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2.2 FINANÇAS COMPORTAMENTAIS, A TEORIA DO PROSPECTO E

2.2.4 O Efeito Overconfidence

Para Russo e Schoemaker (1992), uma boa decisão requer muito mais do que o conhecimento dos fatos, dos conceitos e de suas relações, ela requer que se entendam os limites de seu próprio conhecimento, evitando um excesso de confiança nas próprias crenças e julgamentos.

O Efeito Overconfidence é um viés cognitivo em que isso, de fato, não ocorre, uma vez que indivíduos que apresentam tal anomalia de comportamento se reconhecem como tendo melhores características que a média geral da população, em outras palavras, os indivíduos se sobre qualificam, acreditando serem melhores do que realmente são (ALICKE et al., 1995; De BONDT; THALER, 1995).

Pompian (2006, p.51) ressalta que, “o excesso de confiança em sua forma mais básica, pode ser resumido como uma fé injustificada nas próprias habilidades de raciocínio intuitivo, juízo, e habilidades cognitivas”. O que ocorre, segundo o autor, é que estes indivíduos acreditam que são mais capazes do que os demais e que possuem melhores informações, com isso superestimam suas próprias capacidades de avaliação e previsão.

Para Grieco e Hogarth (2009, p.756), “Overconfidence é um tópico central na pesquisa da tomada de decisão e julgamento bem como para a economia comportamental”, ao que corrobora Benoit e Dubra (2007), que consideram que o Efeito Overconfidence possui um papel central, sendo, possivelmente, um dos mais robustos achados no que concerne à psicologia do julgamento e à tomada de decisão.

Como sintetizam West e Stanovich (1997) e Barber e Odean (2001), o excesso de confiança tem sido alvo de pesquisas empíricas há bastante tempo e presente em uma infinidade de campos do conhecimento e situações, conforme mostra o Quadro 4:

QUADRO 4 – Overconfidence: áreas de pesquisa e trabalhos relacionados

Julgamentos perceptivos Baranski e Petrusic (1995) Previsão de resultados

esportivos Ronis e Yates (1987)

Leitura, compreensão e

monitoramento Glenberg e Epstein (1987)

Julgamento do sexo através

da escrita Schneider (1995)

Previsão de seu próprio

comportamento Hoch (1985)

Previsões econômicas Braun e Yaniv (1992)

Avaliação do conhecimento

Fischhoff , Slovic e Lichtenstein (1977); Koriat, Lichtenstein e Fischhoff (1980);

Alpert e Raiffa (1982); Lichtenstein, Fischhoff e Phillips (1982). Variabilidade cultural Yates et al. (1989); Lee et al. (1995)

Adolescentes e adultos Newman (1984)

Dificuldade, tipo e especialização da tarefa

Fischhoff , Slovic e Lichtenstein (1977); Lichtenstein, Fischhoff e Phillips (1982); Ronis e Yates (1987); Yates (1990); Keren

(1991); Griffin e Tversky (1992); Schneider (1995).

Fonte: Elaboração própria a partir de West e Stanovich (1997) e Barber e Odean (2001).

West e Stanovich (1997) apresentam, ainda, o resultado de seu estudo em que cento e vinte e três estudantes universitários realizaram uma tarefa de avaliação de conhecimentos e um jogo de habilidade motora. Em ambos os casos houve um viés na direção da presença do excesso de confiança. Desta forma, os autores demonstraram que, apesar de tarefas distintas, uma envolvendo aspectos cognitivos e outras envolvendo aspectos motores, os indivíduos, em geral, apresentaram um excesso de confiança.

Grieco e Hogarth (2009) apontam que as recentes pesquisas têm colaborado de maneira contundente para o desenvolvimento da teoria em questão. Os autores chamam a atenção para um estudo em particular, Moore e Healy (2008), que distinguem três maneiras pelas quais o Overconfidence é utilizado (Quadro 5):

QUADRO 5 – O Efeito Overconfidence e suas manifestações

Denominação Situação Exemplo

Overestimation Excesso de confiança em estimar suas próprias habilidades. Um indivíduo pode superestimar sua

habilidade de correr uma maratona. Better-than- average Supervalorização de suas habilidades em comparação a outros.

Um indivíduo pode crer que consiga correr uma maratona mais rápido do que, por exemplo, 80 % dos demais participantes.

