órgãos públicos falham no acolhimento às pessoas necessitadas e infelizmente o capitalismo é mantido como percursor dessas ações. Assim, Famílias de classes baixas são desapreciadas. Assim, no que diz respeito às politicas públicas e suas relações com a vulnerabilidade dos moradores de rua, Varanda e Adorno (2004 p. 660) retratam que:

A ausência, insuficiência ou inadequação de políticas públicas em relação ao processo de exclusão e vulnerabilidades cumulativas não significa somente uma posição de neutralidade ou incapacidade do estado em lidar com o problema da população de rua, mas pelo contrário reafirma a penalização do indivíduo pela situação em que ele se encontra.

O agente de Pastoral (n=04, 47 anos), afirma que “É preciso implorar atendimento nos hospitais. Foram vários dias tentando, para que J.G fosse atendido como as outras pessoas. Era como se o fato de ser morador de rua, o deixasse invisível e

ninguém pudesse atendê-lo. Foram dias difíceis, mas conseguimos lutar por ele e pela sua saúde”.

Ainda a partir dessa realidade do morador de rua (n=05, 36 anos), foi dito pelo mesmo, ter passado dias no hospital sem os cuidados necessários como as demais pessoas. O que se entende, é que o espaço de determinados grupos sociais são fragmentados e envolvidos de forma isolada no território.

Ainda no que diz respeito ao assistencialismo para com os moradores de rua, tem-se a existência de tratamentos que colaboram para a recuperação pessoal desses indivíduos no que se refere às drogas e bebidas alcoólicas. Esse tratamento é orientado pela Pastoral Diocesana dos Moradores de Rua, onde os mesmos são levados para a Casa de acolhimento Nova Betânia, localizada na cidade de Paulista-PB.

Nessa perspectiva, 04 moradores de rua foram levados à Casa de Recolhimento Nova Betânia, onde buscaram superação, no entanto não houve acolhimento familiar após seu retorno; 03 moradores de rua não quiseram fazer tratamento na Casa de apoio; 01 morador de rua não apresentou condições psicológicas de se encontrar na Casa, devido seu problema mental e 02 moradores de rua não conseguem ir à Casa de Recolhimento, pois se encontra em estado grave de Câncer.

GRÁFICO 8 - Busca dos Moradores de Rua pela Casa de Acolhimento Nova Betânia.

40%

30% 10%

20%

Buscaram tratamento, mas não houve acolhimento familiar Não quiseram fazer tratamento na Casa de Acolhimento não apresenta condições psicológicas devido problema mental Não buscaram a casa de acolhimento, pois encontram-se com câncer

Segundo a agente de Pastoral (n=03, 44 anos), ao mencionar a Casa de Acolhimento, ela partilha que:

É uma casa de recuperação que acolhe dependentes químicos, formada por famílias missionárias que se doam ao trabalho de resgate e evangelização. As famílias são bem estruturadas, pais com filhos e decidem morar lá para viver essa missão. Cada família possui o seu espaço, porém, é dentro das instalações da Casa de acolhimento. A casa de recuperação começou a acolher os moradores de rua a partir da Pastoral Diocesana.

Diante da fala, observa-se um grande trabalho social para com essa população de rua, onde se deveria ter uma significativa participação de órgãos públicos e ações públicas para colaborar com esse trabalho. Com isso, ao tratar de politica institucional e privatização imposta pela sociedade no que diz respeito aos serviços e direitos dos cidadãos, Santana e Castelar (2014 p.361) aborda que:

O poder institucional mantido pelo capitalismo age diretamente na população em situação de rua, onde a vulnerabilidade, a falta de recursos físico e mental são alvos utilizados para aumentar as desigualdades e as injustiças sociais voltadas para estes indivíduos que convivem com a cegueira perversa de uma sociedade que insiste em privá-los dos acessos à produção e distribuição de bens e riquezas.

Assim, percebe-se que não distribuição de bens e serviços adequados para esses indivíduos, ao passo que há possibilidades de atuações do Estado para contribuir na recuperação pessoal e social dos moradores de rua. O que há na verdade, uma interação apenas entre os agentes de Pastoral da cidade em estudo com os responsáveis pela Casa de Acolhimento Nova Betânia.

Segundo o Agente de Pastoral (n=04, 47 anos), ao passo, que o morador de rua aceita ir ao encontro da Casa de Acolhimento Nova Betânia para buscar tratamento, o mesmo reside cerca de um ano na casa, para no fim do período escolher fazer parte dessa missão ou retornar à sua cidade. Assim, retornando cabe ao morador decidir sua vida, como também é papel e escolha da família acolher ou não o membro no seu lar.

No que diz respeito à ausência do estado, tem-se uma deficiência em redes de apoio que acolham os moradores de rua em aspectos psicológicos, sociais, econômicos e relacionados à saúde. Mas também, carece pensar estratégias sociais que preparem esses indivíduos para um futuro reingresso no mercado de trabalho.

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