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O desenvolvimento sustentável sob a ótica da Economia Ecológica

2.3 ECONOMIA ECOLÓGICA

2.3.3 O desenvolvimento sustentável sob a ótica da Economia Ecológica

Assim como a Economia do Meio Ambiente, a Economia Ecológica fornece substrato a uma interpretação própria do desenvolvimento sustentável. O principal ponto da chamada Economia Ecológica, é que o sistema econômico é entendido como um subsistema de um todo maior que o contém, impondo uma restrição absoluta à sua expansão. Capital e recursos naturais são essencialmente complementares. O progresso científico e tecnológico é visto como fundamental para aumentar a eficiência na utilização dos recursos naturais em geral (renováveis e não renováveis).

Nesta perspectiva, o crescimento (melhora quantitativa) deve ser substituído pelo desenvolvimento (melhora qualitativa). A longo prazo, a sustentabilidade não é possível sem estabilização dos níveis de consumo per capita de acordo com a capacidade de carga do planeta. Se traduziria, assim, numa escala sustentável fixada num ambiente controverso e rodeado de incertezas e ignorância, e portanto, calcada no princípio da precaução31. Associada

à distribuição justa de riqueza (em todos os seus sentidos) e à alocação eficiente dos recursos. Adicionalmente, para Romeiro (2012), do ponto de vista da Economia Ecológica, desenvolvimento sustentável seria entendido como um processo de melhoria do bem-estar humano com base numa produção que garanta o conforto que se considere adequado e que esteja estabilizada num nível compatível com os limites termodinâmicos do planeta. Implica, portanto, um “estado estacionário” no qual o crescimento do consumo como fator de emulação social cede lugar ao crescimento cultural, psicológico e espiritual. Um processo de desenvolvimento como liberdade, tal como o define Sen (1999), de melhora permanente das condições necessárias para a realização plena da “capacidade que as pessoas têm de florescer”.

A ideia de sustentabilidade na Economia Ecológica pode ser associada à sustentabilidade do tipo “forte”, definida por Daly (1997). Na qual, o meio ambiente contém os sistemas humanos, fornecendo recursos (como minérios e energia solar) e prestando serviços ambientais (como a dispersão de poluentes). Estes recursos e serviços ambientais são a base do desenvolvimento socioeconômico e são a fonte da real prosperidade humana. Os sistemas humanos (econosfera e sociosfera) estão contidos no sistema natural (ecosfera) e não podem crescer além das limitações intrínsecas da biosfera. A figura 4 representa o modelo de interação associado à “sustentabilidade forte”.

31Indica que medidas antecipatórias devem ser tomadas contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado

Figura 4 – Modelo de interação: sustentabilidade forte. Fonte: Giannetti e Almeida (2007).

A análise das inter-relações entre economia e meio ambiente, da evolução conceitual de desenvolvimento sustentável e dos desenvolvimentos teóricos das Ciências Econômicas nesse contexto, indicam, que a Economia Ecológica tem apresentado uma abordagem abrangente, com um conceito de desenvolvimento sustentável que não se limita ao enfoque do meio ambiente apenas em termos de ecoeficiencia. Como nos moldes propostos no conceito de desenvolvimento sustentável em “sentido amplo” de Dalcomuni (1997).

Verifica-se, também, que a Economia Ecológica, quando comparada à Economia do Meio Ambiente, oferece um instrumental analítico mais complexo da relação economia – meio ambiente, por interligar economia e ecologia. Mas, que ambas tem contribuído em grande medida ao debate ambiental, principalmente no que se refere às políticas mais recentes.

Deste modo, o capítulo 3 aborda as políticas ambientais, através de um enfoque conceitual e histórico, que compreende as políticas de “comando e controle”, os instrumentos econômicos e a policy mix.

3 REGULAÇÃO AMBIENTAL: DO “COMANDO E CONTROLE” À POLICY MIX

Este capítulo objetiva sistematizar o debate teórico acerca da regulação ambiental, enfocando temas como externalidades, direitos de propriedade, instituições, governança, regulação direta e instrumentos econômicos; e, salientando o contexto de disseminação das policy mix e de instrumentos “fronteira” em regulação ambiental desenvolvidos nesta perspectiva: PSA e TEEB.

O crescente consenso acerca da importância dos recursos naturais para o processo produtivo, o sistema econômico, o bem-estar humano e a manutenção da vida na terra, estimularam desenvolvimentos e aperfeiçoamentos de conceitos, ferramentas e estruturas institucionais que objetivam o equilíbrio das relações entre economia e meio ambiente.

Neste contexto, a regulação ambiental se constitui em um conjunto de metas e instrumentos que envolvem normas, estabelecimento de padrões, penalidades e compensações financeiras, com o fim de reduzir os impactos negativos (e, estimular os positivos) da ação antrópica sobre o meio ambiente. Deste modo, acaba exercendo significativa influência, não apenas sobre o meio ambiente, mas também sobre as atividades econômicas e as demais políticas.

A justificativa e a importância das políticas ambientais estão calcadas em contribuições que vão desde a refutação dos teoremas centrais do bem-estar social ao debate acerca da importância das instituições. Verifica-se também, que nos últimos anos, os desenvolvimentos no campo das disciplinas abordadas nas seções 2.2 e 2.3, respectivamente a Economia do Meio Ambiente e a Economia Ecológica, vêm contribuindo significativamente com o debate teórico e desenvolvimento da regulação ambiental.

Empiricamente, o que se observa é que o processo de conscientização ambiental detalhado na seção 2.1 manteve uma relação direta com a intensidade e a generalização das práticas de regulação ambiental nos diferentes setores e países. Pois, desde o início de algumas atividades industriais até os anos de 1970 predominaram políticas ambientais frágeis e isoladas. Na primeira metade desta década, entretanto, uma série de ações generaliza o uso de regulação direta, também chamada, políticas de “comando e controle”, cujo fundamento central assenta-se no princípio do poluidor pagador (PPP).

Na década seguinte, destaca-se o uso de instrumentos econômicos para fins de política ambiental, fundamentados no princípio do provedor recebedor (PPR). E, posteriormente, uma “complexificação” da regulação, que se traduz na intensificação do enfoque e adoção das denominadas policy mix, ou seja, combinação de regulação direta e instrumentos econômicos.

Deste modo, a seção 3.1 aborda as bases conceituais e as principais contribuições e argumentos acerca das políticas ambientais. E, descreve, sucintamente, os instrumentos de “comando e controle” e os instrumentos econômicos.

Adicionalmente, a seção 3.2 destina-se ao enfoque das policy mix, e à explicitação de alguns modelos e abordagens a respeito do tema: Modelo de Otimização de Programas Híbridos de Baumol e Oates (1975, 1993) e o Modelo Dinâmico de Dalcomuni (1997, 2006). Além dos mecanismos de pagamentos por serviços ambientais (PSA); e, The economics of ecosystems and biodiversity (TEEB).