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3 APRESENTANDO A REVISÃO DE LITERATURA

3.3 O enfermeiro como agente incentivador do parto natural

O profissional enfermeiro tem participado das principais discussões acerca da saúde da mulher com movimentos sociais feministas, em defesa da humanização no pré-natal e no nascimento. Diante disso, o MS tem criado portarias que favorecem a atuação deste profissional na atenção integral à saúde da mulher, privilegiando o período gravídico puerperal, por entender que estas medidas são fundamentais para a humanização da assistência, à medida diminuem as intervenções desnecessárias e os riscos relacionados ao parto (BRASIL, 2003).

Salienta-se que o enfermeiro tem amparo legal para acompanhar o pré- natal de baixo risco na rede básica de saúde, do início ao fim, tanto pelo Ministério da Saúde como pela Lei do Exercício Profissional Nº 7498/86, regulamentada pelo Decreto nº 94.406/87, respaldada ainda pela Resolução Nº 0516/2016 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) (BRASIL, 2013; COFEN, 2016).

Além do enfermeiro, a equipe da atenção básica é formada pelo Agente Comunitário de Saúde (ACS), técnico/auxiliar de enfermagem, médico e cirurgião- dentista, os quais devem fornecer suporte e exercer ações integradas e acolhedoras a essas mulheres durante todo o período gestacional (BRASIL, 2013).

Essa assistência prestada pelos profissionais durante o pré-natal é de suma importância no processo da humanização do parto e nascimento e tem o intuito de acolher a mulher desde o princípio de sua gestação, fornecendo-lhe uma escuta atenta e transmitindo-lhe informações, apoio e confiança, ações estas necessárias para que a gestante possa conduzir com autonomia o seu processo de parturição (MALHEIROS, ALVES, RANGELet al, 2012).

Os profissionais de saúde precisam ainda, ter uma visão holística das gestantes, preocupando-se com seus aspectos biológicos, psicológicos, espirituais, socioeconômicos, educacionais e familiares, além de prepará-las para o momento do parto (COSTA, MEDEIROS, LIMA et al, 2013).

O preparo adequado da gestante é ação fundamental na política de humanização do parto e nascimento que deve ser iniciada precocemente e se desenvolver durante todo o pré-natal, de forma a permitir que a gestante perceba a gravidez e o parto como eventos fisiológicos. Portanto, requerendo além da sensibilização dos profissionais de saúde, o fornecimento de instrumentos para o trabalho com as gestantes. Além dos aspectos técnicos propriamente ditos, a

preparação para o parto envolve também, uma abordagem de acolhimento da mulher e de sua família, de forma a respeitar o significado deste momento, permitindo que a gestante exerça sua autonomia, facilitando a constituição do vínculo com a equipe e garantindo a prática de ações que valorizem a humanização da atenção no parto (BRASIL, 2014; PONTES, LIMA, FEITOSA et al, 2014).

O Ministério da Saúde preconiza que a atenção obstétrica e neonatal prestada pelos serviços de saúde deve ter como características essenciais a qualidade e a humanização, e que o profissional deve ser instrumento para que a gestante adquira autonomia no agir, aumentando a capacidade de enfrentar situações de estresse, de crise e decida sobre sua vida e saúde (BRASIL, 2005).

Corroborando com esta informação, Sodré, Merighi e Bonadio (2012), afirmam que o profissional de saúde tem obrigação ética e legal de oferecer-lhe informações claras e completas sobre o cuidado, tratamentos e alternativas e de dar-lhe a oportunidade de participar das decisões com base nas informações recebidas. Para isso, a gestante deve receber durante o pré-natal, orientações em relação às mudanças corporais e emocionais durante a gravidez, trabalho de parto, parto e puerpério, aos cuidados com o recém-nascido e amamentação, além de informações sobre anatomia e fisiologia maternas, tipos de parto, condutas que facilitam a participação ativa no nascimento, sexualidade e outras.

A equipe de saúde da assistência pré-natal deve adotar sempre uma postura sensível e ética, considerando os desejos e valores da mulher e garantindo o direito da tomada de decisão informada em todas as etapas do processo gestacional (MALHEIROS, ALVES, RANGEL ET AL, 2012). Nesse entendimento, as atribuições do enfermeiro no pré-natal envolvem a realização da consulta de enfermagem com execução de técnicas para acompanhamento do bebê e avaliação das modificações sofridas pela gestante, o encaminhamento de gestantes de alto risco para o médico, a realização de visitas domiciliares se necessário, e o fornecimento de informações por meio de ações educativas para a gestante e sua família (BRASIL, 2006; COSTA, MEDEIROS, LIMA et al, 2013).

