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O desenvolvimento da criatividade e da imaginação na Educação Pré-Escolar

CAPÍTULO II – O ESTUDO

2 Fundamentação teórica do estudo

2.4. O desenvolvimento da criatividade e da imaginação na Educação Pré-Escolar

A criança em idade de Pré-Escolar, em pleno crescimento, desenvolvimento e per- manente aprendizagem, apropria-se da realidade através de todos os seus sentidos.

A Educação Pré-Escolar é uma etapa importante de exploração livre e criativa, am- bas intermediárias no processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança e que contribuem para o desenvolvimento de competências necessárias para a formação de um ser autónomo e capaz de viver em sociedade. É indispensável, para a criança, a vivência de experiências que lhe permitam “aprender a aprender”, através de múltiplas situações de aprendizagem, em contexto educativo. Ou seja, situações que provoquem o questio- namento, a inquietude, a curiosidade, a descoberta e a criação, socorrendo-se de todos os seus sentidos que se entrecruzam na procura do conhecimento de si própria e do mundo.

Para melhor compreendermos o processo de desenvolvimento da criança e o modo como desabrocham as bases da criatividade, é importante considerar os contributos de alguns autores a este respeito.

É possível destacar, a este nível, Piaget que, através da definição de estádios de de- senvolvimento cognitivo, enquadra a criança em idade de Pré-Escolar no estádio pré- operatório, que se caracteriza pela capacidade de representação mental e de simboliza- ção, pelo egocentrismo, pelo pensamento mágico e por uma inteligência intuitiva. Na

perspetiva de Piaget, é através das diferentes formas de expressão simbólica que a crian- ça constrói individualmente o seu conhecimento, recorrendo a símbolos e a imagens mentais para a satisfação dos seus desejos e assimilação do real ao eu. De facto, a criança em idade de Pré-Escolar aprende usufruindo de todos os seus sentidos, contudo, destaca- se a sua “capacidade de representar, formar imagens mentais” (Hohmann & Weikart, 2011, p. 475).

A criatividade e a imaginação são duas valências do pensamento, que se manifes- tam na maior parte das pessoas desde muito cedo, de várias formas e em diversos con- textos.

Para Sousa (2003c), qualquer criança aprecia, necessita e exige movimento, dinâmi- ca e ação, pois, através da experimentação, da observação, da movimentação e da explo- ração a criança constrói as suas próprias aprendizagens, precisando apenas de ser orien- tada e estimulada pelo adulto, de forma a que essas novas aquisições sejam bem- sucedidas.

Todas as crianças apresentam capacidades imaginativas, no entanto, para serem criativas, essas capacidades têm de ser desenvolvidas e estimuladas. Assim, para que exis- ta um ambiente promovedor do estímulo da criatividade e da imaginação, é indispensável que o adulto deixe de valorizar apenas o conhecimento, a compreensão, a crítica, a inteli- gência e a aptidão e dê, também, importância à imaginação e à criatividade.

A imaginação, na criança, começa a aparecer nas primeiras brincadeiras “faz de con- ta”. Sendo, inicialmente, mera reprodução de experiências vividas, a imaginação vai, aos poucos, se sofisticando, introduzindo novos elementos ao que era apenas reprodução (Pacífico & Araújo, 2013).

Portanto, quantas mais experiências se proporcionar à criança mais hipóteses esta tem de ser ainda mais criativa, pois “experimentar o mundo no seu estado real é uma parte importante no processo criativo” (Spodek & Saracho, 1998, p. 354). Assim, torna-se importante oferecer à criança liberdade para que esta crie, sem que o adulto interfira diretamente nos trabalhos plásticos que ela própria realiza. É fundamental que adulto dê espaço à criança para criar, ou seja, para uma criança um sol pode ser quadrado, não ter raios e ser azul e essa escolha tem de ser respeitada. O papel do educador é o de colocar questões no sentido de fazer a criança refletir sobre o seu trabalho.

Sobre o mesmo assunto, Lowenfeld (1977) defende que

o próprio ato de criar pode fornecer-lhe novos vislumbres, novas perspetivas e nova compreensão para a ação futura (...). Proporcionar-lhes a oportunidade de criar, constantemente, com os conhecimentos que possua nesse período é a me- lhor preparação para o futuro ato criador. (p. 16)

A liberdade criativa é referida como um elemento fundamental para a atividade cri- adora, se a criança estiver envolvida num ambiente que valorize a liberdade e a esponta- neidade, terá mais facilidade em desenvolver a sua imaginação e criatividade. Desta for- ma, na perspetiva de Sousa (2003c), uma criança deve ter direito a liberdade de iniciativa, liberdade na opção das atividades e do uso de material e liberdade na expressão e cria- ção. Ao proporcionar momentos de liberdade à criança, esta pode se expressar de forma espontânea, assumindo-se tal como é.

Como menciona, ainda, Sousa (2003c), o educador deve utilizar uma metodologia educacional dirigida para a espontaneidade, liberdade e para o lúdico. Assim, toda a aprendizagem será facilitada e isto acontece no desenvolvimento da imaginação e da cri- atividade da criança. Segundo Lowenfeld (1977), a educação pela Arte é promover a Arte em diferentes contextos e ambientes educativos, sejam formais ou informais, assim como ter um papel contributivo na sociedade, tornando a criança criativa e consciente da sua identidade cultura.

O contacto com diferentes obras de arte desenvolve a sensibilidade estética na cri- ança e contribui para desbloquear o processo criativo, proporcionando a descoberta das mais variadas técnicas e formas de expressão. Para além disso, na perspetiva de Pillotto e Mognol (2007), a arte possibilita às crianças “um mundo de símbolos, que é significado e re-significado em cada ação. Nesse sentido, as instituições de educação infantil podem contribuir efetivamente, construindo atitudes em que o desenvolvimento cognitivo e sen- sível da criança seja preservado” (p. 226).

É relevante inferir que, de acordo com Rodrigues (2002), “o conhecimento da arte, numa correta perspetiva histórica e pedagógica, contribui para o entendimento da ex- pressão livre da criança” (p. 210). Ao exprimir-se livremente, a criança adquire autoconfi- ança e torna-se mais responsável e cooperante no relacionamento com os outros, respei- tando, assim, a expressão pessoal de cada um. É possível realizar interessantes trabalhos

através de técnicas que estimulam a criatividade, como a pintura, a montagem, a mode- lagem, entre outros.

Desta forma, o papel do educador consiste em proporcionar momentos facilitado- res e estimulantes à imaginação e à criatividade, assumindo ele próprio uma postura cria- tiva.