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O Direito a uma Boa Administração e a Participação Cidadã

CAPÍTULO II – O PRINCÍPIO DA BOA ADMINISTRAÇÃO

4. A Boa Administração em sede Jurídico-Positiva

4.2. O Direito a uma Boa Administração e a Participação Cidadã

A obrigação de prosseguir o interesse público exige da Administração Pública a adoção de atos em favor da coletividade, voltados à manutenção da segurança jurídica nas relações administrativas, à efetividade dos direitos de cidadania, ao respeito pelos direitos fundamentais e à promoção das medidas necessárias à garantia desses mesmos direitos.

Por outro lado, o cidadão também assume um papel importante na defesa dos seus direitos de cidadania e dos interesses da comunidade, cujo controlo social encontra fulcro no Princípio da Boa Administração, fazendo com que a Administração Pública atue através de um conjunto de práticas governamentais que efetivem o exercício da cidadania e busquem o aprimoramento do processo de gestão pública, com vistas ao fim público de interesse da coletividade.

A ordem jurídica confere garantias aos administrados, visando evitar ou sancionar as violações dos seus direitos e dos seus interesses legítimos por parte da Administração Pública, sendo o Princípio da Boa Administração considerado uma ferramenta de tutela dos interesses dos administrados, porquanto não só limita a aplicação da atividade administrativa como

75 CABRAL DE MOCADA, Luís S., A relação jurídica administrativa, Coimbra: Coimbra editora, 2009, p. 175. 76 GIUFFRIDA, Armando, Il “diritto” ad una buona amministrazione pubblica e profili sulla sua giustiziabilità,

também faz parte do interesse público, constituindo um objetivo, uma meta de proteção e concretização do direito fundamental à boa administração dos cidadãos.

Consoante Sabino Cassese, “la buona amministrazione ha avuto una importante evoluzione funzionale. Da principio in funzione della efficacia della pubblica amministrazione (“ex parte principis”), è divenuto principio in funzione dei diritti dei cittadini (“ex parte civis”). Prima era considerata mezzo per assicurare che il potere pubblico fosse efficace, perché gli interessi collettivi e pubblici ad esso affidati fossero pienamente tutelati. Poi è divenuta strumento per assicurare una difesa dal potere pubblico, perché le situazioni giuridiche soggettive dei privati potessero essere tutelate più efficacemente. Ad esempio, la partecipazione dei privati nella prima versione serve all’amministrazione, per conoscere meglio prima di decidere; nella seconda versione serve al privato, per far sentire la propria voce prima che l’amministrazione concluda il procedimento”77.

Armando Giuffrida expõe “che il riconoscimento dell’esistenza di un diritto ad una buona amministrazione europea finisce per collocare il cittadino al centro del sistema amministrativo, anzi di ogni sistema amministrativo, europeo o nazionale che sia”78.

Neste sentido, aduz Jaime Rodríguez-Arana Muñoz:

“En efecto, el ciudadano es ahora, no sujeto pasivo, receptor mecánico de servicios y bienes públicos, sino sujeto activo, protagonista, persona en su más cabal expresión, y, por ello, debe poner tener una participación destacada en la configuración de los intereses generales porque éstos se definen, en el Estado social y democrático de Derecho, a partir de una adecuada e integrada concertación entre los poderes públicos y la sociedad articulada. Los ciudadanos, en otras palabras, tenemos derecho a que la gestión y administración de los intereses generales se realice de manera acorde al libre desarrollo solidario de las personas. Por eso es un derecho fundamental de la persona, porque la persona en cuanto tal requiere de que lo público, de que el espacio de lo general, esté atendido de forma y manera que le permita realizarse, en su dimensión de libertad solidaria, como persona humana y completa.”79

77

CASSESE, Sabino, Il Diritto alla Buona Amministrazione. Relazione alla “Giornata sul diritto alla buona amministrazione” per il 25º anniversario della legge sul “Síndic de Greuges” della Catalogna, Barcellona, 27 marzo 2009, p. 6. Disponível em:

<http://www.irpa.eu/wp-content/uploads/2011/05/Diritto-alla-buona-amministrazione-barcellona-27-marzo.pdf>

78

GIUFFRIDA, Armando, Il “diritto” ad una buona amministrazione pubblica e profili sulla sua giustiziabilità, Torino: G. Giappichelli Editore, 2012, p. 66.

