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O dia do grande Recital: Análise do corpus da pesquisa

“Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e

pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que

fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o

mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir

antes". (Rubem Alves)

A análise do corpus da pesquisa foi realizada a partir da Análise de Conteúdo Temática ,que como o próprio nome sugere, é uma modalidade da Análise de Conteúdo. Sobre esta última, temos que, “Nessa análise, o pesquisador busca compreender as características, estruturas ou modelos que estão por trás dos fragmentos de mensagens tornados em consideração. O esforço do analista é, então, duplo: entender o sentido da comunicação, como se fosse o receptor normal, e, principalmente, desviar o olhar, buscando outra significação, outra mensagem, passível de se enxergar por meio ou ao lado da primeira” (Câmara, 2013, p.182). A utilização da análise de conteúdo prevê três fases fundamentais, quais sejam, a pré-análise, a exploração do material e o tratamento

dos resultados, que envolve a inferência e a interpretação. (Bardin, 2011 apud Câmara, 2013).

Na Análise de Conteúdo Temática a exploração do material se dá a partir de núcleos de sentido que sejam significativos, considerando-se os objetivos da pesquisa. Essa forma de análise consiste em realizar desmembramento do texto em unidades (categorias), segundo reagrupamentos analógicos (Minayo, 2000). Destaca-se que essa forma de análise não está preocupada apenas com a frequência com que os discursos comparecem, mas, principalmente, com os sentidos e significados associados a eles.

Pontuamos, no entanto, que optamos por analisar episódios/situações resultantes das observações participantes, um a um, considerando todos os elementos que dele participam, uma vez que boa parte do corpus da pesquisa é decorrente desse procedimento, com registro das ações das crianças; assim, atende-se a necessidade de explorar o contexto em que essas ações ocorreram.

As etapas da análise do corpus foram as seguintes: 1) Sistematização dos dados

Inicialmente, foi realizada a reunião e organização de todo o material resultante dos encontros realizados na Instituição. Esses materiais são as anotações e/ou transcrições da observação participante e transcrição dos procedimentos. O passo seguinte consistiu na separação em:

a) Dados construídos nos momentos de observação participante da rotina dos sujeitos, e, portanto, que envolviam várias pessoas e crianças da Instituição;

b) Dados construídos a partir dos procedimentos com uso do vídeo e livro de histórias, realizadas com os sujeitos participantes da pesquisa, tanto individualmente quanto em grupo

2) Definição de categorias de análise pré-estabelecidas: geral e subcategorias

O segundo passo consistiu em definir as categorias de análise pré-estabelecidas, levando em consideração o objetivo da pesquisa e a revisão bibliográfica realizada. Definimos primeiramente, uma categoria geral, denominada: ações de cuidado (I). Nessa categoria estão compreendidas todas as situações que façam referência às ações de cuidado que envolvam os sujeitos participantes da pesquisa. Entende-se, nesta pesquisa, como ações de cuidado qualquer ação realizada em favor do outro, seja pelo suprimento de alguma necessidade, que dirige-se à resolução dessa necessidade, ou da situação de conflito/apuro decorrente dela. É importante retomar a definição sobre de cuidado adotada nesta pesquisa, como já sinalizado anteriormente na discussão teórica. De acordo como o nosso referencial teórico, em situações em que o cuidado seja motivado por uma necessidade física essencial, ele não se limita a isso, mas, compreende o componente afetivo proveniente da relação estabelecida (ou pelo menos que deve ser estabelecida) entre quem cuida e quem é cuidado. Desse modo, essa categoria de análise é ampla e abrangente, e por isso, houve a necessidade de dividi-la em três subcategorias, quais sejam: ações de cuidado relacionadas com o cuidado para com o corpo (I.A); ações de cuidado relacionadas a aspectos sócio-afetivos; (I.B) e ações de cuidado relacionadas as duas situações (cuidado do corpo e aspectos sócio afetivos) num mesmo episódio (I.C).

A primeira categoria de análise, (I.A.), compreende as ações de cuidado cujo objetivo principal é o cuidado para com o corpo. Diante disso, fazem parte dela qualquer ação que vise realizar a satisfação das demandas inerentes às necessidades físicas corporais, sejam elas, higiene, alimentação, necessidades biológicas, dentre outros episódios.

