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1.2 O papel dos adjetivos na descrição

1.2.3 O ensino do adjetivo

Conforme nos apresentam Freitag e Damaceno (2015), em “O livro didático: gramática, leitura e ensino da língua portuguesa”, a abordagem da leitura e do conhecimento gramatical deve ser desenvolvida numa proposta de ensino que se fundamente nas práticas sociais, com vistas à formação integral do estudante como usuário da língua nos mais diferentes contextos sociais, oferecendo meios para que tenha autonomia, seja participativo e atuante na sociedade na qual está inserido. É, com efeito, a apropriação da língua como instrumento de poder e/ou libertação.

Devido à oportunidade proporcionada pelo Profletras (repensar a prática docente no que tange ao ensino), vislumbramos a possibilidade de aliar o estudo da língua e o da literatura, por meio de uma proposta de trabalho didático que engloba leitura e gramática. Faz-se, assim, necessário salientar que, embora os documentos oficiais, como os PCN, a BNCC e até o mais recente Currículo de Sergipe, norteiem o ensino da língua portuguesa de forma reflexiva, ainda perdura a ideia de que o papel da escola é formar produtores de textos (ou leitores), sendo a gramática desnecessária para isso, segundo ressalta Franchi (2006). Por outro lado, ainda são praticadas aulas em que o estudo da língua se concentra no ensino de nomenclaturas, conceitos e definições dos itens gramaticais, sem que haja uma relação dos usos de tais elementos nas práticas de linguagem.

Assim como declaram Freitag e Damaceno (2015), também acreditamos no ensino produtivo de gramática nas aulas de língua portuguesa. Para que isso aconteça, o papel do professor é crucial. Vieira (2017) corrobora a nossa assertiva ao traçar o objetivo de sua proposta de ensino da gramática em três eixos, pois apresenta a unidade textual como ponto de partida e de chegada das aulas de português, afirmando que os elementos de natureza formal são essenciais para a construção do sentido. Assim, aponta como tarefa exclusiva das referidas aulas tratar esses elementos como objetos de ensino, numa abordagem reflexiva da gramática, e sistematizados na medida e no momento oportunos e adequados ao alunado, em cada série escolar.

No eixo 1, Ensino de gramática e atividade reflexiva, a proposta é que as atividades escolares como componentes especificamente gramaticais são de três naturezas: a linguística, a epilinguística e a metalinguística. Cabe salientar que a primeira está ligada à gramática internalizada que deve ser trabalhada na escola de forma que o aluno tenha um desenvolvimento sintático a partir do conhecimento a que teve acesso fora da escola. Quanto à segunda, trata-se da diversificação dos recursos expressivos com que se fala e escreve a operação sobre a própria linguagem, praticando a diversidade dos fatos gramaticais de sua língua. Nessa perspectiva, a úlima é desenvolvida a partir do domínio das atividades linguística e epilinguística, sendo a linguagem descrita a partir da observação do caráter sistemático das construções, repletas de significação.

No que se refere ao trabalho com as estruturas gramaticais, Vieira fortalece a abordagem reflexiva citando autores como Foltran (2013) e Costa (2013), mostrando que tais estruturas são importantes para o conhecimento das construções linguísticas como matéria produtora de sentido, elementos que permitem significar e fazem a tessitura textual acontecer.

O segundo eixo, Ensino da gramática e produção de sentidos, a autora inicia destacando os trabalhos de Neves (2006), representante da gramática funcional, que trata grandes áreas que evidenciam a inter-relação gramática e texto: “(i) a predicação; (ii) a criação da rede referencial; (iii) a modalização; e (iv) a conexão de significados.” (VIEIRA, 2017, p.74). Segundo Vieira, a construção textual resulta de uma série de operações a partir de um mundo real, extralinguístico ou pré-textual, que se concretiza por meio do processo transformação e de transação ou organização macrotextual.

A autora assegura que a seleção linguística para a construção do sentido do texto ocorre a partir de operações como a identificação, a caracterização, a processualização ou representação de fatos e ações, a modalização/explicação, a relação.

Por fim, no terceiro eixo, Ensino da gramática, variação e normas, a autora expõe que a escola costuma relacionar ensino da gramática com ensino da norma-padrão, apresentando a necessidade de as aulas de língua portuguesa propiciarem reflexões sobre as estruturas que não são do conhecimento do aluno por não pertencerem à variedade que ele domina. Assim, a abordagem proposta pela autora mostra que o professor não ficará limitado aos modelos propostos na norma gramatical (divulgada nos compêndios tradicionais), que certamente deixarão de fora estruturas pertencentes à norma-padrão, aquela idealizada pela elite letrada e que inspira a norma culta escrita e falada, a efetivamente praticada no Brasil.

Silva e Santos (2015), em seu estudo “Pronomes pessoais no livro didático”, apontam a gravidade de se utilizar exercícios de metalinguagem no ensino de um item gramatical. Com o

adjetivo não é diferente. Seu ensino requer uma orientação para a escolha e o uso nas diversas situações comunicativas, pois seu emprego poderá trazer uma carga avaliativa positiva ou negativa.

Já evidenciamos que, em nossa proposta, o ensino do adjetivo está ligado ao uso, trata- se, pois, de um elemento necessário para a construção de sentidos dos textos. Numa descrição literária, esse item gramatical tem a função de contribuir para a construção da imagem recriada por meio de palavras. A percepção da realidade do autor será a guia aguçante da percepção do leitor, que, por sua vez, poderá apreender o que vê, no caso de um texto literário, ou refutar quando usada a descrição em outros discursos.

Nesse sentido, a proposta desta pesquisa nos estimulou a repensar a ação pedagógica em sala de aula, direcionando-nos para a criação de atividades que envolvam a leitura e a análise linguística fugindo do modelo de “exercícios puramente mecânicos”, ainda utilizados como estratégias de ensino. Assim, vimos na ludicidade o caminho para motivar o estudante a se apropriar da leitura e da análise linguística num processo de aprendizagem mais significativo.

1.3 Leitura do texto literário na perspectiva da descrição presente no romance O tesouro

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