A consulta de enfermagem é uma atividade independente, realizada privativamente pelo enfermeiro, e tem como objetivo propiciar condições para a promoção da saúde da gestante e a melhoria na sua qualidade de vida, mediante uma abordagem contextualizada e participativa. Ela dispõe ao profissional um contato mais significativo com as gestantes, possibilitando ao mesmo vivenciar um

relacionamento não só terapêutico, mas também afetivo levando em consideração sentimentos, emoções e valores das usuárias (COFEN, 1986; BRASIL, 2013).

Para Moura, Melo, César (2015), no decorrer da consulta deve prevalecer a escuta aberta e sem julgamentos, o diálogo franco e o estímulo à reflexão, atribuindo princípios humanísticos e holísticos. Devem ser abordadas questões como o direito da mulher, principalmente sobre vida sexual e reprodutiva, seu papel na sociedade, promoção da autoestima, autonomia e participação da mulher/família na atenção à sua saúde, além de outras questões fisiológicas e emocionais inerentes à gestação.

O diálogo entre enfermeiro e gestante deve ser favorecido também pela formação de grupos de apoio, os quais possibilitam que a mulher seja ouvida e respeitada como integrante de um contexto social, no qual ela deve ser a principal protagonista e conhecedora do processo que vivencia (MELO, BRITO, CARVALHO et al, 2011).

Conforme já discutido, a gestante tem o direito de escolher, ainda no pré- natal, o tipo de parto e os procedimentos aos quais quer ser submetida e isso é possível por meio da elaboração do plano de parto, o qual informa e orienta a mulher sobre todas as alternativas disponíveis na assistência ao parto, seja ele com ou sem intercorrências. Sabe-se então, que as decisões da mulher quanto ao tipo de parto são decorrentes de um processo que envolve múltiplos fatores, porém, fica evidente que o enfermeiro exerce grande influência nessas escolhas por meio de ações informativas e educativas, confirmando a importância da sua assistência qualificada durante o pré-natal (SODRÉ, MERIGHI, BONADIO, 2012).

Entre muitas intervenções que podem informar e fortalecer a autonomia da gestante para a escolha do parto normal destaca-se: informação sobre as rotinas e procedimentos a serem desenvolvidos no momento do trabalho de parto e parto; utilização do plano de parto como recurso educativo; promoção de visitas das gestantes e acompanhantes às unidades de referência para o parto, no sentido de desmistificar e minimizar o estresse do processo de internação no momento do parto; informação das etapas de todo o processo do trabalho de parto e parto, esclarecendo sobre as possíveis alterações; informação com antecedência e clareza suficientes sobre o direito ao acompanhante, para que a mulher e a família possam fazer os arranjos necessários à garantia desse direito; dar à gestante e seu acompanhante o direito de participar das decisões sobre o nascimento, fornecendo

informações baseadas em evidências científicas (BRASIL, 2014; DINIZ, SALGADO, ANDREZZO et al, 2015).

Acredita-se que é possível diminuir os índices de cesarianas escolhidas pela mulher, se os profissionais em suas ações educativas estimularem as gestantes a vivenciarem suas experiências de maneira ativa e participativa, prevenindo o medo culturalmente propagado sobre o parto normal. A mulher percebe, então, que é capaz de vivenciar as sensações advindas da parturição natural, reconhecendo o poder das sensações da fisiologia de seu corpo (PROGIANTI, COSTA, 2012).

Nesta perspectiva, Pereira e Bento (2011), relatam que o cuidado de enfermagem no pré-natal deve necessariamente resgatar a subjetividade, assegurar direitos inalienáveis e construir relações humanas democráticas, tornando-se humanizado e libertador à medida que proporciona um espaço de construção dos saberes a partir de práticas educativas. Isso faz com que sejam gerados novos comportamentos de saúde das gestantes e dos próprios profissionais de saúde envolvidos, superando as assimetrias de poder que ainda permeiam nossa sociedade, em particular na assistência à saúde da mulher.