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O Desenvolvimento Econômico e a Nova Ordem Econômica Internacional

No documento MESTRADO EM DIREITO São Paulo 2015 (páginas 44-47)

1.3 O Direito Econômico Internacional

1.3.2 O Desenvolvimento Econômico e a Nova Ordem Econômica Internacional

Com o fim da Segunda Grande Guerra, o mundo pode assistir a ascensão do capitalismo, condicionado, sobretudo, pelo desenvolvimento tecnológico, avanços industriais e investimentos realizados pelos Estados desenvolvidos nas nações menos favorecidas.

O crescimento da indústria, principalmente, nos Estados Unidos e no Japão, incentivou e acelerou a corrida pela expansão e criação de novos e potenciais mercados consumidores. As antigas “colônias” de exploração e países subdesenvolvidos, primeiramente produtores e exportadores de matérias-primas e, consumidores de produtos importados e manufaturados, passaram a ser vistos como importantes polos para instalação de grandes corporações. Os altos

investimentos realizados em tais localidades devem-se, primordialmente, ao baixo custo da mão de obra e de encargos sociais e aos incentivos fiscais, que aumentaram ou pelo menos mantiveram a margem de lucro em patamares interessantes.

Nesse novo cenário, os países desenvolvidos começaram a sofrer com as questões relacionadas ao bem estar social de suas populações: envelhecimento, assistência médica e social, previdência social, desemprego, entre outros. O tão aclamado Welfare State77 perdia espaço para o neoliberalismo. De acordo com

Cretella:

Após a queda do Muro de Berlim, em 09.11.1989, que simboliza o colapso político dos principais Estados socialistas – que ocorreu, na verdade, de

jure, entre 1990 e 1991 – e o acelerado processo de globalização, assiste- se ao inequívoco triunfo do modelo econômico liberal (ou neoliberal, segundo alguns), baseado na liberdade dos mercados. Evidentemente, essa liberdade sobre limitações, impostas pelo conjunto dos Estados que participam mais ativamente do comércio multilateral, é simbolizada pela atuação da Organização Mundial do Comércio78.

O objetivo neste momento passa a ser a conquista de novos e maiores mercados, através da redução de preços e aumento da qualidade dos produtos, visando minimizar os efeitos da concorrência aliada à diminuição dos custos de produção.

Para tanto, uma nova forma de fabricação em âmbito global ganhou adeptos. O procedimento consistia em pulverizar as etapas de produção para os locais em que cada processo produtivo apresentasse um menor custo operacional. Dessa forma, não somente o consumo passa a ser mundial, mas também a cadeia de produção, possíveis graças ao desenvolvimento nas áreas de transporte e telecomunicações.

77 O Welfare state teve sua origem no pensamento keynesiano e surgiu como resposta para o que se vivia na Europa após o fim da Segunda Guerra Mundial. Entre os seus objetivos, há dois essenciais: a garantia do bom funcionamento do mercado segundo o pensamento de Adam Smith e a defesa dos direitos dos cidadãos na saúde, educação e alimentação. Seu desenvolvimento está intimamente relacionado ao processo de industrialização e os problemas sociais gerados a partir dele. A Grã- Bretanha foi o país que se destacou na construção do Estado de Bem-estar com a aprovação, em 1942, de uma série de providências em áres sociais como saúde e educação. Nas décadas seguintes, outros países seguiriam essa direção. Ocorreu também uma vertiginosa ampliação dos serviços assistenciais públicos, abarcando as áreas de renda, habitação e previdência social, entre outras. Paralelamente à prestação de serviços sociais, o Estado do Bem-estar passou a intervir fortemente na área econômica, de modo a regulamentar praticamente todas as atividades produtivas a fim de assegurar a geração de riquezas materiais junto com a diminuição das desigualdades sociais. (BRUE, Stanley L. História do pensamento econômico. [tradução Luciana Penteado Miquelino]. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005, p.393 e ss).

Vemos, a partir daí o nascimento da globalização, fruto da necessidade de eliminação de obstáculos entre os Estados, com o objetivo principal de integrar a produção, o consumo e a circulação de mercadorias além das fronteiras.

Nessa nova ordem internacional um dos principais propósitos é a eliminação das medidas protecionistas ao comércio mundial, frequentes entre os anos de 1929- 1939, que acabaram por impulsionar a crise econômica de 1929. Como exemplo de tais medidas, podemos citar: tarifas aduaneiras elevadas de forma excessiva, práticas comerciais desleais (dumping e subsídios à exportação), flutuação de moedas, desvalorizações cambiais abruptas, controle sobre trocas comerciais (e.g. imposição de cotas), nacionalização de ativos estrangeiros e congelamento de capitais estrangeiros, entre outros.

A Nova Ordem Econômica Internacional pode ser divida em três grandes bases: a) a liberdade das trocas comerciais e dos pagamentos; b) a igualdade do tratamento; c) a reciprocidade das vantagens. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os países vencedores se basearam em tais dados para difundir essa nova ordem econômica. Cumpre ressaltar que a Carta das Nações79 tratou do assunto em alguns de seus dispositivos, como no Preâmbulo80, e nos Artigos 1.381 e 5582.

Entretanto, não é somente de boas novas que vivem a nova fase do capitalismo e da globalização. O desenvolvimento de novas tecnologias, a automação das indústrias e os investimentos em pesquisas trouxeram consigo o aumento do desemprego e os consequentes problemas sociais decorrentes de tal situação. Nesse ponto, assistimos ao avanço das desigualdades socioeconômicas entre países desenvolvidos e os em desenvolvimento, bem como entre comunidades de uma mesma nação.

79 Documento completo e oficial disponível em <www.onu-brasil.org.br/documentos_carta.php>. 80 Preâmbulo: “Nós, os povos das Nações Unidas, decididos:...A promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de um conceito mais amplo de liberdade...”.

81

Artigo 1.3: “Os objetivos das Nações Unidas são: ... o:...Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todo, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião...”.

82

Artigo 55: “Com o fim de criar condições de estabilidade e bem-estar, necessárias às relações pacíficas e amistosas entre as Nações, baseadas no respeito do princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos, as Nações Unidas favorecerão”: a) níveis mais altos de vida, trabalho efetivo e condições de progresso e desenvolvimento econômico social; b) a solução dos problemas internacionais econômicos, sociais, sanitários e conexos, bem como a cooperação internacional, de caráter cultural e educacional; e c) o respeito universal e efetivo à raça, sexo, língua ou religião.

Nesse cenário, os Estados começam a perder forças frente às investidas das grandes multinacionais, as quais priorizam a eliminação de barreiras para a circulação de suas mercadorias e o incremento de seus lucros. Na tentativa de buscar proteção, principalmente, no campo político, os países dão início à formação dos chamados blocos econômicos. De uma forma geral, buscam a coordenação de suas políticas macroeconômicas, a integração de suas legislações internas, o respeito às diferenças socioeconômicas dos membros e na eliminação de barreiras e diferenças aplicadas aos produtos oriundos dos países participantes.

Não somente por virtude, mas também por interesse, é necessário que os Estados percebam e atuem no sentido de que a construções de blocos e a consequente interação entre eles, com base nas regras do comércio mundial, no âmbito da OMC, que poder servir como forma para o desenvolvimento de uma cooperação mais efetiva, visando enfrentar tantos as questões de curto prazo (como estabilidade de moeda e equilíbrio de fluxos comerciais), quanto os grandes embates da humanidade como a fome, a pobreza, a degradação do meio ambiente, que acaba por atingir a todos, indistintamente.

No documento MESTRADO EM DIREITO São Paulo 2015 (páginas 44-47)