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O docente investigador e reflexivo

No documento - Não. Como é ele? – perguntou a Pata. (páginas 30-33)

3.2. F ORMAÇÃO E DIMENSÃO PROFISSIONAL

3.2.2. O docente investigador e reflexivo

Devendo o relatório deixar transparecer o que foram as práticas da mestranda no decurso da prática educativa, importa, no presente subcapítulo, refletir sobre três importantes significados: o professor, a investigação e a reflexão, indo mais além destes três significados, importa refletir sobre a relação entre os mesmos. Ou seja, o que é um profissional da educação e o que é um professor reflexivo e investigador.

Num primeiro momento, a mestranda crê ser relevante analisar o professor à luz de Schön (1988, citado por Leitão, 2006) que define o profissional de educação como sendo alguém que, face a um problema, o reformula e o vê sob outro ponto de vista, isto é, que desenvolve a competência (meta) reflexiva assente na e sobre a sua própria ação. Tendo como verdade assente que o professor é um profissional em constante formação e numa dinâmica construção de processos e práticas, este deve ser um profissional reflexivo. Isto é, “fecundar as práticas nas teorias e nos valores, antes, durante e depois da ação; (…) interrogar para re-significar o já feito em nome do projeto e da reflexão que constantemente o reinstitui” (Formosinho, 2008, citado por Castro, 2010, p. 7). Oliveira e Serrazina (2002) vão ao encontro desta visão e defendem, também, que o professor deve ter uma atitude reflexiva de modo a melhorar as suas práticas.

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É nesta perspetiva e sob a lógica de que um professor com uma capacidade de reflexão bem consistente e desenvolvida é capaz também de formar, mais do que estudantes, cidadão reflexivos, que o ciclo de formação frequentado pela mestranda apresenta a preocupação e o objetivo, entre outros, de preparar os futuros profissionais para desenvolver capacidades de investigar e refletir sobre a ação, para a ação e na ação, pois, tal como defende Arends (1995), a partir do momento em que os professores começarem a

«conceptualizar e a formular» as suas regras e princípios, vão ser capazes de construir as suas próprias teorias que orientam a prática docente como rampa de lançamento para novas descobertas.

Foi com base nestes pressupostos que a mestranda, ao longo da iniciação à prática educativa, convocou as bases teóricas desenvolvidas no primeiro ano do ciclo de formação e procurou aplicá-los. Tendo em vista que o professor reflexivo é quem torna possível a mudança, aquele que baseia a sua ação na investigação-ação pensa, reflete e coloca em causa o modo como agiu e como deverá agir no futuro. Este profissional tem como fulcro a problematização e indagação. É deste modo que produz. Tal como refere Moreira (2001, citado por Sanches, 2005, in Castro, 2010, p. 6):

A dinâmica cíclica de ação-reflexão, própria da investigação-ação, faz com que os resultados da reflexão sejam transformados em praxis e esta, por sua vez, dê origem a novos objetos de reflexão que integram, não apenas a informação recolhida, mas também o sistema apreciativo do professor em formação. É neste vaivém contínuo entre ação e reflexão que reside o potencial da investigação-ação enquanto estratégia de forminvestigação-ação reflexiva, pois o professor regula continuamente a sua ação, recolhendo e analisando informação que vai usar no processo de tomada de decisões e de intervenção pedagógica.

Assim, a prática da mestranda teve uma base investigativa e reflexiva. A capacidade de autocrítica não se revelou inata pelo que começou por ser um exercício diário, tendo como apoio o par pedagógico, o professor cooperante e, ainda, o supervisor institucional. Contudo, veio a tornar-se uma capacidade

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mais desenvolvida, ainda que deva continuar a sê-lo, que permitiu à mestranda avaliar continuamente as práticas, opções e consequências inerentes. Sendo o professor reflexivo aquele que reflete “sobre a sua experiência, as suas crenças, imagens e valores” (Oliveira & Serrazina, 2002, p.

9), é este professor que consegue aproximar mais o seu trabalho às necessidades dos estudantes, não ficando preso a crenças pré concebidas e a

“receitas” teóricas.

Devem, ainda, distinguir-se três tipos de reflexão: a “reflexão na ação, a reflexão sobre a ação e a reflexão sobre a reflexão na ação” (Schön 1987, citado por Oliveira & Serrazina, 2002, p.31).

A reflexão na ação ocorre, e ocorreu, de forma mais imediata. Requer uma reflexão que permita uma resposta no momento. Para a mestranda representa a maior dificuldade, uma vez que convoca capacidade de resposta rápida aos desafios, capacidade essa que beneficia da experiência e dos conhecimentos adquiridos ao longo da prática. Esta reflexão traduz-se em mudanças, no momento, de tarefas planeadas; adaptação das questões e das propostas apresentadas tendo em conta as dificuldades apresentadas pelos estudantes;

necessidade de modificar as estratégias pensadas e planeadas. Esta capacidade de reflexão é, apesar de continuar a ser a mais difícil de concretizar, aquela na qual a mestranda sente que realizou os maiores progressos.

A reflexão sobre a ação torna-se possível logo após o final das aulas.

Ocorreu, sempre, em conjunto com o par pedagógico e revelou-se o momento no qual o balanço dos aspetos positivos e aspetos negativos foi realizado. Neste momento, a reflexão realizada com o professor cooperante é de uma importância inquestionável. A mestranda procurou sempre acolher as opiniões e refletir também sobre elas. Os momentos de supervisão institucional representaram o auge desta prática, tendo tornado possível a reflexão com base nas propostas apresentadas.

Por fim, reflexão sobre a reflexão na ação possui um nível de nitidez maior e revela-se a principal ajuda para o profissional se readaptar, reajustar as suas práticas e atribuir significado real ao que aconteceu.

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A mestranda encara como um ”ensaio” estes momentos de reflexão uma vez que aconteceram sempre com o auxílio de terceiros. Contudo, o grande desafio será o futuro e encontra-se na capacidade de o fazer individualmente, sem um olhar que indique quais os erros cometidos.

No documento - Não. Como é ele? – perguntou a Pata. (páginas 30-33)

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