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O desafio de criar um modelo de negócio para o ciberjornalismo

Capítulo 3: Modelos de negócio na era digital

3.1. O desafio de criar um modelo de negócio para o ciberjornalismo

A revolução digital provocou uma rutura dos paradigmas e modelos predominantes na comunicação de massa. A escassez de informação e de canais deu lugar a um ambiente de abundância e os antigos modelos de financiamento dos meios tradicionais, como a publicidade de massa, tornaram-se anacrónicos e precisam de ser substituídos. Perante este cenário, torna-se claro que os media, quer os tradicionais quer aqueles que nasceram no ambiente digital, têm pela frente o desafio de reformularem ou implementar de raiz os seus modelos de negócio. Para sobreviveram, os “ciberjornais” (adotando o termo utilizado por Zamith (2008) para descrever os sites noticiosos na Internet) terão de apostar mais na criação de conteúdos multimédia, investir na relação com o público, cada vez mais ativo e atento aos produtos informativos, e adaptar-se aos constantes avanços tecnológicos, aproveitando as especificidades competitivas que os distinguem de outros canais informativos. Com vista a atingir este objetivo, o meio

online poderá ter de aplicar modelos híbridos, como acontece há décadas com os

“velhos media”. Na busca pela sustentabilidade, em vez de se restringirem a um único modelo, deverão diversificar as suas fontes de receita e procurar ser inovadores e criativos, sem nunca perder o sentido da sua existência e as obrigações para com o público (Mendes, 2012).

Antes de referir algumas alternativas de modelos de negócio que podem ser colocadas em prática no ciberjornalismo, é relevante apresentar uma conceção de “modelo de negócio” para compreender o contexto em que ocorrem e as estratégias adotadas pelos principais fornecedores de conteúdos online, bem como para determinar quem são os produtores de conteúdos que tiram proveito das potencialidades dos novos

media (Picard, 2000). Apesar de ser uma das expressões mais populares no mundo dos

negócios, principalmente depois do surgimento dos negócios baseados na Internet, “modelo de negócio” ainda não possui uma definição clara e inequívoca, o que dificulta a compreensão do seu significado e tem limitado os estudos sobre o termo.

Laudon e Traver (2010) descrevem “modelo de negócio” como um conjunto de atividades planeadas, desenhadas para resultar em lucro num mercado. Mas, neste trabalho, ao mencionarmos este conceito, teremos presente a definição apresentada por Osterwalder e Pigneur (2010, p. 14), que afirma que “um modelo de negócio descreve a

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lógica de como uma organização cria, proporciona e captura valor”, devendo funcionar como o vínculo entre a estratégia da empresa, a sua estrutura organizativa e as suas infraestruturas e sistemas, o que permite compreender a atuação da empresa no sentido de gerar receitas. A compreensão do modelo de negócio em que a empresa opera é importante, especialmente nas situações em que novos produtos ou serviços estão a ser desenvolvidos ou em que a indústria (na qual a empresa atua) está a passar por mudanças significativas (Picard, 2011).

Segundo Canavilhas (2015), os modelos tradicionais de venda de conteúdos e publicidade não são suficientes para viabilizar os media. Os utilizadores optam cada vez mais por procurar informação nos meios online gratuitos. Mas a informação gratuita nem sempre tem a qualidade exigida pelos consumidores e, para melhorá-la, os media necessitam de diferenciar-se, o que pode passar por criar conteúdos que não são encontrados de forma gratuita noutros espaços da Internet. Nesta lógica, os novos modelos de negócio para o ciberjornalismo poderão passar por vários caminhos que têm sido avançados por diferentes autores como alternativas para superar as dificuldades sentidas no atual ecossistema mediático:

- Aumentar o valor acrescentado dos seus conteúdos jornalísticos. Quanto mais diferenciados, exclusivos e de qualidade forem, com impacto significativo nas vidas dos leitores, maior valor de mercado terão e mais pessoas estarão dispostas a pagar por eles (Alves & Mendonça, 2013);

- Encontrar formas de rentabilizar os conteúdos online, através de sites pagos, para “justificar a sua existência na estrutura clássica das empresas informativas” (Corrêa & Lima, 2012, p. 93). Após mais de uma década em que a maioria das edições online de jornais permitia o acesso gratuito aos seus conteúdos, a tendência vai no sentido de se criarem sites híbridos, com uma componente gratuita e outra paga, distinguindo o acesso a matérias de menor ou maior profundidade. Porém, para os meios portugueses, este não será um caminho fácil, uma vez que os leitores, segundo Granado (2011), não estão interessados em pagar pelo acesso a conteúdos sem valor acrescentado;

- Ter uma distribuição de notícias multiplataforma e multicanal para responder a uma audiência móvel que consome informação em vários dispositivos (Canavilhas, 2015); - Explorar o potencial dos dispositivos móveis, que representam também uma oportunidade na monetização dos conteúdos (Serrano, 2012; Canavilhas, 2015);

- Utilizar ou desenvolver novas aplicações para dispositivos móveis que vão ao encontro das necessidades dos consumidores, como aquelas que facilitam a leitura dos

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conteúdos adaptando-os às diversas plataformas, ou outras que eliminam o “ruído” da excessiva quantidade de informação (Pereira, 2013; Canavilhas, 2015);

- Apostar na venda de espaços publicitários nos sites informativos (Granado, 2011), aproveitando o crescimento registado pela publicidade online, bem como procurar novas formas de publicidade mais imersivas e que envolvam o utilizador (Canavilhas, 2015);

- Aproveitar ao máximo as potencialidades das redes sociais, dos agregadores de notícias (como o Google News) e das novas tecnologias para aumentar as receitas online e reforçar a notoriedade dos media (Costa, 2014).

Segundo Costa (2014), o modelo de negócio plausível para uma empresa jornalística a operar no ambiente digital combina receitas de três operações distintas: as da publicidade, as da venda e/ou assinatura de conteúdos digitais e as de serviços de valor agregado (uma das possibilidades no novo negócio do jornalismo é o de oferecer, além do conteúdo noticioso, uma variada gama de subprodutos do material informativo e de serviços tecnológicos ligados à produção de informação). Este modelo só vingará, no entanto, se os media investirem numa plataforma adequada ao novo ambiente.

Os novos modelos de negócio para o setor dos media pressupõem “formatos de produção flexível, produção colaborativa, disputa pela atenção do mercado e relacionamento centrado no consumidor” (Corrêa & Lima, 2012, p. 94). Neste sentido, o consumidor deve ser pensado como o elemento-chave nos novos modelos de negócio a desenvolver na Internet: “Oferecer um produto diferenciado, permitir a partilha e consumo destes conteúdos em diferentes plataformas, criar um universo comunicacional à medida das necessidades do consumidor podem revelar-se fulcrais para o desenvolvimento de uma marca de informação de sucesso” (Alves & Mendonça, 2013, p. 61). Trata-se de uma revolução impulsionada pela era digital onde, mais do que nunca, é necessário ter em consideração os padrões de consumo individuais, que assumem novas dimensões e tornam imperativa a evolução dos órgãos de comunicação.