2.8 O dual de um semigrupo
Seja S um operador linear com dom´ınio, D(S), em X. Lembre-se que o adjunto S∗ de S ´e um operador linear de D(S∗) ⊂ X∗ → X∗ definido da seguinte maneira
D(S∗) = {x∗ ∈ X∗; ∃ y∗ ∈ X∗; hx∗, Sxi = hy∗, xi, para todo x ∈ D(S)}. (2.119) Se x∗ ∈ D(S∗), ent˜ao y∗ = S∗x∗ onde y∗ ´e o elemento de X∗ que satisfaz (2.119). Lema 2.47. Seja S um operador limitado em X. Ent˜ao S∗ ´e um operador limitado em X∗ e kSkL(X) = kS∗kL(X∗).
Prova: Para todo x∗ ∈ X∗, hx∗, Sxi ´e um funcional linear limitado em X, pelo teorema da representa¸c˜ao de Riesz 13, existe um ´unico elemento y∗ ∈ X∗, para o qual
13
hy∗, xi = hx∗, Sxi e ent˜ao D(S∗) = X∗. Al´em disso, kS∗kL(X∗) = sup kx∗kX∗≤1 kSx∗kX∗ = sup kx∗k≤1 sup kxk≤1 |hS∗x∗, xi| = sup kxk≤1 sup kx∗k≤1 |hx∗, Sxi| = sup kxk≤1 kSxkX = kSkL(X). Lema 2.49. Seja A um operador densamente definido em X. Se λ ∈ ρ(A), ent˜ao λ ∈ ρ(A∗) e
ρ(λ : A∗) = ρ(λ : A)∗.
Prova: Pela defini¸c˜ao de adjunto, temos (λI − A)∗ = λI∗− A∗, onde I∗ ´e o operador identidade em X∗. Desde que R(λ : A) ´e um operador linear limitado em X, pelo Lema 2.47, R(λ : A)∗ ´e um operador linear e limitado em X∗. Note que λI∗− A∗ ´e injetiva. De fato, suponha x∗ 6= 0 e (λI∗− A∗)x∗ = 0, ent˜ao
0 = h(λI∗− A∗)x∗, xi = h(λI − A)∗x∗, xi = hx∗, (λI − A)xi, para todo x ∈ D(A). Mas λ ∈ ρ(A), R(λI − A) = X e portanto x∗ = 0. O que ´e absurdo, logo λI∗− A∗ ´e injetiva. Agora, se x ∈ X, x∗ ∈ D(A), ent˜ao
hx∗, xi = hx∗, (λI − A)R(λ : A)xi = h(λI − A)∗x∗, R(λ : A)xi, al´em disso,
R(λ : A)∗(λI∗− A∗)x∗ = x∗, para todo x ∈ D(A∗). (2.120)
fun¸c˜ao u ∈ Lp0 tal que
hϕ, f i = Z
uf, para todo f ∈ Lp. Al´em disso,
kukLp0 = kϕk(Lp)∗. Prova: Ver [4], p. 97, Teorema 4.11.
Por outro lado, se x∗ ∈ X∗ e x ∈ D(A), ent˜ao
hx∗, xi = hx∗, R(λ : A)(λI − A)xi = hR(λ : A)∗x∗, (λI − A)xi, o que implica
(λI∗− A∗)R(λ : A)∗x∗ = x∗, para todo x ∈ X∗. (2.121) Usando (2.120) e (2.121) segue que λ ∈ ρ(A∗) e que R(λ : A∗) = R(λ : A)∗.
Seja {T (t)}t≥0 um C0−semigrupo em X. Para t > 0 seja T (t)∗ o operador adjunto de T (t). Da Defini¸c˜ao de operador adjunto fica claro que a fam´ılia {T (t)∗}t≥0, de operadores lineares e limitados em X∗, satisfaz as propriedades de semigrupo. Por isso, essa fam´ılia ´e chamada de semigrupo adjunto de T (t). O semigrupo adjunto contudo, n˜ao necessariamente ´e um C0−semigrupo em X∗ j´a que a aplica¸c˜ao T (t) 7→ T (t)∗ n˜ao necessariamente conserva a continuidade forte de T (t).
Antes de enunciar e provar o resultado principal desta se¸c˜ao que estabelece a rela¸c˜ao entre os semigrupos {T (t)}t≥0 e {T∗(t)}t≥0 e seus geradores infinitesimais n´os precisa-mos de mais uma defini¸c˜ao.
Defini¸c˜ao 2.14. Sejam S um operador linear em X e Y um subespa¸co de X. O opera-dor ˜S onde D( ˜S) = {x ∈ D(S) ∩ Y ; Sx ∈ Y } definido por ˜Sx = Sx, para todo x ∈ D( ˜S), ´e chamado de parte de S em Y.
