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5. Religião e TV, ou cadê a mídia laica?

6.2. SBT – A emissora mais feliz do Brasil

6.2.3. O Domingo na emissora mais feliz do Brasil

A grade de programação de domingo do SBT considerada para fins desta pesquisa será a grade do domingo, 4 de outubro de 1981, porque já comporta a data em que o SBT passou a exibir uma programação de rede, quase dois meses depois de ter se transformado em rede. E também a de 8 de março de 1992 para que o leitor possa comparar com a Rede Globo e com a Record. As duas grades exibidas aqui foram publicadas no Jornal do Brasil. Não são utilizadas as grades da comunidade Memória da TV porque a comunidade praticamente não dispõe de grades do SBT.

SBT – domingo, 4 de outubro de 198169 SBT – Domingo, 8 de março de 199270 07:30 Escala – Programa Educativo

08:30 Programa Pare e Pense 09:00 Speed Racer – Desenho 09:30 Superman – Desenho 10:00 Piu-Piu – Desenho

10:30 Gaguinho e seus Amigos – Desenho 11:00 Popeye – Desenho

11:30 Programa Silvio Santos - Variedades 20:00 Chips – Filme com Larry Wilcox, Erick Estrada e Robert Pine

21:00 Cinema Nacional – Filme: Gringo, o Último Matador

23:00 Barnaby Jones – Filme com Mark Sherer 00:00 Câmera Onze – Jornalístico

07:00 Educação em Revista – Educativo

07:30 Show de Notícias – Noticiário apresentado por Ivo Morgani

08:00 Caminhoneiro Shell 08:30 Ursinho Puff

09:00 Tom e Jerry - Desenho 09;30 Cavalo de Fogo – Seriado 10:00 Pernalonga

10:30 Droop - Seriado 11:00 Pica Pau

11:30 Os Filhos de Tom e Jerry – Desenho 12:00 Programa Silvio Santos

22:00 Sessão das Dez – Filme: McQuade, o Lobo Solitário

00:00 Reprise da Sessão das Dez

Na grade de domingo em 1981 havia uma programação educativa logo cedo, seguida por um programa. As próximas duas horas e meia tinham como foco o público infantil com desenhos animados. Das 11h30 em diante até às 20h o domingo era do dono da TV: Programa Silvio Santos. Com o formato semelhante ao que fazia desde os anos de 1960 na Globo, este também sempre foi um programa de auditório composto por inúmeros quadros cujo conteúdo variava entre jogos, concursos e prêmios. Um conteúdo de certa maneira atraente para o público.

Silvio Santos concretiza mais uma vez - e agora em sua rede de TV - o produto único de longa duração no domingo, fazendo com que a audiência preste atenção a um fluxo contínuo de programa com várias mudanças de atenção dentro do mesmo produto. No entanto, o estímulo continuava o mesmo por horas consecutivas, uma frequência permanente que opera dentro de conceitos de produção de emoções. Divertimento; fantasia, conto de fadas, atendendo ao público da família brasileira com produções para o público infantil, jovem e adulto provocando suspense; emoção; vitória, principalmente a vitória do telespectador

69 Fonte: acervo eletrônico do Jornal do Brasil

http://news.google.com/newspapers?nid=0qX8s2k1IRwC&dat=19811004&printsec=frontpage&hl=en

último acesso em 20 de abril de 2013.

7070 Fonte: acervo eletrônico do Jornal do Brasil

http://news.google.com/newspapers?nid=0qX8s2k1IRwC&dat=19920308&printsec=frontpage&hl=en

fazendo o país inteiro sentir a emoção de quem sobe ao palco e se sente vitorioso e também que qualquer cidadão seria capaz de ocupar aquele lugar. Importante perceber qual narrativa nos traz a grade de programação de domingo do SBT: ela trata principalmente do sonho com a fama e o estrelato, a projeção de um mundo ideal é transmitida há décadas e de maneira permanente pela rede. “A TV Mais Feliz do Brasil” - como é conhecido o SBT - se orgulha desse slogan e busca no entretenimento e no lúdico dos jogos e da diversão atrair o público que se mantém fiel há praticamente trinta anos. Um poderoso senso de identificação que contribui para o estabelecimento do pacto afetivo com o público.

Hoje é possível perceber a semelhança entre o produto Programa Silvio Santos e a programação criada posteriormente em outras emissoras como a Record que também estabeleceu uma grade de produtos longos no dia de domingo. Murilo Fraga explica porque o produto longo no domingo é uma estratégia tradicional do SBT e como funciona.

“A gente sempre vai insistir em fazer uma programação assim aos domingos. Sempre! Porque a gente acha que é a melhor maneira de prender o público tendo programas longos com variedade. Às vezes o público não aceita determinados conteúdos mas aceita outros. E você vai corrigindo. (...) É que os curtos dão a possibilidade de zapping muito rapidamente. Então, por exemplo, quando você fala... Porque a televisão além de vender à audiência, ao mercado... além de reconhecer a audiência dos programas específicos, ele reconhece o prime time. Ele reconhece faixas horárias. Então, faixa da manhã, faixa da tarde e, principalmente, onde está o filé, é a faixa das 18h à meia noite. (...)

Mas no domingo também! Quando você tem programas longos, você mantém uma audiência durante mais tempo, né. (...) Então ao invés de você ficar oferecendo produtos de uma hora que a cada hora a audiência fique indo e voltando, é melhor que você fique com programas grandes para que a audiência mantenha e você faça um bom prime time.”

E também comenta porque a Globo trabalha com a construção de um outro fluxo programático estabelecendo produtos de duração mais curta e uma grade com um maior número de produtos. E ele reconhece que uma programação construída a partir de um número maior de produtos pode ter boas repercussões comerciais uma vez que a emissora tenha fidelizado o espectador.

“É uma prática de verdade. A Globo tem tradição de a cada hora, cada hora e pouco, trocar programas. (...) É que a Globo tem

permanência, né. As pessoas ficam lá. (...) Pra quem tem permanência, é saudável. (...) É porque ela cria o hábito. E é difícil você tirar isso dela. Isso só vai acontecer à medida em que ela erre... Ela erra pouco. (...) mas às vezes ela erra também. Tem determinados produtos que as vezes dão boa audiência, as vezes não. Mas ai o que acontece? Você tendo permanência você pode oferecer ao invés de um produto que dure 4 horas, pode oferecer 4 produtos. Que comercialmente é interessante. Porque você vai num anunciante, você vai numa agência, você tem uma cesta de produtos enorme. (...) Então, por exemplo uma Coca-Cola. Ela quer inserir, lançar sua campanha num programa jovem. O que que o SBT tem de jovem? Nós não temos nada. E a Globo? Por ter essa quantidade enorme de programas, porque a permanência permite, ela fala ‘eu tenho 5’.”