79 RODRÍGUEZ-ARANA MUÑOZ, Jaime, El Derecho Fundamental a la Buena Administracion en la

Constitución Española y en la Unión Europea, Revista Eurolatinoamericana de Derecho Administrativo, Vol. I, N.º 2, Santa Fé, Argentina, Julio/Diciembre 2014, ISSN 2362-583X, p. 77.

Nesta senda, a boa administração ajuda os cidadãos a compreenderem e fazerem valer os seus direitos, sendo um direito cívico do administrado, que tem expectativas legítimas quanto à obtenção de um serviço de qualidade e de uma administração aberta, acessível e corretamente gerida. Um serviço de qualidade impõe à Administração Pública e ao seu pessoal uma atuação com cortesia, objetividade, ética, eficácia, imparcialidade e transparência, e em benefício de toda a comunidade.

O direito a uma boa administração, por sua vez, enseja o dever de boa administração, dever esse imposto pela ordem jurídica e exigível do agente público pelos titulares da cidadania, os quais podem reclamar da Administração Pública e de seus agentes uma atuação com ética, justiça, equidade, honestidade, integridade, boa-fé; uma prestação de serviços e de informações com qualidade e competência, ou seja, de forma organizada, desburocratizada, clara, simples e rápida; e, que sejam cooperantes com os particulares, de modo a fomentarem as suas participações na realização da atividade administrativa, tendo em vista a satisfação do interesse da comunidade e a afirmação dos valores e direitos fundamentais.

Como bem explicita Armando Giuffrida, “la buona amministrazione, infatti, non constituisce solo un principio di valore programmatico e, come tale, rivolto in primis al legislatore e, in sede attuativa, agli apparati amministrativi, ma rappresenta un quid pluris, ossia un ‘diritto’ esterno alle organizzazioni burocratiche, riconosciuto direttamente in capo ai cittadini e nei riguardi dei quali fa da contraltare uno specifico ‘dovere’ delle Amministrazioni interessate”80.

Confiar na Administração Pública é prática cidadã diretamente proporcional ao modo como, quotidianamente, atuam os agentes públicos. Por isso, o agente público deve pautar sua conduta de forma a traduzir fielmente os preceitos administrativos, demonstrando integridade de carácter, gerindo os bens e interesses públicos com transparência, presteza, decoro, lealdade e boa-fé, a fim de assegurar o bom funcionamento da máquina administrativa.

De facto, o que os cidadãos esperam é que os agentes públicos zelem pela coisa pública; que utilizem os recursos em prol da comunidade; que não dilapidem os bens que a todos pertencem; que ajam desprovidos de interesses escusos; que sejam éticos, honestos, justos, leais, íntegros; que realizem condutas com a observância dos motivos e das finalidades públicas; que atuem no sentido de proporcionarem à população uma boa administração, de

80 GIUFFRIDA, Armando, Il “diritto” ad una buona amministrazione pubblica e profili sulla sua giustiziabilità,

modo a tornarem a convivência entre a Administração Pública e os administrados harmoniosa e satisfatória; enfim, que sejam funcionários do público e não meros funcionários públicos.

Como assevera Jaime Rodríguez-Arana, “la participación de los ciudadanos en el espacio público está, poco a poco, abriendo nuevos horizontes que permiten, desde la terminación convencional de los procedimientos administrativos, pasando por la presencia ciudadana en la definición de las políticas públicas, llegar a una nueva forma de entender los poderes públicos, que ahora ya no son estrictamente comprensibles desde la unilateralidad, sino desde una pluralidad que permite la incardinación de la realidad social en el ejercicio de las potestades públicas”81.

Diante disso, cada vez mais, assume relevância a necessidade de o cidadão exigir o cumprimento do dever de boa administração pelo Poder Público em prol do interesse coletivo, como forma de cidadania participativa e de controlo social, buscando, através do direito à boa administração pública, que é o direito fundamental que garante a segurança jurídica nas relações da Administração com seus administrados, uma melhor atuação administrativa.

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