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3 O CURSO SUPERIOR DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

3.3 O Desenvolvimento da Contabilidade no Brasil

A primeira fase de desenvolvimento da contabilidade no Brasil, de acordo com Schmidt (1996b), foi marcada pela intervenção das Leis Governamentais e pela influência de Escolas Italianas. Para Iudícibus (1997), a influência do governo deve-se à inoperância da classe contábil que permitiu que o governo tomasse para si as responsabilidades, de forma que o Estado se antecipava aos acontecimentos e criava a Lei, sem a colaboração ou o conhecimento da classe contábil.

Segundo Araújo (2002), a segunda fase teve início em 1964, com a introdução de uma metodologia nova para o ensino da contabilidade baseada nas Escolas Norte Americanas, mais especificamente no livro “Introductory Accounting”, de Finney e Miller. O livro

Contabilidade Introdutória, publicado por professores da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, foi baseado na Escola Norte Americana e é utilizado, até hoje, praticamente em todas as faculdades brasileiras.

A partir da década de sessenta, a contabilidade no Brasil começou a se desenvolver de forma crescente, tendo em vista as exigências do mercado, a criação de novas leis governamentais e previdenciárias. Esse novo cenário criou a necessidade de maior controle nas empresas, o que influenciou na regulamentação, em 1972, do profissional Auditor Independente, através da Resolução 220, do Banco Central do Brasil.

Um dos principais momentos do desenvolvimento da contabilidade, considerado como marco, foi a criação da Lei 6.404/76, (Lei das Sociedades por Ações). Durante muitos anos, foi a Lei mais utilizada por contadores, pois dedica 137 artigos à Contabilidade, principalmente no que diz respeito a Demonstrações Contábeis, porém, foi alterada, em 2007, pela Lei 11.638.

No ano de 1981, aconteceu um dos fatos mais relevantes para a história da Contabilidade no Brasil, a aprovação das Normas Brasileiras de Contabilidade e dos Princípios Fundamentais da Contabilidade. A partir desse acontecimento, o país passou a ter sua própria normatização, podendo adequar-se à sua realidade.

A partir de então com o desenvolvimento e aprimoramento da Ciência Contábil, os cursos de ensino superior também passaram por uma adaptação, que levaram em conta todas as mudanças no campo da prática contábil. Algumas facilidades percebidas para abertura de cursos de Contabilidade colaboraram para a criação desses cursos em inúmeras IES e, dessa forma, foram aumentando as opções de instituições para aqueles interessados em adquirir formação de nível superior.

Como há vários núcleos de ensino superior da contabilidade, existe a heterogeneidade do corpo docente e discente, da infraestrutura e dos planos de ensino. No entanto, é claro que o ensino contábil evoluiu, não se pode afirmar se de forma adequada, mas cada instituição tem suas particularidades e colabora para o aumento da procura nos cursos de nível superior.

Ao longo do tempo, houve a necessidade de aprimoramento nos estudos de Contabilidade, tendo em vista o aumento da responsabilidade do profissional dessa área. Na década de 1990, a profissão contábil passou por uma sensível mudança de status. Tal mudança valorizou os contadores, fazendo com que estes deixassem de ser apenas a pessoa responsável por impostos e escrituração da empresa, para serem considerados peças-chave no desenvolvimento da entidade. Através da elaboração, análise e interpretação das

demonstrações contábeis, o contador passou a ser o responsável pela saúde financeira da empresa, colaborando e respondendo, formalmente, por tomadas de decisão baseadas no estudo da situação financeira da empresa.

Daí em diante, inúmeras oportunidades surgem para o ramo da contabilidade. O mercado de trabalho é bastante vasto, dentre as opções destacam-se: seleções públicas, próprio negócio, docência, auditoria, gerência financeira de empresas de diversos ramos, dentre outras atividades, que podem ser muito bem remuneradas.

A diversidade de oportunidades que surgiu no ramo contábil, com o incremento de cursos em faculdades particulares, gerou uma forte demanda para o ingresso nos cursos superiores de Ciências Contábeis. Segundo Nossa (2003), a quantidade de cursos superiores em Contabilidade quase dobrou no período de dez anos. No ano de 1986, havia 131cursos e em 1996 o número foi para 384 cursos. Esse crescimento rápido e intenso fez com que a qualidade de ensino de alguns cursos estivesse aquém das reais necessidades de um bom profissional.

A falta de qualidade no ensino de Contabilidade chamou a atenção de docentes que se preocuparam com a deficiência dos cursos e a partir de então passaram a discutir a necessidade de mudanças para garantir o ensino adequado aos cursos de Ciências Contábeis.

Segundo Marion e Robles Junior (1998), o Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo, em 1994, objetivando interpretar a nova situação dos cursos de Ciências Contábeis no Brasil, fez um trabalho de aproximação de diversas instituições de ensino, visando aperfeiçoar a qualidade destes. Trabalhos na forma de workshops foram apresentados e seus resultados compilados na forma de papers, contendo os principais pontos abordados durante os encontros. Desde então, vários encontros regionais tratam de assuntos prioritários para a melhoria da qualidade do ensino de Contabilidade.

Durante os debates promovidos nesses encontros, temas como: aspectos pedagógicos no ensino da contabilidade, ausência de projeto institucional nas IES brasileiras, ausência de capacitação didático-pedagógica dos professores do ensino superior de Contabilidade, ensino continuado para docentes de contabilidade, divisão da contabilidade entre teoria e prática, dentre outros, foram bastante discutidos, pois tratam de uma grande deficiência dentro das IES.

Sendo a Contabilidade considerada a “Profissão do Futuro” por alguns

especialistas da área, sabe-se que ainda há muito a fazer pelo ensino superior, pois grande parte das instituições visam somente ao lucro e parte dos docentes ensinam somente o que aprendeu na graduação em conjunto com conhecimentos práticos adquiridos ao longo da

profissão, esquecendo-se de passar aos alunos as reais perspectivas da profissão escolhida por eles, deixando-os desmotivados em relação ao aprofundamento das disciplinas, buscando, apenas, o objetivo de conseguir um diploma de ensino superior.

Diante do exposto, fica clara a existência de duas vertentes: a profissão contábil está em ascensão, trazendo inúmeras oportunidades para o mercado de trabalho, o profissional está sendo valorizado, porem, sua qualificação é exigida. Em contrapartida a maioria das IES não oferecem condições de estudos adequadas, pontuando variadas deficiências.

Em recente estudo, Kounrouzan (2011) realizou uma comparação entre o exame de suficiência realizado pelo Conselho Federal de Contabilidade, com o intuito de autorizar o bacharel em Ciências Contábeis a exercer a profissão de contador através do registro no respectivo Conselho Regional, entre os períodos de 2000 a 2004, quando foi suspenso, e março de 2011, quando foi retomado, em decorrência da Lei 12.249/2010. Os resultados do estudo mostram que, em 2004, o índice de aprovação foi de 72,47%, enquanto que em 2011 o percentual caiu para 30,83%. Segundo a autora, esses números demonstram um quadro preocupante para a qualidade do ensino de Ciências Contábeis.

Urge, portanto, que aqueles que fazem parte do “mundo da contabilidade” façam

uma reflexão para que o engajamento, objetivando melhorias dentro da área, torne-se questão de séria discussão.