Teorema 2.50. Seja {T (t)}t≥0 um C0−semigrupo em X com o gerador infinitesimal A e seja {T∗(t)}t≥0 o seu semigrupo adjunto. Se A∗ ´e o adjunto de A e Y∗ ´e o fecho de D(A∗) em X∗ ent˜ao a restri¸c˜ao T (t)+ de T (t)∗ a Y∗ ´e um C0−semigrupo em Y∗. O gerador infinitesimal A+ de T (t)+ ´e a parte de A∗ em Y∗.
Prova: Uma vez que A ´e o gerador infinitesimal de {T (t)}t≥0, pelo Teorema 2.30 existem constates ω e M tais que para todo real λ, λ > ω, λ ∈ ρ(A) e
kR(λ : A)nkL(X) ≤ M
(λ − ω)n n = 1, 2, . . . . (2.122) Usando os Lemas 2.47 e 2.49 segue que se λ > ω, λ ∈ ρ(A∗) ent˜ao
k(R(λ : A)∗)nkL(X) = kR(λ : A∗)nkL(X)= kR(λ : A)nkL(X) ≤ M
(λ − ω)n n = 1, 2, . . . . (2.123)
Seja J (λ) restri¸c˜ao de R(λ : A∗) em Y∗. Temos kJ(λ)nkL(X) ≤ M
(λ − ω)n (2.124) e pela identidade do resolvente
J (λ) − J (µ) = (µ − λ)J (λ)J (µ), para todos λ, µ > ω, (2.125) e ainda pelo Lema 2.15
lim
λ→∞λJ (λ)x∗ = x∗, para todo x∗ ∈ Y∗. (2.126) Usando (2.125), (2.126) e o Corol´ario14segue que J (λ) ´e um resolvente de um operador linear fechado A+, densamente definido em Y∗. Desse fato e de (2.124), o Teorema 2.30 afirma que A+´e o gerador infinitesimal de um C0−semigrupo T (t)+em Y∗. Para x ∈ X e x∗ ∈ Y∗ temos por defini¸c˜ao
* x∗, I − t nA −n x + = * I − t nA+ −n x∗, x + , n = 1, 2, . . . . (2.128)
Fazendo n → ∞ em (2.128) e usando o Teorema 15, temos
hx∗, T (t)xi = hT (t)+x∗, xi (2.129) e para x∗ ∈ Y∗, T (t)∗x∗ = T (t)+x∗ e T (t)+´e a restri¸c˜ao de T (t)∗ em Y∗. Para concluir a prova, vamos mostrar que A+ ´e a parte de A∗ em Y∗. Seja x∗ ∈ D(A∗) tal que
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Corol´ario 2.51. Sejam ∆ um subconjunto ilimitado de C e J(λ) um pseudo resolvente em ∆. Se existe uma sequˆencia {λn} ∈ ∆ tal que |λn| → ∞ quando n → ∞ e
lim
n→∞λnJ (λn)x = x, para todo x ∈ X, (2.127) ent˜ao J (λ) ´e o resolvente de um ´unico operador linear fechado A, densamente definido.
Prova:Ver [12]. p.37 Corol´ario 9.5
15
Teorema 2.52. Seja {T (t)}t≥0um C0−semigrupo em X. Se A ´e o gerador infinitesimal de {T (t)}t≥0, ent˜ao T (t)x = lim h→0+ I − t nA −n x = lim h→0+ hn tR n t : A in x, para todo x ∈ X e o limite ´e uniforme em t em qualquer intervalo limitado.
x∗ ∈ Y∗ e A∗x∗ ∈ Y∗. Segue que (λI∗− A∗)x∗ ∈ Y∗ e
J (λ)(λI∗− A∗)x∗ = (λI∗ − A+)−1(λI∗ − A∗)x∗ = x∗ (2.130) Assim, x∗ ∈ D(A+) e aplicando (λI − A+) em (2.130), temos (λI∗− A∗)x∗ = (λI − A∗)x∗, logo, A+x∗ = A∗x∗. Portanto A+ ´e a parte de A∗ em Y∗.
No caso especial onde X ´e um espa¸co de Banach reflexivo, temos o seguinte lema. Lema 2.53. Seja S um operador fechado densamente definido em X, onde X ´e um espa¸co de Banach reflexivo. Ent˜ao D(S∗) ´e denso em X∗.
