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Capítulo I – Autonomia

1.3. A regulamentação da autonomia em contexto escolar

1.3.5. O Decreto-Lei n.º 75/2008

A aplicação do Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de Abril, que aprova o “regime de autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos públicos da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário” é central para a prossecução do nosso estudo.

De acordo com este Decreto-Lei consideramos que um novo ciclo na forma de gestão das escolas portuguesas é iniciado. Das grandes opções, subjacentes às conceções ideológicas dos mentores deste normativo, salientamos a centralidade e o consequente retorno de temáticas, como a participação das famílias e das comunidades na direção estratégica dos estabelecimentos de ensino, a efetivação das lideranças unipessoais nas escolas e ainda a questão da autonomia das escolas. Estes constituem os três grandes objetivos do Decreto-Lei, logo identificados no preâmbulo do diploma.

Em conformidade com o diploma, as alterações ao Regime Jurídico de Autonomia, Administração e Gestão Escolar, assentam essencialmente em três objetivos: a) Reforçar a participação das famílias e comunidades na escola, como forma de promover a abertura das escolas à comunidade; b) Reforçar a liderança das escolas; c) Reforçar a autonomia das escolas.

Desde logo, com o objetivo de reforçar a participação das famílias e das comunidades, institui-se um órgão de Direção estratégica designado por Conselho Geral (CG). Como se lê no primeiro ponto do art.º 11, “o Conselho Geral é o órgão de direção estratégica responsável pela definição das linhas orientadoras da atividade da escola, assegurando a participação e representação da comunidade educativa”. Neste órgão, os representantes da comunidade local, “quando se trate de individualidades ou representantes de atividades de carácter económico, social, cultural e científico”, são cooptados pelos demais membros nos termos do Regulamento Interno. Quando se trate de representantes de instituições ou organizações “são indicados pelas mesmas” nos termos desse mesmo Regulamento. Prevê-se, ainda, nos pontos quatro e cinco do art.º 13, que o Conselho Geral possa constituir no seu seio uma comissão permanente, “na qual pode delegar as competências de acompanhamento da atividade do agrupamento de escolas ou escola não agrupada entre as suas reuniões ordinárias”. Esta comissão, constituída como “uma fração do Conselho Geral, respeitada a proporcionalidade dos corpos que nele têm representação”, pretende assegurar uma efetiva supervisão da gestão dos estabelecimentos e da vida escolar em geral. No Conselho Geral têm representação, o pessoal docente e não docente, os pais e encarregados de educação (e também os alunos, no caso dos adultos e dos estudantes do ensino secundário), as autarquias e a comunidade local, nomeadamente “entidades representativas das atividades e instituições económicas, sociais, culturais e científicas, tendo em

que nenhum dos grupos representados pudesse ter a maioria dos lugares, prevendo ainda que os estabelecimentos de ensino determinem a composição do órgão onde, efetivamente, esses representantes terão assento. Como se constata pelo número dois do art.º 3, e com o objetivo de integrar as escolas nas comunidades que servem, “a autonomia, a administração e a gestão dos agrupamentos de escolas e das escolas não agrupadas subordinam-se particularmente aos princípios e objetivos consagrados na Constituição e na Lei de Bases do Sistema Educativo”. Neste sentido, vai também o conteúdo da alínea g) do art.º 4 ao ambicionar “proporcionar condições para a participação dos membros da comunidade educativa e promover a sua iniciativa”. Ao aumentar a representação comunitária no órgão de direção estratégica, são ampliados os poderes deste órgão, que passa, por exemplo, a eleger ou a destituir o Diretor da escola/agrupamento, mas também são ampliados os poderes das famílias e das comunidades.

Por sua vez, a criação do cargo de Diretor está estritamente relacionada com o segundo objetivo previsto no normativo, que consiste em reforçar a liderança das escolas, uma das medidas mais relevantes na reorganização do regime de administração escolar. O reforço da liderança das escolas pressupõe que em cada estabelecimento de ensino exista um rosto, um primeiro responsável, dotado da autoridade necessária para desenvolver o Projeto Educativo da escola/agrupamento e executar localmente as medidas de política educativa.

