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2.2 PROTEÇÃO SOCIAL EM FACE DA GLOBALIZAÇÃO

2.2.1 O Enfraquecimento da Proteção Social e a Necessidade de Sua

Neste tópico se discute a relativização da proteção social em um contexto globalizado, sabendo-se, desde logo, que nos recentes moldes políticos introduzidos por tal fenômeno, o amparo social foi preterido em nome da autodeterminação dos indivíduos e da liberdade do mercado, conforme aludido anteriormente, bem como se discutem as necessidades atuais de torná-la efetiva para a obtenção da justiça social.

Os impactos do advento da globalização na proteção social se revelam no seu próprio enfraquecimento frente à política neoliberal e da necessidade de torná-la efetiva para que haja compensação aos grupos e indivíduos vulnerabilizados economicamente, para que estes possam gozar de cidadania e de proteção aos seus direitos sociais.

A proteção social, por funcionar ou ser regida sob a égide do Poder Público, se expõe a criticas de toda sorte por parte de economistas e políticos liberais, que defendem os sistemas de proteção estatal como pesos à economia, em virtude de encargos obrigatórios à sua manutenção, o que, em outras palavras, causaria deficiência econômica.

Esse tipo de pensamento permeia as intenções das empresas e também se instala nas camadas de senso mediando que julgam absurdo e desnecessário cooperar com o sistema de amparo social.

Fundamentalmente, é o senso de solidariedade que legitima os programas de assistência e proteção social e, neste aspecto, há uma deficiência por parte da estruturação de princípios de solidariedade que sirvam de base à viabilização da proteção social (CORTEZ, 2008, p. 162).

O que se observa é que neste contexto de desenvolvimento, fomentado pelas políticas neoliberais e pela globalização, a competitividade se tornou mais importante que a solidariedade e a cooperação social. O Estado, por vezes, relega à sociedade o desafio de resolver seus próprios conflitos e disparidades e, esta se fragmenta na busca de interesses individuais.

A proteção social, portanto, se enfraquece, ou perde valor, na medida em que passa a ser entendida como encargo oneroso aos cofres públicos ou mesmo

como contribuição pesada à economia nacional. O bem-estar da coletividade é, nitidamente, desmerecido em nome dos interesses particulares e em nome da liberdade dos mercados, da competitividade e da circulação de riquezas.

Esse tipo de raciocínio que, de fato, existe em dias atuais, compromete o equilíbrio e a paz social, ao passo que a economia também constitui base ao desenvolvimento humano. Não há como se sustentar as premissas de igualdade se não houver cooperação entre os indivíduos e, mais, se o Estado, não abraçar para si determinadas responsabilidades.

Assim, é importante destacar também que parcela desse pensamento egoísta parte da negligencia ou omissão do Estado em face de suas obrigações enquanto promotor de justiça social. Ou seja, ao observar que as políticas sociais protetivas não são efetivadas ou não se traduzem em resultados, os contribuintes não encontram bases para justificar essa contribuição.

Também entender a pobreza ou demais desigualdades como inevitáveis, corrobora a negligencia com as questões sociais e, logicamente, enfraquecem os sistemas de proteção.

Atacando o neoliberalismo, Pierre Bourdieu (1998, p. 15), defende que o senso de responsabilidade coletiva estabelecido pelo Estado do Bem Estar Social, inclusive no tocante à pobreza e miserabilidade, fora desmerecido em detrimento do “retorno ao individualismo” que, por sua vez, também acusa a vítima – o próprio indivíduo – como responsável pela sua própria infelicidade e lhe atribui o encargo da “auto-proteção”.

Diante do que fora explicitado até aqui, entende-se que a política neoliberal, que prega a intervenção mínima do Estado não somente em vias econômicas, mas também sociais, aliada ao advento da Globalização, que realçou desigualdades na sociedade, em nome da competitividade e sobreposição de poder, enfraquecem a proteção social.

Mesmo havendo contribuição obrigatória ou responsabilidade atribuída ao Poder Público, nota-se que o amparo social não é efetivado, seja em virtude da negligência estatal, seja em virtude da ausência do pensamento coletivo de bem- estar social. A cooperação entre os indivíduos se afastou, portanto, das premissas de solidariedade e igualdade e esse fato, indubitavelmente, acentua o crescimento das disparidades sociais e o aumento da necessidade de tornar esse sistema protetivo realmente efetivo.

A importância de proteção social é percebida pela insegurança gerada pelos reflexos da globalização. Essa insegurança consiste na instabilidade das relações econômicas provocada pela competitividade, que esboça figuras de perdedores e vitimas no seio da sociedade (EUZÉBY, 2004, p. 26).

É importante destacar alguns fatores dessa situação de insegurança. Entre outras determinantes, o desemprego se opõe à paz e ao equilíbrio das relações sociais. O emprego, como é sabido, é fonte de rentabilidade e desenvolvimento, sendo o instrumento de se adquirir poder econômico e possibilidades de escolhas. Sua perda, sobremaneira, constitui fator de insegurança e mal estar.

O que se tem notícia é que, com a modernização das tecnologias e o avanço dos sistemas econômicos, as empresas evoluíram de tal modo a não mais permitir em suas redes profissionais que não estejam extremamente gabaritados, o que diminui as chances de emprego e exclui aqueles que, por razões naturais ou não, não tiveram acesso a uma formação adequada. Sem contar na infinidade de máquinas que substituem o trabalho humano atuam de forma autônoma (EUZÉBY, 2004, p. 26).

Outro ponto a ser frisado é a questão da estagnação de algumas atividades laborais. Com o acesso ilimitado à informação, a modernização tecnológica e as novas tendências da era globalizada, algumas atividades profissionais não mais constituem fonte de renda, ou por serem, hoje, desmerecidas e mal remuneradas, ou por, simplesmente terem sucumbido.

Tais fatores incidem no aumento não só do desemprego, mas identicamente da pobreza, aumentando a escala de desigualdade entre os indivíduos.

Por todas essas questões, o sistema de proteção social se torna cada vez mais imprescindível para dirimir os riscos da atividade econômica, sobretudo, quando esses riscos são potencializados em virtude da macro dimensão imprimida pela pelo processo de evolução das relações econômicas.

Portanto, é defeso ao Poder Publico proteger a população, administrando essas relações díspares, subsidiando os riscos que, por ventura, ocorram e restrinjam a igualdade de oportunidades ou fomentem desemprego e miséria. Destarte a ética econômica no contexto globalizado impactou negativamente na proteção aos direitos sociais, evidenciando a necessidade da implementação de políticas mais efetivas que combatessem a miserabilidade e promovessem justiça social.

É neste sentido que a efetivação de um sistema de proteção social atende aos argumentos da justiça social, protegendo a sociedade de conflitos que ela não tenha mecanismos para resolver sozinha. Afasta-se, aqui a idéia de distanciamento ente sociedade e Estado, pois este deve existir em função daquele, e organizar as relações de modo a suprir deficiências e promover desenvolvimento e bem-estar coletivo.