Prova: Se D(S∗) n˜ao ´e denso em X, ent˜ao existe um elemento x0 ∈ X tal que x0 6= 0 e hx∗, x0i = 0 para todo x∗ ∈ D(S∗). Desde que S ´e fechado e seu gr´afico X × X ´e fechado e n˜ao cont´em (0, x0). Como consequˆencia do teorema de Hahn-Banach 16, existem x∗1, x∗2 ∈ X∗ tais que
hx∗1, xi − hx∗2, Sxi = 0, para todo x ∈ D(S) e
hx∗
1, 0i − hx∗2, x0i 6= 0. A segunda equa¸c˜ao mostra que x∗2 6= 0 e que hx∗
2, x0i 6= 0, mas da primeira equa¸c˜ao seque que x∗2 ∈ D(S∗), o que implica hx∗2, x0i = 0, o que ´e uma contradi¸c˜ao. Assim, D(S∗) = X∗.
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Teorema 2.54 (Hanh-Banach). Seja p : X → R uma fun¸c˜ao satisfazendo p(λx) = λp(x), para todo x ∈ X e para todo λ > 0 p(x + y) = p(x) + p(y), para todos x, y ∈ X.
Seja Y ⊂ X um subespa¸co linear e seja g : Y → R um funcional linear tal que g(x) ≤ p(x), para todo x ∈ Y.
Sobre essas hip´oteses, existe um funcional linear f : X → R que estende g, isto ´e, g(x) = f (x) para todo x ∈ Y, e que
f (x) ≤ p(x), para todo x ∈ Y. Prova: Ver [4]. p.1 Teorema 1.1
Corol´ario 2.55. Seja X um espa¸co de Banach reflexivo e seja {T (t)}t≥0 um C0 −semi-grupo em X com o gerador infinitesimal A. O semi−semi-grupo adjunto {T (t)∗}t≥0 de T (t) ´e um C0−semigrupo em X∗ que tem como gerador infinitesimal o adjunto A∗ de A. Prova: ´E uma consequˆencia imediata do Teorema 2.50 e do Lema 2.53.
Defini¸c˜ao 2.15. Seja H um espa¸co de Hilbert com produto escalar (, ). Um operador A em H ´e dito sim´etrico se D(A) = H e A ⊂ A∗, isto ´e, (Ax, y) = (x, Ay) para todo x, y ∈ D(A). A ´e dito auto-adjunto se A = A∗. Um operador limitado U em H ´e unit´ario se U∗ = U−1.
Antes de enunciar e provar o teorema de Stones, apresentaremos dois fatos sem apresentar suas respectivas demonstra¸c˜oes.
(1) Todo operador adjunto ´e fechado;
(2) O operador U (t) ´e unit´ario se, e somente se R(U (t)) = H e U (t) ´e uma isometria. Teorema 2.56 (Stone). O operador A ´e um gerador infinitesimal de um C0−grupo de operadores unit´arios em um espa¸co de Hilbert se, e somente se iA ´e auto-adjunto. Prova: Se A ´e um gerador infinitesimal de um C0−semigrupo de operadores unit´arios {U (t)}t≥0, ent˜ao A ´e densamente definido, pelo Corol´ario 2.9, e para x ∈ D(A)
− Ax = lim t→0+t−1(U (−t)x − x) = lim t→0+t−1(U (t)−1x − x) = lim t→0+t−1(U (t)∗x − x) = A∗x, (2.131)
o que implica que A = −A∗ e portanto iA = −iA∗ = (iA)∗, ou seja, iA ´e auto-adjunto. A segunda igualdade ´e v´alida porque U (−t) e U (t)−1 tem o mesmo gerador infinitesimal e a terceira igualdade ´e pela Defini¸c˜ao 2.15. Reciprocamente, se iA ´e auto-adjunto, ent˜ao A ´e densamente definido e A = −A∗. Assim, para todo x ∈ D(A), temos
(Ax, x) = (x, A∗x) = −(x, Ax) = −(Ax, x).
Logo, Re(Ax, x) = 0 para todo x ∈ D(A), isto ´e, A ´e dissipativo. Uma vez que A = −A∗, ent˜ao Re(A∗x, x) = 0, para todo x ∈ D(A∗) = D(A), da´ı A∗ ´e dissipativo. Sabemos que A e A∗ s˜ao operadores fechados e desde que A∗∗ = A, segue que A e A∗ = −A s˜ao geradores infinitesimais de C0−semigrupos de contra¸c˜ao em H (veja
Corol´ario 2.25). Se U+(t) e U−(t) s˜ao semigrupos gerados por A e A∗ respectivamente, definimos U (t) = U+(t) se t ≥ 0 U−(−t) se t < 0.
Pelo que vimos na se¸c˜ao 2.6, U (t) ´e um grupo de operadores lineares e limitados e desde que
(i) U (t)−1 = U (−t); (ii) kU (t)kL(X) ≤ 1; (iii) kU (−t)kL(X) ≤ 1.
segue que R(U (t)) = X e U (t) ´e uma isometria para todo t ≥ 0. Portanto U (t) ´e um grupo de operadores unit´arios em H.