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3. Internet e Política

3.4. O desafio da participação

Compreender o que leva o cidadão comum a participar, com certeza, é um ponto de questionamento da teoria da participação democrática. Serão trabalhados aqui quatro modelos que Avelar (2007) explicita para justificar o porquê da participação.

O modelo de centralidade propõe que a intensidade da participação varie conforme a posição social do indivíduo. Quanto mais central, do ponto de vista da estrutura social, maior a participação e maior o senso de agregação. Ou seja, mesmo o indivíduo, incluído em grupos de baixo nível participativo, mas que são centrais em alguns aspectos, como educação e exposição de informações, terá tendência maior a ser um focalizador da sua participação.

O modelo da consciência de classe é a ideia de que o indivíduo só participará quando tiver noção de sua condição de desigualdade na sociedade em que estiver inserido. Esse modelo justifica ações pedagógicas por parte de grupos minoritários que necessitem de maior mobilização social.

O terceiro modelo é o da escolha racional. Nesse caso, o indivíduo participará se o custo de sua participação for menor que a expectativa de benefício/utilidade. Conforme Olson (1999), existe a possibilidade de o indivíduo não se associar nem participar de determinada ação, pois a sua mobilização individual teria benefícios coletivos marginais, fazendo com que ele simplesmente “pegasse carona” com o grupo e ganhasse assim os mesmos benefícios.

O quarto e último modelo trata da identidade. Por meio da experiência da participação, haveria o processo recíproco de identificação e reconhecimento de identidades pessoais e coletivas.

O desafio da participação on-line

No ambiente on-line, a questão motivacional ainda é um desafio a ser superado, como bem apontaram Norris (2003) e Eisenberg (2002) ao constatarem que a simples concepção do incremento instrumental está longe de representar o consequente incremento à participação democrática. Eisenberg ainda vai mais longe ao afirmar que “as causas da apatia política no mundo contemporâneo são profundas e complexas, e dificilmente a

40 Internet, enquanto meio técnico de comunicação, será capaz de superá-las e resolver as crises de legitimidade das democracias atuais”.

Mossberger et al (2008) chegam à mesma conclusão, analisando pesquisas de opinião feitas nos EUA. Por lá, a realidade é semelhante à daqui. Os dados confirmam que, por enquanto, a participação política pela internet ainda tem servido como espelho da política comum, cidadãos mais educados e de classes mais altas estão-se beneficiando dessas possibilidades.

Krueger (2006) também afirma que a internet não tem feito com que novos cidadãos tenham-se incluído no processo de participação política, mas cidadãos com maiores habilidades em internet possuem maior probabilidade de mobilização on-line. O temor de que as possibilidades de participação digital poderiam exacerbar as diferenças aparentemente se concretiza.

Mas há controvérsias. Alguns pesquisadores apontam que os dois tipos de participação são diferentes (KLING, 1999), (BIMBER, 2000), (KIESLER, 2000). A internet tem feito com que jovens participem mais, como demonstram os dados da pesquisa TIC Domicílios e alguns estudos (QUINTELIER e VISSERS, 2008). Argumenta-se que isso ocorre pela maior capacidade dos jovens em adotar novas tecnologias (OWEN, 2000).

Gibson et al (2000) argumentam que a internet tem expandido o número de pessoas politicamente ativas, principalmente alcançando grupos que são tipicamente inativos e menos ativos no mundo “off-line”. O seu estudo é uma comparação entre EUA, Canadá, Reino Unido e Austrália.

O trabalho de Rogerio Schlegel (2009) utiliza-se de dados do Latinobarômetro e demonstra que a internet tende a dar voz a quem já a tem. E mostra que no Brasil a educação teve um peso mais relevante que o de outras variáveis, como renda e gênero. Peixoto (2008), com o orçamento participativo on-line da Prefeitura de Belo Horizonte, e Grönlund (2003), que estudou o plano de desenvolvimento de uma municipalidade na Suécia, mostraram que a participação on-line foi maior do que a participação off-line.

A discussão quem participa – quem não participa é normalmente feita por pesquisas de opinião, como os exemplos mostrados acima. Os estudos enfocam as características do usuário participativo como variável explicativa.

Um enfoque sobre outro ângulo, possivelmente, ajudaria a entender ainda melhor o fenômeno da participação on-line. Talvez a indagação possa ser outra: qual é a oferta

41 disponibilizada para que os participativos participem? Ou ainda: e se a causa da falta de participação for a péssima qualidade das ferramentas participativas? Considerando uma resposta afirmativa, talvez seja por isso que jovens com maior conhecimento tecnológico participem mais.

Mas, como medir a oferta participativa no vasto mundo da internet? Uma alternativa é medir pelos canais ofertados pelas instituições políticas. Neste sentido, estudos como o de Batista (2003;2006) mostram que portais de municipalidades, em toda a América Latina, vêm-se desenvolvendo em termos de canais ofertados, a oferta vem crescendo desde 2002 e a qualidade, apesar de não ser excelente, é boa. Sérgio Braga (2007), ao estudar os portais de legislativos da América Latina, comprova que os portais brasileiros são os melhores.

Entretanto, a oferta participativa em termos eleitorais ainda não é boa. Brandão (2008) argumenta que, na campanha presidencial de 2006, as redes sociais foram utilizadas como novos palanques. Norris, em “Pregando para convertidos” (2003), afirma que os sites dos candidatos americanos não estimulavam o diálogo entre os cidadãos e que, de certa forma, os sites dos partidos eram para os já partidários. A promessa da Web 2.0 de interação e compartilhamento de informações também foi pouco incentivada.

Chega-se à conclusão, portanto, de que a oferta “oficial” de canais de participação e interatividade com o meio político é baixa e pouco utilizada e, em muitos casos, não contempla as novas ferramentas proporcionadas pela Web 2.0 como, por exemplo, as redes sociais.

Dado que a oferta existe, que razões o internauta tem para não utilizar os serviços de governo eletrônico ou não participar mais? Como foi abordado na seção sobre a Exclusão Democrática, um dos motivos é a dificuldade de acesso ao serviço de governo eletrônico ou a não disponibilidade dele. Esse é mais um argumento que corrobora a ideia de que a oferta disponível de serviços do governo no ambiente eletrônico não é adequada.

Argumenta-se nesta dissertação que é necessário desenvolver um processo de avaliação mais amplo, que não utilize apenas critérios teóricos/normativos, como CUNHA (2000), SILVA (2005), BRAGA (2007) o fizeram. É importante também utilizar critérios empíricos com base na demanda por esses serviços. Afinal de contas, como o cidadão avalia as oportunidades de participação e interação disponibilizadas pelos atores políticos? E quem são os cidadãos que se utilizam desses canais?

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