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O ensaio

No documento leonardoalvesdovalle (páginas 48-52)

O ensaio foi desenvolvido com uma turma de crianças do 4º ano do ensino fundamental de um colégio público federal, composta por 31 alunos que tinham acesso a outros espaços de informações e atividades científico-culturais (disponibilizadas pelo colégio), como o centro de ciências, oficinas de circo, oficinas de teatro, grupo de contação de histórias, entre outros. Além disso, outro fato que merece ser destacado diz respeito à professora recém-egressa do curso de doutorado em educação para a ciência, a qual ministrava a disciplina de ciências e coordenava projetos de educação científica para as crianças da referida turma, o que nos sugeriu a possibilidade de um ambiente mais frutífero para o surgimento de reflexões e diálogos acerca da ciência.

Desse modo, o ensaio ocorreu em três etapas, sendo duas no auditório do colégio e uma na sala de aula da turma, por um período de aproximadamente 90 minutos. Inicialmente, as crianças e a professora ocuparam as cadeiras do auditório, que se encontravam formando um semicírculo de frente para o palco, o qual, evidentemente, se sobressaía por ocupar um patamar mais elevado em relação à plateia. Quando as cortinas se abriram, as crianças se

depararam com dois palhaços, Galileu e Risoleta, além de um objeto localizado ao fundo do palco, escondido sob um tecido colorido. Daí, depois de terem se apresentado e dado as boas vindas às crianças e à professora, eles iniciaram uma conversa tentando provar quem era mais forte. Como não chegaram a um acordo, Risoleta resolveu desafiar Galileu para uma luta de boxe a fim de resolverem aquela questão. Assim, usando enormes luvas coloridas, os palhaços deram início a uma engraçada luta de boxe, que terminou com uma chuva de papel picado sobre a plateia (Anexo 2).

Na sequência, Galileu apresentou o objeto que estava sob o tecido e ao fundo do palco, chamando-o de “Máquina de Levantar Coisas”2, do qual se dizia o inventor. Segundo ele, aquela máquina poderia erguer qualquer objeto. Assim, para provar isso, solicitou a uma pessoa da plateia que se assentasse na cadeira, presa a uma das extremidades da máquina, a fim de que fosse suspensa do chão. Dessa forma, de modo surpreendente, com o mínimo de esforço, Galileu ergueu a pessoa com enorme facilidade. Após isso, desafiou Risoleta para que encontrasse alguma coisa que a sua máquina não pudesse levantar.

Sem demorar-se, Risoleta puxou por detrás da cochia uma grande e velha mala, identificada com a palavra “violência”, a qual foi colocada com dificuldades sobre a cadeira na extremidade da máquina. Daí, depois de muito suspense e de várias tentativas, Galileu não conseguiu erguê-la, apontando ser o motivo um defeito apresentado pela máquina, a qual necessitava de reparos para que voltasse a funcionar. Desse modo, solicitou às crianças que propusessem planos, por meio de desenhos, a fim de ajudá-lo a consertar a sua invenção. Com isso, os alunos se retiraram para a sala de aula, iniciando a segunda etapa do ensaio com as produções dos desenhos.

A terceira e última fase ocorreu com o retorno das crianças ao auditório. Na oportunidade Galileu e Risoleta se assentaram no centro do semicírculo a fim de ouvi-las falar sobre suas ideias para consertar a máquina. Desse modo, apresentamos dois dos desenhos produzidos, por acreditarmos que foram representativos das ideias que surgiram daquela interação. No primeiro, conforme observamos na figura 2, a autora disse o seguinte: “É para ver o que tem dentro da mala, depois pesar isso em uma balança. Comparar esse peso com o peso da máquina e a força do braço. Depois, consertar aquele que estiver errado”.

2

Já a autora do segundo desenho (figura 3) respondeu que “[...] Todas as pessoas vão puxar o ferro e talvez pode dar certo, porque a união faz a força”. Desse modo, após terem ouvido as crianças explicarem as suas produções, os palhaços recolheram todos os desenhos e subiram novamente ao palco. Daí começaram a cochichar, aparentando estar decidindo qual deles solucionaria o problema apresentado pela máquina.

Passados alguns instantes, Galileu pegou uma sacola e, juntamente com Risoleta, colocou todos os desenhos no interior desta. Em seguida, fixaram-na em uma das extremidades da máquina com a justificativa de que somente com a ajuda de todas as crianças seria possível move-la. Então iniciaram a contagem: um... dois... Três! E, finalmente, aplicando uma pequena força, conseguiram erguer a referida mala. Daí, todos os alunos comemoraram e aplaudiram aquele feito.

Levando-se em consideração as experiências e observações colhidas por meio do ensaio, bem como os apontamentos sugeridos pelos professores da banca de qualificação,

Figura 2: Desenho produzido por ocasião do ensaio da pesquisa

procedemos a algumas adequações no referido roteiro a fim de desenvolver o estudo na escola municipal, visando ao melhor ajustamento das atividades à proposta teórico-metodológica da pesquisa.

A primeira mudança foi com relação ao local da intervenção, visto que o ensaio foi desenvolvido em um auditório, com recursos de som, iluminação e palco. Todavia pareceu- nos, em alguns momentos, que as crianças assumiram uma postura de espectadoras em relação aos palhaços, fato que não nos interessava, em virtude de nossa intenção de construir momentos de interatividade que nos permitissem maior proximidade com as crianças. Desse modo, na escola municipal, optamos por realizar a atividade na própria sala de aula, conforme era a nossa intenção inicial quando idealizamos a pesquisa. A segunda modificação referiu-se ao registro audiovisual das atividades, pois a má qualidade das filmagens realizadas por ocasião do ensaio motivou-nos a substituir o equipamento outrora utilizado, por uma câmera profissional, adaptada sobre um tripé.

No desenvolvimento do ensaio, contamos com o apoio de um centro de ciências, que nos disponibilizou uma peça de seu acervo para ser a “Máquina de Levantar Coisas”, a qual consistia em uma alavanca cujo braço menor possuía uma cadeira (fixa em sua extremidade) e em cujo braço maior havia um sistema que permitia alongar seu comprimento. No entanto a utilização de tal equipamento na escola municipal tornou-se inviável, devido às dificuldades de transporte, em decorrência das dimensões e do peso do material. Logo, optamos por projetar uma alavanca mais leve, construída a partir de tubos de ferro, com ganchos, no braço

Foto 4: Risoleta e Galileu tentando erguer a mala com a “Máquina de Levantar Coisas”

menor, ao invés de cadeira e no braço maior um sistema de alongamento mais simplificado, a qual podia ser desmontada e facilmente transportada por uma única pessoa em um automóvel.

A última mudança foi a substituição da mala com a inscrição “violência” por uma caixa, na qual as próprias crianças depositaram pequenos pedaços de papel em que escreveram aquilo que consideraram ser “a coisa mais ruim do mundo”, criando a metáfora de que a caixa iria se tornar demasiadamente pesada para ser erguida pela máquina. Tal alteração teve por justificativa possibilitar a manutenção de uma relação dialógica com as crianças, ouvindo suas vozes e atentando-se para aquilo que fazia sentido para elas.

A seguir, passaremos a descrever a metodologia de pesquisa e a experiência que vivenciamos na tarde do dia 26 de novembro de 2013, quando, por um breve momento, nos tornamos artistas e compartilhamos a simplicidade e a beleza do mais grandioso palco de todos os tempos – sem luzes, sem tablado e sem cochia – naquele onde todos os dias acontecem descobertas, surpresas, diálogos e indagações: a sala de aula!

No documento leonardoalvesdovalle (páginas 48-52)

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