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O direito a informação na sociedade em rede

A informação assumiu um lugar de destaque na sociedade contemporânea, principalmente pelo fato de se acreditar que existe uma intensa relação entre informação, conhecimento e poder. Para Dupas (2001) as redes globais constituem a nova morfologia social na era da informação, controlando e exercendo o poder sobre os estoques de experiências e conhecimentos. Assim a informação é considerada na sociedade moderna um recurso estratégico de poder em todas as áreas (CASTELLS, 2007; MENDONÇA; MACADAR, 2008). O setor saúde não poderia deixar de lançar mão desse recurso capaz de descrever as situações que caracterizam o processo de saúde/doença, as impressões do corpo individual e social, bem como o diagnóstico situacional das diversas instituições ligadas à área. A informação configura-se como um fator essencial para o planejamento e o processo de tomada de decisões em saúde. É neste sentido que informação e poder irão coexistir construindo o discurso de que decisões importantes serão tomadas a partir de informações bem estruturadas, cabendo o exercício do controle que emerge das relações de poder manifestadas nas práticas informacionais em saúde.

É nesta perspectiva, da sociedade em rede, que se discute as manifestações do poder enquanto tentativa de manter o status quo, alimentador da retórica neoliberal e capitalista. Segundo Castells (2007) esta batalha está sendo vencida, pois o Estado, como centralizador do poder torna-se pequeno para lidar com as forças globais imersas na era da informação. No entanto, ainda consegue administrar a vida das pessoas. Os meios de comunicação ainda são aparelhos de condicionamento social que promovem a perpetuação das “vontades” políticas das classes hegemônicas. Outra estratégia tradicional é o impedimento da educação formal, privando os indivíduos do acesso à informação e conhecimentos necessários para a produção da crítica. A manipulação da mídia e do acesso à educação continuam sendo utilizados para o exercício do poder (SILVEIRA, 2000).

Percebe-se que há uma disputa entre o estado e os sujeitos, internamente, mas há uma mudança do controle que agora, na sociedade global, está atrelado à transnacionalidade. Vale lembrar a dominação norte-americana exercida sobre a América latina e o embate econômico e político com a união européia. Agora o poder manifesta-se nestas interações, em uma perspectiva mosaica, como as relações de poder heterogêneas, globalizantes e disformes descritas por Foucault. Neste sentido, os espaços informacionais vão sendo disciplinados por meio de regulamentações, leis e normas que estabelecem hierarquias, valores e por fim o controle. Esse cenário configura-se como um campo para as disputas políticas, econômicas e sociais que tendem a promover as desigualdades entre as pessoas e as instituições. Isto é o resultado da assimetria no acesso, na apreensão e

entendimento da informação que potencializa a privação das oportunidades (SILVEIRA, 2000). Em outras palavras:

[...] é preciso desvendar a gênese dos meios de organização das informações em saúde, pois do contrário pode-se estar reduzindo-a em aparatos técnico-operacionais e, com isso, camuflar sua significação enquanto parte dos dispositivos do poder disciplinar e da produção de um saber: o saber de um determinado “olhar” – o vigilante (MORAES, 2002, p.33).

O que se pretende é incitar a participação dos sujeitos sobre as decisões em saúde, levando em consideração as necessidades do corpo social. Acredita-se que a intervenção destes sujeitos pode ser realizada a partir do acesso a informação em saúde, bem como a sua apreensão e compreensão das possibilidades de mudança do espaço social.

Percebe-se que a era da informação trouxe, em seu bojo, uma transformação das relações de poder estabelecidas entre Estado, sujeitos e instituições. A necessidade de controle para competir em um mercado globalizado, por um lado tem promovido o apartheid social, mas por outro não consegue estancar as redes sociais que se formam. Surge a oportunidade de emancipação dos indivíduos, os focos de resistência se sobressaem e os interesses são alcançados promovendo uma sociedade menos desigual. Um exemplo desta discussão é a tentativa do governo iraniano de proibir a imprensa em divulgar informações sobre os embates políticos e civis ocorridos em conseqüência da insatisfação pelo resultado das eleições no país no ano de 2010. No entanto, as redes sociais por meio da internet e de outros dispositivos tecnológicos têm conseguido quebrar esta barreira imposta pelo poder estatal; as informações ultrapassaram os “muros” iranianos e ganharam repercussão transnacional, bem como possibilidades de intervenção de outros países na política local (SANTORO, 2011). Finalmente, a tendência determinada por estas mudanças advindas da era da informação eletrônica também alteram o papel do Estado que poderá ser eficiente se for capaz de processar a informação e assegurar um processo decisório compartilhado pelo direito à informação, concebido e construído neste processo de participação social, envolvendo Estado, indivíduos e a sociedade.

Para Cepik (2000) o direito a informação está imbricado em uma trama de conflitos contemporâneos, variando nas diversas legislações existentes em vários países. Os países desenvolvidos possuem um acervo informacional que possibilita condições para a aplicação prática do direito a informação aos cidadãos. Porém os países periféricos avançam lentamente na criação de condições para o exercício da democratização do acesso, processamento e provimento de informações. O autor ainda destaca:

O complicador, neste plano da criação de condições para fruição de um direito, é que não se trata simplesmente de disponibilizar informações sobre a administração, a sociedade, a cidade, o país, etc. Tais informações frequentemente não existem, ou são de péssima qualidade para as finalidades de orientação do processo decisório, tanto participativo como intragovernamental. A precariedade dos serviços públicos de atendimento e prestação de informações ao cidadão é um indicador do caráter autoritário do estado e um tema emergente no debate sobre o sentido da reforma política e administrativa (CEPIK, 2000 p. 50).

Neste embate entre países centrais e periféricos, situados na infinita rede global, percebem-se as vantagens competitivas dos países desenvolvidos, com seus acervos informacionais mais consolidados. Estes grandes acervos proporcionam não apenas o controle e a vigilância, mas a ação governamental no sentido de promover a segurança e o desenvolvimento (BRAMAN, 2006).

No entanto, Cepik, ainda destaca que com o avanço das tecnologias da informação enquanto instrumentos de operacionalização da gestão da informação, o direito de participação da comunidade sobre a gestão da informação tornou-se algo extremamente complexo. Além do grande volume de informações, do acesso, da parafernália tecnológica, estão também em discussão os altos custos decisórios, os conflitos distributivos e a necessidade de compreender e redesenhar as novas formas assumidas pelas organizações. No Brasil, para Cepik (2000), os desafios relacionados ao direito à informação ainda são extremos e estão imbricados na necessidade de se evoluir frente aos desafios político, legal e administrativo. Sobre isto o autor discorre que é necessário definir prazos que atendam às demandas informacionais; estabelecer instrumentos que garantam o acesso aos acervos; alocar recursos tecnológicos, financeiros e humanos adequáveis às necessidades e por fim responsabilizar instâncias que possam supervisionar e implementar os instrumentos legais. Percebe-se que o direito à informação como parte do exercício da cidadania, nesta sociedade em rede, é algo que ainda precisa ser tecido, analisado sobre os vários olhares pois é potencialmente transformador da ordem social.

3.3 Exercendo o contra-poder por meio da democratização das informações em saúde