• Nenhum resultado encontrado

O ENREDO DO MÉTODO

No documento Os saberes da escola Gigante do Samba (páginas 54-57)

2. PREPARANDO A AVENIDA

2.2 O ENREDO DO MÉTODO

Como disse, a presente seção tem por objetivo demonstrar como organizei minha pesquisa no que se refere à metodologia. Tentei construir o percurso nos mínimos detalhes; entendo que ao esmiuçar todo o caminho percorrido pode essa pesquisa servir

de inspiração para outros pesquisadores. Assim, antes de tudo e sempre que possível, acho interessante lembrar reflexões

que nos ajudem a pensar sobre cada investida. Nesse sentido, lembro a passagem descrita por Souza (2011) quando alerta: “um dos grandes desafios é produzir no campo da história da educação sem a formação profissional de historiador” (SOUZA, 2009. p. 11). Em mesma referência, Souza tranquiliza-nos dizendo que se por um lado existem algumas dificuldades, por outro a libertação das chamadas “amarras” técnicas do historiador profissional talvez promovam ampliações das nossas lentes sobre o nosso objeto.

As afirmações de Souza entrelaçam-se quando da investida metodológica de nossa pesquisa. Fato concreto é que uma vez libertos das então “amarras”, o pesquisador iniciante inquieta-se diante de quase tudo que encontra.

Sem mais delongas, ressalto que meu estudo é de abordagem qualitativa uma vez que investiga os sujeitos e suas realizações; tentando compreender as ações de pessoas ou de um grupo. Assim como documentos constituem materiais de pesquisa, os atores/ sujeitos também são objetos de pesquisa (MINAYO, 2016).

Saliento que o presente estudo tem a responsabilidade de observar, descrever e registrar os fatos e fenômenos do objeto sob investigação para, assim, garantir uma pesquisa descritiva além de qualitativa (RAMPAZZO, 2004).

Sobre o uso das fontes, Burke (2011) alerta que na empreitada historiográfica a fonte documental é a mais “aceita” no processo de tentativa de entendimento de um objeto de estudo. O autor ensina-nos que sob as lentes de pesquisa de alguns teóricos conservadores da história, as fontes documentais são instrumento de primeira ordem; sendo os de segunda ordem os testemunhos orais. Porém, alerta Burke, em mesma referência, que a nova história segue uma perspectiva diferente, sobretudo os pesquisadores que se interessam pela história oral como método.

Thompson (1992), estudioso da história oral, deixou-nos seguro ao dar ênfase e importância aos testemunhos orais como um método no uso das fontes; reconhecendo- os, portanto, como documentos. Os testemunhos orais são uteis principalmente quando considerados nas camadas menos favorecidas da sociedade. Digo isso por acreditar que a “fala é um instrumento decisivo para a população pobre” (MONTENEGRO, 2010. p. 38). Além das entrevistas, minha pesquisa fez uso de alguns documentos: jornais de circulação local, fotografias (vinculadas a jornais ou de propriedade de alguns atores da pesquisa) e documentos impressos (vinculados aos meios de comunicação).

Outra preocupação nossa quando da análise dos documentos foi mantermo-nos atentos aos teóricos que escolhemos para dialogar. Nosso desejo e compromisso foi retirar de todos os documentos, de forma crítica, tudo o que eles pudessem proporcionar e acrescentar à pesquisa; estabelecendo por vezes aproximações e distanciamentos.

Questionei-me a todo instante sobre a viabilidade de cada documento no sentido de que ele deve ser, antes de tudo, entendido e interpretado, pois esse simples exercício liberta o pesquisador de suas impressões aparentes (PINSKY, 2015).

Já sinalizei que utilizei entrevistas como técnica de pesquisa e parece-me que antes de avançar preciso dizer de fato o que significa uma entrevista do ponto de vista metodológico.

A entrevista é um excelente instrumento já dito por Minayo (2016). Essa informação é ratificada por Mandelbaum (2012) quando diz: “a entrevista nos oferece um caminho metodológico de conhecimento do outro” (MANDELBAUM, 2012. p. 3). Na tentativa exaustiva de me sentir seguro, cheguei à conclusão de que a entrevista requer atenção quando da sua elaboração.

Por exemplo, um roteiro de questões “acabadas” (muito fechadas ou direcionadas) penaliza o estudo por perder respostas mais reveladoras que de alguma forma não estão sendo “provocadas” pelo pesquisador. Sendo assim, o pesquisador precisa estar atento às anotações com foco no objeto investigado. A entrevista é, na verdade, “um procedimento racional e sistemático que tem como finalidade proporcionar respostas aos problemas que são propostos” (GIL, 2008. p. 45).

A título de curiosidade, digo que o termo entrevista é construído a partir de duas palavras: “entre” e “vista”. “Vista” (ato de ver) e “entre” (relação de espaço ou lugar que separam duas pessoas). Assim, “o termo entrevista é a percepção ou observação sobre alguma coisa em um ato que contemple duas pessoas” (RICHARDSON, 1999. p. 207).

Nesse estudo, optei por utilizar a entrevista aberta, pois permite que o entrevistado fale de forma livre sobre um determinado tema/assunto. Em algum momento da entrevista, pode haver a intervenção do entrevistador caso esse entenda que se faz necessária uma maior atenção a uma determinada passagem da entrevista (MINAYO, 2016).

Outra preocupação que tive foi de tomar algumas precauções no que se refere ao início da pesquisa de campo, ou seja, a entrada no campo. Eu tinha plena consciência que essa entrada não poderia ser de “qualquer forma”. Sempre imaginei que fazer pesquisa de campo é o destino de um grande número de jovens pesquisadores que ingressam na academia dando os primeiros passos até mesmo em projetos de iniciação científica.

Vejo de forma profícua como nós, jovens pesquisadores, estamos sempre nesse primeiro momento ávidos por informações. Porém, percebi que a ansiedade deve ser controlada, pois esta pode prejudicar a qualidade da pesquisa de campo.

A Pesquisa de campo fornece ampliação de possibilidades investigativas desde que o pesquisador perceba as informações que ocorrem espontaneamente; fazendo registro dos fatos que entende como relevante para seu estudo (MARCONI; LAKATOS, 2011).

Não se trata de preciosismo e muito menos de supervalorização da pesquisa, mas uma razoável pesquisa de campo, conforme pude observar, começa pela apresentação do pesquisador e da pesquisa aos atores dispostos a contribuir para o estudo. A relação entre o pesquisador e as suas fontes pode ser prejudicada se não houver uma preparação prévia.

Pinsky (2013) revela-nos que o entrevistado não pode sentir-se pressionado a falar algo que pode até mesmo nem saber. Portanto, penso que ética e preparação teórica devem andar em paralelo para que a pesquisa de campo tenha êxito.

Assumi ao entrar no campo, que todo pesquisador deve ter a curiosidade. Tudo que for encontrado deve ser motivo de questionamento. Sempre tivemos o cuidado de, em primeiro momento, autoanalisarmo-nos; perguntando qual a nossa missão para cada momento. Entendo que esse exercício deve ser repetido o tempo todo; tornando o pesquisador um permanente perguntador o que segundo Minayo (2016) ajuda a não se surpreender com o que encontra; bem como não desanimar com o que não encontra tendo equilíbrio de suas habilidades e emoções.

Depois de tantas explicações sobre o percurso metodológico, parece-me que chegou a hora de apresentar os destaques do meu desfile: os entrevistados. Foram ao todo sete entrevistados que com brilho contribuíram para minha pesquisa os quais apresento na próxima etapa.

No documento Os saberes da escola Gigante do Samba (páginas 54-57)

Documentos relacionados