Reparemos, a título de curiosidade, na força da conotação semântica que este substantivo possui. Coadjuvado por um subdiretor e por um pequeno número de adjuntos, o cargo de Diretor constitui-se, assim, como um órgão unipessoal e não mais como um órgão colegial. A esta figura é confiada a gestão administrativa, financeira e pedagógica, assumindo, para o efeito, a presidência do Conselho Pedagógico. O novo gestor da escola/agrupamento passa a ser um Diretor, com amplos poderes, eleito por um conselho de representantes. Salientamos, de entre as inúmeras competências previstas para o desempenho desse cargo, a possibilidade de protocolar e

acordar, no plano da gestão pedagógica, cultural, administrativa, financeira e patrimonial, com a devida autorização do Conselho Geral. O reforço da autonomia das escolas, que constitui o terceiro objetivo deste novo regime jurídico, está relacionado com a responsabilidade e com a prestação de contas. Neste sentido, este Decreto-Lei constitui um enquadramento legal mínimo, determinando apenas a criação de algumas estruturas de coordenação de primeiro nível (Departamentos Curriculares) com assento no Conselho Pedagógico e de acompanhamento aos alunos (Conselhos e Diretores de Turma). De resto, é dada às escolas a faculdade de se organizarem, de criarem estruturas e de as fazerem representar no Conselho Pedagógico.

Neste normativo fica patente a ideia que o exercício de liderança e autonomia são duas dinâmicas inseparáveis: o Diretor e o seu Projeto Educativo serão os novos caminhos de autonomia das escolas, e terão, perante tanto poder, de prestar contas perante a comunidade educativa. O Projeto Educativo, de acordo com o Decreto-Lei 75/2008, constitui (como teremos oportunidade de verificar mais à frente neste trabalho) um instrumento de autonomia, cuja aprovação cabe ao Conselho Geral, deixando de ser apenas mais um documento burocrático, sem qualquer articulação com os restantes documentos orientadores da dinamização e organização da escola. O preâmbulo refere, dando razão à anterior afirmação da ligação entre o Diretor e o seu Projeto Educativo: “Impunha -se, por isso, criar condições para que se afirmem boas lideranças e lideranças eficazes, para que em cada escola exista um rosto, um primeiro responsável, dotado da autoridade necessária para desenvolver o Projeto Educativo da escola e executar localmente as medidas de política educativa.”

Segundo Lima (2011) o Projeto Educativo encontra-se justificado tendo como base o reforço da participação das famílias, bem como a abertura da escola à comunidade.

consideração a sua autonomia e eficácia, o referido diploma prevê a criação de um órgão unipessoal: o Diretor.

Mas este Decreto-Lei no art.º 57 apresenta uma proposta de Autonomia que ultrapassa o conceito de autonomia suposto para todas as instituições/escolas públicas, o Contrato de Autonomia (uma extensão clara da autonomia de carácter geral, se assim podemos dizer): “Por contrato de autonomia entende-se o acordo celebrado entre a escola, o Ministério da Educação, a Câmara Municipal e, eventualmente, outros parceiros da comunidade interessados, através do qual se definem objetivos”.

Salienta-se ainda deste decreto, sobre o qual nos debruçamos, que a possibilidade de renovar os contratos de autonomia passe pelo “grau de cumprimento dos objetivos constantes do projeto educativo” (artigo 58.º, ponto 3).

Contudo, Lima (2011) apresenta-nos uma posição crítica relativamente ao decreto mencionado. Independentemente da importância que o Projeto Educativo traz para as escolas, este, no entender do autor, não justifica a criação de um novo diploma legal, visto que por si não apresenta nenhum ganho ou melhoria. No que concerne à participação dos pais e a da comunidade em geral na escola, Lima (2011) considera que estas estratégias não representam necessariamente uma maior abertura da escola à comunidade e vice-versa.

Para Lima (2011), no entanto, o modelo de gestão escolar que emerge da criação deste novo diploma pode ser encarada como uma fonte de novas oportunidades, que embora acabe por impor a figura do diretor, reforça a participação dos respetivos setores no Conselho Geral.

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