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4. COOPERTAN : um estudo de caso 74

4.5 O empreendimento 95

A formação da equipe de gestão do empreendimento está estruturada da seguinte forma: presidente, diretor operacional, diretor administrativo/financeiro, três fiscais diretores e três fiscais suplentes. A secretaria do empreendimento não está prevista como parte da diretoria.

Devido a não regulamentação e registro das atas na Junta Comercial no ano de 2008 incluindo os novos cooperados, eles não podem se candidatar a nenhum cargo de diretoria, conforme previsto no estatuto, isso gera maior indisposição por parte do grupo com a diretoria. Na assembleia realizada dia 22 de agosto de 2009, mesmo com a insatisfação do desempenho da diretoria anterior, onde 34% declararam que melhorias aconteceriam com a mudança da diretoria, elegeu-se as mesmas pessoas, apenas alguns fizeram rodízio de cargos.

A falta de registro na Junta Comercial é um problema que paralisa o desenvolvimento do empreendimento, para financiar o caminhão, que eles precisam para ampliar a coleta seletiva, o Banco do Brasil precisa que a contabilidade esteja correta. O SAMAE, por sua vez, alega que sem o financiamento teria que terceirizar o trabalho realizado pelo grupo. O NUPES8 (ANEXO M) que é o órgão de assessoria para os empreendimentos econômicos populares solidários não está preparado para atender essa demanda. E a cooperativa diz que além de não ter conhecimento técnico para fazer esses documentos o grupo não pode arcar com as despesas de registro, por conta da baixa do preço do material e baixa retirada mensal, que mesmo declarando a média de um salário mês, esse salário é retirado aproximadamente a cada 40 dias.

A questão organizacional de registro de entradas e saídas também é bastante precária. Eles não possuem um livro caixa organizado, pastas com notas de entradas e saídas organizadas, motivando descontentamento e dificuldade de maior clareza no acerto do rateio entre os cooperados.

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Lei n.º 2.752/2007, de 30 de agosto de 2007 cria o Núcleo de Participação Social e Economia Solidária – NUPES no município de Tangará da Serra-MT. Ligado a Secretaria Municipal de Coordenação e Planejamento foi criado a partir da implementação de dois programas de governo: Programa de Gestão Participativa e Programa de Economia Solidária, sendo o primeiro responsável pela organização de processos de inclusão da sociedade civil na administração pública para a confecção do PPA, do Plano Diretor. O NUPES é responsável pelo apoio à participação cidadã dos segmentos sociais e aos empreendimentos solidários com investimentos do Poder Público Municipal.

Contudo, é perceptível o encaminhamento que se tem para a autogestão do desenvolvimento do trabalho, não há solicitação de auxílio para trabalhar os controles junto aos parceiros, a fiscalização e organização das diárias trabalhadas também estão organizadas e há poucas divergências quanto a essa questão. Existe algumas reclamações quanto ao melhor desempenho do trabalho, o que se for tratado com maturidade pelo grupo poderá melhorar a produtividade da coletividade.

Barbosa (2005) apresenta diversas dificuldades presentes em empreendimentos organizados na concepção da ES, todos os elementos apresentados pelo autor estão presentes na Coopertan. Nesse sentido, é justificável a necessidade dos sujeitos políticos atuarem no Estado. As debilidades dos grupos podem ser justificadas pela adoção de metodologia de indução a formação do empreendimento anterior ao processo de educação e capacitação.

Essa realidade é um reflexo do processo de incubação realizado junto ao empreendimento. É preciso que as políticas públicas e as instituições apoiadoras encontrem formas de incubar com maior ênfase ao processo de educação e formação técnica.

O estatuto elaborado na época da constituição da cooperativa apresenta algumas lacunas a serem resolvidas, um exemplo disso são as faltas aos sábados. Criou-se uma regra: quem faltasse no sábado seria descontado o domingo, isso porque muitos estavam faltando nas segundas-feiras, por exemplo, e recebendo o valor da diária integral do sábado. Um debate entre os cooperados fez com que essa regra criada, posterior ao estatuto, voltasse atrás e, neste sentido, agendou-se na última assembleia uma reunião específica para tratarem do estatuto, nesse aspecto, nota-se um crescimento de compreensão da necessidade de organização do trabalho e justiça em relação ao desempenho de todos.