Por sua vez, na segunda categoria, (I.B), estão compreendidas ações de cuidado que se caracterizam pela ajuda na resolução de uma demanda decorrente de um aspecto sócio afetivo, envolvendo solidariedade e suporte emocional.

Por fim, a terceira categoria (I.C.), diz respeito a ações de cuidado em que comparecem os dois aspectos, portanto, a demanda pode ter sido relacionada a um cuidado para com o corpo, mas a ação ultrapassou esse cuidado físico e foi acompanhada de alguma ação relativa ao aspecto sócio afetivo.

3) Definição de categorias de análise pós-estabelecidas

A possibilidade de inserir novas categorias após o início da análise do material foi posta, e a partir de uma leitura flutuante do material, identificou-se a necessidade de criarmos mais duas categorias de análise. É interessante ressaltar que essas categorias foram desmembramentos das três subcategorias pré-estabelecidas, anteriormente citadas (I.A; I.B; I.C) que, por sua vez, são abrangidas pela categorial geral (I). As categorias de análise pós-estabelecidas foram definidas como: 1ª) ações de cuidado desenvolvidas na interação criança-criança, sem intervenção de um adulto (PE1); 2ª) ações de cuidado desenvolvidas na interação criança-criança com intervenção direta da educadora (PE2). Na primeira, incluem-se ações que emergiram de maneira espontânea pelas crianças; a segunda compreende as ações que surgiram após alguma intervenção de uma das educadoras. Ambas as categorias dizem respeito às ações entre as crianças da Instituição, sempre envolvendo algum dos sujeitos participantes da pesquisa.

4) Leitura e identificação das categorias

Com todas as categorias estabelecidas, essa etapa ocorreu da seguinte forma:

a) O passo inicial consistiu em, a partir de uma leitura cautelosa guiada pelo objetivo da pesquisa, identificar e separar, dentre os dados construídos nos encontros (situações, frases, diálogos, momentos, episódios), os que se

relacionavam a esse objetivo13. Nesse momento, foram selecionados, sinalizados e agrupados todos os episódios pertencentes à categoria geral denominada ações de cuidado (I).

b) Na sequência, realizamos a leitura desse material para classifica-los, considerando-se as subcategorias de análise. Para isso, o recurso utilizado foi a determinação de uma cor para cada uma das três subcategorias pré-estabelecidas (I.A; I.B; I.C). Quando da identificação, o episódio era sinalizado com a cor referente à sub categoria a qual pertencia. Após essa identificação, os episódios foram agrupados por subcategorias. Como as categorias pós-estabelecidas (PE1; PE2) são subdivisões das categorias anteriormente sinalizadas, a identificação dessas também foi feita por cores, a partir da divisão das categorias anteriores. A partir dessa sinalização, houve o segundo agrupamento dos episódios gerando, então, as seguintes intercessões:

(I.A.PE1) - Ações de cuidado relacionadas com o cuidado com o corpo desenvolvidas na relação criança-criança, sem intervenção;

(I.B.PE1) - Ações de cuidado relacionadas a aspectos sócio afetivos desenvolvidas na relação criança-criança, sem intervenção;

(I.C.PE1) - Ações de cuidado relacionadas às duas situações (cuidado com o corpo e aspectos sócio afetivos) num mesmo episódio, desenvolvidas na relação criança-criança, sem intervenção;

(I.A.PE2) - Ações de cuidado relacionadas com o cuidado com o corpo, desenvolvidas na relação criança-criança, com a intervenção direta da educadora;

13 É importante sinalizar que outros dados importantes foram identificados. No entanto, não estarão sendo considerados nesta pesquisa. Serão, no entanto, objeto de análise de um outro estudo, a ser desenvolvido. Citamos, como exemplo, as situações de disputa por brinquedo.

(I.B.PE2) - Ações de cuidado relacionadas a aspectos sócio afetivos desenvolvidas na relação criança-criança, com a intervenção direta da educadora;

(I.C.PE2)- Ações de cuidado relacionadas às duas situações (cuidado com o corpo e aspectos sócio afetivos) num mesmo episódio, desenvolvidas na relação criança-criança, com a intervenção direta da educadora.

Nos agrupamentos, houve, por vezes, o comparecimento de um mesmo episódio em mais de uma categoria.