Overprecision Excesso de confiança na previsão de um futuro incerto. Um indivíduo pode superestimar sua habilidade de fazer previsões, por exemplo, de um intervalo de confiança que capture as vendas do próximo mês. Fonte: Elaborado a partir de Moore and Healy (2008, pp. 1-2). Benoit e Dubra (2007) ressaltam, ainda, que apesar dos estudos sobre o excesso de confiança serem originários da literatura psicológica, o fenômeno migrou para a literatura de economia e finanças, passando, nestas duas áreas, a ganhar cada vez mais atenção, evidenciando como

os indivíduos possuem comportamentos distintos daqueles preditos pelas teorias padrão em ambos os campos.

Clark e Friesen (2009) chamam a atenção para os efeitos do excesso de confiança no mercado financeiro. Citando estudos anteriores, como Roll (1986), Daniel et al. (1998), Manove e Padilla (1999), Barber e Odean (2001) e Malmendier e Tate (2005), os autores argumentam que o excesso de confiança no mercado financeiro pode conduzir a transações excessivas e baixos retornos, distorções em decisões corporativas de investimentos, redução nos valores de fusões, anomalias no mercado de valores mobiliários e até mesmo uma ineficiência global do mercado.

Barber e Odean (2001) admitem também que o Efeito Overconfidence pode estar relacionado ao gênero. Em um estudo com 35.000 indivíduos, constatou-se que, em se tratando de áreas como finanças, os homens apresentam-se com maior excesso de confiança do que as mulheres, e este resultado implica um número de transações cerca de 45% por parte destes, mas com um retorno líquido menor do que os apresentados pelas mulheres.

Em estudo relacionando o Efeito Overconfidence aos investidores do mercado financeiro, Chuang e Lee (2005) caracterizam o viés a partir de quatro hipóteses testáveis, conforme apresenta a FIG. 8:

FIGURA 8 – Efeito Overconfidence: quatro características testáveis no mercado financeiro

Fonte: Elaborado a partir de Chuang e Lee (2005)

Ef

eit

o

Ov

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co

n

fi

d

en

ce

1 - Se os investidores são superconfiantes, eles reagem de

forma exagerada à informações privadas e sub-reagem à

informações públicas.

2 - Ganhos no mercado fazem com que investidores

superconfiantes transacionem de maneiramais agressiva

nos períodos subsequentes.

3 - A excessiva transação dos investidores superconfiantes

colabora com a excessiva volatilidade observada no

mercado.

4 - Investidores superconfiantes subestimam os riscos e

transacionam ativos com maior risco inerentes.

Pompian (2006, p.54-60) também sintetiza algumas consequências desse viés como mostra o Quadro 6:

QUADRO 6 – Efeito Overconfidence: características

Efeitos Configuração Crença infundada na própria capacidade de identificar as empresas como potenciais investimentos

Investidores com excesso de confiança podem superestimar sua capacidade de avaliar uma empresa como um investimento potencial. Como resultado, eles podem tornar-se cegos para quaisquer informações negativas que normalmente indicariam que o ativo analisado não deveria ser comprado ou então, em caso de compra, que ele deveria ser vendido.

Transações excessivas

Investidores superconfiantes podem transacionar de maneira excessiva, como resultado de acreditarem possuir um conhecimento especial que os outros não detêm. Este tipo de comportamento de negociação excessiva provou levar a retornos pobres ao longo do tempo.

Subestimar os riscos decrescentes

Muitas vezes por negligência e arrogância os investidores superconfiantes podem subestimar os riscos de deterioração de seus ativos. Como resultado, eles podem sofrer inesperadamente baixo desempenho em seus portfólios.

Portfólio com baixo índice de diversificação

Investidores com excesso de confiança podem reter portfólios com baixo índice de diversificação e com isso assumem uma maior margem de risco. Muitas vezes nem mesmo sabem que o risco assumido é maior do que o risco tolerado.

Fonte: Elaboração própria a partir de Pompian (2006, p.54-60). Em suma, o Efeito Overconfidence se caracteriza como um viés cognitivo presente não apenas nas tomadas de decisão do mercado financeiro, mas como um aspecto distorcido de nossa própria percepção. Sendo graves suas implicações, indo desde a configuração de um portfólio mal-elaborado, passando por uma displicência quanto aos

riscos inerentes ao mercado, resultando em um número de transações mais elevado do que o necessário. Neste aspecto, tal viés não prejudica apenas o investidor individual, mas torna o mercado ineficiente, prejudicando o ajustamento dos preços que se formam com base em percepções de valores individuais e enviesadas.