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2.3.1.1 – O desenho do questionário

Para Boyd et al (1981) a definição do questionário surge como elemento da máxima importância para a investigação, apesar de Kinnear e Taylor (1987) indicarem que o desenho do questionário é, essencialmente, uma arte, cabendo ao investigador a sensibilidade para a informação necessária.

Segundo Quivy e Campenhoudt (1992) o questionário consiste em colocar a um conjunto de inquiridos, geralmente representativo de uma população, uma série de perguntas relativas a determinados pontos de interesse para o objecto de investigação. Dado o grande número de empresas inquiridas e o tratamento quantitativo das informações, as respostas foram pré-codificadas para que os inquiridos escolhessem as suas respostas entre as que lhes foram formalmente propostas.

Na elaboração do questionário consideraram-se os passos sugeridos por Malhotra (1993) colocando-se questões claras, com palavras simples e evitando os termos ambíguos; expurgaram-se do questionário os termos ou palavras emocionais (Salant e Dillman, 1994). Seguimos igualmente as propostas de Oppenheim (1992), pelo que a formulação das questões procurou facilitar a cooperação por parte dos inquiridos garantindo um sentimento geral de que estavam a ser tratados não de forma adversária, mas com respeito e consideração, tendo-se evitado, sempre que possível, a profusão de

termos técnicos, jargão, ou siglas. Por outro lado, evitou-se a colocação de questões que pudessem ser encaradas como sensíveis e passíveis de serem consideradas como entrando em áreas que normalmente as empresas não estão interessadas em partilhar.

Para facilitar as respostas, sempre que necessária informação sobre valores de facturação ou de percentagem de investimento em função da facturação, recorreu-se à utilização de escalas de intervalo (Hill e Hill, 1998a) para facilitar a resposta e impedir que a procura dos dados exactos pudesse constituir um óbice ao preenchimento do questionário.

Optámos por questões fechadas de escolha múltipla, dicotómicas, tendo sido utilizadas

escalas de Likert6 e, em menor quantidade, escalogramas de Guttman7 consoante o tipo

de informação pretendida. Para se evitarem dificuldades no tratamento da informação não se incluiu qualquer questão aberta. Seguimos, a sugestão de Moreira (1994) com a inclusão de uma categoria “outros” em algumas das perguntas.

Apesar de não estar comprovada uma correlação entre o tamanho do inquérito e a taxa de respostas (Yu e Cooper, 1983; Binner e Kidd, 1994), procurou-se que o tempo necessário para responder e enviar o inquérito não ultrapassasse os trinta minutos. A apresentação gráfica foi também considerada, atenta a sua importância (LaGarce e Kuhn, 1995; Hill e Hill, 1998-a), procurando-se não transmitir um aspecto muito denso mas transparecendo uma imagem “amiga do utilizador”.

A ordem das questões é importante, conforme sublinharam Ghiglione e Matalon (1992: 111) “chegando-se a um certo ponto do questionário, as questões anteriores deram já à pessoa uma ideia do campo coberto pelo inquérito, já o familiarizaram com o tema e a forma particular como é abordado e já lhe deram a oportunidade para reflectir sobre ele.

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A escala de Likert é particularmente aconselhável quando se deseja colocar várias questões com as mesmas opções de resposta, existindo habitualmente cinco categorias para cada item (totalmente de acordo, de acordo, indiferente, em desacordo, totalmente em desacordo). São também atribuídas pontuações (1,2,3,4,5 ou 5,4,3,2,1) (Moreira, 2007). Optámos entretanto por utilizar um número ímpar de respostas alternativas seguindo a sugestão de Hill e Hill (2005: 127) “se o questionário for anónimo, e se não contiver perguntas ‘sensíveis’ é geralmente melhor utilizar um número ímpar de respostas alternativas”

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Os escalogramas de Guttman permitem ultrapassar o problema de unidimensionalidade. O escalograma de Guttman implica uma sucessão de questões fazendo com que as suas respostas estejam interligadas (escalograma) (Oppenheim, 1992).

Fizeram-lhe ver aspectos do problema sobre os quais ele talvez não tivesse pensado”, pelo que a mesma questão poderá suscitar respostas diferentes consoante a sua ordem de colocação. Assim, a organização das questões teve em consideração estas observações e, bem assim, a noção de que as primeiras questões são aquelas que indicam o tema e o tipo de respostas que se pretende.

Entretanto, considerámos importante a compartimentação das perguntas consoante os construtos dominantes, identificando os diversos construtos e definindo-os sumariamente, a experiência recolhida nos estudos de casos foi importante na confirmação da necessidade do esclarecimento dos construtos como forma de evitar interpretações diferentes.

De acordo com a opinião de Malhotra (1993) Quivy e Campenhoudt (1992) e Marconi e Lakatos (1988), depois de elaborado, o questionário deve ser submetido a um pré-teste para aferir a sua exequibilidade. Para tal testámos o questionário junto de duas empresas da amostra inicial (uma empresa produtora/engarrafadora de vinho do Porto e uma outra de distribuição) e ainda junto de um administrador com o pelouro financeiro de uma das empresas da amostra inicial, procurando com este último pré-teste estudar o questionário junto de um profissional não directamente relacionado com a distribuição para despistar algum risco de jargão técnico ou de enviesamento.

Efectuámos os pré-testes através de entrevista directa para apurarmos eventuais dificuldades e óbices, tendo sido, para o efeito, elaborada uma lista de verificação com as seguintes questões (Moreira, 1994: 179):

-Quanto tempo demorou a preencher o questionário? -As instruções eram claras?

-Alguma pergunta era ambígua? -Se sim, qual ou quais e porquê?

-Houve relutância em responder a alguma pergunta? -Outros comentários?

Com base nos resultados dos pré-testes eliminamos algumas perguntas e acrescentámos outras para melhor esclarecimento, mas sobretudo optámos por diferenciar os inquéritos para as empresas produtoras/engarrafadoras de vinho do Porto e companhias

distribuidoras. Com efeito, todos os respondentes aos pré-testes reconheceram que um inquérito comum (com identificação das perguntas a responder por cada um dos tipos de empresa) implicava uma desnecessária falta de clareza.