Outro fator preocupante é em relação ao rateio, o grupo trabalha com o sistema de diárias, o valor da diária é a produção mensal dividida pelo número de dias do mês. Assim, a produção individual é o resultado do valor da diária multiplicado pelo número de dias trabalhados. Contudo, a atividade de coletar os materiais nas residências, a qual é realizada por dois cooperados é remunerada diferente, eles ganham um valor fixo a cada 30 dias. Hoje para os cooperados é consenso que esse trabalho é mais pesado, exige maior esforço físico e tem que ser feito com qualidade, já que a cooperativa tem um contrato a cumprir com o SAMAE. A preocupação maior é que essas duas pessoas são cooperadas e com a ampliação da coleta seletiva e aumento do rendimento dos catadores esse será um novo conflito a ser resolvido.

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Outras dificuldades do empreendimento diz respeito a perspectiva do aumento de preço dos materiais, compreensão do que é um grupo de trabalho organizado como cooperativa, seus direitos e responsabilidades.

Percebe-se que no processo de incubação do empreendimento os parceiros se perderam na proposta dos princípios cooperativista, principalmente o que diz respeito à livre adesão. Isso fica claro porque parte dos trabalhadores, principalmente com a divisão do grupo entre aterro e centro de reciclagem, sentem-se saudosos da forma como eram organizados anteriormente. Apesar de hoje os trabalhadores declararem, em sua grande maioria, que gostam de trabalhar na Coopertan (88%), na época de formação do grupo eles tinham uma forma organizativa de grupos semi-autônomos, ou seja, havia pequenos grupos que faziam por conta própria a organização do trabalho entre eles, trabalhavam por afinidades e até mesmo por laços familiar, com essa transição sentiram a “necessidade” de formarem um único grupo, ou corriam o risco de perder o direito a explorar o aterro sanitário. A proposta partiu dos apoiadores ao grupo, não emergiu do grupo.

No mês de agosto de 2009, o grupo estava composto por 22 pessoas, apenas 10 dos fundadores continuam na cooperativa, mais da metade do grupo foi renovado. A explicação exposta pelos cooperados fundadores é de que quando houve a divisão do local de trabalho, a renda ficou menor, em média 40% nos primeiros meses, e isso fez com que praticamente a metade dos cooperados fundadores saíssem do grupo a procura de novas formas de terem renda.

Contudo, parte desses novatos que entraram posteriormente já trabalharam na coleta seletiva no antigo lixão (7) ou faziam parte do grupo e na época da formação da cooperativa eram menores de idade (2) e os demais são novatos no grupo (3), e posterior a crise ter estabilizado e o grupo encontrado uma forma de conduzir o processo de trabalho, parte das pessoas que já trabalharam na coleta seletiva voltaram a integrar-se ao grupo.

Os principais desafios do empreendimento consistem na organização contábil, na harmonia das relações interpessoais e na formação do grupo em relação aos princípios do trabalho cooperado.

Com a recessão econômica mundial a partir de setembro de 2007, o mercado de materiais recicláveis foi bastante afetado e isso propiciou que muitas empresas que compravam e vendiam materiais fechassem. Em junho de 2009, o registro de empresas de reciclagem no município era de quatro empresas. Essas empresas são responsáveis pela geração de renda para diversos catadores autônomos.

Na pesquisa realizada com empresários locais que compram materiais recicláveis, comprovou que todas as empresas realizam o pagamento da compra de material a vista e diariamente, conforme a produtividade dos trabalhadores. Nenhuma empresa oferece benefícios ou mesmo equipamento de segurança para os catadores. Das quatro empresas entrevistadas, três oferecem treinamento para os catadores, mas esses treinamentos foram em relação à formação para conhecimento dos materiais e valores. Não houve formação quanto à segurança do trabalho ou cuidados com a saúde no desempenho das atividades.

Portanto, fica nítido que o município atualmente apresenta duas realidades para o trabalho de catadores de recicláveis: o trabalho individual e o trabalho coletivo na Coopertan.